terça-feira, 28 de outubro de 2014

FALA MANSA, por Dora Kramer

Estadão - 28/10/2014

Dora Kramer

A vantagem da reeleição é que o país não precisa esperar os dois meses que separam a eleição da posse nem os tradicionais primeiros 100 dias de governo para conferir se a figura do candidato se encaixa na pessoa do presidente. Ou melhor: se o que foi feito para ganhar combina com o que será feito para governar.

A presidente Dilma Rousseff que surgiu reeleita na noite de domingo para discursar em prol do diálogo e da união nacional era outra na forma, mas ainda ficou devendo a prova de que na essência não continua a mesma.

Livre das jogadas ensaiadas que fizeram dela mera repetidora de frases desconexas, Dilma pôde se dirigir à nação com surpreendente fluência. Um alívio, pois se vê que não há nada de preocupante com ela. Apenas, não sendo política de raiz, tampouco é uma atriz. Nem improvisa nem segue com naturalidade o script.

Dilma disse as palavras adequadas no momento certo. A cobrança dos últimos dias eram todas no sentido em que foi construído o discurso. Era o que se esperava dela. Correspondeu bem a essa expectativa, principalmente quando exaltou o valor dos resultados apertados como agentes de mudanças mais eficazes do que vitórias muito amplas.

Foi ao ponto ao estabelecer que falar em união não significa defender unidade de ação e pensamento, pois o espaço para a divergência é sagrado. E foi em frente no comprometimento com reformas, com o reconhecimento de que pode ser uma pessoa de trato bastante melhorado, que a economia necessita de mudança de rumos, que o diálogo com todos os setores precisa ser qualificado, que a corrupção requer duro combate e o Congresso um relacionamento renovado.

As palavras da presidente são completamente diferentes das atitudes da candidata. Em quem o país deve acreditar? Aí depende da disposição de se aceitar, ou não, a teoria do “diabo”, segundo a qual pela vitória vale tudo. Ou os fins justificam os meios.

O problema da tese é que quem se orienta por ela pode adotá-la em qualquer situação: na campanha ou no governo. De onde a correção do discurso presidencial logo após a vitória deve ser visto com ressalvas. Primeira delas: tão amoldado à expectativa e contraditório em relação ao que gritava a militância que a ouvia ensandecida contra a “mídia golpista”, que autoriza a desconfiança de que seja mais uma peça de marketing.

A suspeita tem base em práticas anteriores. Já vivemos a publicidade da “faxina”, da “gerente”, da “durona”, que hoje promete ser “uma pessoa melhor”. Mas, sigamos com fé. Para que essa fé não nos falhe é necessário que a formalidade das palavras seja correspondida pela efetividade dos atos.

A presidente acena com diálogo. Se a memória não comete grave traição, ela fez gesto semelhante ao assumir a Presidência em 2010. A realidade resultou em isolamento. Sim, pode ter havido aprendizado, mas desta vez é preciso explicitar quais as bases, com quem e como o governo pretende estabelecer a interlocução para ganhar crédito. Terá de levar o PT a adotar a mesma orientação de que a crítica não significa “golpismo” e representa apenas uma parcela substantiva da população.

O compromisso com as reformas também não pode se resumir à repetição da proposta já repudiada do plebiscito para a reforma política. Há outras na pauta que implicam disposição do Poder Executivo de enfrentar e arbitrar contenciosos.

Para concluir, o enrosco urgente da Petrobras. A presidente aborda o tema da corrupção falando em mudanças nas leis. Não poderá, no entanto, passar os próximos quatro anos de olhos fechados para o fato de o PT ter optado por financiar seu projeto de poder por meio de traficâncias no aparelho do Estado.



ELEIÇÕES 2014: por José Murilo de Carvalho (historiador)


Polarização da eleição resultou da semelhança entre os dois candidatos

Dilma ganhou porque, no duelo de insultos, convenceu a maioria do eleitorado de que seu adversário era pior

Folha de S.Paulo – Edição Especial

MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO

A polarização da campanha presidencial é resultado da semelhança entre os programas dos dois candidatos, segundo o historiador José Murilo de Carvalho, 75, autor de Cidadania no Brasil: O Longo Caminho. "Aí entra a tática dos marqueteiros para marcar a diferença e mobilizar os fiéis: agredir, insultar, criar factoides", diz.

A divisão do país vai arrefecer, diz ele, porque problemas reais terão de ser enfrentados, como o baixo crescimento da economia: "Não há política social que se sustente com crescimento zero".
Descrição: -
Folha - Por que Dilma Rousseff venceu as eleições?
José Murilo de Carvalho - No duelo de insultos em que se transformou a campanha, ganhou quem conseguiu convencer a maioria dos eleitores de que o adversário era pior. Dito isso, cabe acrescentar que a vencedora terá que levar em conta que o eleitorado se dividiu ao meio, que seu novo mandato exigirá menos voluntarismo e mais negociação e que, sem retomar o crescimento, todas as conquistas estarão ameaçadas.

Por que essas eleições foram tão polarizadas, com um grau de agressividade que não se via desde a disputa entre Collor e Lula, em 1989?
Meu primeiro trabalho publicado foi sobre uma feroz luta política de família em uma cidade mineira no século 20. Fiquei arrasado quando um espírito maquiaveliano local ironizou meu trabalho. Tudo é planejado, disse ele, os dois chefes beligerantes são casados com duas irmãs. A polarização, mesmo violenta, continuou ele, é essencial para a manutenção da lealdade dos seguidores. Sem saber, ele formulava uma lei da dinâmica do conflito social.

Quem viu o último debate dos candidatos deve ter notado que nos blocos em que se enfrentavam eram lobos agressivos. Nos blocos em que respondiam perguntas de eleitores eram cordeiros que concordavam em tudo. Boa parte da polarização deve-se à semelhança entre os programas dos candidatos. Aí entra a tática dos marqueteiros para marcar a diferença e mobilizar os fiéis: agredir, insultar, criar factoides.

Pelo lado positivo, diferentemente das polarizações de 1954 e 1964, que levaram a uma tragédia e a um golpe, ninguém apelou para solução extraconstitucional. Aos trancos e barrancos, vamos em frente.

As mentiras usadas tanto pelo PT quanto pelo PSDB são aceitáveis numa democracia?
A baixaria é típica de democracia imatura. Em matéria de etiqueta política, ainda comemos com a mão. O fato deve-se em parte ao atraso de nossa democratização política. Há pouco mais de meio século é que o povo começou a entrar na política, antes comandada por bacharéis. A invasão do povo, como eleitor e como eleito, não poderia deixar de ter consequência para o comportamento político, sobretudo com as facilidades da internet. Não é para elogiar, mas é um progresso. Imagino que prática mais alongada de competição fará com que haja mais "fair play".

O que explica o grau de violência na campanha?
Uma das causas é o fato de o mesmo grupo político estar no controle do poder há 12 anos. No Brasil republicano, só durante as duas ditaduras tivemos grupos que ficaram no poder mais tempo do que isso. Nossa longa tradição estatista e patrimonialista faz com que enorme prêmio seja colocado no controle do Estado. Ele é a principal fonte de poder, prestígio e riqueza. São muitas as vantagens materiais que traz em termos de empregos, cargos de confiança, diretorias de estatais, contratos milionários, favorecimentos de amigos. Quem está dentro não quer sair, quem está fora quer entrar.

O sr. acha que o país sairá dividido da eleição ou a agressividade é passageira?
Sairá dividido, mas a intensidade da agressão diminuirá no dia a dia da política. Algum conflito permanecerá. Ao lado de muitas convergências, devidamente ocultadas, há divergência real entre os dois principais partidos, sobretudo no que diz respeito às políticas econômica, financeira e à política externa. Na política econômica, mais controle e estatismo de um lado, mais mercado e autorregulação do outro. Na financeira, o oposto, mais frouxidão versus mais controle. No setor externo, mais política de governo num campo, mais política de Estado no outro. Em termos amplos, mais ênfase na igualdade de um lado, mais na liberdade, do outro.

Qual seria a melhor maneira de refrear os ânimos?
PT e PMDB não têm condições de governar sozinhos, precisarão de alianças, como sempre precisaram. Isso já será um fator de arrefecimentos de ânimos. O PMDB continuará como o maior partido no Congresso e com o maior número de governadores. Continuará como árbitro da política e fator de moderação. Além disso, a realidade se imporá. Certos problemas terão de ser enfrentados. O mais importante é o do crescimento da economia. Não há política social ou nível baixo de desemprego que se sustente com crescimento zero.

O Brasil tem 50 milhões que recebem o Bolsa Família. Esse contingente provocou alguma mudança nas eleições?
Desde a segunda eleição de Lula, o número de pessoas com Bolsa Família em determinado Estado tem apresentado correlação positiva com o voto no PT. O Bolsa Família, embora necessário e justificável, dadas nossas condições sociais, criou uma grande clientela eleitoral. As acusações de que o adversário acabaria com a bolsa assustaram muita gente.

O PT martelou na tecla de que a eleição era uma disputa de ricos contra pobres. Isso terá impacto num futuro próximo?
Como toda polarização, é uma estratégia arriscada, inclusive para o PT. Primeiro porque é difícil saber onde termina o pobre, onde começa o rico. Depois, acabar com a pobreza é acabar com o PT eleitoralmente falando.

Por que a corrupção foi um dos temas dominantes da campanha, mas não teve efeito decisivo no pleito?
A sensibilidade para a corrupção reduz-se quando entra em jogo a percepção de interesses. Ela é maior entre os que menos dependem do governo, menor entre os que dependem mais.

