quarta-feira, 30 de março de 2011

CURTO E GROSSO

As Minas de Alencar



“Só a ignorância aceita e a indiferença tolera o reinado da mediocridade...”.


José Alencar (1931 - 2011)

Empresário brasileiro e ex-vice do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva




Para a jornalista brasileira Eliane Cantanhêde, o livro José Alencar: Amor à vida – A Saga de um brasileiro, de sua autoria, não é uma biografia, mas várias. Mineiro de Muriaé, Alencar foi autodidata e o que se chama self-made man, ou seja, alguém que sobe sozinho na vida. Empresário e líder sindical patronal, apoiou o golpe militar que eclodiu no Brasil em 1964, apoiando, igualmente, o movimento das Diretas Já, que clamava pelo fim do regime autoritário. Anos depois, foi eleito vice-presidente da República do maior líder sindical trabalhista do país, um torneiro mecânico. Na opinião da jornalista, Alencar foi um visionário, capaz, inclusive, de quebrar paradigmas. Quebrou? Segundo o senador Aécio Neves PSDB-MG, presente no velório desse homem de trajetória de vida tão controversa, que lutou, ainda, contra um câncer por quase quinze anos, vindo a falecer nesta terça-feira, 29: “José Alencar foi o grande avalista do presidente Lula para que ele pudesse chegar ao governo”. Foi? Pode até ter sido, mas, daí, quererem, agora, transformar o homem em santo? E se, de fato, ele foi o grande avalista de Lula – leia-se argent e influência – é como se, à época da sua primeira campanha rumo à presidência, Lula em si, sozinho, não tivesse voto suficiente para se eleger. Ou seja, se Alencar não tivesse sido o seu companheiro de chapa, o seu avalista, Lula teria sido eleito?



Vade retro!



“O Bolsonaro é escrotésimo há 30 anos. Descobriu hoje? Onde você passou as últimas décadas? (...) Se ele perder o mandato é um ganho pra nação...”.


André Forastieri

Jornalista brasileiro, reagindo, no twitter, à reação dos internautas à homofobia e ao racismo do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) manifestados contra a cantora e atriz brasileira Preta Gil. O autor publicou inúmeras frases, uma a uma, no dia de hoje, em um espaço de uns 40 minutos. E tem muito mais a respeito do qüiproquó em seu blog.




Não é porque o artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada pela Organização das Nações Unidas - ONU em 1948, diz que “todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão” que o parlamentar em questão tem igualmente o direito de agredir verbalmente quem quer que seja quando expressa uma opinião discriminatória. Afinal, também está previsto no artigo VII que “todos têm direito à igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação”. Isso sem falar na advertência do artigo XII, ou seja, “ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada (...) nem a ataque a sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências e ataques”.


Bom! A polêmica teve início quando, na noite da última segunda-feira, 28, durante o quadro O Povo quer saber, do programa televisivo CQC, exibido pela BAND, ao ser questionado por Preta Gil qual seria a sua reação caso o seu filho namorasse uma mulher negra, Bolsonaro respondeu: “Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu”. Não deu outra! Ao final do programa, Preta Gil postou no twitter que processaria Bolsonaro: “Advogado acionado, sou uma mulher Negra, forte e irei até o fim contra esse Deputado, Racista, Homofóbico, nojento”. Foi a gota d’água que faltava.


Hoje, no velório do ex-vice-presidente José Alencar, em declaração à imprensa, o parlamentar retaliou: “Todo mundo que quiser entrar com processo é justo. O caminho para resolver os problemas é na Justiça. Agora, que exemplo ela tem de vida para cobrar ética?”. Não temendo perder a cadeira na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, da qual é membro, ele acrescentou, dizendo, ainda, que irá defender as suas idéias: “Quem manda na minha cadeira é o líder do meu partido. Não vou me acovardar por ação da Preta Gil”. Questionado pelos jornalistas sobre se é racista, ele disse: “Racista, eu? Só tem pobre nas Forças Armadas. Como posso ser racista?”. Enfim! No bojo, entrou de quase um tudo: negros, homossexuais...


Acusado de discriminação pelos homossexuais, ele desandou de vez: “Eu estou me lixando para esse pessoal. Criaram aí a frente parlamentar de combate à homofobia, frente gay, aí. O que esse pessoal tem para oferecer para a sociedade? Casamento gay? Adoção de filhos? Dizer que se seus jovens, um dia, forem ter um filho, que se for gay, é legal?” À ocasião, ainda, do programa televisivo Bolsonaro também teria feito comentários hostis contra os homossexuais. Enfim! Se o parlamentar queria chamar a atenção, conseguiu. Nesta quarta, considerando que o deputado cometeu quebra de decoro parlamentar, a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB-RJ entrou com uma representação contra ele na Câmara dos Deputados.


Para o presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, “As declarações do deputado Jair Bolsonaro são inaceitavelmente ofensivas, pois têm um cunho racista e homofóbico, incompatível com as melhores tradições parlamentares brasileiras. Por isso, vou oficiar o corregedor da Câmara dos Deputados para abertura imediata de processo por quebra de decoro parlamentar contra o referido deputado. O Congresso não merece ter em suas fileiras parlamentares que manifestam ódio a negros e gays”. Preta Gil, por sua vez, rainha da XV Parada Gay de São Paulo deste ano, esteve presente no lançamento oficial do evento na noite de hoje e desabafou: “Coincidentemente, estou passando por um terror”, disse, aludindo sobre a polêmica com Bolsonaro – um nazista!





“O respeito ao direito alheio é a paz...”.


Benito Juarez (1806 - 1872)

Estadista mexicano



Segundo a Agência Ansa, “o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter foi recebido hoje pelo ex-chefe de Estado cubano Fidel Castro, ocasião em que pediu o fim do embargo [econômico], comercial [e financeiro] que os Estados Unidos mantêm sobre a ilha. ‘Penso que devemos eliminar o embargo’ disse Carter, acrescentando que espera que no futuro Cuba e ‘todos os cubanos sejam completamente livres e os norte-americanos’ possam viajar para a região. Carter, que foi convidado pelo presidente cubano, Raúl Castro, se reuniu com Fidel em seu último dia de visita a Havana. Ele, que já esteve no país em 2002, é o primeiro ex-mandatário dos Estados Unidos a visitar a ilha desde 1959, quando houve a Revolução Cubana. A viagem tem o intuito de melhorar as relações entre os dois países e, segundo a porta-voz de Carter, Deanna Congileo, o ex-presidente também pretendia ‘aprender sobre as novas políticas econômicas e o próximo congresso do partido [Comunista de Cuba, PCC]”.


A viagem a Cuba do ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, contudo, a partir de informações fornecidas pelo jornal O Estado de São Paulo, há 607 dias sob censura, tinha um objetivo particular, o de solicitar a líderes cubanos que libertassem o prestador de serviços norte-americano Alan Gross, 61, que cumpre uma sentença de quinze anos de prisão, “depois de ter sido condenado, no início do mês, por levar equipamentos de comunicação para Cuba de maneira ilegal”. No entanto, Cuba não pretende libertá-lo. De qualquer modo, Carter encontrou Gross em um local não divulgado e o preso político, que continua alegando inocência, disse que, desde que foi preso, em dezembro de 2009, já perdeu quarenta quilos, mas que continua animado. A esperança da defesa é que uma apelação da condenação seja acatada pelo governo cubano. Caso contrário, uma alternativa é a das autoridades do país de perdoarem – não se sabe quando – uma libertação do prisioneiro por razões humanitárias.


