domingo, 31 de maio de 2009

QUALQUER SEMELHANÇA
É MERA COINCIDÊNCIA...





“O que me impressiona, à vista de um macaco,
não é que ele tenha sido o nosso passado:
é este pressentimento de que ele venha a ser o nosso futuro...".
Mário Quintana (1906 - 1994), poeta brasileiro





E não é que o poeta tem razão?




Dados pessoais:
Le Penseur – 1880
Rodin (1840 - 1917),
escultor francês
Museu Rodin
&
O Pensador – 2009
Charles Darwin (1809 - 1882),
naturalista britânico
Museu Evolutivo





Foi aí, então, que...





— “Para dizer o que vai acontecer,
é preciso entender o que já aconteceu...”.
Maquiavel (1469 – 1527)


Para que isso, de fato, não aconteça, ou seja, retornarmos ao tempo de Dino, com apenas dois míseros neurônios, dou início, aqui e agora, a uma campanha a favor do voto facultativo no Brasil.
Afinal, se o povo brasileiro, obrigado que é a votar, elege corruptos sem nenhuma vergonha na cara para lesar o erário público e o próprio povo, bem como para dilapidar patrimônios nacionais, não é possível que a não obrigatoriedade do comparecimento as urnas eleitorais não contribuam para reduzir a quantidade de políticos que passam a léguas de distância do significado do substantivo integridade.
Por isso, entre outros motivos, defendo o voto facultativo.
Proposta para o tema da campanha? Pensei em: EU FACULTO!
– mas, não gostei. Soa feio. Pensei, então, em:



VOTO FACULTATIVO, SIM!



Nathalie Bernardo da Câmara
Do Congo...





sexta-feira, 22 de maio de 2009

A VERDADEIRA HISTÓRIA DE
CHAPEUZINHO VERMELHO


Uma parábola do estupro
Quem nunca ouviu falar da história da menininha que recebe da mãe a missão de entregar uma cesta com broas fresquinhas, um pote de geléia e um tablete de manteiga à avó doente e solitária, que vive em uma casinha, isolada, na floresta, mas não sem antes receber uma série de recomendações, tipo: não falar com estranhos? Em seu percurso, contudo, antes de chegar ao seu destino, um lobo cruza o caminho de Chapeuzinho Vermelho – a menininha – e com ela faz uma aposta: quem chegaria primeiro a casa da vovozinha? Porém, Chapeuzinho logo esquece a aposta e fica a flanar na floresta, distraindo-se com frutos, folhas, flores e vôos de pássaros. Nesse ínterim, o lobo chega a casa da vovozinha e a devora. Deitando-se na cama, ainda não saciado, fica a espera da sobremesa: Chapeuzinho, que, não demora muito, bate à porta, logo indo ter com a suposta avó – o lobo, que, alegando sentir frio, faz com que ela se deite na cama, ao seu lado, debaixo das cobertas. Só que, detalhe: além de estranhar os pêlos da suposta avó, Chapeuzinho questiona os seus olhos, nariz, mãos e boca tão grandes. É quando o lobo engole-a por inteiro, refestelando-se em seguida. E haja sono! Roncos e mais roncos, o que chama a atenção de um lenhador, que, passando defronte a casa, flagra o lobo deitado e dormindo na cama da avó de Chapeuzinho. Desconfiado, o lenhador aproveita que o lobo está em sono profundo e corta a sua barriga, tirando de dentro Chapeuzinho e a avó, salvando-as da digestão do bicho. O resto? Bom! O resto todo mundo também já sabe. O lobo morre e Chapeuzinho Vermelho sai dessa história com uma lição aprendida: não conversar com estranhos e sempre seguir o seu caminho.
Eu nunca acreditei nessa história! Sempre achei que tinha algo estranho nela... Afinal, eu não tenho só dois neurônios e li a obra do escritor brasileiro Monteiro Lobato (1882 - 1948). Eu sei o que é um conto de fadas e congêneres, bem como sei ler nas entrelinhas. Ocorre que essa é a versão dada à história de Chapeuzinho Vermelho pelos alemães Irmãos Grimm – Jacob (1785 - 1863) e Wilhelm (1786 - 1859) –, que reuniram numerosos contos populares e os publicaram em 1812. Um desses contos era, exatamente, a história da menininha comida pelo lobo mau. E é a versão que conhecemos. No entanto, a origem da história é outra.














Remonta ao escritor francês Charles Perrault (1628 - 1703), que, inspirando-se na tradição oral, publicou O Chapeuzinho Vermelho, em 1697, um dos Contos da mãe gansa, com o pseudônimo Perrault d’Armancour, nome do seu filho. Poderíamos até, para nos referirmos à versão dos Irmãos Grimm, transcrever, por exemplo, as palavras do Coelho Branco de Alice no País das Maravilhas, do romancista inglês Lewis Carroll (1832 - 1898), publicado em 1865, que disse: “Eu sou uma fraude!”. Sim, porque, a bem da verdade, os Irmãos Grimm negaram a versão original da historinha de Chapeuzinho Vermelho e deram corpo a outra versão e possibilidades de leitura.
Tanto fizeram que amenizaram a intenção original da história, embora não tenham destituído-a do seu simbolismo. E qual era a intenção original de Perrault? Fins didáticos. Segundo a pesquisadora norte-americana Catherine Orenstein, em seu livro Chapeuzinho Vermelho desencapuzada: sexo, moralidade e a evolução de um conto de fadas, 2002, Perrault queria “alertar as jovens virgens e mesmo as não tão virgens que brilhavam na corte do Rei-Sol”, fundando, com o seu gesto, a literatura infantil clássica, não tão infantil. Para ela, “as alegorias de seus contos representam as preocupações políticas e sexuais da França no século XVII”.


Ainda segundo a pesquisadora, “vestir a sua heroína com um capuz vermelho – a cor das prostitutas, do escândalo e do sangue – simboliza o pecado da menina e a previsão do seu destino”. E ela conclui: “Somente agora, trezentos anos depois que Perrault transformou A História da vovó [tradição oral] em seu Le Petit chaperon rouge, é que o feminismo impregnou o conto de fadas de um sentido de patriarcado e nos deu o vocabulário e a estatística para ler O Chapeuzinho vermelho como uma parábola do estupro”. No caso, com o agravante da pedofilia, sendo, de certa maneira, a menina, o lobo e a vovozinha – os três – uma única personagem, em busca de uma identidade.

Diferentemente do desenho do francês Gustave Doré (1832 - 1883), a ilustração de Munro D. J., que acompanha o manuscrito de Perrault é ousada: “o lobo não usa disfarce e está em cima da menina, com uma pata de cada lado”, diz a pesquisadora brasileira Eliane T. A. Campello, em seu artigo As Múltiplas vidas de “Chapeuzinho Vermelho”. Segundo ela, que analisa a tese de Catherine Orenstein, “no fim do conto, a menina é comida por ele [lobo], sem salvação nem redenção. A perda da virgindade encontra sinônimo na expressão popular, na época do autor: elle avoit vû le loup – ela viu o lobo, incorporada na arte e na cultura dos últimos séculos com a mesma conotação sexual”.

Para o psicólogo norte-americano Bruno Bettelheim (1903 - 1990), em seu livro Na terra das fadas, ou Chapeuzinho é estúpida ou deseja ser seduzida e se finge de estúpida. Ao mesmo tempo, o pesquisador diz que “Chapeuzinho é mais madura do que João e Maria [conto publicado pelos Irmãos Grimm], demonstrando uma atitude interrogativa diante do mundo que os dois irmãos desconhecem, por não questionarem sobre a casa de biscoitos nem explorarem as intenções da bruxa. Chapeuzinho é curiosa”. Só que foi a vitória do lobo, na versão de Perrault, que levou o escritor escocês Andrew Lang (1844 - 1912) a republicar o seu Chapeuzinho Vermelho.

De fato, uma versão sem escape, a de Perrault, considerado o pai da literatura infantil. Daí, a pergunta que não quer calar: Onde esteve o pai da menina durante toda a narrativa? Simbolicamente, o lenhador? Ou, segundo Bettelheim, o sujeito oculto no lobo? E que seria, sim, “a externalização dos perigos de sentimentos edípicos reprimidos e, como caçador [lenhador] na sua função resgatadora e protetora”. Uma informação à parte: existe um adendo na história contada por Perrault. Ou seja, um pequeno poema. Nele, ainda segundo o psicólogo, ficamos sabendo que “meninas bonitinhas não deviam dar ouvidos a todo tipo de gente”. As feiosas também, bem!


Afinal, a pedofilia não vê cara. Nem o estupro. E se as meninas dão ouvidos a todo tipo de gente – prossegue Bettelheim –, “não é de surpreender que o lobo as pegue e as devore”. Igual a história foi devorada pela mídia. Afinal, o mais popular conto de fadas foi reescrito não sei quantas vezes, adaptado para o teatro e o cinema outras tantas, virou moda de canção e, até, mote de cordel, inspirando, ainda, artes as mais diversas. Agora, vamos devorar a parábola, já que as proporções do estupro e da pedofilia, no Brasil, chegaram, realmente, a proporções alarmantes. E vem de toda parte, parte para cima de qualquer um, indiscriminadamente.

