domingo, 23 de fevereiro de 2014

ROLA-BOSTA, UM BESOURO REAL



Por Evaldo Alves de Oliveira
Médico pediatra e homeopata, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN).
Crônica publicada no dia 23 de fevereiro de 2014.
Blog do Evaldo - www.evaldoab.wordpress.com


Por que alguns pequenos seres desaparecem, e até os esquecemos? De um nada, ressurgem alegres e faceiros, a demonstrar a eterna força da vida que se recria a cada estação, mesmo que em lugar de apenas duas estações: muito sol e nenhuma chuva, e muito sol e alguns rasgos pluviométricos acompanhados de trovões e relâmpagos que logo se iam. Nos arredores da cidade, pros lados da Ilha, a percepção mais precisa do retorno da vida. Sapinhos, borboletas, plantas rasteiras. Era a recriação da vida.

As crianças, no pós-chuva imediato, logo percebiam a chegada dessa turminha, bem como a animação dos animaizinhos com morada permanente. Aí, a alegria frenética das formigas e o farfalhar, ou melhor, a fanfarronice dos massaricos. Nos quintais, passarinhos desiludidos cantavam e pulavam, sem no entanto acreditar no seguimento daquela breve estação, que sabiam passageira. Não sei por que, mas agora fui tomado por uma nostálgica lembrança de Baleia, Sinha Vitória e Fabiano.

Alguns pequenos seres não conheci em minha cidade, no interior do Rio Grande do Norte, e até hoje me encantam. Quando, ao caminhar por meu quintal, vejo alguns miquinhos (saguis) saltitando nos galhos das árvores, e imagino que jamais os vi quando criança, sou acometido de uma sensação estranha, um misto de nostalgia e indignação. É que conheci esses bichinhos sendo oferecidos aos motoristas que passavam pelas estradas do interior de Minas Gerais, quando da minha primeira grande viagem, de Natal para Brasília,  em busca de um lugar para minha Residência Médica. Necessidade ou traficância?

Mas tem alguns bichinhos em minha infância que, com status de monstros pré-históricos, munidos de garras e tentáculos, trombas fortes e amedrontadoras, muitas vezes me assustaram. Certo dia os vi por aqui. Eles andavam sumidos. Imagino que por lá também. Do mesmo modo que em minha infância, aqui eles surgem de repente, no pós-chuva do planalto central. Eles, os Besouros.

O mais representativo besouro de minha meninice é o rola-bosta, um escaravelho. Deve seu estranho nome ao hábito de rolar para trás excremento de bovino ou de cavalo, em forma de bola, procedimento envolvido em seu processo de reprodução biológica; serve de alimento para si e para os filhotes. 

No Antigo Egisto, o rola-bosta – escaravelho – sagrado era relacionado a um deus, responsável pelo movimento do sol. Como amuletos, tinham inscrições gravadas na sua carapaça, ou objetos em forma de escaravelhos constituíam amuletos sagrados. Um deles aparece em um anel de Tutankamon, o faraó que morreu jovem. 


Foto da internet


Eu, criança, não conseguia entender o jogo da vida que se renova a cada estação. Em algumas, como que trazidos pela chuva, a figura do rola-bosta.


Aqui, os coleópteros, o escaravelho, o rola-bosta.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

GOSTO DE QUERO MAIS - ARTIGO DE DORA KRAMER

21 de fevereiro de 2014 - O Estado de S. Paulo


A classe média está no radar de todas as campanhas presidenciais. Mais do que sempre esteve, porque agora inclui público muito maior que tem mostrado nas pesquisas qualitativas seus anseios com gosto de quero mais.

Depois da estabilidade da economia que marcou a eleição de Fernando Henrique Cardoso; dos ganhos sociais que levaram Luiz Inácio da Silva aos píncaros da popularidade e da continuidade que elegeu Dilma Rousseff, o eleitor desta vez quer ouvir falar em melhoria de vida. Não de mera sobrevivência.