O Brasil foi palco de grandes manifestações em 2013. Por que essas questões não foram discutidas na campanha?
A tática de polarização teve êxito. Votos brancos e nulos não foram significativos. Mesmo os eleitores de Marina, que poderiam ser considerados votos de protesto contra a polarização, acabaram optando por um lado ou outro. Mas não nos enganemos. As causas dos protestos não sumiram. Os dois partidos terão que se reinventar, sob pena de terem que enfrentar a probabilidade cada vez maior do surgimento de uma terceira via que acabe com a polarização, liderada por Marina ou outro líder.



MEU BRASIL MINHA VIDA, por Ruth de Aquino

Época – 26/10/2014

RUTH DE AQUINO

Nós e eles estamos irremediavelmente ligados por um amor comum. O destino do país. E o país são as pessoas. Não conheci um eleitor que deseje que o Brasil afunde nos próximos anos, que a economia naufrague e que a roubalheira do sanatório geral continue.

Não conheci um eleitor, jovem ou idoso, de classe abc-yz, que torça para o país sofrer – na educação, na saúde, na segurança, no transporte, na infraestrutura, no emprego, na inflação, na produtividade, no meio ambiente e na ética – goleadas humilhantes.

Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio, com sonhos parecidos. Que o Brasil vença a ignorância e o subdesenvolvimento. Que a inclusão social não signifique nivelamento por baixo. Que o conhecimento seja valorizado e se erradique o analfabetismo. Que o combate à desigualdade se qualifique por oportunidade real de ascensão, e todos tenham direito a saneamento e a moradia digna.

Nós e eles votamos em Aécio ou Dilma para que não se adie mais a construção maciça de creches em todo o território nacional. Para que se cumpram as promessas de educação em tempo integral, e as escolas não parem por falta de professores. Para que se fiscalize a qualidade dos cursos técnicos e os mestres ganhem dignamente.

Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio para dar um basta às maracutaias de poderosos. Para que uma reforma política inclua prestação de contas, transparência e fim da corrupção que enlameou do planalto às planícies e contaminou uma estatal como a Petrobras. Votamos para moralizar a farra das castas sindicais, sanear as contas do governo federal e saber se nossos impostos beneficiarão a população ou continuarão a encher os bolsos dos corruptos.

Nós e eles votamos em Aécio ou Dilma para que se pare de superfaturar com propinas as grandes obras de infraestrutura e para que os governos parem de nos fazer de bobos, de desviar verba pública até de ambulância, de desabrigados e de merendas escolares. Também votamos para que as obras não sejam paradas no meio, não se alonguem pelo dobro do prazo previsto e não se transformem em monumentos à incompetência e à má-fé administrativas.

Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio para que o Brasil tome vergonha na cara e reduza drasticamente o recorde atual de 56.337 homicídios por ano – desses, 30.072 são jovens entre 15 e 29 anos! Números de guerra que revelam o fracasso da política nacional de segurança. Em 100 países, o Brasil está em sétimo lugar no extermínio de sua própria gente. Nosso país elucida apenas 8% dos homicídios. Votamos para não ser mais assaltados na rua, na praia, dentro de casa, na saída do banco, no ônibus, no carro, por gente que não dá valor à vida e atira na cabeça.

Nós e eles votamos em Aécio ou Dilma para que a população confie na Polícia Militar, uma instituição lançada ao descrédito por elementos que executam, achacam, estupram, roubam fuzis e drogas, se aliam a traficantes e somem com suas vítimas. Os bandidos fardados são uma chaga de nossa sociedade. Votamos para que o novo governo inclua em suas ideias novas a responsabilidade federal pela calamidade na segurança e pelo abandono de nossas fronteiras.

Nós e eles votamos em Dilma ou Aécio para impedir a inflação crescente de engolir nossos salários e para o país voltar a crescer a uma taxa que nos permita enfrentar os desafios sociais. Votamos para não ter de protestar de novo nas ruas contra a indignidade dos transportes públicos que espremem o povo em trens, ônibus e metrôs ineficientes e precários. Votamos para não ver mais doentes no chão de hospitais sem maca, sem equipamento, sem remédios e gente morrendo na fila da cirurgia. Votamos para deixar de assistir ao espetáculo escabroso de rios mortos, florestas mortas, lagoas em coma, mares agonizando com lixo e esgoto.

Nós e eles queremos o bem do povo e o bem do país. Por isso, nós e eles repudiamos qualquer tentativa oficial de censura ou de ditadura à esquerda ou à direita. Nós e eles achamos terrível quando um governo tenta calar ou manietar quem revela os malfeitos. Nós e eles somos a favor da liberdade de expressão.

Nós e eles desprezamos quem desqualifica a oposição. Nós e eles desprezamos uma oposição irresponsável. Nós e eles nos escandalizamos quando um governo cerceia o direito de ir e vir de oposicionistas. Nós e eles abominamos mentiras – em fatos e números –, destinadas a manipular nosso pensamento, a incitar irmãos ao ódio e a estimular a luta de classes que não leva a lugar algum, nem amanhã nem nunca.

Nós e eles preferimos a esperança, porque o Brasil é nossa terra, nossa vida.



segunda-feira, 27 de outubro de 2014

PILHERIA DE UM EMBAIXADOR

“Voto obrigatório é um retrocesso democrático que só interessa aos mercadores da consciência, aos que aviltam a liberdade, valor maior do ser humano...”.

Francisco Vieira, ex-presidente do TRE-SC.


Eu já tinha ouvido o que há de mais estapafúrdio para justificar o fato de, no Brasil, o comparecimento as urnas ser obrigatório e não facultativo. Porém, neste domingo (26/10), assistindo a uma reportagem da RTP Internacional sobre as eleições 2014 cá por estas bandas, a justificativa para tal prática antidemocrática, dada pelo cônsul-geral do Brasil em Lisboa, o embaixador Ruy Casaes, superou todo e qualquer disparate dito, até então, a respeito. Trocando em miúdos, o embaixador afirmou que o Brasil tem muitas “distrações”, tipo praia, sol... Desse modo, caso, no país, o comparecimento as urnas fosse facultativo, não haveria representatividade se, por exemplo, um candidato a presidência da República fosse eleito com, digamos, apenas 10% dos votos válidos... E haja cabresto, desde 1932!



Nathalie Bernardo da Câmara


domingo, 26 de outubro de 2014

ELEIÇÕES 2014: 2º TURNO...



O horário de verão, nas localidades onde ele não vigora, chega, às vezes, a confundir. No meu caso, hoje, por exemplo... Crente que já eram quase sete da manhã, segundo o relógio do computador, saí de casa para comparecer ao meu atual domicílio eleitoral (por questões de burocracia, transferi o meu título do Distrito Federal para o RN, já que, em meados deste ano, quis renovar o meu passaporte e, para isso, eu deveria estar quite com a dita Justiça eleitoral, ou seja, cumprir com a exigência da biometria. Desse modo, das duas, uma: ou viajava para Brasília e registrava as minhas digitais, ou transferia o meu título, realizando, onde estou, tamanha redundância!). Então... Eu ainda ignorava o horário em que as urnas seriam abertas, ou seja, às 8h. Resultado: cheguei ao meu domicílio eleitoral duas horas adiantada: as ruas desertas, os portões da escola fechados... Não contando conversa, voltei para casa, aproveitando para, prudentemente, mudar de roupa, já que eu havia saído toda de preto. Afinal, considerando que os ânimos de muitos eleitores de ambas as candidaturas à Presidência andam para lá de inflamados, vai que alguém pensasse que eu era algum black block! Mudei, portanto, de roupa, ou seja, vesti branco, inclusive as havaianas. E, às 7h45, retornei à escola, não muito distante – sempre cultivei o hábito de “bater o ponto” eleitoral pela manhã, cedo, virando logo tal página (tenho alergia à fila) e ganhando o dia livre. Isso sem falar que sempre repudiei tudo o que é obrigatório – daí ressaltar que, se o Brasil anseia ser realmente um país democrático, a legislação eleitoral deveria ser revista, com o comparecimento as urnas deixando de ser obrigatório para ser facultativo. Isso, sim, é democracia. O resto é resto, tipo a mudança no monitor da urna: nas eleições de 2010, ao lado das fotografias dos candidatos vinham os quadradinhos para o (a) eleitor (a) digitar o número de quem quer que fosse. Nestas eleições, contudo, aparece, apenas, os quadradinhos, com os números e nomes dos candidatos correspondentes escritos numa cartolina pregada na cabina de votação. Gente, pense uma mudança desnecessária! E só porque aumenta a morosidade do processo, visto que, se muitas pessoas já têm dificuldades com palavras, o que dirá com números! Por isso achar que, cada vez mais, por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tudo só tende a se tornar cada vez mais indecente, burocrático. Ignorante, até... Porém, que não seja ignorante, torpe, o comportamento dos eleitores de ambos os presidenciáveis em relação aos seus adversários políticos neste segundo turno – que haja pacificidade no convívio ao longo do dia, bem como tolerância, uns para com os outros, independentemente do resultado das eleições.


Nathalie Bernardo da Câmara

sábado, 25 de outubro de 2014

O PLURALISMO NO CAMPO DA ESQUERDA

Por Claudio de Oliveira
Jornalista e cartunista brasileiro

Como se sabe, nunca existiu um pensamento único de esquerda. Ainda em 1864, quando foi criada a Associação Internacional dos Trabalhadores, logo a organização foi dividida em duas correntes principais. De um lado, os anarquistas liderados pelo russo Mikhail Bakunin, de outro, os socialistas seguidores do alemão Karl Marx.

