por Paulo Stocker e Ademir Paixão
Corte e costura só nas revisões dos
meus textos, mas, mesmo assim, comprei uma fita, não amarela, mas preta, cortando-a,
aqui e acolá, ajustando-a, e, munida de agulha e linha, costurei-a na manga esquerda de uma
surrada camiseta branca que eu nem sabia mais que existia, dando-me conta, já
no primeiro dos “ais”, da imperativa necessidade e magnitude de um dado invento, ou
seja, o dedal. Em seguida, não satisfeita apenas com a tarja preta, em sinal de
luto pela democracia e pela Constituição brasileiras, imprimi as artes que
ilustram esta postagem e, cuidadosamente, as colei na camiseta, mais parecendo
que tinham sido desenhadas no próprio tecido – aí, sim, dei por concluído o
dever de casa.
Hoje cedo, nem mal o dia havia raiado, mal via a
hora de vestir o meu protesto individual e sair na rua, caminhando até a minha zona, distante apenas cinco quarteirões,
onde, igual as demais, dá de tudo... Esperei, contudo, passar das oito para
poder sair de casa, já que, primeira e única lição: a pessoa nunca deve chegar
à zona cedo demais, porque vai que um
mesário não compareça e, aí, num azar nunca dantes visto, ela pode ser sorteada para substituí-lo – ora, se já
é uma antipatia a obrigatoriedade do comparecimento as urnas, o que dirá
passar, igualmente obrigada, horas e mais horas como mesária numa eleição! É
preferível ser presa por recusa.
Então... Chegando à zona, ouvi uma eleitora reclamar que havia passado 40 minutos
esperando para fazer sabe-se lá o quê na urna. “Ah, não!” – pensei. – “Esqueci
as minhas palavras cruzadas...”, mas logo me lembrei de que havia levado caneta
e papel. Daí que, se fosse o caso de enfrentar uma fila, eu teria como me
distrair, passar o tempo: poderia escrever uma ideia para algum artigo ou,
quiçá, tecer um poema! Porém, para a minha agradabilíssima satisfação, mal
entrei na minha seção e, minutos depois, já havia saído, pois, além de mim, no
momento em que cheguei à sala indicada, só os mesários – redundante dizer que,
na urna, apliquei o método dos zeros.
Sim, e a consciência vai muito bem, obrigada, tranquilíssima!
Sem correr o risco de votar e eleger golpistas ou futuros golpistas, igual
sucedeu-se com certo senador do Distrito Federal, o cidadão CB, que, sem prurido algum, traiu os seus eleitores,
inclusive eu, e por duas vezes – sinto-me, até hoje, de certa forma conivente com
a bandidagem alheia. Desse modo, não quis arriscar e, portanto, zerei a urna,
passando longe nem que fosse a possibilidade de um voto de confiança, mesmo porque já a perdi.
Preocupei-me apenas em ser digna e respeitosa comigo mesma. Simples assim. É,
posso até continuar sendo obrigada a comparecer as urnas, mas, quanto a votar...
De volta para casa, talvez por associação, já
que a minha zona é numa escola, pensei
na sandice que é a aberração do programa “escola sem partido” – tudo em
minúsculo, igual os dois neurônios divididos em nem sei quantas partes entre os
ditos parlamentares que defendem a insana proposta. Então, se é para
radicalizar, que as escolas deixem de abrigar zonas eleitorais, que estas passem a funcionar noutra freguesia (numa delegacia?).
PELA NÃO
OBRIGATORIEDADE
DO COMPARECIMENTO AS URNAS NO BRASIL
DO COMPARECIMENTO AS URNAS NO BRASIL
Nathalie Bernardo da
Câmara
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