Exige condições decentes, não se conforma com o básico, almeja bem-estar, reciprocidade por parte do Estado a quem paga parcela substancial de seus salários em impostos, e está bem mais escolado na defesa contra promessas vãs.

É nesse cenário que os aliados dos três candidatos, a presidente e seus dois adversários, Aécio Neves e Eduardo Campos, analisam com franqueza protegida pelo anonimato que a disputa não está fácil para ninguém.

O favoritismo de Dilma apontado nas pesquisas só é analisado com o otimismo de vitória no primeiro turno na conta matemática de manchete de jornal.

Com 43,5% de avaliação positiva, oscilação negativa de avaliação de governo e críticas generalizadas em setores que até pouco tempo elogiavam ou prestavam silêncio reverencial, no dizer dos correligionários não configuram um ambiente confortável.

Os oposicionistas tampouco soltam foguetes. Reconhecem que não capitalizaram esse descontentamento. Esperam fazê-lo mais à frente quando o jogo efetivamente começar.

Mas, o patamar de 17% para Aécio e 9% para Eduardo Campos não autorizam os festejos dessa mesma época em 2010 quando José Serra navegava em índices de 40%.

A canoa virou, argumentam. E pode virar de novo, a favor deles. É verdade, mas quem sabe o que vem por aí na economia e na Copa? Ninguém. Quando se procura saber o que os oposicionistas pensam em fazer diante dos possíveis protestos a resposta é: preferencialmente nada.

Tirar proveito de possíveis tragédias ou de manifestações contra todos os políticos e que atingem também governadores de Estados onde haverá jogos pode ser um risco. Melhor não correr.

Conclusão: diante da constatação que dá início à nossa conversa, por ora preferem todos ficar na muda, preparando seus discursos de acordo com o que as pesquisas mostram que o eleitor quer ouvir e esperando o vendaval (para o bem ou para o mal) da Copa passar para, então, se apresentarem.

Até lá, é tudo aperitivo.

Faz sentido. No fim do ano passado num encontro de representantes de um grande banco de investimentos americano em Foz do Iguaçu na América Latina era grande a preocupação com a simpatia do governo brasileiro pelos países ditos bolivarianos.

O ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, estava na plateia. Na ocasião soou algo estranha sua indagação sobre a possibilidade de o Brasil como líder da região seguir o rumo da Venezuela.

Para quem vive aqui a resposta é óbvia: zero. Mas, pensando bem, para quem acompanha o panorama a distância, agora ouve o silêncio do Brasil ante a convulsão venezuelana e não conhece a fundo a capacidade de resistência das instituições nacionais, é uma inquietação pertinente.

Em movimento. Está praticamente fechada a escolha do vice na chapa ao candidato do PMDB ao governo do Rio, Luiz Fernando Pezão. Será Ronaldo Cézar Coelho, ex-tucano agora filiado ao PSD de Gilberto Kassab.

O ex-prefeito é candidato ao governo de São Paulo com dois objetivos: mostrar ao seu eleitorado de perfil conservador que seu apoio a Dilma Rousseff é tático, não significa que tenha virado petista e ajudar a impedir a reeleição do governador Geraldo Alckmin.


ERA UMA VEZ LUCIDEZ...

“Você usa tanto uma máscara que acaba esquecendo quem você é...”. – Fala da personagem V, interpretada pelo ator e dublador nigeriano Hugo Wallace Weaving. O filme, quase homônimo, é V de Vingança (V for Vendetta), datado de 2005, com roteiro dos norte-americanos Andy e Lana Wachowski e direção do australiano James McTeigue.


A cegueira da presidente

OPINIÃO
19 de fevereiro de 2014 – O Estado de S. Paulo


Tido como o mais ponderado dos ministros da linha de frente do governo Dilma Rousseff, o titular das Comunicações, Paulo Bernardo, encarnou a beligerância com que a presidente reage costumeiramente quando se sente contrariada. Confrontado, numa entrevista a este jornal, publicada domingo, com a realidade ofuscante da insatisfação do empresariado com o Planalto, o ministro retrucou de bate-pronto: "Empresário ficar fazendo beicinho não dá". Um viajante recém-chegado de Marte não poderia ser criticado se imaginasse, diante desse enunciado desdenhoso, que a economia nacional está bombando e que o setor choraminga porque é de seu feitio, qualquer que seja o governo de turno.