Aqueles últimos não se constituíam numa corrente monolítica, com variações de pensamento entre eles. Havia também outras correntes. Tampouco a chamada Primeira Internacional abarcava todas as correntes do socialismo europeu.

A repressão pôs fim à Primeira Internacional. Depois da morte de Marx, mas com a presença de seus parceiros intelectuais como Frederic Engels e Karl Kaustky, surgiu a Segunda Internacional, em 1889. Sem os anarquistas, a também chamada Internacional Socialista dividiu-se em várias correntes. Os francamente revisionistas do marxismo, como o alemão Edvard Bernstein, os ortodoxos, porém caminhando para o reformismo, como Kautsky, e os adeptos do revolucionarismo, liderados pelo russo Vladimir Lênin.

Este último, sabemos, fundou em 1919 a Terceira Internacional, ou a Internacional Comunista, que originou o movimento e os partidos comunistas em oposição à socialdemocracia.

Os comunistas russos, chamados de bolcheviques, logo após a morte de Lênin se dividiram. Uma ala, o centro bolchevique, liderado por Josef Stálin, eliminou num, primeiro momento, a esquerda bolchevique de Leon Trotsky, que irá fundar em 1938, a Quarta Internacional. Depois, a direita bolchevique de Nikolai Bukharin será também eliminada por Stálin, com o fuzilamento de seus líderes.

Nem todos os comunistas se alinharam automaticamente a tudo o que os bolcheviques fizeram. Apesar de apoiarem Lênin e a Revolução Russa de 1917, o italiano Antônio Gramsci e a polonesa Rosa Luxemburgo criticaram aspectos da política bolchevique.

É bom registrar também a fundação da Internacional 2 e meia, em 1921, liderada pelos austromarxistas, entre eles Otto Bauer, adeptos do socialismo democrático e de um "terceira via" entre a socialdemocracia e o movimento comunista. Aliás, expressão que será retomada nos anos 1970 pelos eurocomunistas liderados por Enrico Berlinguer, o secretário-geral do PCI. O austromarxismo também inspirará nos anos 1960 um movimento chamado de Nova Esquerda.

Entre as correntes comunistas ainda devemos nos lembrar do maoísmo, muito influente entre intelectuais e líderes estudantis de 1968, como também do “socialismo autogestionário” da Iugoslávia, cujas empresas não eram estatais, mas cooperativas.

A socialdemocracia também se diferenciará em diversas correntes, desde a chamada socialdemocracia clássica, predominante na Europa ocidental, como os suecos, defensores mais de uma regulação estatal da economia e menos de uma intervenção, até os adeptos da “Terceira Via” de Tony Blair ou do “Novo Centro” do socialdemocrata alemão Gerard Schröeder, uma via entre a socialdemocracia clássica e o liberalismo clássico. Isto sem falar de um social-liberalismo ou de um socialismo-liberal defendido pelo italiano Norberto Bobbio.

Em “História do Marxismo”, organizada por Eric Hobsbawn e publicada no Brasil em doze volumes, o historiador egípcio-britânico, ao fazer um balanço do pensamento marxista ao final do século XX, considerava que não é mais possível falar de um único marxismo, mas de vários marxismos, tanto no âmbito da orientação partidário quanto na esfera do “marxismo acadêmico”, com todas as suas variações, desde a Escola de Frankfurt, hoje representado por Jünger Habermas, passando por George Lukács e Louis Althusser.

Ainda à esquerda, talvez devamos nos lembrar de novos movimentos e partidos, como os Verdes da Alemanha e outros surgidos em diversas partes do mundo.

Por isso, vejo com muita naturalidade, que, no Brasil, diferentes correntes e pensadores situados à esquerda do espectro político tenham se posicionado diferentemente na presente eleição presidencial. As opções de pessoas de esquerda seja por Luciana Genro (Psol), por Eduardo Jorge (PV), por Eduardo Campos (PSB), por Marina Silva (Rede), por Aécio Neves (PSDB), por Dilma Roussef (PT), ao meu ver, têm todas o mesmo grau de legitimidade, e o mesmo podemos dizer daqueles que escolheram candidatos de extrema-esquerda, como Zé Maria(PSTU), Mauro Iasi (PCB) ou Rui Pimenta (PCO).


Ou reconhecemos o pluralismo no campo da esquerda e busquemos uma convivência democrática e respeitosa ou teremos de inventar um “esquerdômetro”, um aparelho capaz de identifica a “verdadeira esquerda” e a “linha justa”, cuja experiência de partido único na Europa do leste não foi das mais exultantes, digamos.


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

TIMES ELOGIA APOIO DE CUBA CONTRA EBOLA

New York Times afirma que ajuda de Cuba contra o ebola é 'a mais robusta do mundo'

Editorial do maior jornal impresso do mundo defendeu que Havana e Washington trabalhem juntos para combater a epidemia

POR 

 / ATUALIZADO 20/10/2014 14:53


Primeira leva de médicos cubanos chegou a Serra Leoa na semana passada - Florian Plaucheur / AFP


RIO - Em editorial publicado neste domingo (19), o jornal The New York Times elogia a ação de Cuba na luta contra o ebola, afirmando que o país "desempenha o papel mais robusto entre as nações que buscam conter o vírus". Além disso, o maior veículo de comunicação impressa do mundo concordou e defendeu a posição do ex-presidente cubano Fidel Castro, que no fim de semana pediu para que Estados Unidos e Cuba ponham suas diferenças de lado e trabalhem juntos para combater a epidemia. Para o Times, Fidel está "totalmente certo". Leia abaixo o editorial:

"Cuba é uma ilha empobrecida que permanece em grande parte isolada do mundo e encontra-se a cerca de 4,5 mil quilômetros das nações do Oeste Africano onde o ebola está se espalhando a uma velocidade alarmante. No entanto, tendo se comprometido a enviar centenas de profissionais médicos para as linhas de frente da pandemia, Cuba desempenha o papel mais robusto entre as nações que buscam conter o vírus.

A contribuição cubana sem dúvidas indica a intenção de, pelo menos em parte, reforçar a sua já sitiada posição internacional. No entanto, ela deve ser elogiada e imitada.

O pânico global com o ebola não ainda não trouxe uma resposta adequada das nações que mais têm a oferecer. Enquanto os Estados Unidos e vários outros países ricos ficaram felizes em somente prometer fundos, apenas Cuba e algumas organizações não-governamentais estão oferecendo o que é mais necessário: profissionais de saúde no campo da epidemia.

Médicos na África Ocidental precisam desesperadamente de apoio para estabelecer instalações de isolamento e mecanismos para detectar casos mais agilmente. Mais de 400 profissionais de saúde foram infectados, e cerca de 4.500 pacientes morreram até o momento. O vírus já chegou aos Estados Unidos e à Europa, aumentando os temores de que a epidemia poderá em breve tornar-se uma ameaça global.

É uma pena que Washington, o principal doador na luta contra o Ebola, é diplomaticamente afastado de Havana, justamente o contribuinte mais ousado. Neste caso, o cisma tem consequências de vida ou morte, porque as autoridades americanas e cubanas não estão equipadas para coordenar os esforços globais em alto nível. Isso deve servir como um lembrete urgente ao governo Obama de que os benefícios de se restabelecer rapidamente as relações diplomáticas com Cuba de longe superam as desvantagens.

Os profissionais de saúde cubanos estarão entre os estrangeiros mais expostos, e alguns poderiam muito bem contrair o vírus. A Organização Mundial de Saúde (OMS) está orientando a equipe de médicos, mas ainda não está claro como a instituição iria tratar e evacuar os cubanos que adoecerem. O transporte de pacientes em quarentena requer equipes sofisticadas e aeronaves especialmente adaptadas para tal fim. Mas a maioria das companhias de seguros que oferecem serviços de evacuação médica disse que não fará voos de pacientes com ebola.

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, elogiou na última sexta-feira "a coragem de qualquer profissional de saúde que encara este desafio", e fez um breve reconhecimento da iniciativa de Cuba. Por uma questão de bom senso e compaixão, os militares dos Estados Unidos, que agora tem cerca de 550 tropas na África Ocidental, devem comprometer-se a oferecer a qualquer cubano doente o acesso ao centro de tratamento do Pentágono construído em Monrovia e a auxiliar com a evacuação do paciente.

O trabalho destes médicos cubanos beneficia todo o esforço global e deve ser reconhecido por isso. Mas as autoridades do governo Obama têm insensivelmente se recusado a dizer se lhes oferecerão alguma ajuda.

O setor de saúde cubano está ciente dos riscos em missões perigosas. Médicos cubanos assumiram o papel principal no tratamento de doentes de cólera no rescaldo do terremoto do Haiti em 2010. Alguns voltaram para casa doente, fazendo então a ilha ter seu primeiro surto de cólera em um século. Uma epidemia de ebola em Cuba seria um risco muito mais perigoso e aumentaria as chances de uma rápida propagação do vírusno hemisfério ocidental.

Cuba tem uma longa tradição de envio de médicos e enfermeiros para áreas de desastre no exterior. Nos dias seguintes ao furacão Katrina, em 2005, o governo cubano criou um corpo médico de reação rápida e se ofereceu para enviar médicos para New Orleans. Os Estados Unidos, sem surpresa, não aceitaram o bom gesto de Havana. No entanto, autoridades em Washington pareciam sensibilizadas ao saberem nas últimas semanas que Cuba havia preparado equipes médicas para missões em Serra Leoa, Libéria e Guiné.

