terça-feira, 27 de maio de 2014

RÚSSIA: RUMO A COPA DE 2018



Essa foi a Fifa que me deu

EVERTON DANTAS – Novo Jornal
27 de maio de 2014


Era tão bom quando a Copa era em outros países. E a gente só torcia. Torcia sem culpa, sem problemas, livres de todo o mal, da necessidade de criticar. Torcia sem sofrimento. Sem constrangimento. Era tudo tão mais simples. Era tudo tão mais gostoso. Festa na casa dos outros sempre é tão melhor. O lixo do dia seguinte fica para os outros limparem.

Era bom lá fora porque ninguém reclamava da Copa, que antigamente era aquela festa supersensacional que tinha um monte de feriado e, de tarde (com sorte, como foi em 1994) a turma toda se reunia e curtia os jogos do Brasil. Todo mundo torcia. Todo mundo torcia pela mesma coisa.

Agora que a Copa é no Brasil, a torcida não está unida. O que parece impressionante. Quem tem um pouco mais de experiência se assombra: poxa, o Brasil tem a capacidade de realizar uma Copa, hoje. Quem é mais da atualidade, acha isso besta, questiona e reclama. Realmente: o que significa poder receber uma Copa? É um sinal de firmeza econômica? Ou um sinal de burrice “ostentação”? Tipo assim: você sabe que está sendo enganado quando compra um fone Beats (by Dr. Dre) que custa 14 dólares para ser fabricado, mas é vendido por 200 dólares (nos EUA) ou mais de R$ 1 mil no Brasil. Mas compra porque quer impressionar e porque aquela marca de fone vai te dar algum prestígio junto a pessoas que como você querem ser enganados dessa forma.

Voltando à Copa, sendo bonzinho, poderia dizer que metade torce pela Copa, a outra, não. Mas as torcidas nessa Copa no Brasil não são tão fáceis assim. Para todo lado que se mexe com relação à festa da FIFA, surge uma torcida contra, outra a favor e, se brincar, uma terceira e quarta com detalhamentos dessa polêmica. E tudo isso, claro, nacionalmente; e depois localmente. Ô Copa difícil. Sob essa ótica, não tem como vencer nem convencer. Vai ser pra sempre a Copa do Mundo que não deveria ter sido. Ainda mais se o Brasil perder. Se perder vão dizer: tá vendo, Deus castiga!

E numa Copa assim, em casa, com tantas contradições, o sujeito não se sente tranquilo. Não tem como relaxar. O stress é crescente. A broxada é iminente. Acordo às noites suado, com pesadelos nos quais aquele tal de “Jerônimo” critica desde a forma como eu arrumei minha gaveta do armário até à força que eu coloco na escovação dos meus dentes. Um reflexo da extensão dos domínios totalitários da Fifa.

De tanto falarem que os estádios não iam ficar prontos eu tenho a impressão que nunca vão parar de construí-los e que, em breve eles serão as únicas construções importantes nas cidades. Veja o caso de Natal: parece que a cidade de antes da Arena vai ser toda desmontada e, no lugar, vai nascer uma nova cidade composta só de estádio, ruas para carros e cantos para estacionar. O resto não importa. Também não importa para onde os carros vão, desde que cheguem a um estacionamento pago e que de lá um ônibus leve todo mundo para o estádio.

De tanto falarem que os aeroportos não vão ficar prontos ou que um será desativado e outro ativado, eu vivo assombrado, com medo que na hora H, todos os aviões fiquem voando sobre nossas cabeças sem saber para onde ir. E acabem caindo sobre nós. Eu ando cismado de que nos dias dos jogos, principalmente no dos EUA, Natal se torne o alvo de todos os terroristas do mundo. Mas por mais que o ataque seja heavy metal ainda tenha de assistir o coronel Araújo dizendo na TV, no jornal, nos blogs e no rádio que tudo está sob controle e que todas as providências estão sendo tomadas. E ninguém fazer mais pergunta nenhuma. E tudo vai ficar seguro assim, sem nada, na mais pura falta de gravidade.

Inveja mesmo dá é de gente como Marco Carvalho, ex-repórter daqui do NOVO JORNAL, que está em Londres (estudando), vendo a Copa de longe, do velho mundo. E de lá, certamente, por mais que ele ouça falar mal do campeonato, tudo permanece inalterado. A Copa permanece aquela festa deliciosa, simples, feita de bola e gols, na qual malhávamos nossos adversários sem culpa, longe dos olhos deles.

Veja em que situação essa copa nos meteu: termos que ser civilizados porque todos eles – nossos inimigos futebolísticos – estarão bem ao lado. E pior: pode ser que no pior dos mundos, com o Brasil fora da competição, tenhamos de aguentar, dentro de casa, algum ‘hermanozinho’ tirando onda com a nossa cara dentro da nossa sala. Credo!

Por mim, de legal mesmo é só ver o povo que nos governa – mesmo que a serviço da FIFA – trabalhando um pouco para variar, e tendo que se explicar pelas obras que estão fazendo. Já pensou se sempre fosse assim. Sob essa ótica, temos que agradecer à Fifa. Ela botou o Brasil em ordem. Viva à Fifa, que botou o povo para trabalhar; que provocou o povo a protestar. O Brasil merece todo ano uma Fifa dessas.