Segundo Carter, além de Gross ser “inocente de todos os crimes” pelos quais ele cumpre pena, a sua esposa e a filha do casal sofrem de câncer. Sobre Fidel Castro, já com oitenta e quatro anos, o ex-presidente norte-americano acredita que ele esteja bem de saúde, disse, antes de pegar o avião em Havana e deixar a ilha. A oficialização do embargo dos Estados Unidos a Cuba, por sua vez, com o apoio irrestrito dos seus aliados, remonta ao ano de 1962, quando o então presidente norte-americano era o democrata John Kennedy (1917 - 1963), embora, na prática, Cuba já se encontrasse isolada desde outubro de 1960, quando foi decretado o embargo de todo tipo de mercadoria destinada à ilha. Manifestando-se contrária ao bloqueio – um dos mais duradouros da História moderna, a Assembléia Geral das Nações Unidas, que condena veementemente o bloqueio, já realizou inúmeros protestos reivindicando o seu término, mas o governo dos Estados Unidos, em sua bestialidade, permanece irredutível.



Nathalie Bernardo da Câmara


terça-feira, 29 de março de 2011

TEMPOS DE NOVAS QUESTÕES...

“Choramos ao nascer por nos vermos neste imenso palco de loucos...”.

William Shakespeare (1564 - 1616)
Autor teatral e escritor inglês


Às vezes, fico a pensar se certo chargista baseou-se em um fato real ou se agiu por mero sarcasmo ao aludir que já tem criança por aí a perguntar aos pais se ela nasceu pela internet, baixada igual a um download... Ocorre que, realidade ou ironia do chargista, em algumas situações, normalmente por pudor, ainda tem gente que usa a cegonha como artifício para explicar aos filhos como eles nascem. Enfim! Nesta segunda-feira, 28, la presidenta Dilma Rousseff lançou, em Belo Horizonte, o programa federal Rede Cegonha. Uma das promessas de campanha de Dilma, o referido programa visa garantir atendimento integral a gestantes e bebês em todo o Brasil, combatendo práticas que influenciam as altas taxas de mortalidade materna e infantil no país.


Ontem, em seu programa semanal de rádio Café com a presidenta, pouco antes do lançamento do Rede Cegonha, Dilma afirmou que “um país só pode ser medido pela atenção que dá a suas mães e a suas crianças”. Para ela, o programa irá garantir um atendimento especial à mulher desde o início da gravidez até o segundo ano de vida do bebê, já que, em seu entendimento, “o futuro de uma criança começa muito antes do seu nascimento, começa na qualidade da vida da mãe, nas condições da gravidez e nas condições do parto”. Segundo, ainda, la presidenta, a previsão é a de que R$ 9 bilhões deverão ser investidos no programa Rede Cegonha até 2014, beneficiando, inclusive, a construção de uma rede nacional ligada ao Sistema Único de Saúde - SUS.


De acordo com Dilma, “no momento em que uma mulher chegar a uma unidade de saúde informando que está grávida ou suspeitando de gravidez, ela entrará imediatamente em uma corrente de cuidados especiais. A gestação será confirmada ali mesmo, com um teste rápido, sem perda de tempo, para começar o pré-natal no primeiro contato com a gestante”, acrescentando com otimismo que, se necessário, o Governo Federal irá disponibilizar recursos para o transporte da gestante até consultas e exames recomendados: “Para a gestante comparecer a todas as consultas previstas, vamos dar a ela um vale-transporte. Ao final do pré-natal, se ela tiver cumprido todas as consultas recomendadas, irá receber um vale-táxi para ir para a maternidade”, disse.


Daí, impossível não comentar a respeito. Afinal, alguns aspectos da proposta do Rede Cegonha em muito lembram outros programas ditos sociais, embora sejam meramente assistencialistas, criados pelo Governo Federal em mandatos anteriores ao de la presidenta, como, por exemplo, o Bolsa Família, e que, insistentemente, ainda persistem. Sim, porque, pelo que pude observar, além do pontual atendimento médico-hospitalar, que, aliás, não é que obrigação do Estado para com o povo, na tal rede está subentendida a inclusão de um benefício que, de repente, até poderia ser chamado de Bolsa Fralda, já que o programa prevê cuidados especiais à mulher do início da gravidez ao segundo ano de vida do bebê – sem falar nos vales!


O problema é que, apesar de ser um dever que lhe compete, o Estado brasileiro não prover com dignidade os estabelecimentos das redes públicas de saúde e de ensino do país. Aí, o que os governos populistas fazem? Criam programas assistencialistas como se estivessem fazendo um favor ao povo para tentar compensar um salário mínimo que desde a sua criação, em 1940, nunca esteve à altura das reais necessidades de quem dele depende para sobreviver. O pior é que o tempo de duração desses programas assistencialistas resume-se ao tempo do mandato do governante que os inventou, enquanto o ideal seria a determinação, por lei, de uma destinação sistemática de recursos para a saúde e a educação, garantindo qualidade de vida aos seus usuários.


Só que, no caso de um atendimento médico-hospitalar de boa qualidade, que ele não seja restrito apenas à gestante e ao bebê, mas à população como um todo, indiscriminadamente, que se beneficiaria – é um direito – com o que possa haver de melhor em uma unidade de saúde no que diz respeito a corpo funcional, instalações físicas, equipamentos, exames, internações, medicamentos etc. E, isso – convenhamos –, um pleno funcionamento de postos de saúde, hospitais e escolas independentemente dos governantes e dos partidos que vão passando pelo poder, devendo, portanto, ser algo que tenha continuidade, sendo, ainda, contudo, imprescindível a garantia de salários que possam promover a independência financeira do povo.


Sim, salários condignos que permitam esse mesmo povo comprar, com o fruto do seu trabalho, não com recursos repassados para ele através de programas assistencialistas, a sua própria comida, o seu bujão de gás, uma passagem de ônibus ou de táxi, os livros escolares dos seus filhos, e, desde ontem, quando for o caso, pacotes e mais pacotes de fraldas... Enfim! Demagogia nunca levou país algum a lugar nenhum, já que apenas atrasa o real desenvolvimento de uma nação. O povo, por sua vez, se ilude com supostos favores que, aparentemente, são prestados por governantes através de programas assistencialistas, cuja função se resume a um faz-de-conta, um puro engodo, como se estivessem a compensar os baixos salários da maioria da população.


Ocorre que esses programas assistencialistas apenas beneficiam, em processos eleitorais, os governantes que os criam e os apóiam, bem como os seus aliados políticos, já que eles também têm a função de isentá-los perante o povo da co-responsabilidade de nada fazerem para lhes aprovar, por exemplo, um salário mínimo decente. E digo isso porque, se la presidenta, no caso do Brasil, pretende erradicar a miséria no país até o final do seu mandato, em 2014, como isso será possível se ela, inclusive, foi conivente com o ridículo aumento do salário mínimo, em fevereiro deste ano, para R$ 545, 00 e continua investindo em programas assistencialistas? Não, Dilma, o povo não quer placebo – os programas assistencialistas. O povo quer respeito e dignidade...

Nathalie Bernardo da Câmara


segunda-feira, 28 de março de 2011

NÃO FOI POR FALTA DE AVISO!


“Não acuse a natureza: ela fez a parte que lhe cabia.
Agora, faça a sua...”.

John Milton (1608 - 1674)
Escritor inglês


No dia 11 de março, quando um terremoto de magnitude de 9° na escala Richter devastou a costa do Japão, sendo o seu epicentro no Oceano Pacífico, a uma profundidade de 24 quilômetros, seguido de dezenas de outros abalos e desencadeando um tsunami sem proporções, com ondas de até vinte e três metros de altura, as bases do país desabaram, literalmente. Desde então, leitores do meu blog pedem que eu escreva a respeito, já que, até hoje, eu sequer tinha tecido uma linha a respeito. Não que eu não reconheça a gravidade da tragédia nem que esteja indiferente ao drama do Japão diante da destruição provocada por esses dois fenômenos da natureza.