Vejamos alguns exemplos, recorrendo, para isso, a imagens. Elas falam por si só...


E voilà!








Versão surreal...
























































Cenas que não gostaríamos de ver...























Desenhista do jornal português Expresso, António desenhou este cartoon e o publicou com o título Deixai vir a mim as criancinhas... E os católicos continuaram serenos! Continuam, até hoje... E haja serenidade!
























































E agora, José?



















No Brasil, o número de páginas na internet denunciadas por divulgação de pedofilia e exploração sexual de crianças dobrou entre 2006 e 2007. A informação vem da Organização não governamental que cuida da Central Nacional de Denúncias por crimes Cibernéticos.Somente em 2007 foram realizadas 267.470 denúncias a respeito de 38.760 páginas com este tipo de conteúdo, contra 121.635 em 2006, envolvendo 17.148 páginas. O aumento entre um ano e outro foi de 126%.Este aumento pode ter sido gerado por dois fatores: o crescimento em 20% dos usuários da net no país e das redes de relacionamento. Em se tratando de rede de relacionamentos, o Orkut, com perfis e comunidades virtuais, é responsável por 90% das páginas denunciadas. Portanto, pais e mães, olho vivo nos amigos, comunidades e fotos que estão disponibilizados nos perfis de suas crianças (Este texto não é de minha autoria).


















Deu no Expresso, de Portugal:

“Se depender do ministro da Justiça espanhol, Mariano Fernandez Bermejo, os juízes poderão vir a obrigar os pedófilos a submeterem-se a tratamentos de ‘inibição do desejo sexual’, ou seja, à castração química obrigatória para pessoas que tenham cumprido pena por abuso sexual de menores. O ministro da Justiça defende que tratamento siga critérios médicos e seja aplicado no caso de os visados continuarem a ser considerados perigosos para a sociedade. O tratamento com hormonas antiandrogénios leva à diminuição das hormonas masculinas ( testosterona e a di-hidrotestosterona), o que é comparável com o efeito da castração cirúrgica dos testículos. O resultado é facilmente medido através de análises ao sangue, permitindo ao clínico um melhor controlo da eficácia do tratamento”.






















Nathalie Bernardo da Câmara
Pela estrada afora...

FUGA EM RETICÊNCIAS*...


“Escrevo para compreender o que é um ser humano”.
José Saramago

Paris. Abril de 1994. Algumas batidas secas na porta levantam-me, subitamente, da cama. Do lado de fora, aguardando-me, impaciente, já que eu havia perdido a hora, Laly Carneiro, a minha madrinha e amiga dos meus pais de longa data – iríamos viajar no final de semana, juntamente com o seu marido, Serge Meignan, que nos esperava no carro, acompanhado do casal Lêda e Luís Carlos Guimarães, de passagem pela cidade das cidades, como muito bem definiu Paris a educadora, escritora e feminista norte-rio-grandense Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 - 1885). Assim, após receber das mãos de Luís Carlos e Lêda um grande envelope com cartas de meus familiares de Natal, recomendações e algumas encomendas – à época, eu morava em Paris –, partimos rumo ao Mont-Saint-Michel.

Um dos sonhos do poeta Luís Carlos – à época, na iminência dos seus sessenta anos –, o monte, que eu também não conhecia, abriga, desde 966, um monastério de beneditinos, resistindo, como pode, aos séculos que passam, as guerras insanas, aos incêndios criminosos e a todos os tipos de intempéries. No entanto, o que, atualmente, tem tirado o sono dos monges é, simplesmente, a areia, já que o Mont-Saint-Michel é, na verdade, uma pequena ilha rochosa, cravada na embocadura do rio Couesnon, fronteira da Normandia com a Bretanha, e o nível da areia tem aumentado consideravelmente ao longo dos anos, transformando-se em uma ameaça à sobrevivência do monte, também conhecido como La Merveille, apesar de outrora já ter sido um presídio, com direito, inclusive, a uma sofisticada sala de torturas.

Bom! Essa é outra história. Já a nossa... Finalmente, após horas de estrada, eis que vislumbramos o Mont-Saint-Michel, sobressaindo-se, ao longe, na paisagem. De repente, quando menos esperamos, já estávamos diante de uma magnífica e deslumbrante baía, na qual o monte reinava absoluto, transpirando imponência e magia, subvertendo até mesmo os sentidos dos mais empedernidos. Assim, diante de tanta beleza, rendemo-nos à contemplação e, completamente entregues, fomos envolvidos pela poesia e pelo mistério do lugar, em puro êxtase. Mas, precisávamos aproveitar a maré baixa para acessarmos o monte e prosseguirmos a pé, embalados pela maresia, enquanto a primavera, generosa, iluminava o nosso caminho, acalentando-nos com a sua morna temperatura e despertando sensações até então adormecidas.

Em terra firme, apenas Laly, Lêda e eu aceitamos o desafio das alturas, ascendendo aos jardins da cúpula do monastério, localizados no alto do monte, já que Luís Carlos, safenado, preferiu não desafiar os seus próprios limites, ficando em companhia de Serge, provavelmente tagarelando por entre as ruelas da parte baixa, que, aliás, possui uma infra-estrutura capaz de satisfazer turistas os mais exigentes, assim como peregrinos os mais variados. Horas depois, contudo, ao descermos, encontramos o poeta angustiado, preocupado que ficou com a nossa demora, embora, eu imagino, ele estava mesmo era com fome. Foi aí, então, que, muito oportunamente, Laly propôs que comêssemos algumas ostras à base das chamadas ervas finas, que, devidamente degustadas, são, até hoje, lembradas.

Em seguida, ficamos sabendo dos efeitos da maré na região naquele período do ano, sobretudo em noites de lua cheia. Ou seja, por influência da força da lua, o nível das águas da baía sobe de uma maneira que praticamente inviabiliza o acesso ao Mont-Saint-Michel. E, se nele estivermos, não nos deixa sair. Agora, se a travessia for feita de barco, não importa se para chegar ao monte ou para sair, o isolamento se desfaz. E essa história me interessou. Lembro, inclusive, de ter feito um comentário a respeito e que só de pensar na possibilidade de viver uma experiência dessa natureza já era, no mínimo, fascinante: passar dias e mais dias na ilha, sem comunicação com o continente, apenas desfrutando dos encantos e prazeres do lugar, de há muito, aliás, um misto de simbologias e de elementos sagrados e profanos.

Luís Carlos concordou comigo e chegamos à conclusão que vivermos essa experiência, caso a mesma fosse realmente possível, o mundo até poderia parar do lado de fora e, de repente, se fragmentar, mas, do lado de dentro, permaneceríamos em movimento, vivos e em constante mutação, reaprendendo a olhar e a enxergar. Infelizmente, naquele dia, a lua não estaria cheia e nem passava na cabeça dos demais viver tal aventura. Vai ver, é porque eles não eram nem são poetas. Luís Carlos e eu, que éramos – eu ainda o sou –, não dissemos mais nada e, pouco depois, já estávamos na casa de campo de Laly e Serge, Le Bois Hue, onde pernoitamos e, no dia seguinte, a caminho de Honfleur, passamos por Lisieux, cidade onde nasceu e morreu santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897). E Luís Carlos propôs que parássemos um instante.

Com o seu humor habitual, o poeta queria que entrássemos em um bar qualquer e fizéssemos um brinde àquela que, canonizada em 1925, é considerada a maior santa dos tempos modernos. Para frustração do poeta, o seu desejo não foi realizado, já que Serge, católico, disse que o gesto proposto era uma heresia e seguiu em frente, nos deixando até hoje sem saber se ele falou seriamente ou se apenas ironizou. O fato é que Luís Carlos logo mudou de assunto, já que, na verdade, ele só queria mesmo era tomar uma cerveja. Teresinha, coitada, foi só um pretexto, mas, de qualquer modo, não demorou muito, o poeta satisfez o seu desejo. Em Honfleur, à margem do rio Sena, deixou-se seduzir pela paisagem litorânea, que nos revelava, ao longe, embarcações as mais variadas, ora chegando, ora saindo do porto de Le Havre.

Mas, como era de se esperar, o dia ainda nos reservava algumas surpresas e, de repente, quando menos esperamos, conhecemos as belíssimas e famosas estações balneárias de Deauville e Trouville, parando, diga-se de passagem, em um fabuloso cassino – confesso que fiquei impressionada –, onde apostamos alguns francos e, não preciso dizer, perdemos tudo... Porém, a aventura chegava ao fim e, de volta à estrada, retornamos a Paris. O engraçado é que, enquanto Luís Carlos, para quem tudo era motivo de festa, já estava a sonhar com o brilho da Cidade Luz, aonde chegamos ao cair da noite, eu só sonhava em cair na minha cama e dormir. Afinal, apesar de prazeroso, o final de semana havia sido exaustivo e, na manhã seguinte, eu tinha de acordar cedo para ir à universidade.