Só assim, quem sabe, desperte finalmente para o fato de que com Copa ou não, é uma obrigação gastar dinheiro com saúde, educação e segurança; não um favor. A Copa no Brasil é tão cruel que querem que a gente chame de “legado da Copa” um monte de obras que já eram necessárias, sem a necessidade de uma Copa para que isso i casse provado. Ou alguém duvida da necessidade das obras de mobilidade em Natal, com Copa ou não? Acho que não. Então viva. Viva à Copa. Viva à Fifa. Eu vou torcer pela paz. Mas quando chegar a vez da Rússia, em 2018, eu vou torcer muito mais. #vaitercopa :-)


segunda-feira, 26 de maio de 2014

ORDINÁRIA OU INOCENTE?

Por Públio José, jornalista


Um pacote de comerciais de televisão de um site de venda de produtos usados, utilizando vários bordões de cunho popularesco e agressivo, vem conquistando a atenção de telespectadores de todo o Brasil. O conteúdo produzido pela agência de propaganda que criou a série de filmetes já gerou, pelo inusitado, até uma interessante matéria analítica nas páginas da revista Veja. Realmente não é fácil criar uma série de comerciais de televisão de viés jocoso, debochado, agressivo – até ofensivo, como vem sendo empregado na propaganda em referência. Até porque o tom insultuoso é direcionado ao consumidor, ao cliente em potencial do site, ou seja, pessoas que têm um objeto usado qualquer, passível de venda, ainda indecisas em se desfazer do tal objeto. Um ator, escondido do pescoço para baixo, falando um texto curto, porém agressivo, dá voz à mercadoria em efeito produzido em perfeita sincronização.

Para modificar a constrangedora situação, o ator/objeto/usado é expelido de cena, tendo antes cumprido o seu papel: despertar no proprietário do objeto usado o desejo de se desvencilhar dele o mais rápido possível – para tanto se valendo, é claro, dos préstimos do anunciante. São vários os comerciais já produzidos, cada um deles apresentando um texto diferente. O que tem feito o Brasil se esbaldar é o que mostra o ator/objeto/usado chamando uma aturdida senhora de “ordinária” e “inocente”. Diz ele, lá pras tantas: “ordinária, sabe de nada, inocente!” No Brasil inteiro não se fala de outra coisa. De norte a sul, de leste a oeste, do Oiapoque ao Chuí, tal fraseado é repetido à exaustão nos mais diferentes ambientes, nas ocasiões mais diversas e por pessoas de nível social de A a Z. Por quê? O que motiva o Brasil inteiro a celebrar um conteúdo depreciativo, quando o normal seria censurá-lo e enviá-lo pras cucuias?

Será pela simples irreverência da situação? Ou o brasileiro pratica uma certa cafajestice inerente ao seu caráter? Teríamos, por aí, o tal “espírito macunaímico”, de que falam os estudiosos? O “inocente”, por seu turno, significaria indolência, omissão, alheamento? Macunaíma, célebre personagem de Mário de Andrade, caracterizado como um “herói sem nenhum caráter” retrataria também a índole “inocente” (omissa) como elemento da falta de caráter do povo brasileiro? Afinal, a inocência em referência é falta de caráter? Independente dessas análises de cunho sociológico, o fato é que o caráter dos comerciais tem tudo a ver com o espírito debochado, cínico, desavergonhado de Macunaíma. Valendo-se, então, do paralelismo entre a celebração ao comercial e outras questões nacionais, pode-se inferir perfeitamente o motivo pelo qual o brasileiro adota certos comportamentos.

Exemplos? Votar em macacos, rinocerontes, hipopótamos... E, por extensão, em Malufs, Sarneys, Tiriricas – e assemelhados. Alguém pode achar tal raciocínio exagerado, desproposital. Nelson Rodrigues não fez por menos ao retratar a sociedade brasileira na peça cujo título diz tudo: “Bonitinha, mas ordinária”. Ora, em um país cujos valores e princípios são espezinhados e amarfanhados a tal ponto que ninguém enxerga neles início e fim; em um país cujas principais lideranças políticas se enredam cada vez mais em atos de corrupção e outras práticas condenáveis; em um país cuja onda de violência vem atingindo níveis maiores do que em países em guerra civil; em um país cujas promessas de governo nunca devem ser levadas a sério; em um país... Ufa! Em um país assim, é natural soar engraçado o conteúdo que agride, que insulta. Mas, acalmemo-nos todos, ordinários e inocentes (ou não)! A Copa vem aí!     


domingo, 25 de maio de 2014

NO BRASIL, PEDÓFILO NÃO ENTRA!



E os que já entraram, ou seja, já estão aqui, antes da assinatura da portaria, dia 22, que autoriza uma espécie de operação pente-fino para tentar coibir o acesso ao país desse tipo de criminosos? Outra: e os que são daqui, moram em solo tupiniquim, nativos ou não, como fica, isso?




Estrangeiros envolvidos com pedofilia serão impedidos de entrar no país

Portal EBC
Ivan Richard - Agência Brasil
22.05.2014


Estrangeiros condenados ou envolvidos em denúncia relacionada à pornografia ou exploração sexual de crianças e adolescentes não poderão entrar no Brasil. A regra, prevista em portaria assinada hoje (22) pelos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, será aplicada aos torcedores que vierem para a Copa do Mundo.