Pior! Quando se sabe que depois do primeiro terremoto que gerou todo esse drama – o sétimo maior já registrado em todo o mundo, aliás, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, agência que monitora e estuda tremores ocorridos na Terra –, mais de setecentas réplicas já o sucederam, sendo registrados, ainda, quase diariamente, tremores de 6° na escala Richter, sem falar que tais acontecimentos repercutiram, negativamente, em reatores nucleares japoneses, que foram danificados, pondo em risco, consequentemente, o planeta como um todo. Afinal, o acidente nuclear provocou explosões e ameaças de vazamentos radioativos.

Ocorre que, não é de hoje, ambientalistas de todas as nacionalidades alertam para os desastres ambientais que podem decorrer das agressões que, de há muito, têm sido cometidas pelo ser dito humano contra o meio ambiente, que, inclusive, anda para lá de desequilibrado. Sou solidária, sim, com a dor do Japão, mas, como o mundo não avança na proteção nem na preservação do meio ambiente, apesar dos tristes exemplos que a História nos tem dado de como a natureza é capaz de reagir a agressões, ou seja, revidar de maneira implacável à violência fruto de ações humanas, eu não vou ficar 24 horas lamentando uma tragédia que poderia ter sido evitada.

O fato é que, diante do alerta de que, neste domingo, 27, outro tsunami poderia ocorrer no Japão, em função, mais uma vez, de um terremoto, no caso, de intensidade 6,5°, tudo indica que não há previsão para que cessem os desastres ambientais no país, causando ainda mais estragos. Enfim! Se a terra e o mar se revoltaram contra o Japão, é evidente que está mais do que na hora de as pessoas adquirirem uma consciência ambiental, sem pensar apenas no acúmulo das suas riquezas materiais através da exploração irracional dos recursos naturais. E não esquecer, claro, que é mais previsível a natureza dizimar a espécie humana do que a espécie humana dominar a natureza...


Nathalie Bernardo da Câmara


quinta-feira, 24 de março de 2011

O ADEUS DA DIVA


“É o fim de uma era...”.

Barbra Streisand
Cantora e atriz norte-americana


Deu no G1: “Morreu nesta quarta-feira (23), em Los Angeles, aos 79 anos, a atriz Elizabeth Taylor. A informação foi confirmada por sua agente. Ela estava internada havia seis semanas no hospital Cedars-Sinai, com quadro de insuficiência cardíaca congestiva, que ela enfrentava desde 2004. A doença impede o coração de bombear sangue suficiente para suprir as necessidades dos outros órgãos. Em 2009, foi submetida a uma cirurgia para substituir uma válvula defeituosa no coração. Ela usava cadeira de rodas havia mais de cinco anos para lidar com uma dor crônica.

Liz, como era conhecida, teve uma vida marcada por polêmicas. Foi considerada uma das mulheres mais belas de seu tempo, com os famosos olhos cor de violeta. Seu ex-marido Richard Burton disse que eles eram ‘tão sexies que equivaliam a pornografia’. Tão vibrante quanto o olhar era a sua coleção de joias, que só fez aumentar ao longo de oito casamentos. Só de Burton ganhou duas de suas mais cobiçadas peças, o Diamante Krupp e a pérola La Peregrina, além de um diamante em formato de coração descoberto no século 16, que pertenceu a uma das esposas do imperador indiano Shah-Jahan. Ela Justificava seu apreço dizendo que ‘grandes garotas precisam de grandes diamantes’.

Nascida em 27 de fevereiro de 1932 em Londres, Elizabeth Rosemond Taylor teve seu primeiro papel no cinema no longa There's one born every minute, de 1942. Tornou-se estrela de Hollywood após interpretar Velvet Brown em A Mocidade é assim mesmo (1944), aos 12 anos. Também atuou em Gata em teto de zinco quente (1958), ao lado de Paul Newman, e em Assim caminha a humanidade (1956), último trabalho do ator James Dean. Ao protagonizar o arrasa-quarteirão Cleópatra, de 1963, tornou-se a primeira atriz a receber um cachê de US$ 1 milhão. Foi durante as gravações do longa, considerado um dos mais caros de todos os tempos, que ela se envolveu com Richard Burton, um dos seus oitos casamentos (com Burton foram dois).

Ela também venceu dois Oscars por seu trabalho em Quem tem medo de Virgina Woolf (1966) e Disque butterfield 8 (1960). O último filme em que trabalhou foi These old broads, de 2001, uma produção para a TV dirigida por Matthew Diamond. Em 1992, emprestou a voz na série animada Os Simpsons: ela dubla Maggie no episódio em que a personagem pronuncia sua primeira palavra. O funeral da atriz está previsto para esta semana, no cemitério Westwood Village Memorial Park, em Los Angeles, onde também estão sepultados Marilyn Monroe, Natalie Wood e Truman Capote”.

Após a morte do grande amigo Rock Hudson (1925 - 1985), ator norte-americano, vítima da Aids, Elizabeth Taylor tornou-se uma das primeiras personalidades do mundo artístico a militar no combate contra a doença. Uma das principais associações americanas de pesquisa do vírus HIV, a amfAR destacou que a atriz “deixa uma herança monumental que permitiu prolongar e melhorar a vida de milhões de pessoas e que enriquecerá outras nas próximas gerações”. Isso é fato.



Um filme...


“Sempre admiti ser comandada por minhas paixões...”.

Elizabeth Taylor



Um filme protagonizado por Elizabeth Taylor que assisti quando ainda era criança e muito me marcou foi o drama Adeus as ilusões, dirigido pelo cineasta norte-americano Vicente Minelli (1903 - 1986). Uma produção norte-americana, o filme, cujo título original é The Sandpiper, foi lançado em 1965, sendo o roteiro, de autoria dos norte-americanos Dalton Trumbo (1905 - 1976) e Michael Wilson (1914 - 1978), baseado em história do norte-americano Martin Ransohoff. Em 1966, o filme ganhou o Oscar de melhor canção original, The Shadow of your smile, e o Grammy de melhor trilha sonora composta para um filme, que, no caso, conta a história de uma artista (Taylor) com idéias nada convencionais, morando sozinha com o filho pequeno (Morgan Mason) em uma cidadezinha da Califórnia. Por ela, o filho seria educado em casa, com os seus livros e as suas idéias - a sua proposta educacional -, mas, para sua frustração, as autoridades locais interferem em tamanha liberalidade e a obrigam a colocar o filho em uma escola para que, em regime interno, ele receba um ensino dito formal. Um dia, ao visitá-lo, a artista se apaixona pelo diretor da escola (Richard Burton), um sacerdote episcopal casado, e os dois passam a viver um relacionamento amoroso. Um filme polêmico. Um clássico.


Nathalie Bernardo da Câmara
OGUM BAIXOU DE VEZ!


“O homem tem de estabelecer um final para a guerra.
Caso contrário, a guerra estabelecerá um final para a humanidade...”.

John F. Kennedy (1917 - 1963)
Ex-presidente norte-americano


“As guerras são execradas pelas mães...”.

Horácio (65 - 8 a. C.)
Poeta latino


“A guerra é uma invenção da mente humana,
mas a mente humana também pode inventar a paz...”.