Não bastasse a canelada, Bernardo ainda reduziu o descrédito da presidente nos meios empresariais a uma rusga conjugal que pode ser superada com uma boa conversa. "Temos de melhorar o relacionamento. Só isso", diagnosticou. E, numa bizarra mistura de burocratês com psicologia de esquina, prescreveu: "É preciso fazer uma boa DR com os empresários e ouvir". Saibam os capitães da indústria e do agronegócio, além do público em geral, que, na sintaxe bernardina, DR significa "discutir a relação". À parte a falta de senso do ridículo, vá o ministro chamar para o equivalente a uma terapia de grupo o presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Pedro Passos.

Ele e a entidade que chefia podem ser tudo, menos opositores do Estado como indutor do crescimento econômico. No domingo anterior, também em entrevista a este jornal, o insuspeito Passos provocou ondas de choque ao declarar, singelamente, que a confiança dos seus colegas no governo "acabou". Ou vá o ministro sugerir o mesmo ao usineiro Maurílio Biagi Filho que, dias atrás, refugou o convite para ser o vice do candidato do PT ao governo paulista, Alexandre Padilha. "É difícil ganhar a eleição em São Paulo com o agronegócio ruim", disse na presença do mentor da candidatura, o ex-presidente Lula. "O problema é causado pela política do governo federal e não adianta mais promessa."

Bernardo ainda poderia testar a poção mágica da "DR" junto ao presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih, ligado ao PT até o mensalão. "Não adiantam só palavras", aponta. Ele demanda "ações concretas" para conter a "desindustrialização". A expressão remonta aos anos Collor quando os beneficiários da reserva de mercado entraram em polvorosa com a abertura da economia. Voltou à tona contra a política de rigor fiscal de Fernando Henrique. Eram falsos alarmes. Mas a atual derrocada da indústria se traduz em evidências incontestáveis - que, entre outros estragos políticos, obrigaram Dilma a nomear um interino para a Pasta do Desenvolvimento, à falta de líderes empresariais interessados.

Há muito mais no governo, além do impróprio "beicinho" do ministro das Comunicações e de sua fé na "DR". As ideias, digamos assim, que circulam no centro do poder contêm material suficiente para uma versão dilmista do Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago. Conforme o Estado noticiou, a presidente estaria querendo criar um fórum empresarial voltado para a campanha da reeleição para tentar neutralizar as críticas do setor, amplificadas pela oposição. Cada um fica livre para imaginar o calibre e os efeitos desse novo Conselhão, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social criado em 2003 e que ainda precisa dizer a que veio. É certo, de todo modo, que o fórum será mais uma câmara de eco para Dilma.

A certidão de batismo desse ente seria um documento em que ela proclamaria os seus compromissos com o soerguimento da indústria, à maneira da Carta ao Povo Brasileiro do candidato Lula em 2002 - como se o empresariado precisasse de compromissos em vez de atos que, já não sem tempo, façam sentido. E estes não virão, a menos que, por um sortilégio, a presidente se transfigure. Boa parte do seu fracasso na economia se explica pelo caráter errático de suas decisões, ao sabor da vontade da hora. Some-se a isso o vezo autoritário, donde o déficit de audição de Dilma, e o resultado só pode ser o ceticismo dos agentes econômicos. Se algo faltava, era a acusação de fazerem beicinho.


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

MÁSCARAS E VAQUINHAS

“Eu não participo e acho que não pode ser uma orientação partidária fazer isso...”.