Hoje, anos depois desse tour, penso no poeta e nas reticências que ele nos legou, as quais, em hipótese alguma, maculam a objetividade do poema. Se é que o poema tem de ser objetivo. Afinal, como já dizia o inesquecível e brasileiríssimo poeta Mário Quintana (1906 - 1994), “a maior conquista do pensamento ocidental foi o emprego das reticências”. Quanto a Luís Carlos Guimarães... O menino azul pode não ter morrido tragicamente em um desastre de velocípede – como disse no epitáfio escrito em 1953 –, mas, com certeza, apesar da vida dura e do mundo escuro, nunca deixará de ser o que sempre foi, ou seja, uma semente de poesia emergindo do mar, tal qual o Mont-Saint-Michel, temperada, pura e simplesmente, com o sal da palavra – eu só acrescentaria algumas ervas finas. E nunca sairá de cena, como todos os grandes poetas...

Nathalie Bernardo da Câmara



* O poeta brasileiro, Luís Carlos Guimarães nasceu em Currais Novos, no Rio Grande do Norte, no dia 23 de maio de 1934 e, curiosamente, faleceu em Natal um dia antes de completar sessenta e sete anos, no dia 22 de maio de 2001. Em julho do mesmo ano, o extinto jornal O Galo, da Fundação José Augusto, publicou uma edição especial em sua homenagem. O presente texto, dedicado à Lêda Guimarães, foi, então, um dos selecionados para a referida edição. Agora, pelos oito anos da ausência do menino azul, Fuga em reticências... passou por uma devida revisão e atualização pela própria autora, que é jornalista, fotógrafa e escritora, além de admiradora do homem e do poeta Luís Carlos Guimarães.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

7 em 1

EL CREADOR


"Quem procura acha...".
Dito popular


Em minha última postagem 7 em 1, do dia 19 de maio, divulguei o fato de que Deus tem um blog. Muitos devem ter duvidado, achado que eu estou tantã, mas, é a pura verdade. Assim sendo, só resta-me confessar: El, de fato, existe! Estive em seus domínios virtuais. Porém, falta-me saber, ainda, se ele tem casa, endereço, telefone... Essas coisas! Enquanto isso, eu me contento – e sugiro que o leitor faça o mesmo – com a sua "representação corpórea", como me foi autorizada a divulgar.

Além disso, segundo o seu blog, fiquei sabendo que, de fato, El é um ser "omnipotente, omnisciente y omnipresente. Allí donde confluyen el bien en estado puro y el amor infinito. Realmente soy un tipo fantástico". Deve ser, imagino... E imagino, também, que El escreva em espanhol apenas por uma questão de comunicação, para melhor ser compreendido – quiçá aceito – por uma quantidade maior de pessoas. O fato é que El é um critico mordaz da sua Santa Igreja, que ele chama de Católica, Apostólica, Hipócrita e Romana.

Para El, os seus líderes, por não terem sido escolhidos por ele, padecem de uma fé anoréxica... Pelo menos, El é sensato. No caso da África, acusa os seus representantes na Terra, que não o conhece nem nunca o viu, de abusarem da generosidade do povo africano e da sua miséria. Segundo El, a miséria gera ignorância, que, por sua vez, é um terreno fértil para os líderes da sua Igreja impor uma fé na qual, no frigir dos ovos, os africanos nem sabem do que se trata. Afinal, se brincar, muitos nem ovos têm.

Nem mesmo os de uma galinha qualquer, criada no terreiro de casa, mal garantindo uma refeição para sabe-se lá quantas pessoas. Agora, outras coisas criam-se, também, em terreiros de muitas casas ou de matas, tipo macumba, despacho, vodu... E El não acha isso nada demais. Ao contrário! Ele reconhece, inclusive, ser um sinal animador muitos, na África, serem propensos a poderes ditos ocultos, chamados, erroneamente, por Bento XVI, em sua recente visita ao continente africano, de nefastos, malignos.

Tais práticas, portanto, incluem feitiçaria e bruxaria, que são intrínsecas à cultura africana e, na opinião de El, é de bom tamanho que existam, pois coíbem o monopólio da sua Igreja, com a sua proposta de colonizar religiosamente a África.

Quanto liberalismo, El!



— Espelho, espelho meu! Existe alguém mais fiel do que eu?
Afinal, vassoura nem precisa de preservativo...

Além disso, El condena, veementemente, a postura dos seus representantes na Terra de se posicionarem contra o uso preventivo da camisinha, que, a seu ver, não apenas evita a transmissão do vírus HIV e de demais doenças sexualmente transmissíveis, mas, também, contribui para a redução da taxa de natalidade, de ignorância, de miséria e de desespero. E não somente as taxas da África, "um continente esquecido, em meio à pobreza abjeta", mas as de todo e qualquer continente e povos.

O baiano diria: "Porreta, esse tal de El!". Eu assinaria embaixo.

Anote, então, quem quiser, o endereço do blog de El:
http://www.soydiosytengounblog.blogspot.com/

Bom proveito!

P.S.: Sabem qual é o livro de cabeceira de El? Nada mais nada menos que A Origem das espécies, do naturalista britânico Charles Darwin (1809 - 1882), publicado em 1859. Pode?

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A CRIATURA



Cada um carrega a cruz que quer carregar...

Coitado!

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ROLETA-RUSSA



"O que o homem quer é simplesmente a livre escolha...".
Dostoïevski (1821 - 1881)

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ENQUANTO ISSO, NA ZONA RURAL...



— E a vovó?

Deu no rádio:
Após tiroteio com a polícia,
Lobo Mau foge.
Ele é acusado de matar a avó
e estuprar a neta.

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VOX POPULI, VOX DEI




O CORDEL DO PAPA E DO ESTUPRADOR
Por Miguezim da Princesa*
I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.
II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.
III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.
IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.
V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.
VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.
VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.
VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.
IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.
X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.
*Poeta popular, é paraibano radicado em Brasília.

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O ILUMINADO



"Um rochedo não é abalado pelo vento...".
Sakyamuni

Não, eu não vou falar aqui de O Iluminado, livro do escritor norte-americano Stephen King, publicado em 1977 e adaptado para o cinema por Stanley Kubrick, em 1980, nem de Gautama, personagem histórica que, após receber uma dita iluminação – não se sabe de onde –, deu início as suas pregações, fundando o budismo. Desde então, passou a se chamar Sidarta, Sakyamuni ou, simplesmente, Buda, como é mais conhecido.

Vou apenas contar uma história, que me aconteceu em outras eras, estando eu em companhia de uma amiga budista. E lembrei-me desta história porque, hoje, ao baixar os seus e-mails, a minha irmã comentou que recebeu um convite para participar de um encontro budista e fez um muxoxo, dizendo, sem nem mesmo olhar para mim: "Já passei dessa fase". Ah, Bom! Queria ter perguntado em que fase ela estava, agora, mas achei melhor deixar para lá...

O episódio, portanto, que vivenciei com a minha amiga bundista – ela fica danada quando a chamo assim! – foi, no mínimo, inusitado. À época, vinte anos atrás, quando eu morei em Brasília pela primeira vez, certo dia, recém chegada à cidade, ela me ligou. Precisava da minha ajuda para tirá-la de uma situação para lá de periclitante e, literalmente, correu de mobilete – ela tinha uma – para o meu apartamento. Quando chegou, estava assustada e com medo.

Resumiu-me, então, o ocorrido: ela estava hospedada, em casa de um amigo, que estava viajando. Tomava conta da casa um caseiro, com mulher e filha, de menos de dez anos. A minha amiga desconfiou que, além de espancar a mulher, que tinha o corpo todo marcado, o ser dito humano estuprava a filha e já estava assediando-a, ora levando tapioca ora outro agrado para ela, que, naquela noite, saiu as pressas, quase fugida, e me procurou.

Eu tinha, portanto, de ajudá-la. Assim sendo, comecei por conseguir um carro e um amigo emprestados, a fim de irmos onde o diabo perdeu as botas, longe para dedéu. Mas, fomos. E chegamos. Foi aí, então, que o nosso drama teve início, ou melhor, a nossa tragédia dantesca. E, agora, conto o tenebroso episódio em historieta. Nunca esqueci... Bom! Era uma sexta-feira, 13, embora não fosse lua cheia – só faltou esse detalhe e mais algumas pitadas de pimentas King.

De antemão, sabíamos que o caseiro estava sozinho. A mulher tinha saído com a filha e não voltaria naquela noite, aliás, extremamente oportuna para ele estuprar a minha amiga e, quiçá, até matá-la. O cenário perfeito! Assim, estacionamos o carro do lado de fora da casa, que ficava em uma encosta, e entramos. Esforçando-nos para agir naturalmente, finalizamos o que a minha amiga tinha começado, ou seja, arrumar as suas malas, fazendo de um tudo para não despertar a atenção do caseiro, que já estava desconfiado.

Em vão! O pior, entretanto, é que, naquela altura, o infeliz já estava para lá de Marrakech de tão bêbado – certificamo-nos depois que ele acompanhava todo o movimento no interior da casa. Temerosa, a minha amiga suplicou que recitássemos o Nam-myoho-rengue-kyo diante do gohonzon.