Winston Churchill (1874 - 1965)
Político britânico e Nobel de Literatura de 1953




Não foi nenhuma surpresa – pelo menos para mim – quando, no domingo, 20, ainda em sua rápida aparição pelo Rio de Janeiro, mais parecendo assombração, o presidente norte-americano Barack Obama, em declaração ao Irã, criticou a política do presidente Mahmoud Ahmadinejad, reeleito em junho de 2009, de certa forma alertando as autoridades iranianas para que cessem as atrocidades do seu governo contra a população do país. Em sua cruzada contra o mundo árabe, Obama tem se revelado nada mais que uma repetição dos seus antecessores, arbitrários por excelência e nenhum exemplo de moralidade, sem autoridade, portanto, para criticar não importa qual governo.

Não que eu defenda os abusos contra os direitos humanos ocorridos no Irã – pelo contrário! Eu só entendo que cada nação, soberana por si só, seja ela ocidental, oriental, cristã, muçulmana ou o que quer que o valha, deve, sozinha, administrar os seus próprios problemas, sem a intervenção de não importa qual país, muito menos a dos Estados Unidos. Na mensagem, portanto, divulgada por ocasião do Nuruz, o Ano Novo persa, que é celebrado no dia 21 de março, Obama acusou o governo do Irã de “se preocupar mais em se manter no poder do que proteger ao seu povo”. Segundo ele, inocentes têm desaparecido; jornalistas silenciados, mulheres torturadas, crianças condenadas à morte.

Como se sentenciasse os rumos do Irã, Obama disse que o futuro do país “não será formado pelo medo. O futuro do Irã pertence aos jovens” e a juventude decidirá o seu próprio destino, embora todos saibam que os Estados Unidos não abram mão de influenciar nessa decisão, determinando o que deverá ser decidido. E acrescentou, se dirigindo à juventude iraniana: “Mesmo que os tempos possam parecer tenebrosos, quero que saibam que estou com vocês”. Referindo-se, contudo, de modo mais amplo, as turbulências civis que ora vive o Oriente Médio, ele disse que os seus cidadãos protestam contra as ditaduras e clamam por mudanças democráticas. É fato! Nenhuma novidade.

Só que esses mesmos cidadãos é que devem olhar por si e, a todo custo, evitar sair de certas ditaduras e cair em outras. No caso do Irã, sair de uma ditadura para cair em uma outra ainda mais arrogante, que seria uma intervenção dos Estados Unidos, que nem a cultura alheia eles respeitam, embora Obama tenha afirmado: “Creio que certos valores são universais: a liberdade de associação e de assembléia pacíficas, a possibilidade de dizer o que se pensa e de eleger seus líderes. O que estamos vendo em toda a região é a insistência para que os governos rendam contas perante seu povo”. Concordo, mas sem intervenções. Sei não, mas até parece que o mundo árabe está em seu inferno astral...

Nathalie Bernardo da Câmara

domingo, 20 de março de 2011

OBAMA:
PERSONA NON GRATA


“O Rio de Janeiro continua lindo...”.

Gilberto Gil
Compositor e cantor brasileiro


Na manhã deste domingo, 20, liguei a televisão para ver as notícias nacionais e internacionais em andamento e me espantou a ignorância do jornalista que redigiu uma nota a ser lida pelo apresentador de um dado telejornal brasileiro, dizendo que, apesar dos conflitos, o amanhecer na Líbia havia sido mais tranqüilo... Ora, qual tranqüilidade é possível com uma chuva de mísseis a cair sobre a sua cabeça? Na sexta-feira, 18, contudo, um dia antes do início dos ataques a Líbia, manifestações eclodiram no Rio de Janeiro em protesto contra a chegada iminente ao Brasil do presidente norte-americano Barack Obama. Pois é! Engana-se quem pensa que o carioca ia deixar barato a presença indigesta do homem que, atualmente, no mundo, simboliza a ganância e a arrogância que sempre motivaram a maioria dos seus antecessores, sendo, ainda, a própria personificação do mal acima e abaixo do Equador.






Diferentemente dos protestos ocorridos em Brasília, onde Obama encontrou-se com la presidenta Dilma Rousseff no sábado, 19, o Rio de Janeiro radicalizou a ponto de manifestantes arremessarem coquetéis molotov contra o consulado norte-americano. O curioso, contudo, é que se, em Brasília, Obama e Dilma assinaram acordos bilaterais de cooperação entre os Estados Unidos e o Brasil, despertando otimismo na classe empresarial brasileira por enaltecer as nossas reservas de petróleo recém-descobertas, que é o pré-sal, demonstrando o interesse do seu país em nos ajudar a desenvolvê-las de forma segura para depois ser os nossos maiores clientes, manifestando, ainda, o seu desejo de ser nosso parceiro no desenvolvimento de biocombustíveis – para ele, “uma nova fonte estável de energia”, negando o direito do povo a se manifestar –, no Rio de Janeiro o presidente norte-americano só tirou onda, como se diz na gíria carioca.

A bem da verdade, independentemente do cargo que ocupa e dos compromissos oficiais em Brasília, no Rio de Janeiro Obama e a sua família só curtiram, como se estivessem de férias, já que os direitos humanos, tema previsto para ser abordado em seu discurso no Theatro Municipal no final da tarde, ele ignorou, embora, pela manhã, não tenha ignorado uma teleconferência, cujo tema foi o conflito na Líbia, vítima da maior intervenção militar ocidental no mundo árabe desde a invasão ao Iraque, adiando, assim, para a noite, a sua visita em família ao Corcovado – compromisso esse considerado oficial e, portanto, previamente incluso em sua agenda, apesar de que, a meu ver, uma ida do presidente norte-americano ao Cristo Redentor esteja mais para lazer ou, quem sabe, diante da conjuntura internacional, para se redimir pelos crimes cometidos contra a humanidade do que qualquer outra coisa.


Cidade de Deus?
Só no nome!


“Diz que deu, diz que dá e se Deus negar, oh nega, eu vou me indignar e chega. Deus dará, deus dará...”.

Chico Buarque
Compositor e cantor brasileiro

Se em Brasília, ainda, o presidente norte-americano Barack Obama deu a ordem para que tivessem início os ataques a Líbia, justificando aos jornalistas que não poderia ficar impassível “enquanto um ditador diz ao seu povo que não haverá compaixão” a quem se opor ao seu regime, no Rio de Janeiro ele declarou a necessidade de aumentar a coalizão internacional contra o governo de Khadafi. Curiosamente, pela manhã, Obama me vai justo a uma das favelas mais perigosas da capital fluminense, que é a Cidade de Deus – vai ver, a escolha deu-se em função do nome do lugar, que ele, provavelmente por ser cristão, levou ao pé da letra a expressão que diz ser Deus brasileiro. Pintando, então, de bom moço, sempre a esbanjar charme e simpatia, já que a seu favor conta um carisma incontestável, bem como um radiante sorriso nos lábios, mais parecendo garoto-propaganda de comercial de creme dental, garantindo, assim, o seu marketing pessoal, Obama não se fez de rogado e, após exibições de artistas locais, arriscou algumas embaixadinhas com garotos da favela, bem como entrou em uma roda de capoeira e até ensaiou uns passos, só faltando mesmo tirar um acorde do berimbau!


O fantasma da ópera


“A arte da interpretação:
mais um dedilhar da alma alheia...”.