Com o apoio técnico da OMS, o governo cubano treinou 460 médicos e enfermeiros sobre as precauções rigorosas que devem ser tomadas para tratar pacientes com o vírus altamente contagioso. O primeiro grupo de 165 profissionais chegou a Serra Leoa nos últimos dias. José Luis Di Fabio, representante da OMS em Havana, disse que os médicos cubanos já estavam especialmente preparados para a missão, pois muitos tinha trabalhado na África.

- Cuba tem profissionais médicos muito competentes - disse Di Fabio, que é uruguaio.
Di Fabio afirmou ainda que os esforços de Cuba para ajudar em situações de emergência de saúde no exterior são frustrados pelo embargo dos Estados Unidos impõe na ilha, que luta para adquirir equipamentos modernos e manter as prateleiras médicas adequadamente abastecidas.

Em uma coluna publicada no fim de semana no jornal estatal de Cuba, Granma, Fidel Castro argumentou que os Estados Unidos e Cuba deveriam colocar de lado suas diferenças, mesmo que apenas temporariamente, para combater o flagelo mortal. Ele está absolutamente certo."

Original…


The Opinion Pages | EDITORIAL

Cuba’s Impressive Role on Ebola



Cuba is an impoverished island that remains largely cut off from the world and lies about 4,500 miles from the West African nations where Ebola is spreading at an alarming rate. Yet, having pledged to deploy hundreds of medical professionals to the front lines of the pandemic, Cuba stands to play the most robust role among the nations seeking to contain the virus.
Cuba’s contribution is doubtlessly meant at least in part to bolster its beleaguered international standing. Nonetheless, it should be lauded and emulated.
The global panic over Ebola has not brought forth an adequate response from the nations with the most to offer. While the United States and several other wealthy countries have been happy to pledge funds, only Cuba and a few nongovernmental organizations are offering what is most needed: medical professionals in the field.


Doctors in West Africa desperately need support to establish isolation facilities and mechanisms to detect cases early. More than 400 medical personnel have been infected and about 4,500 patients have died. The virus has shown up in the United States and Europe, raising fears that the epidemic could soon become a global menace.
It is a shame that Washington, the chief donor in the fight against Ebola, is diplomatically estranged from Havana, the boldest contributor. In this case the schism has life-or-death consequences, because American and Cuban officials are not equipped to coordinate global efforts at a high level. This should serve as an urgent reminder to the Obama administration that the benefits of moving swiftly to restore diplomatic relations with Cuba far outweigh the drawbacks.
The Cuban health care workers will be among the most exposed foreigners, and some could very well contract the virus. The World Health Organization is directing the team of Cuban doctors, but it remains unclear how it would treat and evacuate Cubans who become sick. Transporting quarantined patients requires sophisticated teams and specially configured aircraft. Most insurance companies that provide medical evacuation services have said they will not be flying Ebola patients.
Secretary of State John Kerry on Friday praised “the courage of any health care worker who is undertaking this challenge,” and made a brief acknowledgment of Cuba’s response. As a matter of good sense and compassion, the American military, which now has about 550 troops in West Africa, should commit to giving any sick Cuban access to the treatment center the Pentagon built in Monrovia and to assisting with evacuation.
The work of these Cuban medics benefits the entire global effort and should be recognized for that. But Obama administration officials have callously declined to say what, if any, support they would give them.
The Cuban health sector is aware of the risks of taking on dangerous missions. Cuban doctors assumed the lead role in treating cholera patients in the aftermath of Haiti’s earthquake in 2010. Some returned home sick, and then the island had its first outbreak of cholera in a century. An outbreak of Ebola on the island could pose a far more dangerous risk and increase the odds of a rapid spread in the Western Hemisphere.
Cuba has a long tradition of dispatching doctors and nurses to disaster areas abroad. In the aftermath of Hurricane Katrina in 2005, the Cuban government created a quick-reaction medical corps and offered to send doctors to New Orleans. The United States, unsurprisingly, didn’t take Havana up on that offer. Yet officials in Washington seemed thrilled to learn in recent weeks that Cuba had activated the medical teams for missions in Sierra Leone, Liberia and Guinea.
With technical support from the World Health Organization, the Cuban government trained 460 doctors and nurses on the stringent precautions that must be taken to treat people with the highly contagious virus. The first group of 165 professionals arrived in Sierra Leone in recent days. José Luis Di Fabio, the World Health Organization’s representative in Havana, said Cuban medics were uniquely suited for the mission because many had already worked in Africa. “Cuba has very competent medical professionals,” said Mr. Di Fabio, who is Uruguayan. Mr. Di Fabio said Cuba’s efforts to aid in health emergencies abroad are stymied by the embargo the United States imposes on the island, which struggles to acquire modern equipment and keep medical shelves adequately stocked.

In a column published over the weekend in Cuba’s state-run newspaper, Granma, Fidel Castro argued that the United States and Cuba must put aside their differences, if only temporarily, to combat a deadly scourge. He’s absolutely right.


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

ERA UMA VEZ UM TABLET

“Foi um rio que passou em minha vida...”.

Paulinho da Viola
Cantor e compositor brasileiro


Não faz muito tempo, um cidadão apanhou um táxi no meio de uma das muitas ruas de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Lá pelas tantas, enquanto, pontualmente, era deixado em casa, o passageiro nem se deu conta de que deixou cair o seu tablet no banco de trás do táxi. Não demorou muito, o taxista viu o objeto esquecido no banco traseiro. Honesto (nem sabia mexer naquilo), ele pediu a um entendido no assunto para localizar o dono através do próprio objeto e conseguiu. Conseguiu até o telefone. Não demorou muito, ligou, humildemente, para o seu dono, pois queria entregá-lo em mãos. Ocorre que, pensando que estava fazendo uma boa ação, o que o bondoso taxista ouviu?

— O senhor me roubou!
— Não, o senhor é quem esqueceu o seu “tablete” no meu táxi. E eu ainda estou lhe fazendo o favor de querer devolvê-lo...
— Favor nada! É a sua obrigação. Venha aqui, agora, na minha casa, entregue o meu tablete e ainda pague a corrida.

Já era feriado de carnaval – o taxista indo com a família curtir a folia numa praia do Litoral Norte (afinal, taxista também é gente e tem direito a lazer). Só que, educado e consciencioso, o taxista disse que, tão logo fosse possível, o moço receberia o seu “tablete”, são e salvo. Era só ter paciência.

O dono do tablet, por sua vez, disse que o mesmo tinha GPS e que iria mandar a polícia atrás do taxista, já que, em sua opinião, tinha, indevidamente, se apropriado de um bem seu.

Indignado, pois nada tinha a ver com o esquecimento alheio e ainda estava querendo ajudar, o taxista parou o carro – a família dentro – no meio de uma das pontes que cortam o Rio Potengi e disse: — O senhor está sendo deselegante, desrespeitando-me.
 — É? E o senhor vai ter a polícia em seu encalço. – ameaçou o passageiro.
— Vou? – retrucou o taxista.
— Vai!
— Quis ser gentil, mas, o senhor é muito mal agradecido, arrogante.
— O senhor não me escapa...Devolva o meu tablet!

Não deu outra!Por mais que a esposa dissesse não, o taxista, gente do bem, alertou o incauto: — Se está, então, com tanta pressa, venha pegá-lo.
— Pegá-lo, onde? – quis saber o passageiro, intrigado. – O que houve?

— Não ouviu o ploft? – insistiu o motorista. – É que acabei de jogar o seu “tablete” no Rio Potengi...

Moral da história: arrogância não leva ninguém a nada, nem a lugar nenhum! 

Nathalie Bernardo da Câmara

sábado, 4 de outubro de 2014

MARINA SILVA: QUANDO O CHORO É ALENTO...

Foto: Valéria Gonçalves/AE

“Certamente, é permitido chorar: chorando, acalmamos a cólera...”.
Ovídio (43 a. C. – v. d. C. 17)

Poeta latino


Depoimento do jornalista Altino Machado em seu blog (16/08/2014) – Após a morte trágica de Eduardo Campos, fui procurado por um repórter do Wall Street Journal em busca de histórias sobre Marina Silva para compor uma matéria a ser publicada após o PSB confirmar oficialmente a candidatura dela à presidência da República. (...) Justifiquei tudo o que havia dito ao repórter:Todos nós podemos divergir e divergimos de Marina sobre ideias ou decisões dela. O que ninguém consegue é questionar a sua honestidade e idoneidade moral e ética.

Silvio Margarido [documentarista], amigo de Marina, costuma dizer: Em quem não existem essas virtudes, a inveja se transforma em ódio.


Inesperadamente, no dia 11 de setembro do corrente, num carro que a levava para um hotel depois de mais de treze horas de campanha eleitoral no Rio de Janeiro, a candidata Marina Silva (PSB) mantinha uma conversa informal com uma jornalista que a acompanhava e, de repente, emocionou-se; num repente, não se conteve e chorou, alegando sentir-se injustiçada pelos constantes ataques que vem sofrendo por lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT), seu antigo aliado político. Porém, tão logo chegou ao hotel, tratou de se recompor e disse a sua interlocutora que não guardava mágoa e que iria continuar lutando. Não demorou muito, a suposta privacidade desse momento íntimo da ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente tornou-se público e, feito rastilho de pólvora, motivo de chacota e maledicência por parte dos seus adversários políticos, inclusive de Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição: — Se a pessoa não quer ser pressionada, não quer ser criticada, não quer que falem dela, não dá para ser presidente da República.