De acordo com o ministro da Justiça, o Estatuto do Estrangeiro prevê a possibilidade de barrar a entrada de pessoas condenadas em outros países. Com a portaria, o Brasil amplia a restrição. “Estamos ampliando o universo de informações acerca disso, e organizando uma estratégica clara de impedir que pessoas envolvidas com pedofilia entrem no território nacional não só no período da Copa, mas depois dela”, disse Cardozo.

A partir de agora, para autorizar a entrada de estrangeiros no país, além da consulta ao banco de dados da Interpol – que mantém um cadastro específico de pessoas condenadas por crimes sexuais – os agentes da imigração irão consultar dados da Polícia Federal e denúncias feitas ao Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos.

“É uma política muito importante barrar a entrada não só dos condenados por crimes de violência, pedofilia, abusos contra crianças e adolescentes em outros países, mas também aqueles que possam, a partir de suspeitas, processos de investigações e informações recebidas pelo Disque 100, ser impedidos de entrar no país”, acrescentou Ideli Salvatti.

Segundo a ministra, o Dique 100 estará de plantão durante a Copa do Mundo para receber eventuais denúncias da prática de exploração sexual de crianças e adolescentes, que serão usadas para impedir a entrada de estrangeiros envolvidos com esses crimes. “Será um legado importante de repressão a esse tipo de crime”, disse Ideli.

O ministro da Justiça informou que a regra valerá para estrangeiros com visto de entrada e os procedentes de países dos quais não é exigida autorização antecipada para ingresso no país. “Mesmo que a pessoa tenha visto, ela poderá ser barrada ao tentar entrar no Brasil, se as nossas informações mostrarem que ela está envolvida em atos de pedofilia. Mesmo nos casos dos países em que seus cidadãos não precisam do visto haverá controle. Não permitiremos que condenados ou pessoas envolvidas em atos dessa natureza possam entrar no território brasileiro”.


Editor: Beto Coura


TRÁFICO HUMANO: CRIME HEDIONDO



MPF lança cartilha sobre tráfico de pessoas

Na ocasião, a PF lembrou que Fortaleza é uma das cidades com mais casos de pornografia infantil, crime que muitas vezes está relacionado ao tráfico de pessoas

Redação O POVO Online
22/05/2014


A cartilha "Diálogos da Cidadania - Tráfico de Pessoas: Conhecer para se proteger", do Ministério Público Federal (MPF), foi lançada nesta quinta-feira, 22, em Fortaleza. A publicação conta com informações e orientações sobre o tráfico de pessoas, além de medidas de proteção.

Segundo a procuradora e idealizadora da cartilha, Nilce Cunha, o tráfico de pessoas é um crime invisível, multifacetado. “Por isso, precisamos da parceria de todos para alertar e conscientizar a população sobre os riscos a que estão expostas”, completa. A publicação possui 39 páginas e foi apresentada durante um seminário promovido na assembleia.

Para o juiz federal Danilo Fontenele, as vítimas são seduzidas por uma promessa de vida melhor. Ele também cita que a realidade é a humilhação, afetando pais, irmãos e filhos que acabam com dificuldade para encarar a vida, todos fragilizados pelo tráfico. “Muitas das têm vergonha de admitir e divulgar que se submeteram a situações degradantes”, detalha. 

A delegada da Polícia Federal Juliana de Sá lembrou que Fortaleza é uma das cidades com maior incidência de casos de pornografia infantil, crime que muitas vezes está relacionado ao tráfico de pessoas. Ela mostrou dados de investigações recentes da PF e pediu o apoio da população nas denúncias de pistas que levem a Polícia às redes de tráfico.


Operação combate pedofilia

Na última quarta-feira, 22, a Polícia Federal deflagrou a Operação Proteja Brasil, que visa combater a difusão de pornografia infantil pela Internet. Até o momento, cinco pessoas foram presas e 40 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em 14 estados, incluindo o Ceará, onde foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão.




CCJ aprova projeto que tipifica como crime hediondo tráfico de pessoas

O GLOBO

ISABEL BRAGA – (EMAIL · FACEBOOK · TWITTER) 
7/05/14


BRASÍLIA - A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou nesta quarta-feira projeto de lei que inclui, no rol de crimes hediondos, o tráfico interno e internacional de pessoas para fim de exploração sexual. O projeto foi aprovado simbolicamente, com o apoio dos presentes, mas ainda terá que ser votado pelo plenário da Câmara, antes de seguir para o Senado.

Atualmente, o Código Penal prevê penas de reclusão que variam de três a oito anos para o tráfico internacional de pessoas para fim de exploração sexual. A pena pode ser aumentada se a vítima for menor de 18 anos, se o agente que praticou for parente ou empregador da vítima, entre outros agravantes. No caso do tráfico interno de pessoas, a pena de reclusão varia de dois a seis anos, mas também pode ser ampliada se houver agravantes.

Com o projeto, aquele que for pego cometendo esse tipo de crime será enquadrado nas punições dos crimes hediondos, explica o relator do projeto, Fábio Trad (PMDB-MS), em seu parecer : "Os crimes hediondos não admitem anistia, graça e indulto, fiança e liberdade provisória. A pena por crimes hediondos deve ser cumprida inicialmente em regime fechado, e a progressão de regime dar-se-á após o cumprimento de 2/5 da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 da pena, se reincidente".