Fabio Herrmann (1944 – 2006)
Psicanalista brasileiro


O cenário pode ter mudado - temos de denunciar os crimes de guerra -, mas o contexto não. Em função dos protestos que eclodiram às vésperas da chegada do presidente norte-americano Barack Obama ao Rio de Janeiro, o discurso ao povo brasileiro que ele faria a céu aberto na Cinelândia, no centro da cidade, foi transferido para o interior do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, longe de eventuais manifestações que, porventura, ocorressem durante o evento, do qual, inclusive, participaram cerca de dois mil convidados, entre políticos, artistas, desportistas e empresários, além de duzentos jornalistas brasileiros e estrangeiros. O tema do discurso alardeado pela imprensa, por sua vez, que durou algo em torno de vinte e um minutos, seria os direitos humanos. Seria, porque, de direitos humanos, não se sentiu nem respingos – coisa que, aliás, não foi novidade alguma, visto que Obama se comporta como se nem soubesse do que se trata, não tendo, portanto, moral alguma para falar a respeito.

Falando nisso, o tão almejado discurso deixou a desejar, pois foi fortemente marcado pelo populismo, sem falar dos recheios de nostalgia e de dicas sobre a sua preferência pessoal por certos aspectos da cultura brasileira, sendo a sua performance, contudo, o extrato mais fino de uma alegoria, ao estilo de certas aparições brasileiras, que beiram o folclórico, apenas para gringo ver. Só que, nesse caso, a situação inverteu-se. De repente porque as suas caras e bocas não lhes deixavam negar – parecendo um menino bobo quando ganha um doce – o fato de que, de fato, havia ficado extremamente impressionado com as belezas naturais do Rio de Janeiro e, de certa forma, contagiado pelo espírito alegre do carioca, por diversos momentos – dou o braço a torcer, reconheço – sequer lembrando o homem mau que deu a ordem do ataque aéreo a Líbia, apenas agravando ainda mais os conflitos no país árabe. Mas, se até uma moeda tem duas caras, o que dirá de um reles mortal? Obama é mortal, não é?







Bom! O presidente norte-americano deu início ao seu discurso saudando, em português, o Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, e todo o povo brasileiro, destacando “o calor e a receptividade” do carioca a sua família – ele continua alheio aos protestos contra a sua pessoa e a sua presença no Brasil ou será que, no fundo, tacha todo mundo, generalizando, de alienado, que ignora os malefícios do seu império? Bom! De novo. Então... Aproveitando a deixa, Obama falou, ainda, de futebol, fazendo proselitismo. Falou de cinema, dizendo que uma das primeiras boas impressões que teve do Brasil foi quando, criança, assistiu com a mãe ao filme Orfeu negro, do cineasta francês Marcel Camus (1912 - 1982), que, baseado na peça Orfeu da Conceição, do poeta e músico brasileiro Vinicius de Moraes (1913 - 1980), que transpões aos morros do Rio de Janeiro o mito da tragédia grega de Orfeu e Eurídice, foi rodado no Morro do Chapéu Mangueira, na zona sul da cidade, e lançado em 1959.

A peça, por sua vez, foi encenada no próprio Theatro Municipal, onde Obama proferiu o seu discurso – ele não disfarçou a emoção –, no qual, inclusive, disse ter constatado que, de fato – citando o compositor e cantor brasileiro Jorge Benjor, o Brasil “é um país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza”. E, aí, desatou a falar não somente do encontro com la presidenta Dilma Rousseff e da parceria firmada entre os Estados Unidos e o Brasil, mas, também, das similitudes históricas entre os dois países, com destaque para a herança africana de ambos, dos jogos olímpicos de 2016, do drama do Japão, do crescimento econômico do nosso país, de democracia e liberdade – menos do tema do discurso, que deveria ter sido os direitos humanos e, salientemos, do ataque a Líbia. Ao final, rematou a sua fala, reduzida a devaneios, citando – ninguém merece! – o escritor brasileiro Paulo Coelho, que teria dito que “‘com amor e vontade’ é possível mudar o destino das pessoas”.

Que o diga a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, presente ao evento, para quem o discurso do presidente norte-americano pecou por não dar ênfase à questão das mudanças climáticas no mundo. Na opinião da ambientalista, “as mudanças climáticas são o desafio deste século, de como países como os nossos podem se constituir exemplo para uma mudança no modelo de desenvolvimento”. E ela acrescentou: “Em um país que tem 60% da Floresta Amazônica e que reúne as melhores possibilidades de fazer essas transformações, imaginava que ele pudesse dar ênfase as responsabilidades que temos com as gerações presentes e as futuras”. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), por sua vez, que também compareceu ao recreio vespertino de Obama, lamentou que, apesar de exaltar a democracia, ficou faltando ao discurso uma abordagem favorável à suspensão do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos a Cuba há quase cinqüenta anos. E vamos orar!


Ter o corpo fechado: estar imune a perigos graças a amuletos e mandingas



— Pai, afasta de mim esse cálice...


Quando foi informado que, durante o seu tour pelo Rio de Janeiro, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama queria conhecê-lo, o Cristo Redentor fez as malas e desceu o Corcovado, passando a caminhar a esmo. Porém, como é filho de Deus e, dizem, Deus é brasileiro, sendo, ainda, pai de todos nós, fez meia-volta e reassumiu o seu posto, mas não sem antes dá uma passadinha rápida em uma loja de artigos de umbanda em São Cristóvão para comprar uns patuás e, depois, se recolhendo a sua insignificância, entregou a Deus e as mirongas a sua sorte, à espera do visitante que ele temia mais do que as enchentes e as balas perdidas que, de há muito, já viraram lugar-comum no cenário urbano da Cidade Maravilhosa, embora ao mesmo tempo apelasse a Ogum, o senhor da guerra, para que um imprevisto cancelasse a tão propalada visita. Em vão! Ao cair da noite, eis que, tendo chegado de helicóptero, Obama desponta no topo da mureta do Corcovado. O pobre do Cristo Redentor, por sua vez, tremendo mais do que vara verde, por pouco não desencadeando um terremoto no Rio de Janeiro, apenas conseguiu relaxar quando viu que o presidente norte-americano estava acompanhado da família, já que aquela seria uma visita reservada. E, não demorou muito, após posar para os fotógrafos, Obama se permitiu, inclusive, ao direito de alguns minutos em silêncio. Provavelmente, pensou o Cristo, para se redimir perante ele, o Redentor, por ter ordenado o ataque aéreo contra a Líbia, pondo ainda mais em risco a vida de inocentes. Lá pelas tantas, contudo, para o seu desespero, quando conseguiu entrar na mente de Obama, já que a mesma estava tomada por estranhos ruídos, possivelmente reverberando o estrondo dos mísseis lançados contra o país árabe, o Cristo Redentor descobriu que não era perdão que o visitante desejava, mas a transferência da Casa Branca para Copacabana, onde ele encontrava-se hospedado. Não deu outra! Acometido por uma súbita crise de pânico, o Cristo Redentor tremeu nas bases, literalmente, já que havia esquecido de comprar uma caixa do seu tarja preta, por pouco não vendendo a alma ao Diabo, a fim de que, imediatamente, ele tirasse o seu companheiro do seu território.

— E eu vou mandá-lo para onde? – quis saber o Diabo.

Visivelmente aperreado, o Cristo Redentor nem pensou duas vezes ao responder: — Por mim, pode mandá-lo até para os quintos do inferno, que eu não estou nem aí, mas que o faça sair do Corcovado. E rápido!

Felizmente, para a paz de espírito do Cristo Redentor, que, caso viesse a assinar o impensado acordo com o Diabo, depois teria de se explicar com Deus, a negociação não chegou a ser consumada, já que, em um piscar de olhos – sabe-se lá de quem! –, Obama e a família se despediram do anfitrião, entraram no helicóptero e desapareceram na neblina.

— Ufa! – suspirou o Cristo Redentor aliviado. – Essa foi por pouco... – disse, passando a mão na fronte lívida de suor.