Olívio Dutra, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), ex-deputado federal, ex-prefeito de Porto Alegre, ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro das Cidades no primeiro mandato do ex-presidente Lula, opinando sobre as doações recebidas por políticos do PT que, detidos, foram retidos na Papuda, no Distrito Federal, em entrevista registrada pela repórter Rosane de Oliveira em janeiro do corrente. Para Olívio Dutra, que começou a sua militância como sindicalista, em declaração ao Estadão em novembro de 2013, os referidos detentos não são “presos políticos”. Eles foram julgados e, agora, “estão cumprindo pena por condutas políticas”.


Neobrasileirismos ou o sucesso da vaquinha

19 de fevereiro de 2014

Roberto Damatta - O Estado de S. Paulo


Brasileirismos são invenções brasileiras. No campo da música, da comida e da sexualidade, elas abundam. São brasileirismos o jogo do bicho, o samba, a feijoada, confundir fama com inteligência, não prender autoridade e dizer que bunda não tem sexo.

A presença mascarada dos elos pessoais abraçados pela norma do dar-para-receber e do vice-versa como algo obrigatório no espaço público é um outro brasileirismo que contraria a lei válida para todos e nos faz desconfiar da liberdade.

Liberdade que leva a escolhas, individualiza e acontece justamente na rua. Toleramos a liberdade porque ela é um conceito chave nas constituições "avançadas" que copiamos dos americanos, franceses e ingleses. Daí a contradição tragicômica: temos leis avançadíssimas, sínteses das melhores normas jamais produzidas no chamado "mundo civilizado", mas lamentavelmente não temos franceses, americanos e ingleses para segui-las.

Voltemos, entrementes, aos temas clássicos. Se a liberdade tem sido usada pelas elites sobretudo para matar o competidor, a igualdade permanece sem solução.

Continuamos alérgicos à sua aplicação e o seu uso é sempre constrangido pelos rotineiros "esse tem biografia", "esse é meu amigo", "esse é do nosso partido", que são parte de um outro brasileirismo. A duplicidade ética, expressa no axioma: aos inimigos a lei; aos amigos, tudo. Um postulado que impede, no modelo e na realidade, o tratamento igualitário e um mínimo de coerência.

* * *

A brasileiríssima máscara entra em cena em tempos democráticos. Impossível não tomá-la, como ocorre em outras sociedades, como um símbolo de forças antissociais: do incesto que nega a oposição entre afinidade e consanguinidade, ou de condutas abusivas e licenciosas cuja concretização exige a invisibilidade ou o disfarce como no Carnaval.

Estamos pensando em legislar o uso da máscara. Balas de borracha para policiais; máscaras para os manifestantes. Mas se até em centro espírita as almas dizem quem são, como admitir o poder dado a mascarados quando o ideal democrata é justamente conhecer o adversário? Em meio aos elos confusos entre as injustiças seculares e direito ao ativismo, o uso da máscara aumenta ou diminui a possibilidade do irracionalismo e da boçalidade contida na violência? Afinal, estamos querendo consolidar ou liquidar instituições?

* * *

Vivemos um momento de exigências igualitárias que demandam o fim da separação entre a casa e a rua: lei e cadeia na rua para os pé rapados; e, na casa, embargos de todos os tipos para os amigos e parentes. Chamam isso de "corporativismo" mas o nome verdadeiro é personalismo, como disse faz tempo.

Brasileirismo agradável foi testemunhar a sinceridade que baixou na Câmara dos Deputados com o voto aberto. O voto sem máscaras porque ele liquida a duplicidade entre casa e rua. "Como companheiro e colega eu não posso te cassar. Amanhã pode ser minha vez e você, mesmo sem ser do meu partido, retribui. Mas no plenário eu sou obrigado a fazê-lo, compreende? Antigamente, quando o voto secreto era minha máscara eu votava contra a perda do teu mandato, pois tu és realmente um ladrão! Mas, agora, temos essa lei que me obriga que eu seja o mesmo tanto em casa quanto na rua. Então, vejam que coisa triste para a ética da casa e das amizades, eu sou obrigado a tirar a mascara e a ser sincero!"

A sinceridade é um neobrasileirismo.