O autor do projeto, deputado Edson Giroto (PR-MS), argumentou que as maiores vítimas deste tipo de crime são crianças e mulheres, muitas vezes levadas ao exterior com promessas de trabalho, mas que acabam sendo vítimas de exploração sexual.

A CCJ também aprovou nesta quarta- feira a redação final da proposta que torna crime a utilização de linhas cortantes com cerol ou material assemelhado. De acordo com o projeto, a pena será aplicada dependendo da gravidade da lesão provocada na vítima. Normalmente o cerol é muito usado por crianças e jovens em linhass para empinar pipas.


SEMANA INDÍGENA EM BRASÍLIA (de 26 a 29/5)



Povos indígenas de todo o país reúnem-se na capital federal para realização de atos e manifestações contra os ataques aos seus direitos garantidos pela Constituição Federal


Brasília, 23 de maio de 2014 – Povos e organizações indígenas de todo o País promoverão manifestações e eventos em defesa de seus direitos e de suas terras, em Brasília, na semana que vem. As atividades acontecem de segunda a quinta-feira (de 26 a 29 de maio), como parte da Mobilização Nacional Indígena. Na quarta (28/5), às 9h, está confirmada uma audiência pública, no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados.

Os protestos ocorrem num cenário de ataque generalizado aos direitos indígenas, em especial os direitos territoriais, da parte de vários setores do governo e de um conjunto de atores políticos e econômicos capitaneados pela bancada ruralista no Congresso Nacional.

Um dos principais objetivos da mobilização da semana que vem é impedir a aprovação da série de projetos contra os direitos indígenas em tramitação no parlamento, como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, que pretende transferir aos congressistas a atribuição de aprovar a demarcação das Terras Indígenas (TIs); o Projeto de Lei (PLP) 227, que visa abrir essas áreas à exploração econômica; o PL 1.610, que regulamenta a mineração nas TIs, entre vários outros. Também serão alvos dos protestos, entre outras medidas do governo, a proposta de alteração do procedimento de demarcação das TIs do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e a Portaria 303 da Advocacia-Geral da União (AGU), que objetiva generalizar a todas as TIs as condicionantes definidas para a TI Raposa Serra do Sol (RR), contrariando decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Na prática, todas essas propostas do Executivo e do Legislativo pretendem paralisar definitivamente os processos de demarcação, já suspensos pelo governo federal.


Enquanto isso, a tramitação de projetos importantes para consolidar os direitos indígenas e que são bandeiras do movimento indígena, como o Estatuto dos Povos Indígenas e o Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), está paralisada há anos nos corredores do Congresso, sem qualquer avanço. A Mobilização Nacional Indígena também defende a sua aprovação dessas duas demandas.




Como parte da mobilização, está sendo relançado o site A República dos Ruralistas, que mapeia os principais integrantes da bancada que representa os grandes proprietários do agronegócio no Congresso. A página passou por uma atualização, com a inclusão de novos perfis de deputados federais e senadores.


A Mobilização Nacional Indígena é promovida pela Apib, com apoio do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Instituto Socioambiental (ISA), Greenpeace, Instituto de Educação do Brasil (IIEB), entre outras organizações indígenas e indigenistas.




Comitê de Comunicação da Mobilização Nacional IndígenaOswaldo Braga de Souza (ISA) – (61) 9103-2127 / 3035-5114 /oswaldo@socioambiental.org
Tatiane Klein – (ISA) – (11) 3515-8957 / tatianeklein@socioambiental.org
Renato Santana (Cimi) – (61) 9979-6912 /
editor.porantim@cimi.org.br
Patrícia Bonilha (Cimi) – (61) 9979-7059 /imprensa@cimi.org.br
Helena Azanha (CTI) – (11) 9 7476-8589/ helena@trabalhoindigenista.org.br
Nathália Clark (Greenpeace) – 61 9642-7153
/nathalia.clark@greenpeace.org
Letícia Barros (IIEB) – (61) 3248-7449 /  
leticia@iieb.org.br



CAMPANHA “VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES – EU LIGO”



Campanha "Eu ligo" e aplicativo "Clique 180" incentivam denúncias


Ação do governo federal traz Luana Piovani e Sheron Menezzes em peças que vão ao ar dia 25 em TV, internet, impressos, metrô e ônibus

Portal Brasil – 22/05/2014



A Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR) lança, nesta quinta-feira (22/05), a campanha Violência contra as Mulheres - Eu ligo. Além de atrizes e atores que estampam cidadãs e cidadãos, as peças têm a participação das atrizes Luana Piovani e Sheron Menezzes, que apoiam a iniciativa da SPM-PR, em parceria com o Ministério das Cidades e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom-PR). 

A ação busca estimular as pessoas no geral, e não só as mulheres que sofram violência,  a não tolerar a violência contra elas – daí o slogan Eu Ligo, no sentido de Eu me importo. O mote é uma criação original da agência Staff para o Disque-denúncia do Rio de Janeiro, com grande repercussão nas redes.