Enfim! Aos poucos relaxando, o Cristo Redentor se desfez dos patuás e, já mais à vontade, se voltou para a lua cheia, decidido a curti-la do seu majestoso pedestal, pensando, contudo, que, da próxima vez, se houvesse uma, ele não esqueceria de comprar um colete à prova de bala. Como eu sei disso? Não sei. Só sei que foi assim...


Pernas, para que te quero!






Volte para o seu lar

Composição: Arnaldo Antunes
Intérprete: Marisa Monte

Aqui nessa casa
Ninguém quer a sua boa educação
Nos dias que tem comida
Comemos comida com a mão
E quando a polícia, a doença, a distância, ou alguma discussão
Nos separam de um irmão
Sentimos que nunca acaba
De caber mais dor no coração
Mas não choramos à toa
Não choramos à toa

Aqui nessa tribo
Ninguém quer a sua catequização
Falamos a sua língua,
Mas não entendemos o seu sermão
Nós rimos alto, bebemos e falamos palavrão
Mas não sorrimos à toa
Não sorrimos à toa

Aqui nesse barco
Ninguém quer a sua orientação
Não temos perspectivas
Mas o vento nos dá a direção
A vida que vai à deriva
É a nossa condução
Mas não seguimos à toa
Não seguimos à toa

Volte para o seu lar
Volte para lá
Volte para o seu lar
Volte para lá



http://letras.kboing.com.br/marisa-monte/volte-para-o-seu-lar/



Nathalie Bernardo da Câmara








PETRÓLEO:

O SONHO AMERICANO

“Se o mundo enlouqueceu contra nós, também enlouqueceremos. Responderemos. Converteremos a sua vida em um inferno. Nunca terão paz...”. Khadafi Ditador líbio,

em declaração ao canal RTP, de Portugal






Em nada me surpreendeu o ataque militar aéreo contra a Líbia promovido pelos Estados Unidos, França - quel dommage, ma chère! -, Canadá, Itália e Reino Unido, que teve início neste sábado, 19. Afinal, tal decisão já havia sido aprovada por maioria na última quinta-feira, 17, pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas - ONU. Votaram favoráveis aos ataques: EUA, Reino Unido, França, Líbano, Bósnia e Herzegovina, Colômbia, África do Sul, Nigéria, Gabão e Portugal. Em contrapartida, cinco importantes abstenções à operação, chamada de Odyssey Dawn, ou seja, Alvorada da Odisséia, geraram certa polêmica, que foram: Brasil, China, Rússia, Índia e Alemanha. Para a embaixadora brasileira Maria Luiza Viotti, “as medidas adotadas podem gerar mais danos do que benefícios”. A intervenção, contudo, já estava prevista pelo governo norte-americano, que, aliás, independentemente do respaldo da ONU, teria atacado à Líbia de qualquer jeito, inclusive por terra, a exemplo do que fez no Iraque. Daí eu não me surpreender com essa absurda decisão. Afinal, não há um só político norte-americano, seja democrata, republicano ou diabo a quatro, que, sendo eleito presidente dos Estados Unidos, já não assuma o poder especulando a possibilidade de fomentar guerras – parece uma praga, uma semente do mal. É como se a ganância e a arrogância estivessem no DNA dos políticos do país, que ficam apenas à espera de um pretexto qualquer para declarar guerra a não importa qual nação. Digo isso porque, mal assumiu a presidência do seu país, Barack Obama viu nos conflitos internos da Líbia a oportunidade para ele brincar de soldadinho de chumbo – estava demorando... Eu, particularmente, já sabia que isso ia acontecer. Só não sabia que a vítima seria a Líbia. Cheguei até a pensar, confesso, logo após a sua posse, que o bom moço, inclusive, poderia querer invadir a Amazônia, alegando que o governo brasileiro não tem competência para administrar tamanha riqueza natural, ou mesmo nos querer roubar o pré-sal. Porém, nesse caso, não sei qual o pretexto que os Estados Unidos criariam para tamanha sandice. Enfim! O fato é que, convenhamos, guerra não leva ninguém a lugar nenhum nem lugar nenhum a nada. E nada, mas nada mesmo, justifica a interferência de um dado país ou, no caso, de vários, cinco, a bem da verdade, na soberania de um outro país, não importa o quão pode ser desumano o tirano que o governa. O mais grave, entretanto, é que a maioria da população mundial sabe muito bem que o governo dos Estados Unidos, por exemplo, não está nem aí para nenhum outro país – quando foi que esteve? E essa história, então, de quererem defender os civis contrários ao ditador Khadafi é puro engodo. Para eles, aliás, as baixas das guerras que desencadeiam mundo afora se resumem, apenas, a efeitos colaterais. Digo isso porque, diante dos exemplos da História, o que importa, mesmo, para o governo norte-americano são as riquezas naturais, sobretudo se essas se traduzem em petróleo, que um dado país possa dispor, ou até mesmo um benefício de outra natureza que, de certa forma, possa lhe garantir a expansão do seu poder político diante do mundo. E arrogância para isso é o que não falta aos Estados Unidos.




Então... Quando eu soube que o tema do discurso do presidente norte-americano na tarde deste domingo, 20, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, seriam os direitos humanos vi logo que assistiríamos a uma comédia. Afinal, qual o seu entendimento por direitos humanos? E, como eu previa, foi só falácia, sobretudo porque ele não tem autoridade para falar sobre direitos humanos, liberdade, respeito, democracia, esperança... Ele não entende disso! Se entendesse, que não tivesse atacado a Líbia, que também é uma nação e – diga-se de passagem – “a maior economia movida a exportações de petróleo da África, à frente da Nigéria e da Argélia”, de acordo com o jornal Pravda. Daí que o governo dos Estados Unidos só irá cessar fogo quando alcançar o seu intento, mesmo porque é o maior interessado nas grandes reservas de petróleo da Líbia – os abusos de Khadafi contra o povo líbio serviram apenas de pretexto para os ataques. Só que o pior é que o infeliz do Obama ainda teve o desplante de pleitear o Nobel da Paz... Tenha dó!




Nathalie Bernardo da Câmara


sábado, 19 de março de 2011

A VOZ DAS MINORIAS



“A relação entre Obama e Dilma dependerá da química entre os dois...”.

Michael Shifter
Especialista norte-americano em América Latina,
presidente do Diálogo Inter-Americano dos Estados Unidos




Para não dizer que eu não falei das flores, como diria o saudoso compositor e cantor brasileiro Geraldo Vandré (1935 - 2009) em seu hino de resistência à ditadura militar (1964 - 1985) no Brasil... Depois do encontro reservado com o presidente norte-americano Barack Obama durante a sua visita ao Brasil, no qual, inclusive, ambos assinaram dez acordos bilaterais, la presidenta Dilma Rousseff, acompanhada do visitante ilustre, fez um pronunciamento à imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília. Segundo ela, se referindo a Obama, “a sua visita ao meu país me enche de alegria, desperta os melhores sentimentos do nosso povo e honra a histórica relação” entre as duas nações, acrescentando que a presença do presidente norte-americano estava igualmente imbuída de “forte valor simbólico”...

Ora, em uma situação como essa, nem por diplomacia Dilma poderia ter falado em nome do povo brasileiro, sequer dos seus sentimentos, que, aliás, em relação aos Estados Unidos, são bastante adversos. É só fazer uma pesquisa no Brasil para confirmar o alto índice de rejeição do seu povo não somente ao país do Tio Sam, mas, também, aos seus governantes. Bom! Em seguida, ela justificou tais palavras ao dizer que os povos do Brasil e dos Estados Unidos “ergueram as duas maiores democracias das Américas”, bem como “ousaram levar aos seus mais altos postos um afro-descendente e uma mulher, demonstrando que o alicerce da democracia permite o rompimento das maiores barreiras gerando um rompimento de barreiras para a construção de sociedades mais generosas e harmônicas”. Eita!