Abre parênteses...

Nam-myoho-rengue-kyo: Lei que permeia todo universo que é a essência básica da vida ou a expressão da verdade última da vida. Ele também evidencia a realidade essencial da vida.
Nam: Significa dedicação
Myoho-rengue-kyo: Título do Sutra de Lótus, o ápice dos ensinos do Buda.
Myho: Realidade imutável e essencial dos fenômenos.
Myo: Significa místico. É assim chamado porque a vida é de inimaginável profundidade e está além da compreensão do homem.
Ho: Significa Lei. A natureza da vida é tão mística e profunda que ultrapassa o conhecimento humano.
Rengue: Símbolo da simultaneidade de causa (semente) e efeito (flor), porque germina flores e sementes ao mesmo tempo. Na filosofia de vida, um simples momento do presente tem um grande significado, desde que revela o efeito de tudo o que uma pessoa tem feito para este momento. Ao mesmo tempo, o momento presente é a causa do futuro. Assim, a vida é a continuação dos momentos combinados pela corrente de causa e efeito.
Kyo: A transformação do destino, simbolizando a continuidade da vida através do passado, presente e futuro.

Gohonzon: Incorporação da Lei de Nam-myoho-rengue-kyo na forma de um mandala (objeto de devoção). Honzon significa "objeto de respeito fundamental"; go quer dizer "digno de honra". O Gohonzon que cada membro recebe tem a forma de um pergaminho em papel inscrito com caracteres em chinês e duas formas de sânscrito em tinta sumi preta. Juntos, estes caracteres representam a vida em sua mais elevada condição: o estado de Buda. Verticalmente no centro do Gohonzon está escrito "Nam-myoho-rengue-kyo" e "Nitiren". O Gohonzon foi inscrito originalmente pelo japonês Nitiren Daishonin (1222 - 1282).

Fecha parênteses...

E lá estávamos nós a recitar o Nam-myoho-rengue-kyo, Nam-myoho-rengue-kyo, Nam-myoho-rengue-kyo..., quando, de repente, dei-me conta que o caseiro estava plantado na janela, do lado de fora da casa, a nos observar, portando um facão na cinta e sabe-se lá com mais alguma arma em outro lugar. Sussurrei para os meus amigos que continuassem a recitar o mantra budista e levantei, indo ao seu encontro. Puxei conversa e tal.

Inventei uma história qualquer – sabe-se lá como –, tentando justificar o fato de as malas estarem feitas, pois o caseiro olhava para elas com um ar inquiridor. E eu não gostei nada disso. Nem, muito menos, da sua mão apoiada no facão, como se o acariciasse. Eu pensei: "É hoje que eu morro!". E haja embromação da minha parte – nem lembro mais o que inventei para justificar a saída com as malas da minha amiga (não fiz cênicas, mas sei interpretar).

Não demorou muito, os meus amigos foram, aos poucos, levando as malas para o carro. E o caseiro desconfiado. Desconfiadíssimo. Eu mesma sentia-me, cada vez mais, desconfiada das suas intenções e atitudes, sempre roçando a mão no facão. E se tivesse uma arma de fogo? Tratei de esquecer o assunto e fui ter com os meus amigos, que já estavam no carro, sempre acompanhada pela sombra do caseiro, que me acompanhava cabreiro.

Entrei no carro e tentei dar partida, mas o motor engasgou. Não pegava de jeito nenhum. Eu? Tremendo feito vara verde, com aquele homem empacado do lado de fora, quase encostado à porta. Achei melhor dizer que a minha amiga ia voltar tão logo resolvesse o seu problema; que não se preocupasse e que transmitisse o recado à mulher etc e tal. E ele lá! Não arredava pé. E eu suando, deixando, apesar da encosta, o carro deslizar de ré, para poder dar partida.

De repente, ele deu. E desaparecemos na noite escura, deixando para trás o vulto tétrico do caseiro...

Como estamos falamos de El...

O conceito de El, no budismo – a chamada religião sem Deus –, é um dos mais abstratos, inomináveis, impessoais, indizíveis e inefáveis. Segundo o astrônomo brasileiro André Medeiros, praticante do zen-budismo, o budismo, diferentemente da maioria das religiões, "não cria um Deus a priori" - vai entender! Para o astrônomo, "mais vale a compreensão pela prática e experiência do que mil palavras, por mais sábias que sejam". Nisso ele tem razão!

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"PELA ESTRADA AFORA"...




Pedofilia: Crime de estupro (art. 213 do Código Penal brasileiro) e crime de atentado violento ao pudor (art. 214 do Código Penal brasileiro), considerados crimes hediondos.
Pena: De 6 (seis) a 10 (dez) anos de reclusão.

Disque 100 para denunciar!




Nathalie Bernardo da Câmara
Das ondas da Luz

terça-feira, 19 de maio de 2009

7 em 1


EM NOME DO SENHOR!



"Macaco que sobe muito mostra o rabo...".
Adágio popular


Têm coisas que, realmente, eu não entendo nem posso entender. Está além da lógica e do bom senso, desafiando a minha sanidade mental. Uma é o padre brasileiro Marcelo Rossi pedir aos ouvintes de um programa radiofônico matinal, que o dito religioso mantém diariamente em uma emissora qualquer, que coloquem um copo d’água diante do aparelho de rádio para que, durante a sua fala, ele possa ser abençoado e, por extensão, o fiel que o colocou. O mais grave é que tem muita gente que o faz, atendendo ao pedido do pop star gospel...

Amém!

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VOLTAIRE E OS HETERÔNIMOS DE EL


"Os representantes de Deus na terra
nunca o viram e não têm a menor prova da sua existência...".
José Saramago

Contam que, pouco antes de morrer, o escritor francês Voltaire (1694 - 1778) recebeu a visita de um padre desejoso de lhe dar a extrema-unção e redimir o ateu impenitente em um ato de contrição.

O irônico e cínico Voltaire teria perguntado: — Vens da parte de quem?

O padre respondeu: — Sou um representante de Deus.

De maneira incisiva, apesar dos seus últimos suspiros, Voltaire não se fez de rogado: — Mostre-me as vossas credenciais ou, então, saia já deste quarto!

Divirto-me com a história, que me lembra outra, outra e outra...

Em 2008, um senador americano, Ernie Chambers, do Nebraska, abriu um processo contra Deus, acusando-o de ser o responsável direto por milhões de mortes e de inúmeras catástrofes: inundações, furacões, terremotos, entre outras calamidades. O Juiz encarregado do caso, por sua vez, arquivou o processo, alegando que não fora possível notificar o réu do mesmo por desconhecimento de morada. E ficou por isso mesmo!

Um amigo advogado tentou entender. Reuniu-se com outros colegas de profissão e conversaram a respeito. Ansioso para solucionar o problema, ele disse: — A questão não reside em não saber qual o endereço para onde a notificação deve ser encaminhada, mas saber ao certo a quem ela se destina: se a Deus, a Allah, a Jeová, a Brahma ou tenha lá o nome que tiver essa criatura.

— Mas, afinal – disse um. – Se o cara é tão poderoso, não pode ser possível que o seu nome não conste nem nos arquivos da CIA!

— Sei não... – disse outro. – Como alguém pode se julgar onipotente, onipresente e onisciente? Quanta arrogância! Qual é a desse cara?

— Pelo visto, parece até que está fugindo da Interpol! – exclamou um quarto advogado.

— Eu, particularmente... – disse o meu amigo. – Não abriria processo contra Deus algum. Tenha ele o nome que tiver, já que, tenhamos ciência, ninguém abre um processo contra quem não existe. Pelo menos... – completou. – Até que se prove o contrário.

— E, neste caso, quem provaria? – perguntou um deles.

Ninguém respondeu, a discussão parou aí, mas, diferentemente da história do Senador, a prova não tardou a chegar...


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SOY DIOS Y TENGO UM BLOG




Bom! Se a dúvida sobre a existência ou não de Deus foi dissipada – ele existe, sim, pelo visto –, aproveitemos, então, para acessar o seu blog. Quem sabe se ele também não tem um e-mail?



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NEM TODA SEMENTE GERMINA



"Absorto no dia a dia
nem percebi que o aborto
veio em forma de poesia...".
Rogério Viana

O aborto legal realizado no dia 5 de março deste ano na menor brasileira de apenas nove anos de idade, que, seguidamente estuprada pelo padrasto, 23, engravidou de gêmeos foi amparado pelo artigo 128° do Código penal brasileiro e, no caso, duplamente contemplado, já que o referido artigo não classifica de crime o aborto cometido "se não há outro meio de salvar a vida da gestante" e "se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal", provocando, contudo, o maior rebuliço em todo o mundo.

Intransigente, o arcebispo de Olinda e Recife dom José Cardoso Sobrinho posicionou-se contra o aborto, como se não soubesse que o Brasil é um país laico e que as leis do Código penal brasileiro diferem por completo do Código de direito canônico da Igreja católica. À época, decidiu deflagrar uma via crucis para evitar o aborto, tentando, inclusive, impedir o procedimento, alegando que "a lei de Deus está acima da lei dos homens" e que, portanto, as leis civis brasileiras "são contra as leis de Deus", sem esquecer, ainda, de citar o mandamento bíblico Não matarás.