Ora, que disparate! Partindo, sobretudo, de quem fez a declaração. – parece até que, empedernida, Dilma é blindada. Ou desprovida de seiva, pau oco. Ocorre que... 


Foto: AFP


Quando da sua posse, no dia 1º de janeiro de 2011, ao receber a faixa presidencial do seu antecessor, Dilma caiu no maior chororô – ou teria sido um cisco? –, o primeiro, aliás, de muitos outros ao longo do seu mandato. Falando nisso, muitas das lágrimas já derramadas pela candidata à reeleição, registradas pelos mais diversos fotógrafos, estão na internet, disponibilizadas para todos os que quiserem atestar a sua dissimulação e leviandade ao comentar sobre o choro de Marina Silva, com a declaração da petista não passando de uma falácia, visto que, na realidade, parece que a máxima aplicada à ambientalista não a contempla, nem, muito menos, os seus pares, que podem, sim, chorar, não importa o motivo – inclusive lágrimas de crocodilo –, ou, então, sorrir, sem medo de ser feliz, a despeito e, muitas vezes, à custa das privações pelas quais passa o povo brasileiro. Não obstante, convenhamos – nada me demove disso –, aparências podem enganar, tipo promessas.

Exemplo disso é que – oportuno parêntese –, quando do primeiro dos ciscos que lhe fizeram chorar, Dilma garantiu, entre outras falsas promessas, que iria erradicar a miséria no Brasil – uma das muitas propagandas enganosas apresentadas no seu discurso de posse, considerando que o que se tem visto é a perpetuação assistencialista demagógica que caracteriza o Bolsa Família, programa que, ao invés de ser transitório, transformou-se, no frigir dos ovos, num cabide eleitoral permanente do PT. Daí a lúcida opinião da escritora e historiadora brasileira Anita Leocádia Prestes em relação ao referido programa quando entrevistada pela jornalista Juliana Bublitz – entrevista essa publicada pelo jornal Zero Hora (05/01/2014): — Engana muito. Uma coisa é ter uma política de distribuição de renda por um período curto e, ao mesmo tempo, investir para que as pessoas possam ter emprego e trabalho para ganhar o seu dinheiro. A eternização do Bolsa Família deforma as pessoas. Na medida em que o nível cultural é muito baixo, a população se contenta em matar a fome e vota no Lula e na Dilma. É um papel deseducativo e tira as pessoas da luta. PT, Lula e Dilma contribuem negativamente para a conscientização e a organização populares.

De fato, ao constatar e concordar com a pertinência da análise feita pela escritora e historiadora, só nos resta chorar – por isso considerar uma covardia Dilma e congêneres tripudiarem das emoções afloradas de Marina, que, ímpar na sua transparência, não resistiu e, com pesar, sem falsear os seus sentimentos, abriu o coração, revelando, de maneira espontânea e sincera, as decepções com aliados, companheiros e amigos de outrora, de uma vida que, inclusive, de há muito se esvaiu no nevoeiro das desilusões. Enfim! Ledo engano de quem, lendo esta postagem, achar que irei votar em Marina. Na verdade, cheguei a pensar nisso, igual fiz nas eleições de 2010, quando votei na porção ambientalista da candidata, mas, infelizmente, após a escolha do seu vice, que mantém laços estreitos com o agronegócio, desisti de votar, embora contrariada – a minha posição em relação ao pleito iminente, Eleições 2014: beco sem saída..., foi publicada neste blog em 22/08/2014.

Não comparecendo as urnas – sem margem de erros –, irei abster-me, limitando-me a justificar a minha ausência do meu domicílio eleitoral, reafirmando, com o meu gesto, que, apesar de admirar Marina e a sua biografia, quero o meu ambiente por inteiro, não pela metade... Porém, o ato de chorar, retomando ao tema central desta postagem, pode muito bem expurgar um ou mais nódulos corrosivos de nossas entranhas, legando-nos alento; às vezes, quiçá, esquecimento; noutras uma metáfora... Foi assim com Marina, visto que, no dia 23, num evento em Recife, versando sobre o ocorrido, que foi o de ter chorado no banco de um carro – divã que amparou as suas lágrimas –, e, por isso, consequentemente, jocosamente criticada, ela tirou de letra as nada boas intenções alheias e contou um segredinho da floresta: — O pessoal diz “a Marina é magrinha”, “é fraquinha”. Sou magrinha, mas venho da Amazônia. Tem uma árvore lá chamada biorana. Tem a Biorana branca e a preta. A biorana preta não fica tão grossa. Mas experimenta bater com um machado: sai faísca, mas ela não verga...


Biorana, biojoia...

Foto: Bob Wolfenson/Vogue Brasil

Terra - Você gosta mesmo de fazer essas joias?
Marina Silva - Isso para mim é uma terapia. Estou deixando você me fotografar nessa terapia porque muita gente nem acredita que faço isso. Essa tarefa me permite fazer profundas reflexões. O pensamento voa...

Trecho da entrevista concedida por Marina Silva ao jornalista Altino Machado, publicada no portal Terra (11/10/2010), durante a qual a ambientalista ajustava colares usados durante a sua campanha eleitoral para presidente do Brasil – foi a terceira no pódio, obtendo cerca de 20 milhões de votos.


Um sabor bem brasileiro, nascido no seio da floresta, “amálgama dos seus odores, frutos e flores, sons, cores e tons”, como eu disse numa antiga postagem, sendo, ainda, embalada pelo aroma do seringal, que lhe fincou fecundas raízes – e haja estirpe! –, ramificadas, aliás, mundo afora, na defesa das suas causas ambientais, além de trançadas tais quais os colares que costuma portar em suas aparições públicas, destaque da Vogue italiana em sua edição de outubro de 2010, que, primorosa, não poupou elogios aos seus acessórios “étnicos” – ela chama-os de “biojóias” –, criados e confeccionados por ela mesma, “dos cortes aos polimentos” (edição de julho de 2011 da versão brasileira da revista), a partir de uma diversificada matéria-prima oriunda da própria Amazônia: sementes de açaí, mulungu, licuri, jarina, haste de palmeira pupunha... Essa é, portanto, a ambientalista, artesã e política Marina Silva, credenciando-se, pela segunda vez, à presidência do Brasil. Desse modo, a título de ilustração, segue, abaixo, um link para a recente entrevista que ela concedeu ao telejornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo, exibida no dia 25 de setembro do corrente, ao final da qual, na maior naturalidade, explicou o motivo do seu choro, embora ela – nem ninguém – não tivesse de justificar nada, apesar de tê-lo feito apenas porque um dos jornalistas tocou no assunto. Enfim! Chorar não é necessariamente sinônimo de fragilidade – afinal, o choro faz parte da condição humana.

NBC


“Não se pode confundir sensibilidade com fraqueza”, diz Marina Silva.

“Já vi tantos líderes chorando e não é por isso que são mais fracos ou menos fracos”


Link para a entrevista com Marina Silva e, abaixo, na íntegra, a sua transcrição: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2014/09/bom-dia-brasil-entrevista-marina-silva.html


Chico Pinheiro: Olá, candidata.

Marina Silva: Olá, Chico.

Chico Pinheiro: Nós agradecemos a sua presença aqui no Bom Dia Brasil. Seja muito bem-vinda.

Ana Paula Araújo: Bem-vinda aqui e obrigada pela presença.

Miriam Leitão: Olá.

Marina Silva: Obrigada por estar com vocês.

Chico Pinheiro: Essa entrevista começa a contar a partir de agora o tempo da entrevista. E quem vai começá-la é a nossa colega Miriam Leitão, com a primeira pergunta. Miriam.

Miriam Leitão: Candidata Marina, a senhora falou em atualizar a legislação trabalhista e disse que não vai mudar a CLT, mas só... apenas a referência a essa mudança na legislação trabalhista já assusta os trabalhadores, naturalmente. E o que a senhora vai mudar e como vai mudar?

Marina Silva: Quando se fala em atualização, é exatamente para manter os direitos já conquistados e ampliar aqueles que os trabalhadores ainda precisam conquistar. Por exemplo, hoje, nós temos cerca de 20 milhões de brasileiros que estão na informalidade. E nós estamos assumindo o compromisso de fazer um esforço para que se tenha meios para que essas pessoas possam vir para o mercado formal de trabalho.

Miriam Leitão: Não é simples, né, candidata? Como é que faz essa formalização? Porque esse é um velho problema do Brasil.

Marina Silva: Exato, não é simples, mas nós não podemos partir do princípio de que essas pessoas devam ficar condenadas para o resto da vida a ficar na informalidade, inclusive, com seus direitos precarizados em relação à Previdência.
Miriam Leitão: Claro, mas eu quero saber como fazer isso.

Marina Silva: Como fazer? Por exemplo, no governo do Fernando Henrique, ele fez o processo de terceirização para as atividades-meio. O governo do PT manteve. Existe uma lei que faz essa regulamentação, mas nem todos os trabalhadores têm os seus direitos assegurados. E nem todas as empresas se sentem seguras com a forma como esse processo foi estabelecido, que, em muitos aspectos, tem a ver com uma súmula do Supremo. Então, fazer essa atualização para que aqueles que vivem na informalidade possam entrar no mercado formal de trabalho e, ao mesmo tempo, aqueles que estão na atividade-meio, que já estão no processo de terceirização, não a atividade-fim, que fique bem claro que é o que já existe, que essas pessoas possam ter seus direitos respeitados e que empregados e empregadores possam ter segurança jurídica. Esse é o esforço que nós estamos nos comprometendo para melhorar as condições dos trabalhadores e para que também a gente possa criar um espaço de segurança. E isso dialoga também com aposentadoria, com Previdência...