Porém, não se contendo, Dilma criticou, corajosamente, ainda que sutilmente, o protecionismo norte-americano, pedindo relações justas e equilibradas entre o Brasil e os Estados Unidos, que, para ela, mantêm sintonias... – quais, eu perguntaria? Enfim! Na opinião de la presidenta, “só a relação que não seja unilateral produzirá a paz entre povos”, acrescentando que “o Brasil tem compromisso com a paz que não é conjuntural”, mas com a paz que é “integrante de nossos valores”. O presidente dos estados Unidos, por sua vez, se pronunciando a seguir, considerou a sua visita ao Brasil um momento histórico, durante o qual, inclusive, foram lançadas “bases de grande cooperação” entre os dois países americanos. Sei não, mas eu só gostaria de saber qual o roteirista dessa horrenda ficção...



“Sonho que se sonha junto é realidade...”.
Raul Seixas (1945 - 1989)
Compositor e cantor brasileiro




Como diria o chargista:



“O maior castigo do mal praticado é tê-lo praticado...”.

Sêneca (4 a. C. – 65 d. C.)
Filósofo e poeta romano



Ninguém merece! Muito menos quando, no Itamaraty, durante o almoço com empresários brasileiros e norte-americanos, além de alguns políticos, entre eles, os ex-presidentes brasileiros Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso e José Sarney – valei-me! –, la presidenta Dilma Rousseff reiterou as boas-vindas ao presidente norte-americano Barack Obama. Desta vez, em nome de todo o povo brasileiro. Uma vez mais, nem por diplomacia ou gracejo ela deveria ter dito isso, já que a presença desse homem no Brasil é uma afronta à boa parte desse mesmo povo brasileiro e seria melhor não ter generalizado. Espantosamente, Dilma disse, ainda, que o encontro com Obama era um motivo de honra pessoal para ela, sem falar na sua insistência, desnecessária, em repetir o dobrado de Obama ser o primeiro presidente negro na História dos Estados Unidos e ela a primeira mulher a presidir o Brasil. Que enjôo! Afinal, como disse no texto que postei ontem, “sexo não determina competência, muito menos a raça de uma pessoa”.

E o pior é que la presidenta deu prosseguimento a certos absurdos, sobretudo ao dizer que o Brasil e os Estados Unidos “possuem inúmeros traços em comum”... – quais? E que “aprofundar as afinidades entre nossos povos torna os laços de amizade que nos unem mais significativos e duradouros do que uma relação baseada apenas em pactos formais entre governos”. Mania esquisita que certas pessoas têm de falarem pelos outros! Diacho... Enfim! Para Dilma, ambos os países “compartilham convergências que podem se traduzir em sintonia de propósitos no presente e no futuro, se, para isso, dedicarmos o melhor de nossos esforços”. Segundo “esse espírito”, ela propôs um brinde não somente ao presidente norte-americano, mas, também, ao sonho de esperança do ativista político norte-americano Martin Luther King (1929 - 1968). Elogios à parte, a ocasião mais pareceu um sarau poético, já que, logo a seguir, foi a vez de Obama citar o ex-presidente brasileiro Juscelino Kubitschek (1902 - 1976): “Que é Brasília, senão a alvorada de um novo dia para o Brasil”...




Ócio nada criativo



“Que nem eu só eu...”.

Grafite em Ribeirão Preto



Deu no jornal Folha de São Paulo:

”Luiz Inácio Lula da Silva foi o único ex-presidente brasileiro que recusou convite para ir ao almoço oferecido hoje por Dilma Rousseff, no Itamaraty, ao colega norte-americano Barack Obama, que inicia nesta manhã, por Brasília, sua visita ao país. Todos os ex-presidentes após 1985 foram chamados”.

“A Folha apurou que Lula informou ao Planalto que não iria. Ele tem dito a interlocutores estar no período de ‘quarentena’, e, segundo uma pessoa próxima de Lula, faz um esforço para não roubar os holofotes de Dilma. Quando presidente, Lula teve uma relação de bons e maus momentos com Obama. Por um lado, em encontro de chefes de Estado em 2009, Obama elogiou o brasileiro e o chamou de ‘o cara’. Por outro lado, Obama não veio ao país no governo Lula. Era um desejo do ex-presidente e o Planalto especulava que o motivo da recusa eram as divergências dos dois países sobre Oriente Médio, especialmente o Irã”.

Enquanto isso, o leitor Curt Heise, de Blumenau, em Santa Catarina, mete bronca na coluna do jornalista brasileiro Cláudio Humberto: “É ridicula a afirmação de lula (‘não quero desviar os holofotes da pres. Dilma’) justificando a sua recusa de participar do almoço (junto com outros ex-presidentes) com o pres. norte americano, ora em visita oficial ao Brasil. Para qualquer observador fica patente que a recusa se deve a decisão da 0NU de atacar a Libia - com o voto de abstenção do Brasil - lembrando, também, os gestos de amizade (e seus elogios a Kadafi) protagonizado por lula em sua visita a Líbia”.




Pão-pão, queijo-queijo...



“As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam...”.

Versos de uma composição dos letristas brasileiros
Sérgio Natureza (jornalista) e Tunai (cantor)



Para comemorar a parceria entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos estabelecida durante o dia de hoje, um coquetel foi servido por la presidenta Dilma Roussef ao presidente norte-americano Barack Obama nas instalações do Palácio da Alvorada ao final da tarde da aparente exaustiva jornada de ambos neste sábado. Recém-chegado da Cúpula de Negócios Brasil-Estados Unidos, onde se reuniu com empresários brasileiros e norte-americanos no Centro de Convenções Brasil 21, na capital federal, e escoltado por batedores, Obama desceu do carro blindado da presidência norte-americana e foi recebido pela anfitriã com um cardápio no qual constavam diversas iguarias genuinamente brasileiras: bolos, sanduíches leves e o famoso pão de queijo mineiro – exigência expressa da dona da casa. Para beber, café, sucos e refrigerantes. Entre os presentes ao discreto encontro, a família de Dilma e a de Obama, além de alguns ministros e políticos, bem como de fotógrafos credenciados para que registrassem o encontro dos dois chefes de Estado antes da comitiva norte-americana seguir para a Base Aérea de Brasília com destino ao Rio de Janeiro, onde ficará até a próxima segunda-feira, 21, quando embarcará em direção ao Chile e, em seguida, a El Salvador.


“Desconfio do respeito de um homem com o seu amigo ou a sua bandeira quando não o vejo respeitar o inimigo ou a bandeira deste...”.

José Ortega y Gasset (1883 -1955)
Filósofo espanhol




Curiosamente, logo após a reunião com os empresários, consequentemente, pouco antes de chegar ao Palácio da Alvorada e se despedir de Dilma, Obama informou a jornalistas que já havia autorizado as Forças Aéreas dos Estados Unidos a atacarem a Líbia com sistemas antimísseis, a fim de proteger a população que se opõe ao regime do ditador Muammar Khadafi. Que tal decisão, portanto, sirva de lição para la presidenta. Quem sabe, assim, ela não aprende que não deve confiar demais em Obama, praticamente estendendo com as próprias mãos um tapete vermelho para ele desfilar, esbanjando uma falsa simpatia, na Brasília do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, chegando ao cúmulo de, mais cedo, ainda na conversa reservada no Palácio do Planalto, argumentar ao seu mais novo companheiro que guerras custam vidas e devem ser evitadas. Quanta ingenuidade! Dizer isso justo para um presidente norte-americano, que, não tardou muito, deu ordens para o início de mais um genocídio a ser colecionado pelos Estados Unidos? A ironia, contudo, é que o nome da operação militar que, não duvido, irá destruir a Líbia, se chama Odyssey Dawn, ou seja, Alvorada da Odisséia.