Ser o mesmo em todos os lugares é impossível. Mas ter o propósito de ser o mesmo é o que chamamos de honestidade.
A próxima eleição vai dizer se a honestidade é uma tortura ou uma bênção.

* * *

O ministro Gilmar Mendes aponta uma anomalia. As multas que os condenados devem pagar não podem ser transferidas, por meio de uma brasileiríssima vaquinha, para outras pessoas. A sugestão do ministro seria a de fazer uma vaquinha capaz de pagar o mensalão.

Tal parecer me lembra um evento bizarro mas idêntico, ocorrido nos primórdios da ditadura militar, em 1964, no governo Castelo Branco. Foi a campanha "Ouro para o bem do Brasil", destinada a reunir ouro para pagar a dívida externa brasileira. Tal vaquinha fez com que muitas pessoas doassem alianças e medalhinhas mas, diferentemente da vaquinha dos mensaleiros, jamais se soube onde o ouro foi parar.

Mas o brasileirismo da vaquinha que retorna, como na ditadura, para livrar as multas do mensalão, é um sucesso.

E se um condenado a 20 anos, pergunta-me um amigo irritado, resolver fazer uma vaquinha e conseguir na internet gente que fique em seu nome na prisão por um dia? Façamos o calculo: 20 vezes 365 é igual a 7.300 dias. Ora, diz ele, considerando o que os mensaleiros condenados já arrecadaram até agora, seria tranquilo conseguir 7 mil e tantas pessoas solidárias para ficarem por um dia na cadeia no lugar do condenado. E eles, é claro, iriam continuar atuando como heróis nacionais injustiçados por uma mascarada de cunho político. Se tudo é injustiça burguesa, por que não aplicar a brasileiríssima vaquinha para outras penalidades?

Tento argumentar, mas o amigo toma uma cerveja.

* * *

O mesmo sujeito me diz o seguinte: "Olha aqui, DaMatta, estou pensando em fazer uma vaquinha para deixar de trabalhar como um condenado. Quero poder dizer não - esse imenso privilégio dos abençoados". Como bom brasileiro, não disse nada. Mas pensei: se der certo eu também faço!



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

#COPAPRAQUEM? – CUIDADO AO COMPARTILHAR UMA INFORMAÇÃO (atualizado)...

Capa da edição n° 3537 da revista France Football,
publicada no dia 28 de janeiro de 2014.


Temos de tomar alguns cuidados quando formos compartilhar determinadas informações – no caso das redes sociais, então! E isso, sobretudo, se certas informações são eminentemente polêmicas – aí as prevenções devem ser redobradas –, mesmo, inclusive, quando elas são postadas por amigos que confiamos. Sim, porque, afinal, um compartilha de lá, um compartilha de cá... Só que, no afã de imediatamente compartilhá-la, apenas porque se é contra ou a favor de dada informação, nem sempre checamos a sua procedência, que, aliás, pode, originalmente, até ser verdadeira, embora, muitas vezes, o perigo não resida nem aí, mas nos intermediários, aqueles que, pelos mais diversos motivos, se encarregam de divulgá-la.

Exemplo: na noite deste domingo, 16, chegou-me uma postagem supostamente divulgando a capa da edição desta semana de uma revista francesa de futebol, ou seja, a France Football, que, considerada pelos especialistas como uma das mais conceituadas do mundo, estampava certo medo, por parte da FIFA, de a Copa de 2014 vir a ser realizada no Brasil, que, por sua vez, estaria minado por uma crise econômica e social, não sendo, portanto, o país que, nem de longe, a referida federação imaginou sonhar para organizar o mundial, visto que, a menos de cinco meses do evento, já se tornou fonte de angústia. Ponto.