Miriam Leitão: Mas a CLT não tem coisas velhas que precisam ser atualizadas além dessa questão da terceirização, tem outros pontos?

Marina Silva: Nós achamos que há um processo complexo em relação à CLT e que, se você vai mexer em tudo isso, cria um problema de insegurança para os trabalhadores, que a duras penas conquistaram esses direitos. É preciso...

Miriam Leitão: Então a senhora prefere não mexer na CLT? É isso?

Marina Silva: Nós não vamos mexer na CLT. Nós queremos fazer uma atualização para que direitos possam ser ampliados e para que aqueles aspectos que ainda não estão sendo cumpridos adequadamente possam ser cumpridos.

Ana Paula Araújo: Candidata, ainda cobrando uma definição melhor das suas propostas, é um consenso entre todos que o Brasil tem uma carga tributária muito alta. Isso torna a nossa indústria pouco competitiva com relação a outros países. A senhora tem dito que quer promover um desmame da indústria revendo desonerações de impostos, mas entre essas reduções de impostos tem o IPI para os carros, tem também a desoneração da folha de pagamento. Afinal, que medidas exatamente a senhora quer rever?

Marina Silva: Nós sabemos que há a necessidade de incentivos para que a indústria e o emprego possam ser protegidos. Isso aconteceu a partir de 2008, naquele momento de fragilidade. O problema é que a continuação do remédio, mesmo quando o paciente já deveria ir se preparando para ter autonomia, cria uma situação de dependência. A atitude do governo em não exigir nenhuma contrapartida, principalmente da indústria automobilística, faz com que no Brasil esses benefícios aconteçam sem que a indústria automobilística se preocupe em melhorar a qualidade dos seus equipamentos, de diminuir emissão de CO2, de diminuir a poluição. Nos Estados Unidos, isso foi feito também, só que foi feito com contrapartida. O que nós falamos foi que nós queríamos qualificar melhor esses incentivos. Qualificar no sentido de que possam ter contrapartida e de que possa se ter um diálogo, envolvendo também a indústria automobilística. As saídas para o transporte público de qualidade, por exemplo, não pode ser uma ação só do governo federal com a sociedade. As empresas poderiam também participar desse processo e contribuir com novas formas de atender adequadamente a população com transporte coletivo.

Chico Pinheiro: Mas não só...

Ana Paula Araújo: A senhora falou aí do IPI dos carros. Mas tem, por exemplo, também a desoneração da folha de pagamento, que é uma medida que cria empregos.

Marina Silva: É. Essa questão ela é complicada, porque, na verdade, você não pode criar uma situação de vulnerabilidade. Por isso que nós utilizamos os termos, o termo qualificar. Qualificar exatamente para poder exigir contrapartidas, qualificar para que as empresas possam ter... Claro que não podem ficar infinitamente dependendo dos incentivos do governo. E, no caso da folha de pagamento, é fundamental, porque a indústria e os setores que são os empregadores não podem, de uma hora para outra, perder esses incentivos.

Chico Pinheiro: Agora, nós estamos em um quadro de desindustrialização, né, com perda, com redução de empregos. E, nesse momento, a senhora não acha delicado mexer nessa questão dos incentivos, ainda que isso seja desejável? Porque pode se entrar em um dilema aí: se tira os incentivos, corre o risco de piorar a situação da indústria e, portanto, os empregos; se mantém, permanece essa dependência das empresas do estado. Como a senhora...

Marina Silva: Por isso que eu insisto, Chico. Nós não falamos em retirar, nós falamos em qualificar. E, quando falamos em qualificar...

Chico Pinheiro: Qual é o critério para qualificação?

Marina Silva: Nós queremos também dialogar com aqueles incentivos que foram dados através, por exemplo, do BNDES, em que o governo escolheu algumas empresas para serem consideradas as campeãs, com juros subsidiados, com volumes de recursos altíssimos, cerca de R$ 500 bilhões, que equivale a 20 anos de Bolsa Família. Não se pode utilizar o dinheiro do contribuinte para escolher quem serão os ungidos que irão ter acesso a esses recursos.

Chico Pinheiro: Mas a senhora vai reduzir a carga tributária?

Marina Silva: Nesse caso do mau uso dos recursos públicos do BNDES, nós vamos fazer isso com transparência, que a sociedade possa ver. No que concerne à questão tributária, nós estamos nos comprometendo, em no primeiro mês do nosso governo, mandar uma proposta de reforma tributária para o Congresso. Estabelecemos princípios que são: o princípio da justiça tributária, porque, no Brasil, quem pode mais... quem pode menos paga mais e quem pode mais paga menos; o princípio da transparência, porque muita gente paga imposto na hora que vai ao supermercado e nem sabe que está pagando imposto; e o princípio da simplificação, porque hoje uma boa parte do tempo e dos recursos de uma empresa é gasto exatamente só para poder pagar os impostos. Eu tive um dia desses em um debate com jovens empreendedores e eles diziam o seguinte, que das novas empresas que fazem parte do Supersimples, quando elas alcançam R$ 3,6 milhões, elas ficam diante de um dilema, porque se elas forem submetidas a toda a carga tributária, a todas as exigências, 70% dessas empresas fecham...

Miriam Leitão: Candidata...

Marina Silva: Então fica um dilema. Então é fundamental que a reforma tributária dê conta desse desafio.

Miriam Leitão: Candidata, sabe o que os empresários temem em relação à senhora? É que, diante de um conflito entre o agronegócio, por exemplo, e os ambientalistas, ou os ambientalistas e a necessidade de fazer infraestrutura no país, obras de infraestrutura, a senhora sempre ouvirá mais os argumentos, tenderá ser mais sensível aos argumentos dos ambientalistas. Mas só que o Brasil, o agronegócio é a salvação da nossa lavoura, que garante a balança comercial, e o Brasil precisa de estradas e precisa de energia. Como é que a senhora responde a esses temores com relação a toda sua vida profissional?

Marina Silva: Que as duas coisas não são incompatíveis, Miriam. Eu tenho insistido que é fundamental juntar economia e ecologia. É uma parte muito pequena do agronegócio que tem essa visão, que é mais uma visão política e ideológica, de que para o agronegócio ser próspero é preciso negligenciar meio ambiente. É possível aumentar a produção por ganho de produtividade. O Brasil...

Miriam Leitão: Mas sempre haverá conflitos.

Marina Silva: Mas o conflito...

Miriam Leitão: Sempre haverá pontos de divergência.

Marina Silva: O conflito é para ser manejado. Não sei se vocês viram uma matéria que saiu recentemente dizendo que as chuvas do Sul, do Sudeste e de parte do Centro-Oeste elas se dão em função da Amazônia. A destruição da Amazônia significa a ameaça de transformar em deserto as regiões mais prósperas do agronegócio. Então é interesse do próprio agronegócio moderno, das pessoas que querem aumentar a produção por ganho de produtividade, que a gente não fique neste dilema. Não há esse dilema para produzir e proteger. As duas coisas são inteiramente possíveis.

Ana Paula Araújo: Mas candidata...

Marina Silva: Hoje nós podemos aumentar a produção por ganho de produtividade. De 1973 para cá o Brasil teve um aumento de produtividade de mais de 200%, com a expansão de área de apenas 31%. Isso significa que nós já somos campeões em aumentar a produção por ganho de produtividade. Isso significa a utilização de menos áreas, utilização de menos recursos.

Miriam Leitão: Graças à revolução agrícola, da Embrapa.

Marina Silva: Exatamente.

Chico Pinheiro: O trabalho da Embrapa.

Marina Silva: O trabalho da Embrapa e o investimento dos grandes produtores, que eles próprios passaram a investir em pesquisa. Quem não consegue isso são os pequenos. E tem um falso dilema. É a cortina de fumaça que é feita toda eleição. O problema do agronegócio não é a proteção do meio ambiente, não são os índios e os quilombolas. É a falta de infraestrutura de hidrovias, de ferrovias, de termos estradas adequadas para o transporte, ...

Ana Paula Araújo: Pois é candidata, mas...

Marina Silva: ... armazenagem e portos.

Ana Paula Araújo: Só complementando...

Marina Silva: É isso que faz com que a gente perda cerca de 30% da nossa produção agrícola, em função do descaso da infraestrutura.

Ana Paula Araújo: Exatamente isso que eu queria perguntar, candidata. Esse temor de que a senhora vá ser mais sensível a argumentos de ambientalistas do que de empresários, inclusive nos casos das obras de infraestrutura, vem muito em função de quando a senhora foi ministra do Meio Ambiente e era muito criticada por travar as licenças ambientais. A gente tem aqui um dado de que quando a senhora, depois que a senhora saiu do ministério, as licenças pularam de 300 por ano para 800 no ano passado.

Marina Silva: Eu não tenho exatamente esses dados. O que eu posso te dizer é que as licenças que foram dadas durante a minha gestão foram as licenças mais complexas. Você fazer o licenciamento do Rio São Francisco, que desde o tempo do Império, se tentava fazer a transposição, e fazer isso com liminares em vários estados, o Ministério Público, e ganhar todas as liminares, é porque foi um trabalho muito bem feito. Você fazer a licença de Santo Antônio Girau, e conseguir dar essa licença depois que toda a documentação foi apresentada pelo demandante em três meses, é preciso ter muita eficiência. Fazer a licença da BR-163, que envolveu cerca de 13 ministérios para poder dar esta licença, e um trabalho de aprovar uma lei no Congresso para poder criar uma limitação administrativa temporária que nos levou a criar oito milhões de hectares de unidade de conservação no processo da feitura da estrada, ao longo da estrada, exatamente para diminuir o desmatamento. Nós conseguimos dar a licença. Sabe o que que aconteceu? Quando a gente protegeu a área, que eles diziam que não ia ser impactada, perdeu o interesse por fazer a estrada. A estrada não entrou nas obras do PAC, o consórcio privado desistiu de fazer a estrada e os prefeitos e os governadores também não falavam mais da estrada. Sabe por quê? Porque não era mais possível a grilagem. Depois que eu saí negligenciaram o plano BR-163 e o desmatamento voltou a crescer.

