sexta-feira, 26 de julho de 2013

REFLEXÕES DE UM CARA DE PAU

Por Evaldo Alves de Oliveira (não poderia ter um nome mais normal?)
Médico pediatra e homeopata


Eunápio estava macambúzio, sorumbático, colicocéfalo. E não faltavam razões para isso. É que, no escritório, vez por outra os amigos o chamavam de cara de pau, em face de seu fácil extravasamento junto às moçoilas. Por isso, o técnico em informática até gostava do codinome. Era, de fato, um cara de pau.

Porém, há alguns dias, um colega do trabalho, no calor de uma discussão, o chamara de cara de lata. A questão dizia respeito à análise de alguns dados estatísticos relacionados à fluidez do sistema – o programa era novo -, e a agressão verbal do colega o deixara irritado. Ora, cara de lata é a vovozinha!!, esbravejava Eunápio consigo mesmo. Imaginava ser o apelido uma referência ao aparelho ortodôntico que passara a usar.

Passou o fim de semana aborrecido, por não entender exatamente o contexto daquele novo codinome agora afixado ao seu já discutível currículo social.

Na segunda-feira à tarde, retornando de uma consulta médica anual, o seu aborrecimento chegara ao nível do insuportável. O médico gastroenterologista solicitara alguns exames de sangue, porém três deles despertaram sua atenção, aumentando o seu desconforto. Na solicitação dos exames, surgia em negrito: dosagem dos níveis de ferro, cromo e zinco. À frente, estava escrito – Hipótese diagnóstica: Eflúvio Telógeno.

Já no corredor, pensou em retornar ao consultório e pedir explicações ao médico sobre os exames solicitados. Sua irritação: por que necessitava dosar os níveis de ferro, cromo e zinco?

É que o xingamento do colega do trabalho não saía de sua mente.

Cara de lata é a vovozinha, senhor gastroenterologista!, resmungava Eunápio.



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