Além disso, o caro Arcebispo deveria saber muito bem que não falou em nome de nenhum Deus, mas em nome de homens iguais a ele, que, juntos, fazem a Igreja católica, a verdadeira autora do Código de direito canônico. Não o Deus em nome do qual, supostamente, ele fala, como quer nos fazer acreditar. Mesmo porque, como já disse Bento XVI, citando palavras atribuídas a Jesus, transcritas do Evangelho: "O reino de Deus não é deste mundo". Assim sendo, que o Arcebispo nos deixe neste mundo com as leis terrenas, elaboradas por legisladores civis que o próprio povo elege nas urnas.

Ah! Quanta falta nos faz um dom Paulo Evaristo Arns, que, quando ainda na ativa, defendeu, em 1995, mesmo contrariando a orientação oficial da Igreja católica, o direito ao aborto em casos de estupro. E duvido muito que o antecessor de dom Dedé, como o arcebispo é conhecido, dom Hélder Câmara (1909 - 1999) iria se posicionar contra o aborto. Afinal, dom Hélder não era de semear a discórdia, ao contrário do seu sucessor. Pelo contrário! Praticava e semeava a solidariedade e a misericórdia, que, na maioria dos casos, se limitam as pregações de religiosos nos púlpitos da Igreja católica.

Arre!

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MANÉ REZA!!!


"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...".
Caetano Veloso


Um dia, estou eu em um hospital, após uma crise de esofagite, desencadeada por uma grande contrariedade, que, durante dias, me tirou o sono e o apetite, sem o estômago segurando nem soro caseiro, porque gerações e gerações de sapos haviam se instalado no brejo que construíram no meu esôfago, a fim de que um discípulo do médico grego Hipócrates (460-377 a. C) amenizasse a minha agonia com alopatia – coisa que repudio – e uma dose excessiva de soro.

Furada, medicada e mais tranqüila – estava sob cuidados médicos –, desabafava com uma amiga sobre a causa da minha contrariedade. De vez em quando, sentia o barulho de uma cortina ao lado sendo corrida e um vulto a emergir por trás. Sentia, porque, sem óculos, não dava para identificar o vulto a me espiar a cada repuxe da cortina. E eu a desabafar. Achando pouco me espiar e ouvir a minha conversa, a tal pessoa, aqui e acolá, manifestava-se verbalmente.

Um homem, com certeza, pela voz rouca. E de idade, como se diz. Mas, e daí? Isso dá o direito a alguém de ouvir e tentar interferir na conversa dos outros? Que doido! O pior é que todas as vezes que eu dizia algo de íntimo a pessoa resmungava outro algo, embora praticamente inaudível. Comecei, então, a achar aquilo estranho. Só que antes de eu chamar a enfermeira, o infeliz sugeriu que eu rezasse. Era só o que me faltava!

Sentei na cama, me virei em direção de onde vinha o resmungo e o repuxe da cortina e bradei: — Quer parar de interagir? E aqui tem duas comunistas! Não me mande rezar, não!

Por pouco não sai um barraco no hospital, mas, felizmente, possivelmente por ser avô, o homem deve ter achado que a gente comia criancinha e achou melhor silenciar.

Agora, caro leitor, não tinha outra palavra para eu usar ao invés de interagir? Afinal, o que eu queria dizer mesmo era apenas: "O que o senhor tem a ver com isso?" ou "quer calar a boca?" ou, ainda, "não é da sua conta!" ou, enfim, "não se meta!", mas, interagir?

Depois, após sairmos do hospital, a minha mãe disse que chegou a ver o tal senhor e, segundo ela, era um homem simples, provavelmente, da zona rural. Imagine, então, me ouvir dizer para ele não interagir? Não deve ter entendido nada, coitado. Restou-nos rir da situação.




A mim, dá sumiço aos sapos e aterrar o brejo...

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LIXO NO LIXO!




Preservar o ecossistema é importante, mas, também, a natureza humana e a ortografia de uma dada língua...

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Errata: O passarinho tinha voado, mas, o tempo passou e eu o resgatei!


CANTO MATINAL

"Nas asas do tempo, a tristeza voa...".
Jean de La Fontaine (1621 - 1695)

Outro dia, mal nascia o dia, estava lá eu, a escrever sob a janela, quando ouvi um chamado: "Bem-te-vi, bem-te-vi...". Olhei para cima e deparei com um exemplar do pássaro, cujo canto é um triste fardo, pousado em uma antena da casa da vizinha. Respondi: "Eu também te vi...". E, lá, ele ficou; cá, fiquei eu, ainda uma meia hora, despejando, ambos – ele na antena e eu no computador –, um lamento sobre os nossos desalentos...




Nathalie Bernardo da Câmara
Das ondas do rádio...








segunda-feira, 18 de maio de 2009

Direto do blog
O Caderno de Saramago



Vaticanadas

By José Saramago

Ou vaticanices. Não suporto ver os senhores cardeais e os senhores bispos trajados com um luxo que escandalizaria o pobre Jesus de Nazaré, mal tapado com a sua túnica de péssimo pano, por muito inconsútil que tivesse sido e certamente não era, sem recordar o delirante desfile de moda eclesiástica que Fellini, genialmente, meteu em Oito e Meio para seu e nosso gozo. Estes senhores supõem-se investidos de um poder que só a nossa paciência tem feito durar. Dizem-se representantes de Deus na terra (nunca o viram e não têm a menor prova da sua existência) e passeiam-se pelo mundo suando hipocrisia por todos os poros. Talvez não mintam sempre, mas cada palavra que dizem ou escrevem tem por trás outra palavra que a nega ou limita, que a disfarça ou perverte. A tudo isto muitos de nós nos havíamos mais ou menos habituado antes de passarmos à indiferença, quando não ao desprezo. Diz-se que a assistência aos actos religiosos vem diminuindo rapidamente, mas eu permito-me sugerir que também serão em menor número até aquelas pessoas que, embora não sendo crentes, entravam numa igreja para disfrutar da beleza arquitectónica, das pinturas e esculturas, enfim de um cenário que a falsidade da doutrina que o sustenta afinal não merece.

Os senhores cardeais e os senhores bispos, incluindo obviamente o papa que os governa, não andam nada tranquilos. Apesar de viverem como parasitas da sociedade civil, as contas não lhes saem. Perante o lento mas implacável afundamento desse Titanic que foi a igreja católica, o papa e os seus acólitos, saudosos do tempo em que imperavam, em criminosa cumplicidade, o trono e o altar, recorrem agora a todos os meios, incluindo o da chantagem moral, para imiscuir-se na governação dos países, em particular aqueles que, por razões históricas e sociais ainda não ousaram cortar as sujeições que persistem em atá-los à instituição vaticana. Entristece-me esse temor (religioso?) que parece paralisar o governo espanhol sempre que tem de enfrentar-se não só a enviados papais, mas também aos seus "papas" domésticos. E digo ainda mais: como pessoa, como intelectual, como cidadão, ofende-me a displicência com que o papa e a sua gente tratam o governo de Rodriguez Zapatero, esse que o povo espanhol elegeu com inteira consciência. Pelos vistos, parece que alguém terá de atirar um sapato a um desses cardeais.

Vale a pena navegar nas páginas d'O Caderno:
http://caderno.josesaramago.org/



Nathalie Bernardo da Câmara
Do Departamento de Utilidade Pública...

domingo, 17 de maio de 2009

7 em 1


MISERA



Ilustração: Paulo Araújo

"As palavras têm a leveza do vento
e a força da tempestade...".
Victor Hugo (1802 - 1885)
Os Miseráveis

Era uma vez Misera... Passei anos ouvindo falar nessa senhora – ou seria uma jovem, uma anã, uma bruxa? Sei lá! Eu apenas sei que era Misera para lá, Misera para cá... E eu só ouvia alusões a ela em um determinado lugar, uma cidade litorânea do Rio Grande do Norte, onde, quando alguém quer se referir a outro alguém de maneira depreciativa – acho –, Misera é constantemente invocada, pondo, de pronto, a auto-estima do infeliz na sola dos pés. E isso sempre me intrigou, intrigou a minha irmã, instigando a minha curiosidade.



Exemplos?


— Sai, Misera!
— Fora daqui, Misera!
— Isso que é uma Misera!
— Ô bicho Misera!
— Vai lascar outro, Misera!


E, por aí, vai! Misera isso, Misera aquilo...


Mas, afinal, quem é Misera? Uma espécie de Cuca, de Saci, de Boitatá, sempre a tiracolo quando o negócio é xingar? E quais os poderes que Misera teria? A sua natureza, por exemplo, eu sempre desconheci! Com exceção de que – parece – o seu nome invariavelmente está associado à repulsa. De fato, nunca soube de nada a seu respeito. Até hoje, quando decidi abrir alguns dicionários e consultá-los a respeito. Foi assim que elucidei o mistério...

Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa:
Miserar. [Do lat. miserare, por miserari.] V. t. d. 1. Tornar mísero, desgraçado; desgraçar; desventurar; infelicitar. P. 2. Lastimar-se; lamentar-se.

Já para o Aulete Dicionário Digital:
(mi.se.rar)
v.
1 Esforçar-se por provocar a infelicidade, a desgraça de alguém. [td.] [tr. + de]
2 Antq. Ter pena, piedade de alguém; CONDOER-SE; APIEDAR-SE. [td.]
3 Queixar-se, lamentar-se. [tr. + de: Miserava -se da má sorte.]
[F.: Do lat. miserare.]

E é isso! Enquanto uns chamam outros de vil e de abjeto, outros chamam uns de misera...


Descobri até um Blog dos Misera, cujo patrono, pelo que pude entender, é – pasmem! – o papa Bento XVI. Duvidam? Acham que eu estou inventando? Pois bem! No blog vem dizendo assim: Miseras abençoados.



O Conselho Nacional Misera, na figura máxima, a Assembléia Nacional Cabrera, deliberou que de modo a criar um cada vez maior enraizamento e aprofundamento da cultura e do intelecto dos miseras, nos termos mais amplos e aspectos mais peculiares da gêneses Cabrera do nosso amado Conselho, instituir já, a partir do próximo mês de abril, um curso de Pós-Graduação em Cabreragem! O referido curso terá a duração de dois semestres letivos e será ministrado no Casal (Departamento dos barris do vinho) e terá o apoio do laboratório do físico-químico Pedro & LTDA (Sábado, 18 de março de 2006).




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SARAMAGO E EU: DOIS EXILADOS
EM UM MUNDO SEM FRONTEIRAS...

"O que é do homem o bicho não come!".
Dito popular



Estou finalizando um longo ensaio de mais de cem páginas, intitulado Trama macabra, tendo o papa Bento XVI como protagonista de três polêmicos episódios recentemente ocorridos. Não tenho pressa em concluí-lo, pois o referido ensaio é mais para o meu próprio deleite intelectual do que para qualquer outra coisa. Os episódios são: a remissão da excomunhão de quatro bispos da congregação Fraternidade Sacerdotal São Pio X por Bento XVI, no dia 21 de janeiro de 2009, bem como o negacionismo de um dos bispos beneficiados pela decisão papal, que, em entrevista amplamente divulgada, defende o regime nazista do austríaco Adolf Hitler (1889 - 1945).


O segundo episódio, por sua vez, é sobre uma menor brasileira, de apenas nove anos de idade, que, seguidamente estuprada pelo padrasto, 23, engravidou de gêmeos e se submeteu a um aborto legal no dia 5 de março de 2009, provocando o maior rebuliço em todo o mundo, enquanto o terceiro e último episódio trata das estapafúrdias declarações de Bento XVI sobre a distribuição e o uso do preservativo, alegando que o mesmo não resolve o problema da AIDS na África – conseqüentemente, no mundo –, só o agrava, durante a viagem apostólica de sete dias, que, em março, ele realizou a Camarões e a Angola, gerando repercussão internacional.


Pratos cheios para um bom ensaio. Ou, melhor dizendo, por demais suculentos. No primeiro episódio, contudo, já praticamente em seu final, faço referência ao escritor português José Saramago, porque, agora, determinados judeus andam querendo acusá-lo de anti-semitismo – que disparate! –, apenas por causa de textos que ele escreveu a respeito dos conflitos entre Israel e Gaza, postados, inclusive, em seu blog, O Caderno de Saramago, na internet. Assim já é demais, gente! Daí querer, aqui, expôs algumas idéias contidas em meu ensaio, mas apenas no que concerne ao camarada Saramago, que tanto admiro.


Afinal, se mais da metade da população mundial admite e repudia o genocídio de milhares de judeus cometido pelo regime nazista de Hitler, por que, então, os judeus não admitem críticas, sejam elas individuais ou coletivas, por algumas das suas atitudes? Mesmo porque, convenhamos, os judeus são serem humanos iguais a qualquer um – nem melhores nem piores – e, como tal, podem, também, cometer os seus erros, os seus excessos, seja em que nível for! Só que eles devem aprender a receber críticas, não simplesmente rotular todas elas, não importa quais sejam nem quem as façam, de anti-semitismo.


O escritor argentino Jorge Luís Borges (1899 - 1986), por exemplo, afirmou que Hitler estava empenhado em um propósito que era, em última instância, impossível, ou seja, a aniquilação da cultura judaica em todo o mundo, porque, em seu entendimento [o de Borges], a cultura judaica representa a cultura da humanidade. Eu já diria que, na humanidade, não existe povo melhor que outro nem, muito menos, superior. Afinal, todos são iguais perante a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela ONU em 1948 – não é difícil encontrar uma cópia. Nem que seja virtual! A Constituição Brasileira, por sua vez...


Em seu primeiro artigo, ela diz: "Todos são iguais perante a lei". Assim, considero um despropósito rotularem José Saramago de anti-semita. Pior! Outro dia, meramente por acaso, vi, na internet, que tem até quem esteja propondo retirar do escritor português o tão merecido Prêmio Nobel de Literatura que ele recebeu em 1998... É sandice demais! Afinal, Saramago sempre foi cuidadoso e justo em suas declarações. E é, sim, comunista e ateu convicto. Ou isso constitui-se em algum problema? Se assim o for, aproveitem, também, para excomungá-lo. Ah! Ia esquecedo: não se excomunga quem não é católico. No máximo, joga-se uma praga. Ai de mim!


Quanto a Saramago... Já não bastou Sousa Lara, em 1992, então secretário de Cultura de Portugal, ter vetado o nome do escritor para o Prêmio Europeu de Literatura, cuja candidatura foi retirada pessoalmente por Lara, apenas porque considerou O Evangelho segundo Jesus Cristo, de autoria do escritor, publicado um ano antes, uma ofensa as convicções religiosas dos portugueses, ao capitalismo e aos costumes, além da Igreja católica tê-lo condenado por blasfêmia? O fato é que, considerando a intolerância de Lara "um retorno à Inquisição", Saramago decidiu se auto-exiliar na Espanha, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, onde vive até hoje.


Curiosamente, em 1991, ano em que publicou O Evangelho segundo Jesus Cristo, Saramago, que, em 1995, já havia recebido o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa e outros tantos, foi agraciado com o Grande Prêmio de Romance e Novela, atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores e mais dois prêmios, pelo conjunto da sua obra, conquistados na Itália: o Prêmio Internacional Literário Mondello, de Palermo, e o Prêmio Brancatti, de Zafferana, além de ser nomeado doutor honoris causa pela Universidade de Sevilha e recebido o título de Chevalier d'Honneur des Arts et des Lettres do governo francês.


Daí em diante, a sua coleção de prêmios e condecorações só tendeu a crescer. Sem falar que Saramago foi o primeiro autor de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura, sendo, à época, considerado pelo jornal grego Ta Nea "um contador de histórias no melhor sentido da palavra". Para a jornalista e escritora portuguesa Andreia C. Faria, "a relevância do Nobel, o valor de Saramago como escritor e, cada vez mais, como figura política, são demasiados grandes e indiscutíveis (goste-se ou não dele)". De fato, Saramago é um fenômeno, sobretudo se considerarmos que ele praticamente foi um autodidata.


Sim, porque, por sua família passava por dificuldades financeiras, ele só concluiu os estudos secundários, tendo de trabalhar logo cedo, exercendo, como primeiro emprego a função de serralheiro mecânico. Depois, foi desenhista, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista e, por fim, escritor. O cartunista português Rui Duarte, por sua vez, homenageou Saramago com a caricatura acima, fazendo-me lembrar uma marchinha de carnaval que nunca sai de moda no Brasil, que diz: "Daqui não saio, daqui ninguém me tira...". Eu poderia sugerir: "Nobel é meu, Nobel ninguém me tira!". Tira não tira, Saramago ainda respira.


Infelizmente, por motivos de saúde, o escritor português não compareceu a cerimônia da 11ª edição do Prêmio Caja Granada de Cooperação Internacional, realizada no último dia 16 de abril, na Espanha, onde, juntamente com o escritor italiano Dario Fo, Nobel de Literatura de 1997, receberia o cheque de € 50.000,00 – valor da premiação – em "reconhecimento pelo esforço e dedicação de ambos na procura de uma maior justiça social no mundo". No entanto, apesar da sua ausência, Saramago, em comum acordo com Fo, renunciou ao dinheiro em prol do Festival Sete Sóis-Sete Luas, do qual eles são presidentes honorários.


Mas, voltando ao que eu chamaria de despropósito, que foi a proposta de confiscar de Saramago o Prêmio Nobel de Literatura, justificada por um suposto anti-semitismo do escritor português, só posso dizer que, agora, quem está exagerando, chegando aos extremos, são os próprios judeus. E se brincar, apesar do longo texto que escrevi, condenando o massacre sofrido pelo seu povo durante o regime nazista, os judeus também vão me rotular de anti-semita só porque estou defendendo Saramago. Podem chamar! Da mesma forma que se algum membro do clero católico quiser, pode anunciar, como bem entender, que eu estou excomungada. Será um inenarrável prazer!