Chico Pinheiro: Candidata, vamos falar dos transgênicos, como é a sua posição em relação a eles. Porque a senhora diz agora que é uma lenda que a senhora fosse contra os transgênicos, no entanto, a senhora já defendeu a moratória aos transgênicos, a proibição por cinco anos, em determinado momento quando a senhora era senadora, disse que eles só poderiam ser liberados depois de muitos estudos, de ampla discussão. Essas declarações do passado o que elas são? São lendas, devem ser esquecidas, como é que é?

Marina Silva: Elas são inteiramente compatíveis com o que eu estou dizendo agora. A moratória no período em que eu propus era exatamente para se fazer os estudos. Naquele período a União Europeia estava fazendo os estudos, e eu fiz a proposta da moratória. Vamos fazer os estudos para termos certeza se faz ou não faz, traz ou não traz problemas para o meio ambiente e para a saúde humana. Os europeus continuam estudando até hoje, mas eu, naquele momento, fiz a proposta de cinco anos. E quando nós fomos para a regulamentação no Ministério do Meio Ambiente, a proposta que foi encaminhada pelo ministério à Casa Civil e para o debate no Congresso, nós sugeríamos um modelo de coexistência. O problema é que no debate ninguém falava da nossa proposta, simplesmente dizia: ‘Eles são contra’.

Chico Pinheiro: Hoje a sua proposta é essa, da coexistência?

Marina Silva: A minha proposta continua sendo a que seria o melhor modelo. Infelizmente isso não é mais possível, porque a lei que foi aprovada fez um processo uniforme.

Chico Pinheiro: Qual é?

Marina Silva: Até o estado do Paraná, o Requião uma época estava se dispondo a ser uma área livre de transgênicos.

Chico Pinheiro: Agora...

Marina Silva: Mas o Governo Federal, ele optou pelo caminho do México, optou pelo caminho da Argentina, optou pelo caminho dos Estados Unidos...

Chico Pinheiro: Mas vamos falar da sua...

Marina Silva: ... e homogeneizou uma cultivar que nós poderíamos ganhar duas vezes, Chico.

Chico Pinheiro: A senhora pensa em mudar a lei?

Marina Silva: Não, porque agora a lei já foi aprovada.

Chico Pinheiro: A senhora considera, a senhora, pessoalmente, considera os transgênicos um mal?

Marina Silva: Eu considero algo que tem que ser visto com atenção, do mesmo jeito que os europeus veem com atenção. E que se dê o direito para o consumidor de fazer a escolha. Por isso que era importante o regime de coexistência. Porque você pode não ter nenhum problema em escolher o produto transgênico. Está lá, rotulado, você vai no supermercado e faz a sua escolha. Agora, o cidadão que não quer ele pode ir também lá na prateleira e tem o mesmo produto para que ele faça a sua escolha. Isso é o livre mercado que tanta gente defende. Agora, você impor um único modelo é que não pode ser.

Chico Pinheiro: OK, candidata, a gente vai para um ligeiro intervalo e voltamos com outras perguntas já, já.

Chico Pinheiro: Voltamos à entrevista com a candidata Marina Silva. O tema agora é economia. Miriam Leitão.

Miriam Leitão: Candidata Marina, a senhora é acusada pelos adversários de mudar muito de ideia. Eu quero ficar na economia, que é o meu terreno. Por exemplo, em questão da meta da inflação, o programa anterior, de Eduardo Campos, falava em reduzir a meta para 3% a médio prazo. A senhora fala na meta de 4,5%, mas um aliado seu, Alexandre Rands, chegou a falar em elevar a meta no primeiro momento, e a senhora o desautorizou. E eu fiquei confusa. Afinal de contas, a senhora, qual é a sua proposta para combater a inflação brasileira? É respeitar a meta em quanto tempo e de que forma?

Marina Silva: A meta ela é estabelecida e ela tem que ser cumprida pelo Banco Central, pelo governo. É nosso objetivo. Quando o Eduardo fez essas afirmações, nós estávamos no processo de debate com os nossos economistas. E, obviamente, que era o debate ali acontecendo. A posição de um dos nossos colaboradores manifestando suas opiniões pessoais não significa em hipótese alguma que essa é a posição do nosso plano de governo.  O nosso compromisso é em manter o tripé da estabilidade econômica brasileira com a ideia da responsabilidade fiscal, com a manutenção do câmbio flutuante...

Miriam Leitão: E o centro da meta, qual é?

Chico Pinheiro: 3%, 3,5%, 4%, 4,5%?

Marina Silva: E a nossa proposta é de 4,5%. É isso que nós vamos manter.

Miriam Leitão: E em quanto tempo chegar lá?

Marina Silva: E estamos perseguindo isso. É algo que, é claro, você tem fatores que vão nos levar a poder alcançar esse objetivo. O Brasil hoje está vivendo uma situação muito difícil: baixo crescimento, falta de credibilidade...

Chico Pinheiro: Pois é, candidata. Aí é o seguinte: falar é mais fácil do que fazer. Como, concretamente, a senhora pretende, que medidas tomar logo no começo para baixar a inflação e para voltar o crescimento? Como é que faz isso?

Marina Silva: Uma medida importante não será tomada por mim, será tomada pela sociedade brasileira...

Chico Pinheiro: Qual medida?

Marina Silva: Escolher um presidente da República que recupere a credibilidade para que este país volte a ter investimentos, para que este país possa assegurar a autonomia do Banco Central, para que este país possa ter controle do gasto público. E nós estamos propondo até criar um conselho de responsabilidade fiscal. Nós vamos, sim, fazer com que o Brasil volte a crescer. Uma boa parte do capital que o Brasil precisa não é tangível, é intangível: é confiança, credibilidade, respeito a contrato. Criar um ambiente que favoreça os investidores a voltar a investir no Brasil. Isso só será possível com um governo que tenha legitimidade. E que, de antemão, estabeleça o seguinte: nós não vamos nos aventurar em política econômica, não vamos inventar a roda. Há um processo que vem dando certo desde o governo Itamar, o presidente Fernando Henrique consolidou, o presidente Lula manteve. A presidente Dilma é que se aventurou. E agora nós temos o nosso país com baixa credibilidade, pouco investimento, juros altos – que favorece o baixo empenho, é, investimento...

Miriam Leitão: Candidata, como é que seria esse conselho de responsabilidade fiscal?

Marina Silva: Esse conselho de responsabilidade fiscal vai ser criado por lei.

Miriam Leitão: Externo ou interno?

Marina Silva: Ele vai ser um conselho que precisa ter a sua independência, por que se o...

Miriam Leitão: Mas para fazer o quê? Para controlar o governo?

Marina Silva: Para verificar as contas do governo. Hoje nós estamos em um processo de falta de credibilidade, em função da...

Miriam Leitão: Não tem o Tribunal de Contas para isso?

Marina Silva: Existe o Tribunal de Contas, mas nós não temos outros conselhos que nos ajudam em relação a dar eficiência às ações do governo? Nesse caso, nós já estamos com as contas, que são criativas, que são maquiadas, que o céu é o limite. Ter um conselho de responsabilidade fiscal é dizer...

Chico Pinheiro: Ele é propositivo esse conselho? Ele vai dizer o que fazer?

Marina Silva: Ele é propositivo à medida em que nós temos um compromisso de que nós não vamos elevar o gasto público acima do crescimento do PIB. E o conselho de responsabilidade fiscal tem que fazer com que o governo dê conta dos investimentos estratégicos na área social, e, ao mesmo tempo, não vá pelo caminho da ineficiência, que é o que acontece hoje. Hoje o governo gasta de forma ineficiente. Você tem projetos que começam com R$ 6 bilhões, vão sendo reajustados para 10, 20, 30. E se nós tivéssemos um conselho de responsabilidade fiscal, o governo seria cobrado para evitar esse tipo de desperdício.

Miriam Leitão: Candidata, no tripé, é complicado, porque assim, por exemplo, a tendência do dólar é subir. Se o dólar subir – e o dólar é flutuante, um dos pés do tripé é o dólar flutuante - aí isso impacta a inflação. Se o Banco Central intervir, isso vai estar controlando, portanto, não está afetando, não está permitindo esse tripé de funcionar. Quer dizer, tem várias coisas difíceis. Cortar os gastos pode aumentar a recessão. Como é que a senhora vai fazer esse restabelecimento do tripé?

Marina Silva: É que cortar o gasto ineficiente não significa necessariamente não fazer os investimentos. O corte do gasto ineficiente...

Miriam Leitão: Mas o que que é o gasto ineficiente?

Marina Silva: O gasto ineficiente são esses que eu falei com esses projetos como nós temos inúmeros, em que você começa um investimento... As obras do São Francisco, por exemplo: o planejamento inicial era de X bilhões, agora o céu é o limite. As obras de Belo Monte, o planejamento inicial era uma quantidade de recursos e vão sendo aditados. Isso tem a ver com a ineficiência do gasto público.