Na mesma ocasião vai ser lançado um aplicativo para celular, o Clique 180, ferramenta criada pela ONU Mulheres que amplia as opções disponíveis para o atendimento da população aos casos de violência. Com o aplicativo, as mulheres vítimas de violência e as pessoas que testemunharem essas situações podem a partir de agora fazer denúncias por meio do tablet ou smarthphone

Participam do lançamento, na sala de Cinema do Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), a ministra da SPM, Eleonora Menicucci, e os ministros das Cidades, Gilberto Occhi, e do Turismo, Vinicius Lages. A diretora da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, apresenta no evento o aplicativo para celular Clique 180, desenvolvido em parceria com a SPM-PR, com apoio da Embaixada Britânica.

Campanha
A campanha apóia-se num pacote que vai de filmes e merchandising em TV a spots de rádio, anúncios impressos e envelopamento de metrô, passando por bânneres para portais, animações para monitores de ônibus e metrô, cartazes para pontos de ônibus, além de outras peças físicas e digitais.

Um filme de 60 segundos dá início à divulgação dia 25/05, em TV aberta e fechada, seguido pela versão de sustentação, de 30 segundos, simultaneamente aos impressos e outras mídias. A comunicação fica no ar durante um mês.

Além da mídia, o conjunto inclui extenso material de folhetaria, brindes e outros (fôlderes, cartazes, balões aéreos — os chamados blimps —, bolachas de chopp, adesivos de carros e para espelhos de sanitários, cartazes para elevadores) para distribuição em massa, principalmente pelos parceiros da SPM. O pacote estará disponível na forma de arquivos no portal SPM, a ser baixado conforme o perfil de cada parceria. A adesão possibilitará a inserção da logomarca própria em cada peça, na condição de apoio.

Aplicativo para celular
Desenvolvido pela ONU Mulheres, entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, em parceria com a SPM e apoio da Embaixada Britânica, o Clique 180 atende tanto mulheres em situação de violência, quanto pessoas que não compactuem e queiram ajudar denunciando as agressões.
O aplicativo permite acesso direto à Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR). 
A ideia é reforçar o conceito de tolerância zero à violência contra a mulher e apresentar a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, da SPM, como instrumento disponível a todos que não a aceitam. 

Ferramenta colaborativa
Além do acesso à central da SPM, que recebe denúncias e fornece orientações, o Clique 180  contém informações sobre os tipos de violência contra as mulheres, dados de localização dos serviços da Rede de Atendimento e sugestões de rota física para chegar até eles. Integram ainda o aplicativo conteúdos como a Lei Maria da Penha e uma ferramenta colaborativa para mapear os locais das cidades que oferecem risco às mulheres. 

No Clique 180 serão indicados, por exemplo, locais pouco iluminados ou onde há ocorrências de roubos nas cidades. Será disponibilizado um detalhamento da Lei Maria da Penha por capítulos, com explicações sobre cada tipo de violência que a mulher possa vir a ser exposta.  

O aplicativo será permanente e está disponível para os sistemas IOS do Iphone e Android dos demais smartphones. Pode ser baixado na Apple Store ou na Google Play. Para tanto, basta digitar Clique 180 e seguir os passos de instalação. 

Serviços disponíveis no aplicativo Clique 180
Informações sobre os tipos de violência contra as mulheres;
Localização dos serviços da Rede de Atendimento e a rota física para chegar até eles;
Passo a passo detalhado sobre como agir e que tipo de serviço procurar em cada caso de violência contra as mulheres;
Botão para ligar diretamente ao 180 (a Central de Atendimento à Mulher para informações e denúncias);
Lei Maria da Penha;
Ferramenta colaborativa para mapear os locais da cidade que oferecem riscos às mulheres.

Importância dos meios de comunicação 
Tanto a campanha de conscientização quanto o Ligue 180 são eixos do programa Mulher, Viver sem Violência. A ação visa mudar valores e comportamentos da população. E fazer com que a violência sexista não seja considerada natural pela sociedade. Relatos de violência apontam que os autores das agressões são, em 81% dos casos, pessoas que têm ou tiveram vínculo afetivo com as vítimas. 

As informações, do Balanço de 2013 do Ligue 180, mostram também a importância da mídia para conhecimento do serviço da SPM. Pelo menos 52% das usuárias tomaram conhecimento do Ligue 180 pelos meios de comunicação em 2013. A televisão respondeu por 43% da procura pela rede de atendimento.

Conversão em disque 
Para aperfeiçoar o atendimento à mulher, a SPM transformou o Ligue 180 em disque-denúncia, em março. Com o novo formato, as denúncias recebidas serão encaminhadas aos sistemas de Segurança Pública e Ministério Público de cada um dos estados e Distrito Federal. Essa mudança significa tratamento às denúncias com maior agilidade e resolutividade.  

Dessa forma, a central dá início à apuração das denúncias, ao mesmo tempo que mantém a função de prestar informação e orientação a quem ligar. As ligações são gratuitas e o serviço funciona 24 horas.







