domingo, 1 de fevereiro de 2015

O SOCO DO PAPA

“O que foi que aconteceu com o ‘dar a outra face’?”

Nicole Winfield
Da AP, em Manila, Filipinas, em reportagem sobre comentário do papa Francisco, com tradução de Paulo Migliacci, publicada na Folha – 16/01/2014.


No dia 21 de janeiro do corrente, o Estadão publicou um artigo, de autoria do jurista Fábio Uchoa Coelho, cujo título eu peguei emprestado para nominar esta postagem. Infelizmente, o referido jornal não autoriza que se reproduza, copiando e colando, nenhum dos seus conteúdos. Dessa forma, limito-me a passar o link para o artigo em questão, que, aliás, é deveras interessante: 



Abaixo, outro artigo, no caso, publicado pelo jornal português Público.

Nathalie Bernardo da Câmara



E o vento levou...

STEFANO RELLANDINI/REUTERS


Oito razões contra o Papa

PUB – 25 janeiro 2015


Esta imagem foi tirada no intervalo entre duas frases que vão ficar na história deste papado. A frase sobre os limites da liberdade de expressão e a frase dos coelhos. Quando Francisco dá a sua opinião, sabemos que a ideia é dele, é clara e vai pôr o planeta a conversar.


Na primeira, o Papa não tem razão. Há dois anos que Francisco ilumina tanto crentes como ateus. Desta vez, desafinou. Falando sobre o atentado contra o Charlie Hebdo, disse que “não se pode provocar, não se pode insultar a fé dos outros, não se pode ridicularizar a religião dos outros”, e que por isso a liberdade de expressão “tem limites”. Oito argumentos contra:

1. É impossível definir limites. Se sentarmos 100 muçulmanos numa sala e lhes mostrarmos umcartoon de Maomé, metade achará o desenho ofensivo e a outra metade não. O mesmo aconteceria numa sala com 100 católicos ou 100 judeus. Dirão que o islão é diferente, pois proíbe a representação de Maomé tout court, mas todos sabemos que para milhões de muçulmanos isso nunca foi uma questão.

2. Se o Papa tivesse razão, nunca teríamos visto o cartoon de António (no Expresso), que em 1993 pôs um preservativo no nariz de João Paulo II. O desenho ofendeu 20 mil católicos, ou pelo menos esses foram os que se deram ao trabalho de assinar uma infeliz petição pública na qual se explicava que a “execrável caricatura” era uma “torpe ofensa” ao Papa, que “ofendeu Deus Nosso Senhor na figura do seu digno representante na Terra”.

3. O Papa não tem razão porque o que propõe é inútil. No dia em que o mundo acordar que jamais se desenhará um só Maomé que seja, os fanáticos encontrarão uma nova razão obscura. O Boko Haram, que significa “a educação ocidental é pecado”, mata sem precisar de comprar jornais à procura decartoons que o enfureça.

4. O Papa não tem razão porque a religião não merece ter qualquer protecção especial, nem em relação ao humor nem à liberdade de expressão.

5. O Papa não tem razão porque, se cedêssemos à tentação de definir limites para o que se pode ridicularizar, não faríamos mais nada no mundo: primeiro definíamos a grelha para cada uma das religiões, depois para o laicismo, a seguir para os partidos políticos, os defensores dos direitos dos animais, os estivadores, os homossexuais, as feministas…

6. Se o Papa tivesse razão, Portugal nunca teria visto os cartoons de Rafael Bordalo Pinheiro.

7. Definir limites seria dar razão aos que dizem que o terrorismo existe por causa dos que usam a liberdade de expressão para fazer rir.

8. O Papa não tem razão porque não é aceitável que sejam os fanáticos a definir o que os países democráticos podem e não podem ridicularizar.


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