Horas depois, contudo, de compartilhar a mencionada postagem, alguém me alertou para a possibilidade de a informação não proceder – e em hipótese alguma –, sugerindo, ainda, que eu a checasse. Imediatamente, cliquei no link e fui cair no site da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG-SP), logo ficando chocada ao tomar conhecimento sobre quem são os mantenedores do site que divulgou a edição em questão da revista francesa, não hesitando, assim, em deletar a postagem da minha linha do tempo no Facebook. E não pela reportagem em si, que realmente existe, mas pela interpretação tendenciosa feita da mesma por aqueles que alimentam o site da ADESG-SP.

Desse modo, entrei num site francês de pesquisa, em busca do site oficial do periódico francês e, de fato, comprovei o mea culpa da FIFA – nenhuma novidade –, por ter eleito o Brasil sede do mundial, mesmo lucrando enormemente com esse erro histórico, embora a publicação da reportagem tenha sido no dia 28 de janeiro do corrente, não esta semana. Só que o grave, mesmo, entre outras interpretações levianas, foi o site da ADESG ter afirmado que a edição não estava liberada para o Brasil por motivo de censura, o que não é verdade. Ocorre que, diferentemente, por exemplo, do jornal Le Monde diplomatique, que, entre outros países, disponibiliza uma edição mensal para o Brasil, a revista France Football não se dá a esse luxo, mas, pelo que entendi, qualquer um pode ter acesso as suas edições através, por exemplo, da internet: basta ser assinante.

O que ninguém pode aceitar de bom grado é propaganda enganosa ou dúbia de pessoas físicas ou jurídicas, tipo a instituição militar supracitada, reacionária por excelência, vale salientar, cujo objetivo – isso é grave e tem de ser dito limita-se a desestabilizar o país ainda mais, fomentando terrorismo, diferentemente da maioria que é contrária à Copa de 2014 em terras brasileiras, mas apenas por uma questão de bom senso, considerando que, diante das crises econômicas e sociais pululando por toda parte, o país nunca deveria ter sido eleito sede do mundial – o que também não é nenhuma novidade. Ah! Ler ao final a respeito da Associação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop).

Enfim! Quem, de fato, tiver interesse em assinar a revista francesa ou pesquisar a respeito, eis abaixo o site oficial do periódico, que, aliás, fez uma ampla cobertura da situação, bem como outro site correlato. Se assinar, tem acesso à reportagem Peur sur le mondial na íntegra, pela internet, mas, tudo indica, em francês – talvez com a eficiente tradução do Google –, ou, se for o caso, pedir para deixar um exemplar em casa...




A Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop), que reúne representantes dos Comitês Populares da Copa das 12 cidades-sedes do mundial de 2014, já lançou a Campanha #Copapraquem?. O objetivo é expor as violações de direitos humanos sofridas pela população em razão do megaevento e questionar o real legado que ficará para o país após os jogos.

Texto da peça acima:
A FIFA exige que se crie um tribunal de exceção com raio de ação de 1km ao redor dos estádios. Este tribunal julgará todos os crimes no entorno dos estádios com as determinações da FIFA, passando por cima da nossa Constituição. Além disso, nesse perímetro só poderão ser comercializados produtos de patrocinadores da FIFA. É assim que estão querendo fazer a Copa no Brasil. Lucro pra poucos e exclusão pra muitos.

Confira diariamente as peças da Campanha no site
 http://www.portalpopulardacopa.org.br/ e compartilhe em suas redes sociais!

Nathalie Bernardo da Câmara



domingo, 16 de fevereiro de 2014

FIM DO HORÁRIO DE VERÃO



Do G1, em São Paulo 


O horário de verão, que começou em 20 de outubro de 2013, terminou à 0h deste domingo, 16 de fevereiro. Por causa da mudança, os moradores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país têm que atrasar em uma hora os relógios. No total, o horário de verão durou 119 dias.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a medida levou a uma redução da demanda por energia no horário de pico de consumo de 2.565 megawatts. De acordo com o órgão, esse resultado corresponde a uma economia de R$ 405 milhões. O valor é quase quatro vezes o obtido com a adoção do horário em 2012, que ficou entre R$ 130 e 150 milhões.