TECENDO VERSOS


Roxo é a cor da paixão

FILOMENA escondia o leite, queria guardá-lo inteiro para o bezerrinho. Tia L. escondia sua poesia, quis guardá-la para a morte. Dessa remota tiazinha ficou apenas um desbotado retrato no álbum: vestido de tafetá preto de gola alta, agarrada no pescoço para deixar escapar só a fímbria da rendinha. Cintura de vespa, toda dura sob as barbatanas do espartilho. E a carinha em pânico. Leve, descontraída, a sombrinha branca com seus babados frouxos e um laçarote transparente no cabo.
Escrevia os poemas escondida, fechada no quarto, a letra tremida, a tinta roxa. Meu bisavô ficou meio desconfiado e fez o seu discurso: “Umas desfrutáveis, mana, umas pobres desfrutáveis essas moças que começam com caraminholas, metidas a literatas!” Ela entendeu e fechou a sete chaves a obra proibida. Antes de morrer (morreu de amor contrariado), pediu que enchessem com seus versos o travesseiro do caixão branco – era moda caixão com travesseiros. Foram tantos, os versos, mas tantos, que tiveram que encher também o acetinado colchão da mocinha duplamente inédita: era virgem.
Mas, quem ousava desafiar a família e a sociedade? Aqui, no Brasil, foram bem poucas as que chegaram a se manifestar. Lá fora o número de artistas até que foi razoável, nos moldes de uma George Sand, que assumiu ofício e sexo com total arrogância. Mas se passando para a outra banda: amiga dos homens, assinava seus escritos com nome de homem, vestiu-se como homem e fumava tranqüila seus charutinhos. Uma época. Dois estilos.

Lygia Fagundes TellesA Disciplina do amor (1980).


Em tempo: mantida a grafia original, além de ser uma homenagem ao Dia Nacional da Costureira (25/05), aquela que tece vestes e versos de amor.


sábado, 24 de maio de 2014

CAFÉ COM MANÉ

 “O café é a bebida que desliza para o estômago e põe tudo em movimento...”.

Honoré de Balzac (1799 - 1850)
Escritor francês que não vivia sem a sua ração diária de café.

Brasil tem Dia Nacional do Café: 24 de maio


Os brasileiros são tão apaixonados por café que esta bebida tem, desde 2005, uma data especial para ser comemorada: 24 de Maio, o Dia Nacional do Café, estabelecida pela Associação Brasileira das Indústrias de Café – ABIC. A data simboliza o início da colheita em grande parte das regiões cafeeiras e é celebrada por toda a cadeia produtiva e pela pesquisa. Para saber de resultados da área de pesquisa, leia matéria sobre as tecnologias da Embrapa Café e do Consórcio Pesquisa Café, cujo programa de pesquisa é coordenado pela Embrapa Café. As pesquisas do Consórcio Pesquisa Café contam com o apoio e o financiamento do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira – Funcafé, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa. Nesta data comemorativa, vamos lembrar algumas curiosidades sobre o café.

Maior produtor e exportador de café do mundo, o Brasil é também o segundo maior mercado consumidor, só superado pelos Estados Unidos. Dados da Organização Internacional do Café (OIC), mostram que na safra de 2011 o Brasil respondeu por 32% das exportações de café em grão no mundo. No mesmo ano, o consumo per capita foi o maior já registrado no Brasil: 4,88 kg de café torrado, quase 82 litros para cada brasileiro.  No mundo, é também a segunda bebida mais consumida, perdendo somente para a água. Além do tradicional café coado ou filtrado, há também o pingado, cortado, latte, espresso ou cappuccino, além das combinações geladas da bebida. As variações em aroma, sabor e qualidade fez com que o café brasileiro conquistasse cada vez mais consumidores.

Hoje o café é considerado benéfico à saúde. Segundo informações divulgadas no site da Abic, estudos mostram que o café pode atuar na prevenção do câncer de cólon e reto, doença de Parkinson e de Alzheimer, apatia e depressão, obesidade infantil, diabetes tipo II, cálculos biliares e câncer de fígado. Também aumenta o estado de vigília do cérebro, diminui a sonolência e funciona como um antioxidante natural. O café ajuda, ainda, a inibir a predisposição ao alcoolismo e contribui para o emagrecimento, uma vez que a ação estimulante da cafeína aumenta o consumo de energia e, consequentemente, o gasto calórico.

Uma das mais recentes pesquisas diz que o consumo de três xícaras de cafés, normal ou descafeinado, por dia reduz em 10% o risco de adultos entre os 50 e os 71 anos de idade adquirirem doenças cardio-vasculares e respiratórias, de AVC, de ferimentos, de diabetes ou de infecções. Os resultados foram publicados na revista médica New England Journal of Medicine em 17 de maio. Confira aqui

O hábito nacional de internacional de tomar café está cada vez mais ligado a momentos especiais, de encontro de pessoas, de prazer e troca de ideias. Nada melhor do que comemorar a data com amigos e familiares, seja em casa, no trabalho ou em uma cafeteria. Então aproveite o Dia Nacional do Café para fazer um bom café em casa. A barista Sulayne Shiratori dá algumas dicas: “Para coar, derrame um fio de água sobre o pó de modo a manter um nível constante. Não é bom encher o coador até a boca, muito menos ficar mexendo o pó umedecido com uma colher. Importante que aqueça a garrafa térmica com água quente antes de passar o café e fazer o mesmo com as xícaras ao servir. Açúcar ou adoçante ficam a gosto. Depois de servido, o café mantém sua complexidade por até 5 minutos. Na garrafa térmica, o café fica gostoso por até 30 minutos. E esquentar café jamais”, explica.