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VÔO À FRANCESA




"É preciso garantir o respeito
aos que estão nos aeroportos...".
Lula, presidente do Brasil




Outro dia, no aeroporto de Natal, perdi um vôo porque a Empresa Brasileira de Infraestrutura Portuária - Infraero não está mais anunciando os horários de chegadas e partidas dos aviões nem as chamadas para os embarques. Alegando que as chamadas causavam poluição sonora nos saguões dos terminais aéreos, já que o número de vôos aumentou bastante nos últimos anos, a Infraero cancelou o serviço no dia dois de abril deste ano e está causando a maior celeuma nos aeroportos brasileiros, já que a medida só tem provocado transtornos.

Agora, quem não quiser perder o seu vôo, esqueça da boquinha na praça de alimentação; de uma cervejinha antes do embarque; de fumar um cigarro à entrada do aeroporto – dentro é proibido; dos beijinhos extras nas despedidas; de adquirir um souvenir típico da região onde estiver; de uma caminhada para estirar as pernas antes de entrar no avião ou de qualquer outra coisa que o valha. É pegar ou largar! Quero dizer, é chegar na hora ou dançar! A recomendação da Infraero, portanto? Observar, atentamente, os painéis eletrônicos que informam a posição dos vôos...
Sim, aqueles que também chamamos de monitores. O problema é que eles nem sempre são atualizados, não sendo, portanto, confiáveis. Foi o que aconteceu no meu caso. Cheguei de madrugada, bem antes do embarque. Fiz check in e tudo. Aí subi para embarcar, mas, como não sabia da nova medida da Infraero, que não há mais chamadas, e o frio dentro do salão de embarque devia está um horror, eu achei melhor esperar do lado de fora, à entrada, pouco antes da vistoria da Polícia Federal. Para meu azar, nada de chamada! Aí, resolvi perguntar ao guardinha...
Aquele que confere os nossos bilhetes, antes de passarmos pela PF. Perguntei se já tinha sido feita a primeira chamada. Ele disse que não ouvira. Resultado: perguntei uma ou duas vezes mais – em vão –, ao mesmo tempo controlando a posição do meu vôo em um dos tais painéis eletrônicos. Quando eu vi que já estava demorando demais, resolvi entrar. Passei pelo guardinha, pela PF e, já no salão de embarque, quando fui entregar o bilhete ao funcionário da companhia aérea pela qual eu deveria viajar, ele me disse que tinha chamado o meu nome várias vezes e que o avião já estava com a porta fechada, pronto para decolar.
Quase tive um troço! Afinal, eu estava controlando a posição do meu vôo pelo tal painel. Como eu poderia saber que, de fora do salão de embarque, não ouviria chamado algum? Imagine, então, caro leitor, a situação duplamente periclitante de um cego se for para ele depender desses painéis! Dá vontade de rir! É demais, mesmo, como se já não bastasse o estresse de ter de viajar sempre achando – virou moda – que o avião pode cair a qualquer momento! E aí, como fica, então, a situação dos passageiros? São vôos perdidos e perdidos compromissos previamente assumidos...
E isso sem ressarcimentos dos nossos prejuízos – não falo nem do valor da passagem em si, mas de perdas outras, causando até muitos danos que os financeiros... O mais grave, ainda, é que nem as próprias companhias aéreas nem a Associação Nacional de Aviação Civil - ANAC nada fazem para reverter essa situação e, enquanto isso, a indignação dos passageiros que perdem vôos sem culpa alguma só aumenta; as reclamações acumulam-se etc. E se alguém for pedir explicações em algum balcão de informação qualquer, pode ouvir o mesmo disparate que eu ouvi: "Deu no Jornal Nacional"...
E eu com isso? Quero mais que o JN se dane! E que leve junto as suas habituais tragédias. Ah! E ainda tem mais... Além do circo armado, pois outros passageiros estavam passando pelo mesmo que eu, outro funcionário caiu na besteira de dizer que, outro dia, a Governadora do Rio Grande do Norte também tinha perdido um vôo. Como se isso me servisse de consolo... Afinal, logo fiquei sabendo, a Governadora pediu um jatinho e, em quinze minutos, viajou. E eu? Quem me dera ter o mesmo privilégio, mas sou apenas uma humilde jornalista. Uma escritora querendo levantar vôo...
Quanto à nova medida baixada pela Infraero, é exatamente porque a quantidade de vôos aumentou – a justificativa alegada pela referida empresa para baixar tal medida, evitando, assim, uma poluição sonora –, que os alertas aos passageiros dos seus vôos e os anúncios dos horários de chegadas e partidas dos aviões deveriam ser mantidos. Quiçá, intensificados. Mas, valeu a lição! Da próxima vez, mesmo não sendo noite de Natal – tipinho de festa repugnante, por provocar tanta euforia –, ligo do meu celular para o Pólo Norte e peço carona no trenó de Papai Noel.

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EM BUSCA DE UMA IDENTIDADE PERDIDA




"A sabedoria não se transmite...".
Marcel Proust (1871 - 1922)
Em busca do tempo perdido



O qüiproquó no aeroporto ainda me deu outros dissabores. Roubaram a minha carteira de documentos e dinheiro. Não foi até hoje encontrada. Nem nos achados e perdidos da Infraero nem nos da companhia aérea pela qual eu viajaria. Resultado, eu deixei o aeroporto duplamente violada, já que, afinal, eu havia perdido não somente o vôo, mas, também, a minha identidade e congêneres. Assim, com o rabinho literalmente entre as pernas, fui embora. As aporrinhações para retirar novas vias dos documentos estavam a minha espera.


Primeiro, um Boletim de Ocorrência – BO, registrando todos os pertences que estavam dentro da carteira; depois, Secretaria de Segurança Pública, para tirar uma nova carteira de identidade. Mas, parei aí. Mesmo porque – não é de hoje – o RG traz, também, o número do nosso CPF. E correr atrás deste não me apetecia. Pelo menos, não no momento. Quanto ao cartão do banco, limitei-me a solicitar outro, já que o meu estava empenado e nem mesmo eu conseguia mais usá-lo. Quanto à carteira de motorista... Bom! Como ela estava vencida, achei melhor dar um tempo.


Isso olhe que ela valeu durante vinte e dois anos de idade! Mas, como eu não tenho carro nem pretendo ter... Sem estresse para renová-la, sobretudo por implicar em algumas idas e vindas a uma auto-escola – não tenho saco nem preciso! –, exames de acuidade visual e um monte de outras exigências – tempo perdido. No que diz respeito ao título eleitoral... Piorou! Quando for em 2010 – ano de eleições –, talvez venha a pensar na possibilidade de renová-lo. Sim, porque a minha esperança é que, até lá, no Brasil, passe a vigorar o voto facultativo e não o obrigatório.


Afinal – convenhamos –, sair de casa apenas para comparecer as urnas e anular voto é algo extremamente maçante! Portanto, nenhuma urgência. Mas, voltando ao RG... Lá estava eu na Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Norte com as melhores das intenções quando um funcionário deixou-me plantada horas e horas. Fui tomar satisfações e qual não foi a minha surpresa quando ele me disse que não poderia me dar outra via porque, primeiro, eu teria de ir à sede da Polícia Federal e solicitar um documento onde eu comprovasse que eu era brasileira...


Pensei: "Era só o que me faltava!". Não demorou muito, o barraco estava armado. Vou tentar explicar melhor... Para quem não sabe, nasci na França – daí a minha paixão e o meu amor incondicional por Paris. Só que, infelizmente, mesmo valendo na França o direito de solo e não de sangue, como na Itália, o governo francês não concede a nacionalidade francesa para quem, apesar de nascer em território francês, não vive nele até os dezessete anos nem tem um dos pais francês – não é o meu caso, pois vivi lá apenas três meses e os meus pais são brasileiros. Pouco importa a minha certidão de nascimento.


Assim, sou brasileira, embora preferisse ter nacionalidade francesa. Nesse contexto, quando fiz dezoito anos de idade, tirei RG, CPF, título de eleitor, carteira de motorista e o escambau. Tenho, portanto, os mesmos direitos civis de um brasileiro qualquer. Qual não foi, então, o meu espanto quando o infeliz disse que para eu tirar uma nova via do meu RG teria de declarar na Polícia Federal que era brasileira? Pensei: "É hoje!". Cobrei maiores explicações e ele insistiu que aquele era o procedimento normal para quem nascia fora do Brasil. Calmamente, tentei explicar a minha situação.


O funcionário, por sua vez, mostrando-se irredutível, intransigente. Pedi providências e lá me vem ele dizendo que tinha outro RG com o mesmo número que o meu. Estranhei e continuei pedindo que ele tirasse a minha outra via. Ele disse que não. Olhei, então, de soslaio para o informe afixado à parede, que dizia mais ou menos assim:



DECRETO-LEI N.º 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940
CÓDIGO PENAL
Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.