Chico Pinheiro: A senhora acha que o conselho resolve isso?

Marina Silva: O conselho ajuda a dar transparência, o conselho ajuda a fazer com que as contas públicas sejam transparentes. Hoje nós não sabemos exatamente o tamanho e a qualidade desse gasto, porque não há transparência, porque é feito de forma maquiada mesmo, como se costuma chamar.

Ana Paula Araújo: Mas, candidata, ano que vem teremos um ano difícil. Há muitos preços que estão hoje represados. O que que a senhora vai fazer com relação a isso para que não pese ainda mais na inflação no ano que vem?

Marina Silva: Os preços administrados para o controle artificial da inflação é o que esse governo está fazendo. A presidente Dilma já está pondo a mão na consciência e tomando algumas providências. Ela é a presidente da República. Ela tem que resolver esse angu de caroço que colocou o Brasil, manipulando os preços administrados para ter bons resultados no que concerne a inflação – e mesmo assim, ela está alta – para ganhar dividendos políticos. É por isso que eu sou contra a reeleição. Sabe por quê? Porque na reeleição você não faz o que é preciso e estratégico para o país, faz o que é preciso e necessário para se reeleger em prejuízo da nação. A presidente Dilma tem que assumir a sua responsabilidade com o que está sendo feito. Ela sinalizou que vai demitir o ministro no próximo governo.

Chico Pinheiro: Vamos falar da sua campanha.

Marina Silva: O problema é que a sociedade brasileira, me parece, já está a caminho de demitir os dois. Porque o que está sendo feito é uma irresponsabilidade com o Brasil.

Chico Pinheiro: Vamos falar da sua campanha, candidata. Ana Paula.

Ana Paula Araújo: Queria sair um pouquinho agora da economia, a senhora em uma entrevista recente à "Folha de S. Paulo" quando foi perguntada sobre os ataques que sofreu por parte do ex-presidente Lula, a senhora chorou.  Esse choro não reforça uma imagem de fragilidade perante o seu eleitor? Uma imagem que a senhora nega.

Marina Silva: Eu não nego, eu sempre, parece até vaidade, mas eu sou uma pessoa sensível. Eu...

Ana Paula Araújo: Eu não falei insensibilidade e, sim, de fragilidade.

Marina Silva: Não, não é fragilidade. Quem foi que disse que um Presidente da República não tem emoções? Eu, há 30 anos de vida pública, ninguém nunca me viu tergiversar.

Chico Pinheiro: Por que a senhora chorou?

Marina Silva: Olha, é uma coisa até estranha de falar porque foi fora da entrevista, né. Eu estava diante de uma jovem, filha de uma pessoa com a qual eu tive relação histórica. Eu conheço muitos jornalistas que termina a entrevista e fica conversando com você e eu naquele contexto estava falando, inclusive, das minhas filhas que têm a mesma idade da jovem que estava me entrevistando, filha de um ex-companheiro do PT. E essas minhas filhas me disseram uma vez que elas tinham um pesar muito grande em relação ao álbum de fotografia delas, porque o álbum de fotografia delas, quando crianças, era sapatinho vermelho, chapeuzinho vermelho, botinho do PT, tudo do PT, o maior orgulho das fotos que tinham com o Lula, com os líderes do PT. E a minha filha disse: "Mãe, o que foi feito com a gente? A gente tinha tanto orgulho do nosso álbum de fotografia e agora a gente não tem mais orgulho da nossa roupinha vermelha, do nosso chapeuzinho vermelho". Eu estava me referindo a um contexto muito delicado...

Chico Pinheiro: E por isso a senhora ficou emocionada?

Marina Silva: Obviamente.

Ana Paula Araújo: A senhora não acha que tem uma imagem de fragilidade perante o eleitor?

Marina Silva: É possível que tenha, as pessoas têm muito preconceito com pessoas com a minha origem e talvez pelo fato de ser uma pessoa que teve que passar por muitos problemas de saúde, mas eu costumo brincar com isso, sabe. Eu até fiz uma metáfora, né, da biorana preta e da biorana branca. É uma madeira, não é tão grossa, mas é âmago puro. Ter enfrentado cinco hepatites, cinco malárias, três hepatites, uma leishmaniose, perder a mãe aos 14 anos, ter sido alfabetizada aos 16 anos, ter passado o que eu passei, vir me dizer que isso é fragilidade e me pedir para não ter emoções, sinceramente. Eu já vi tantas vezes líderes chorando e não é por isso que eles são mais fracos ou menos fracos, muito pelo contrário. Uma das coisas que mais emocionou foi no dia que o presidente Lula foi ser empossado e que ele pegou o seu diploma e disse: "Eu que nunca estudei, agora estou recebendo meu primeiro diploma, de Presidente da República Federativa do Brasil" e caiu no choro, eu caí no choro também. E mesmo que o Lula ali me pedisse: "Marina, não chore comigo chorando", ele não ia conseguir segurar as minhas lágrimas. Eu sou uma pessoa sensível, mas não se pode confundir...

Ana Paula Araújo: Agora...

Marina Silva: ... sensibilidade com fraqueza.

Ana Paula Araújo: Ok.

Marina Silva: As pessoas que não se deixam emocionar, essas, sim, podem ser muito fracas.

Ana Paula Araújo: Agora, candidata, a senhora já esteve melhor nas pesquisas eleitorais. A senhora sempre diz que tem pouco tempo na propaganda eleitoral, mas a gente sabe que campanha eleitoral não é só tempo de televisão. Minha pergunta é: a senhora acha que nesse momento da campanha está tendo dificuldade de convencer o eleitor da consistência da sua candidatura?

Marina Silva: A minha candidatura é muito consistente. Você já imaginou o que é perder um companheiro de chapa em um acidente trágico? Você que já tinha se colocado no lugar de vice, assumir uma eleição em dois meses, fazer tudo que tivemos que fazer com partidos pequenos, começar tudo do zero, inclusive, toneladas de material que a gente tinha feito de Eduardo e Marina, a gente teve que descartar todo esse material. Até agora, na maioria dos estados, nem chegou o nosso material. Nós estamos com dois minutos de televisão e não temos as estruturas que os nossos concorrentes têm, nem o poder de vocalização que eles têm e, mesmo assim, nós estamos aonde estamos. Eu só tenho a agradecer a capacidade do povo brasileiro...

Miriam Leitão: Candidata...

Marina Silva: ...de mostrar que quem vai ganhar essa eleição, não são as velhas estruturas, é uma nova postura.

Miriam Leitão: Candidata, a senhora falou em diminuir o papel dos bancos públicos, mas os bancos públicos financiam a infraestrutura no Brasil, todo o investimento de longo prazo, a moradia popular, por exemplo, e a senhora não especificou, exatamente, que papéis eles vão deixar de fazer. Quer dizer, aonde vai cortar esse papel dos bancos públicos?

Marina Silva: Eles vão...

Chico Pinheiro: Só lembrar, candidata, que a gente tem mais um minuto e meio para a  senhora, por favor. Obrigado.

Marina Silva: Os bancos públicos vão continuar para a finalidade social que eles têm: no investimento correto, o "Minha Casa, Minha Vida", os investimentos para a agricultura. E isso está no nosso programa.

Miriam Leitão: Mas não vai enfraquecer os bancos?

Marina Silva: Não vai enfraquecer os bancos. O que enfraquece os bancos é pegar o dinheiro do BNDES e dar para meia dúzia de empresários falidos, uma parte deles, alguns deles que deram, enfim, um sumiço em bilhões de reais do nosso dinheiro. Esse, sim, nós vamos parar com o mau uso. O uso político dos bancos públicos não teremos mais. Nós vamos valorizar a prata da casa, os funcionários públicos. Os partidos não vão ter um pedaço da Caixa Econômica e do Banco do Brasil para chamar de seus.

Miriam Leitão: Mas várias empresas fazem bons investimentos e precisam desse...

Marina Silva: Nos bons investimentos, os bancos públicos têm um papel fundamental e importante. É preciso que a iniciativa, enfim, o financiamento que não é público seja um financiamento complementar. E para os investimentos sociais: "Minha Casa, Minha Vida", para a agricultura, nós vamos manter.

Miriam Leitão: A senhora sabe quanto vai conseguir reduzir? A senhora sabe quanto vai reduzir?

Chico Pinheiro: A senhora tem um cálculo mais ou menos disso?

Marina Silva: Nós estamos fazendo a discussão em relação à qualidade desses investimentos, principalmente no caso do BNDES, que ali que foi o lugar aonde se tirou o dinheiro do contribuinte para dar para meia dúzias de empresas serem as campeãs. Nós queremos é um ambiente favorável em que todos possam ser beneficiados, os investimentos estratégicos dos programas sociais, pode ter certeza, e a valorização da Caixa Econômica, do Banco do Brasil, do BNDES, valorização e o preenchimento das suas diretorias por comitê de busca, não por apadrinhados políticos. A mesma coisa que nós vamos fazer na Petrobras, na Eletrobras...

Chico Pinheiro: Candidata Marina Silva, muito obrigado pela sua participação aqui no Bom Dia Brasil. A senhora que tem dois minutos, teve 30 minutos aqui para expor mais as suas ideias. Agradeço muito a sua presença.

Marina Silva: Olha, pensando assim, isso dá quantos programas de televisão meus, Chico?

Ana Paula Araújo: Quinze.

Marina Silva: Tomara que eu tenha me saído bem.

Ana Paula Araújo: Obrigada, candidata, pela sua presença. Obrigada.

Marina Silva: Obrigada a vocês.