Gerência de Transferência de Tecnologia da Embrapa Café
Texto: Flávia Bessa (21 de Maio de 2012)



Dica de leitura


Cafeopeia (2013) – Uma parceria entre o multifacetado Mané do Café e o jornalista, teatrólogo e ator gaúcho Edison Nequete (1926 – 2010), na qual a saga do café é contada em versos decassílabos, entremeados por ilustrações feitas com café e cantigas originais. Publicado pela Editora Sapere, o livro é uma obra para todos os amantes do café, colecionadores e não colecionadores.


ISBN: 978-85-64321-52-6
Formato: 9x18 cm
Acabamento: Capa dura e miolo em Pólen 90g
Capa: Fernanda Ambrosio
Ilustrações: Mané do Café

ERRÂNCIA CIGANA

 Cigana com bandolim – Jean-Baptiste Corot, 1874

“Todos os tipos de cataclismos
– principalmente os sociais –
jogam nas estradas exilados,
que se tornam errantes
e freqüentemente instáveis...”.

Nicole Martinez, Os Ciganos.


Dia Nacional do Cigano é marcado por lançamento de edital de R$ 850 mil

Portal EBC

Leandro Melito e Noelle Oliveira - 23.05.2014 | Atualizado em 24.05.2014


Natal – O Dia Nacional do Cigano é comemorado neste sábado (24). A data, que coincide com o encerramento da Teia da Diversidade em Natal (RN), foi instituída em 2006 por meio de decreto presidencial que incluiu o dia no calendário nacional em reconhecimento à contribuição da etnia na formação da história e da identidade cultural brasileira. No calendário cigano, o dia 24 de maio é dedicado a Santa Sara Kali, padroeira dos povos ciganos.

Neste ano, a data é marcada pelo lançamento de um edital do Ministério da Cultura específico para os povos ciganos no valor de R$ 850 mil. O edital tem o objetivo de reconhecer e estimular iniciativas que atuam na preservação e proteção das culturas ciganas no Brasil. As edições anteriores dos prêmios contaram com valores de R$ 200 mil em 2007 e R$ 300 mil em 2010.

A promoção de editais com inscrições para pessoas jurídicas e pessoas físicas, com certificado de veracidade emitido pelas associações ciganas é uma das demandas apresentadas pelo povo cigano ao Minc em 2013 por meio da Carta de Brasília, documento elaborado por 20 associações que se reuniram na I Semana Nacional do Povo Cigano, realizada na capital federal durante a Conferência Livre de Cultura em 2013.

A carta também propõe que representantes indicados pelas associações dospovos ciganos participem dos processos de construção dos prêmios ou outras ações, por meio de comissões que sejam envolvidas na elaboração dos projetos. 

Bárbara Angely Piemonte, representante da comunidade Cigana na CNPIR (Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial), participou da Teia da Diversiade em Natal. "O ponto de cultura nosso é um ponto itinerante. A gente é a cultura e a gente caminha pelos estados e municípios levando a música e a dança do povo cigano", conta. Ela considera que o evento também é marcado pela reivindicação de direitos. "A minha luta começa a hora que eu acordo, que eu saio na rua", enfatiza. 

As principais demandas apresentadas pelos povos ciganos estão voltadas para a área de educação, saúde, registro civil, segurança, direitos humanos, transferência de renda e inclusão produtiva.

A jovem cigana assumiu sua cultura aos dezoito anos, quando colocou seu primeiro dente de ouro. Ela, que até então não se apresentava como cigana, revelou aos amigos mais próximos que era cigana. "Eu me assumi para algumas pessoas que já estavam convivendo comigo. Alguns já sabiam, mas não contavam porque entendiam o meu lado, tinham um pouco de receio por causa do preconceito". De acordo com Bárbara, o preconceito veio por meio de um professor que considerou que ela não deveria estudar por ser cigana. Ela assumiu a cultura e optou por abrir mão de algumas tradições como, por exemplo, o casamento.

Integrantre da etnia Calon, originária da Espanha e Portugal e com grande expressão em todo o território brasileiro, Bárbara trabalha no resgate da música cigana tradicional europeia. "Se você entrar em qualquer acampamento no Brasil, você vai ver que a gente cultiva o sertanejo, a música sertaneja de raiz. Mas o cigano da europa cultiva outro estilo, a gente está resgatando isso pra não morrer a cultura", diz. 

Dados sobre a população cigana
Além dos Calon, estão presentes no Brasil as etnias Sinti e Rom. Os Sinti chegaram ao Brasil vindos da Alemanha e França principalmente depois da 1ª e 2ª Guerra Mundial e entre os Rom brasileiros predominam os Kalderash, Machwala e e Rudari, originários da Romênia. O primeiro registro oficial da chegada dos ciganos no país data de 1574, quando um decreto do governo português deportou o cigano João Torres e sua esposa Angelina para o Brasil por cinco anos.

Dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)  de  2011 estimam que mais de 500 mil de ciganos vivam em todo o país. Eles estão divididos em 291 acampamentos. Existem acampamentos ciganos em 21 estados. Bahia (53), Minas Gerais (58), Goiás (38) são os estados com maior número de grupos de ciganos. Ao todo, quarenta prefeituras declararam que desenvolvem políticas públicas para os ciganos, o que corresponde a 13,7% dos municípios que declararam ter acampamentos. 