Em nota, o ONS informou que essa economia se deve a um menor uso de energia termelétrica (gerada por usinas movidas a combustível como óleo, gás, carvão e biomassa) entre outubro de 2013 e fevereiro de 2014, período que durou o horário de verão.





História
O horário de verão foi criado em 1º de outubro de 1931 com o decreto 20.466.  Desde 2008, o horário de verão se inicia no terceiro domingo de outubro e vai até o terceiro domingo de fevereiro. Segundo o decreto, quando houver coincidência entre o domingo de carnaval e o término da medida, o encerramento se dará no domingo seguinte.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

PT: 34 ANOS – UM ARTIGO DE DORA KRAMER

“O PT é, de fato, um partido interessante. Começou com presos políticos e vai terminar com políticos presos...”.

Joelmir Beting (1936 - 2012)
Jornalista brasileiro, em frase profética alguns anos atrás.


Antiga forma

Dora Kramer - O Estado de S. Paulo, em 12 de fevereiro de 2014.

Dia de aniversário no PT é sempre um acontecimento. Em fevereiro de 2013, com dois anos de antecedência, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva lançou a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição durante a comemoração de uma década dos petistas no poder.

Anteontem, na festa de 34 anos de vida do partido [10-02], estava previsto que Lula lançaria Dilma de novo. Mas, mudou os planos, viajou para os Estados Unidos segundo consta para "melhorar o humor" de um grupo de investidores.

Enquanto o chefe animava o auditório por lá, aqui Dilma e os companheiros faziam um ensaio geral do discurso eleitoral pintados para a guerra com a oposição. Pelo que se depreendeu do tom, aquele modelo 'paz e amor' que levou à vitória em 2002 está de novo trancado no armário.

Foi substituído pelo figurino mais adequado aos embates de vale-tudo. Vale inclusive - ou melhor, principalmente - adaptar radicalmente a realidade para que ela atenda da forma mais adequada às conveniências.

Embora não tenha sido essa a intenção, de maneira invertida os oradores acabaram fazendo uma reflexão no espelho. A presidente Dilma Rousseff chamou seus opositores de "caras de pau". Ou seja, cínicos, dados à desfaçatez, a afirmar coisas que não são verdadeiras, que agridem os fatos. Mentirosos, pois.

Vamos deixar de lado águas passadas - aquelas em que um partido de oposição navegava atacando a política econômica para incorporar a mesmíssima política e ainda chamá-la de sua assim que virou governo - para nos atermos ao discurso atual do presidente do PT, Rui Falcão.

"Neopassadismo" e "novovelhismo" foram os neologismos inventados para emoldurar em sarcasmo as candidaturas adversárias, apresentadas como "farinha do mesmo saco". Ambas, na análise de Falcão, escoradas em "dinossauros" da política, todos integrantes das "velhas oligarquias" às quais os oponentes estariam enfeitando com "paetês" e "falsas alegorias" a fim de apresentarem-se ao eleitorado como representantes da renovação.

Bem, farinha por farinha, dividiam até meses atrás do mesmo "saco" o PT e o PSB de Eduardo Campos, o destinatário "novovelhismo" no dizer da novilíngua. O tucano Aécio Neves seria o "neopassadista".

Quanto aos dinossauros, às oligarquias e aos balangandãs nelas pendurados, se Falcão referiu-se aos avós dos dois candidatos, Miguel Arraes e Tancredo Neves, respectivamente, fez homenagem póstuma a dois personagens que fizeram cada qual à sua maneira, História.

Diferente das maneiras com que Paulo Maluf, Fernando Collor, José Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros e companhia protagonizam muitas histórias sob os olhares embevecidos e as palavras sempre agradecidas do PT.

Antes de finalizar mais uma vez atacando o Supremo Tribunal, no que seria acompanhado com entusiasmo pela plateia em saudação aos "guerreiros do povo brasileiros" presos na Papuda, Falcão criticou os adversários por fecharem os olhos a denúncias de corrupção.

A presidente Dilma tem razão, o caradurismo grassa.