Ignorando o aviso, mas, ao mesmo tempo, utilizando-o a meu favor, comecei a falar um pouco mais alto, inclusive fazendo referência ao dito cujo, e vi que o homem começava a se irritar. Eu disse que tinha consciência dos direitos do funcionário público, mas o funcionário público, antes de querer ser respeitado, teria de respeitar o cidadão, não deixá-lo esperando horas, sem uma satisfação, nenhuma explicação. E não arredei pé! Foi aí que uma senhora me levou a uma sala contígua para que eu conversasse com o chefe do setor. Aí sim! Veríamos quem estava com a razão.


Na tal sala, o bicho pegou! Sim, porque eu insisti em meus argumentos, dizendo que como podia essa exigência que o funcionário me fazia se desde os dezoito anos de idade eu dirigia, com direito de ir e vir, pintava o sete, despintava e, pior, votava, elegendo ou não alguém – detalhe... –, além de ser jornalista formada e ter um registro na Delegacia Regional do Trabalho? O superior pediu, então, que chamassem o funcionário, que, por sua vez, ao chegar, não sabia mais onde enfiar a cabeça, igual um avestruz, contendo-se para não pular em cima de mim. Pois, tá! Que viesse.


Foi aí que, já perdendo eu mesma as estribeiras, disse que infelizmente eu era brasileira; que lamentava não ter um passaporte vermelho etc e tal. Tanto que, quando fui morar em Paris, já adulta, aos vinte e cinco anos, precisei, sim, ir à Receita Federal, mas para tirar um passaporte. Para minha má sorte, verde. Lá para as tantas, já apelando, sugeri que ele, o tal funcionário, fizesse uma reciclagem... Vi a hora apanhar e o chefe do setor tentou apaziguar os ânimos, ordenando que o seu subalterno tirasse o meu RG. Afinal, como ele comprovou, eu já tinha todas as minhas digitais processadas.


Enfim! Se, em algum momento, eu tive medo de ser processada por desacato ao funcionário, com base em um artigo descabido do Código Penal brasileiro, podendo até, se fosse o caso, chegar a passar dois anos presa? Não e não! Afinal, eu estava em meus direitos. Foi ele quem primeiro me desacatou ao me deixar plantada, esperando horas, como se eu fosse um dois de paus, sem me pôr a par sequer do que estava ou do que não estava acontecendo. Daí, repetir: reciclagem, sim! E que se faça valer a maior das virtudes humanas, que é a humildade para reconhecer a sua própria ignorância.


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RIEN À FAIRE


"Quem espera sempre alcança...".
Dito popular


Ando trocando umas & outras virtuais com a médica, escritora e atriz paraibana Clotilde Tavares, com quem já não falava bota tempo nisso! Outro dia, sabendo do seu amor pelos gatos, sugeri que ela lesse dois textos, de minha autoria, que postei em meu blog sobre os felinos. Impaciente que sou, esperei que ela me desse um retorno, fazendo algum tipo de comentário e...nada! Escrevi-lhe um e-mail e cobrei. Clotilde retrucou: "Pegue leve comigo, querida, que já sou velha pra caramba!", desatando todos os rosários que reza, diariamente, tentando dar conta de interesses mil ao mesmo tempo, característica de uma mulher multifacetada como ela.


Respondi que eu também não era mais tão novinha assim, que, dias antes, eu havia feito quarenta e um anos de idade – nos conhecemos quando eu não tinha nem vinte, a recitar poemas pelas ruas de Natal, metidas em sarais poéticos, coisas desse tipo. Época, aliás, quando, ainda estudante de jornalismo, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, eu entrevistei o seu irmão, o músico e compositor Bráulio Tavares, que, junto com Ivanildo Vila Nova, compôs Nordeste independente, uma lenda na voz de Elba Ramalho, saindo mundo afora apregoando a separação de um Brasil com dimensões continentais. Coisa de poeta... Imagina!


Quanto à foto acima, encontrei-a a vagar na internet. Nela, Clotilde está caracterizada do clochard Estragon, personagem principal da peça Esperando Godot, do escritor irlandês Samuel Beckett (1906-1989), Prêmio Nobel de Literatura de 1969, que, escrita originalmente em francês, estreou pela primeira vez em Paris, em 1953, tornando-se um divisor de águas no teatro do séc. XX. Na adaptação do diretor teatral Marcos Bulhões, que estreou em Natal, no ano de 2002, Clotilde é, portanto, a atriz principal. Não podia deixar de o ser – claro –, nem ela o permitiria. Brincadeirinha... O motivo, contudo, deste meu breve comentário sobre Clotilde?


É que, também outro dia, ela me enviou um e-mail, dizendo que não encontrava um local em meu blog para comentários, questionando, inclusive, se estava cega. Eu respondi que ela não estava cega, que, de fato, não existia um local em meu blog para comentários porque, quando eu o criei, bloqueei, por opção, toda e qualquer possibilidade nesse sentido. Se ela quisesse comentar sobre algum texto específico ou mesmo genérico, que o fizesse através de um e-mail. Ela respondeu com um direto e bom francês: "Ah, bom!". É, Clotilde, de fato. Bloqueei e está bloqueado! Não é a minha proposta abrir para comentários. Assim, faça como Estragon, ou seja, continue esperando...


Divulgando, divulgando:
Clotilde Tavares
João Pessoa – PB
Umas & Outras - http://clotildetavares.wordpress.com//t_blank
Twitter - http://twitter.com/ClotildeTavares
Colunas do Correio da Paraíba - http://umaseoutrasnocorreio.blogspot.com//t_blank
Fotos - http://www.flickr.com/photos/clotildetavares
Colunas no Portal Diginet - http://colunas.digi.com.br/author/clotilde/
O Clã Santa Cruz - http://www.clotildetavares.com.br/genealogia



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UMA MENTE ANTENADA!



"A coragem é o medo vencido...".
Gustave Flaubert (1821 - 1880)



Espero que o carro, a casa, o corpo e tudo o mais da diretora da sucursal da revista Época no Rio de Janeiro, a jornalista Ruth de Aquino, de quem sou leitora assídua e fã incondicional, sejam blindados. Afinal, a mulher é igual metralhadora. Sai atirando por todos os lados. Melhor: Não erra um tiro. Acerta todos! Parece não ter medo de tão corajosa e destemida que é – uma Maria Bonita (1911 - 1938) do séc. XXI. Nada lhe escapa! Tirando pelos temas os mais diversos abordados em sua coluna semanal, intitulada Nossa antena, publicada pelo periódico para o qual trabalha.


Certo dia, li o artigo A Moral da história no futebol e na política, publicado na edição de número 559, do dia 2 de fevereiro deste ano, da referida revista, e deixei registrado o meu comentário: "É raro alguém, além de escrever bem, ser dotado de tamanha inteligência e capacidade intelectual, como é o caso da jornalista Ruth de Aquino. Tenho acompanhado os seus textos, publicados na revista Época e todos mantêm o mesmo padrão de qualidade". De fato, e como sou muito exigente com a escrita, quando li o seu primeiro texto, vi, de cara, como ela escreve de maneira impecável.


Dona de um intelecto privilegiado, sagaz, crítico e bem humorado Ruth de Aquino têm, portanto, conteúdo e os seus textos, um estilo delicioso de se ler. Mas, tenha cuidado, jornalista! Sim, porque a sua pena gira mais do que cego perdido em tiroteio. Há duas semanas, por exemplo, em seu artigo Moço, tem vacina contra a ignorância?, publicado na edição de número 572, da Época, de 2 de maio, Aquino foi de uma ousadia sem tamanho ao chamar Lula de ignorante, criticando-o por fazer pouco caso da gravidade do câncer da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.


A jornalista disse: "Ouvir de Lula que ‘Dilma não tem mais nada’ é um pouco demais, porque é mentira". Como já foi divulgado, Rousseff, que é a candidata de Lula à presidência da república em 2010, tem um câncer, não debelado, embora o jovem que nos governa diga que sim. Que o tratamento de Dilma é só "preventivo". Assino em baixo Aquino! Também não sou chegada a populismo, muito menos em casos sérios como esse da Ministra. Afinal, ela é possivelmente a minha candidata, mas, dependendo do andar da carruagem – haja agüentar tanto rojão! –, vou preferir anular o meu voto...


E para quem quiser saber mais sobre o assunto, é só clicar o link abaixo:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EMI70829-15230,00.html




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CANTO MATINAL





"Nas asas do tempo, a tristeza voa...".
Jean de La Fontaine (1621 - 1695)


Outro dia, mal nascia o dia, estava lá eu, a escrever sob a janela, quando ouvi um chamado: "Bem-te-vi, bem-te-vi...". Olhei para cima e deparei com um exemplar do pássaro, cujo canto é um triste fardo, pousado em uma antena da casa da vizinha. Respondi: "Eu também te vi...". E, lá, ele ficou; cá, fiquei eu, ainda uma meia hora, despejando, ambos – ele na antena e eu no computador –, um lamento sobre os nossos desalentos...



Nathalie Bernardo da Câmara
De algum lugar indefinido...