Edição: Edgard Matsuki




População cigana no Brasil, diversidade historicamente ignorada


“A documentação sobre ciganos é escassa e dispersa. Sendo ágrafos, os ciganos
não deixaram registros escritos. Assim, raramente aparecendo nos documentos,
aproximamo-nos deles indiretamente, através de mediadores, chefes de polícia,
clérigos e viajantes, por exemplo. Nestes testemunhos, a informação sobre os
ciganos é dada por intermédio de um olhar hostil, constrangedor e estrangeiro...”.

Rodrigo Corrêa Teixeira, Correrias de ciganos pelo território mineiro (1808-1903).


Observatório da Diversidade Cultural

23 de maio de 2013

A população cigana, constantemente perseguida em várias partes do mundo, aos poucos passa a ser lembrada como cultura que deve ser protegida para a promoção da diversidade cultural. De origem incerta, seus costumes e línguas são variados, não deixaram registros escritos, raramente aparecem em documentos, mas pesquisadores acreditam que, expulsos de Portugal, chegaram ao Brasil logo nas primeiras décadas da colonização. Tal fato resulta em grande parte da não aceitação dos ciganos de costumes católicos, já que não eram cristãos.

Em contexto de proximidade da Igreja com a coroa portuguesa, esta afronta moral tornava-se também uma afronta política. Hoje existem no Brasil cerca de 800 mil ciganos, de oito clãs diferentes, dentre os quais, o grupo Rom que representa o maior e distribuído por mais países. Entretanto, predominam os calon, culturalmente diferentes de outros grupos, em decorrência do grande contato com a cultura ibérica.

Na entrevista a seguir, o professor do departamento de Relações Internacionais da PUC Minas, Rodrigo Teixeira, enfatiza o aumento da atenção com os povos de cultura cigana, condição insuficiente, no entanto, para derrubar estereótipos predominantes no imaginário da população brasileira, bem como garantir acesso a direitos básicos dos ciganos, como ir e vir.

ODC: Os ciganos historicamente foram perseguidos no Brasil. Esta situação está mudando nos últimos anos?
Teixeira: Pela primeira vez nos últimos cinco séculos, entre a América Portuguesa e o Brasil, os ciganos deixaram de sofrer com políticas anti-ciganas ou com o desprezo do Estado para ser contemplados com políticas em prol dos ciganos, resultado da luta de muitos associações ciganos no país e de antropólogos e outros intelectuais engajados na questão. Mas, embora o acesso a educação e saúde tenha aumentando para os ciganos, a maior parte deles sofre com a falta de água e saneamento básico, sem falar da pressão imobiliária que reduz enormemente as áreas para acampamento.

ODC: Quais são os principais desafios dos povos de cultura cigana em relação à estigmatização e descriminação que sofrem?
Teixeira: São mais de mil anos de história, na qual os ciganos são perseguidos desde que chegaram ao Oriente Médio, vindos da Índia. Os estereótipos de que são ladrões, vagabundos e tranbiqueiros são muito fortes no Brasil e nos demais países onde se encontram. Os ciganos são vistos constantemente por meio de olhar de desprezo e até de medo das demais pessoas. Os direitos ciganos, em especial, devem contemplar o direito de ir e vir de acordo com o desejo deles. Cada vez mais o fluxo entre ciganos nos países é cerceado. Nas cidades brasileiras predomina a lógica de que “o melhor lugar para os ciganos é na próxima cidade ou mais longe ainda, e não na minha cidade”.

ODC: O caráter nômade destes povos representa uma dificuldade no sentido de acesso a direitos básicos que qualquer outro cidadão brasileiro teria?
Teixeira: Há estudos sobre a origem do nomadismo entre os ciganos e uma hipótese considerada é que a condição nomade está intimamente associada a perseguições ao longo da história. Ou seja, fugir constantemente e depois criar uma vida nômade foram estratégias de sobrevivencia. O nomadismo não é adequado à lógica estatal na maioria das vezes.
Cada vez mais o fluxo entre ciganos nos países é cerceado. Nas cidades brasileiras predomina a lógica de que “o melhor lugar para os ciganos é na próxima cidade ou mais longe ainda, e não na minha cidade”.

ODC: De que maneira os ciganos veem a população mineira? Eles incorporaram elementos culturais ao modo cigano de viver?
Teixeira: As culturas ciganas são abertas ao diálogo com outras culturas. Eles chegam em Minas no começo do século XVIII vindos da Bahia, exatamente no auge da exploração do ouro e, desde então, são dezenas de cidades mineiras com comerciantes de diferentes produtos, artífices de cobre e circenses ciganos. De imediato, não é possível identificar nenhuma contribuição cigana à mineiridade, já que de um lado estamos falando de centenas ou, mais recentemente, de milhares de ciganos e de outro milhões de não-ciganos. Se já é difícil falar de mineiridade, falar de identidade cigana é tão ou mais difícil.

ODC: O que a população não-cigana tem a aprender com a diversidade cultural trazida pelos ciganos?
Teixeira: Nem todo nômade é cigano, nem todo cigano é nômade. Há uma flexibilidade cultural dos ciganos que foi combinada, no transcurso do tempo, com a preservação de determinados valores. Os ciganos conseguiram ser outros sempre, com uma extraordinária capacidade de transformação, e serem eles próprios, naquilo que há de mais antigo em sua cultura, sua hindunidade (identidade hindu), suas formas de música, sua religiosidade para além da adoção oficial de uma ou outra religião.