Vantagem nenhuma. O governo trata as críticas do empresariado com desdém. Aqueles que não são qualificados como pessimistas, são incluídos na lista dos politicamente engajados em candidaturas presidenciais da oposição.

Fica faltando, porém, uma justificativa para as reiteradas recusas de empresários simpáticos ao Planalto em assumir a pasta do Desenvolvimento no lugar de Fernando Pimentel. Dois exemplos mais recentes, Josué Gomes da Silva e Abílio Diniz.

O último empresário de grande porte a participar do governo, Jorge Gerdau, ficou falando sozinho quando apontou a impossibilidade de se administrar o País com 39 ministérios.


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

VITÓRIA: EMBARGADA OBRA DO PONTAL DE BAÍA FORMOSA, LITORAL SUL DO RN

Está faltando areia branca na praia...
Zé Pretinho, nativo de Baía Formosa, morador do pontal e surfista, protegendo as ondas.



Surfistas comemoram embargo da obra do Pontal



Photos: Pedro Etinha


Primeira vitória do movimento Não à urbanização do Pontal, em Baía Formosa, fortalece autoestima dos surfistas do melhor point do Rio Grande do Norte. Ajudem-nos a preservar “A Menina dos Olhos de Baía Formosa: o Pontal”.



Por Eliade Pimentel
Jornalista profissional em ação voluntária pela preservação do Pontal de Baía Formosa.


A ONDA QUE REVELOU FÁBIO GOUVEIA, o maior surfista brasileiro de todos os tempos, está a salvo, por enquanto, das mãos daqueles que querem ferir sua beleza. A obra no Pontal de Baía Formosa foi embargada, pelo IDEMA, pelo fato de o município não cumprir uma das cláusulas para dispensa de licença, que no caso é a cessão da área pela Superintendência do Patrimônio da União (SPU/RN).   

Em reunião do Comitê Gestor do Projeto Orla, realizada quarta-feira, dia 4, na Câmara dos Vereadores de Baía Formosa, em nome de todos os que são contrários à urbanização do Pontal, argumentei que a correspondência assinada pelo prefeito para o IDEMA e para a SPU/RN se refere à cessão de área e licenciamento para o Projeto Orla na praia de Bacopari, e não cita de forma alguma que o projeto se estende ao Pontal de Baía Formosa, onde a obra em questão havia sido iniciada.

Outro argumento apresentado foi o crime ambiental de formação de aterro ilegal no mesmo local, composto por terra de outra origem (visível pela coloração, diferente da areia da praia) e rejeitos de construção civil no Pontal, formando uma elevação incompatível com a paisagem original. Percebe-se que a intenção do gestor e empresário do único hotel situado ao lado do point, é nivelar a área para ter mais espaço de estacionamento a ônibus de turismo e veículos dos seus hóspedes. 


Photo: Nathalie Bernardo da Câmara – Da coleção Perspectiva angustiante, 2013.


Após a reunião, representantes da SPU/RN e IDEMA desceram ao Pontal para averiguações. Como não se tratava de funcionários da fiscalização dos referidos órgãos, e estavam ali como técnicos-consultores, membros do Comitê Gestor do Projeto Orla, eles se comprometeram a levar todos os pareceres necessários aos setores responsáveis. Diante da pressão popular, o representante do Patrimônio da União sugeriu que o prefeito parasse a obra, o que não foi acatado de imediato.


No entanto, após veiculação de reportagens na Inter TV Cabugi, que apurou com os órgãos as denúncias, o IDEMA embargou a obra e o prefeito não teve outra saída a não ser suspendê-la. Todos respiram mais aliviados com a decisão sábia do gestor do IDEMA, mas têm a certeza que mesmo com uma batalha ganha, a guerra pelo Não à urbanização do Pontal continua, porque a ideia é sensibilizar o Patrimônio da União para não ceder a área para a prefeitura. E a luta continua.



quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

HOMENAGEM A HENFIL (05/02/1944 - 04/01/1988)

Cartunista, quadrinista, jornalista e escritor brasileiro.