“A ganância insaciável é um dos tristes fenômenos
que apressam a autodestruição do homem...”.

Textos judaicos




Decerto, o dia foi ingrato para o Brasil, já que, por ironia, a palavra alvorada consta não apenas no verso de JK citado pelo chefe do Executivo norte-americano durante o almoço, mas, também, é nome do Palácio tido como residência oficial de la presidenta e onde foi servido o genuíno coquetel de despedida. Daí que, em meu entendimento, apesar do aroma inconfundível do pão de queijo mineiro, o desfecho do encontro de Dilma e Obama terminou foi em pizza, e a de um fast food vagabundo qualquer...



Enquanto isso,
no Rio de Janeiro...

— Acho melhor eu pegar o beco.



Se em Brasília o coquetel servido por la presidenta Dilma Rousseff ao presidente norte-americano Barack Obama teve como principal iguaria o pão de queijo mineiro, os coquetéis que já começaram a ser servidos no Rio de Janeiro, antes mesmo da chegada do senhor das guerras, foram à base de combustível dentro de uma garrafa e um pavio no gargalo, ou seja, os famosos coquetéis molotov – cada um recebe uma visita como pode. Enfim! A repulsa à presença de Obama na Cidade Maravilhosa é tamanha que nem o Cristo Redentor, coitado, a digeriu...



Nathalie Bernardo da Câmara

sexta-feira, 18 de março de 2011

OBAMA NO BRASIL


“Obama escapará do apoio explícito ao ingresso do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas, como membro permanente. Os EUA perderam a confiança no Brasil depois do voto contrário às sanções contra o Irã, em junho do ano passado...”.

Denise Chrispim Marin
Jornalista brasileira em Cartas de Washington
Blog do jornal O Estado de São Paulo,
595 dias sob censura




Nada a declarar sobre a visita do presidente norte-americano Barack Obama ao Brasil neste fim de semana – o povo brasileiro poderia passar sem essa presença indigesta... Eu, particularmente, nunca senti simpatia por nenhum governante dos Estados Unidos, independentemente, aliás, da cor da sua pele. Digo isso porque, há pouco, lendo, no jornal O Estadão, uma entrevista do ator brasileiro Lázaro Ramos, fiquei estupefata. O ator, que vem se destacando por sua impecável performance nos palcos dos teatro, no cinema e na TV, declarou que Obama tem um valor “inestimável” para os negros que vai além da sua política – mais simplório, impossível! Desconsiderando, sem bom senso algum, a maldita tradição histórica dos Estados Unidos de, arrogantemente, impor ao mundo, desrespeitando a autonomia de outros países, a sua suposta supremacia, Lázaro Ramos reduziu a sua admiração pelo presidente norte-americano à condição da sua raça negra. O fato, por sua vez, me fez lembrar que, durante as eleições presidenciais de 2010, no Brasil, muitas mulheres alegaram votar nas então candidatas Dilma Rousseff ou Marina Silva apenas porque elas também eram mulheres e, em toda a História do país, não se tinha tido, ainda, uma representante do sexo feminino no Executivo. Quanto bairrismo! Afinal, convenhamos, sexo não determina competência, muito menos a raça de uma pessoa. Eu, particularmente, no caso das últimas eleições presidenciais ocorridas no Brasil, por exemplo, votei na ambientalista Marina Silva não porque ela era mulher, mas por sua plataforma de governo. Daí achar muita alienação política, embora eu não esteja julgando ninguém, um negro apoiar um outro negro só porque ambos são da mesma raça. Ora, negro ou branco, mulher ou homem, foi eleito presidente dos Estados Unidos? Não é confiável, mesmo se, um dia, já o tenha sido... A charge acima, contudo, não traduz que uma sutil alegoria do atual cenário político brasileiro.

 
 
“Como nação, vamos continuar a fazer tudo o que pudermos para promover a estabilidade e democracia no Oriente Médio...”.
 
Barack Obama
Presidente norte-americano em artigo publicado nesta sexta-feira, 18, no jornal USA Today
 
 
 
 
Segundo o G1, um dia antes da chegada de Obama ao brasil, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas - ONU aprovou, nesta quinta-feira, 17, “a criação de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia e a adoção de ‘todas as medidas necessárias’ para proteger civis contra as forças do governo Muammar Kadhafi, o que, na prática, autoriza ações militares” – decisão, inclusive, tomada cerca de um mês depois que teve início os protestos pela derrubada do ditador líbio e que recebeu dez votos favoráveis (EUA, Reino Unido, França, Líbano, Bósnia e Herzegovina, Colômbia, África do Sul, Nigéria, Gabão e Portugal) e cinco abstenções (Brasil, China, Rússia, Índia e Alemanha). O jornal O Estadão, por sua vez, disse que “o Brasil, ao justificar a abstenção, afirmou que a posição brasileira ‘não significa uma aceitação do comportamento do governo líbio’. De acordo com a embaixadora Maria Luiza Viotti, ‘o problema está no texto da resolução’. Para a diplomata brasileira, ‘as medidas adotadas podem gerar mais danos do que benefícios’. Além disso, segundo a representante brasileira junto à ONU, os movimentos no mundo árabe ‘têm crescido internamente. Uma intervenção externa alteraria esta narrativa, tendo repercussões na Líbia e em outros países’”. Curiosamente, contrária aos interesses dos EUA, a posição do governo brasileiro ameaça ainda mais a sua intenção do país ser incluído entre os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Ora, se não for, paciência! O que não pode, em hipótese alguma, é que por mais que os Estados Unidos praticamente exijam, o restante do mundo tem o direito de não querer rezar em sua cartilha.
 
 
Nathalie Bernardo da Câmara
 

quarta-feira, 16 de março de 2011

15 DE MARÇO: DIA NACIONAL DA ESCOLA E DIA MUNDIAL DO CONSUMIDOR


“É a verdade o que assombra,
o descaso o que condena,
a estupidez o que destrói...”.

Renato Russo (1960 - 1996)
Compositor e cantor brasileiro




O que mudou na frase escrita pela professora no quadro-negro? Para o drama dos escritores, a ausência do charmoso trema, no caso, na palavra frequente – uma das inúmeras mudanças decorrente da alucinada e desnecessária reforma ortográfica da língua portuguesa, em vigor desde o dia 1° de janeiro de 2009, que, como se diz, caiu... Da mesma forma que, diante da precariedade das instalações físicas da grande maioria dos estabelecimentos públicos de ensino do país, caso as autoridades competentes não cuidem das mesmas, os tetos das escolas também poderão cair, ou melhor, desabar, sem dó nem piedade, sobre a cabeça do aluno, sempre duplamente desrespeitado: seja por freqüentar espaços inóspitos, onde, de certa forma, ele assiste aulas e desfruta de momentos recreativos, seja por um lamentável despreparo dos seus professores – um grande desafio, convenhamos, o dos governos, em todos os âmbitos, que é o de proporcionar oportunidades para que esses mesmos professores recebam uma formação docente decente ou se reciclem, a fim de melhor se qualificarem para, condignamente, cumprir com a sua função social, que é a de educar, fazendo valer o maior dos direitos do principal consumidor da escola – o aluno –, que é o de ser educado.


Nathalie Bernardo da Câmara