domingo, 22 de março de 2020

NATAL: CIDADE FANTASMA

Arte: Duke/Jornal O Tempo

Pandemia. S. f. Epidemia generalizada
Dicionário Aurélio


22 de março de 2020. Invariavelmente, os dias de domingo provocam-me uma sensação de desconforto, desamparo e angústia, sobretudo no final da tarde e à noite. Hoje, ainda mais... Isso porque, por causa do decreto de contenção do coronavírus, assinado na semana passada pela governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, a população está, digamos, em “retiro” domiciliar involuntário, o que, por si só, já é deveras opressivo. De qualquer modo, resolvi caminhar um pouco para arejar, sobretudo as ideias! Sem surpresas, percebi ruas desertas, cenários fantasmas, uma atmosfera lúgubre, ainda mais porque fomos privados da feira dominical perto da minha casa, da qual sou habituée, pois todas as feiras livres de Natal e do RN, sob estado de calamidade pública, foram proibidas de funcionarem por tempo indeterminado – além das feiras, shoppings, bares e restaurantes, que também tiveram de fechar as suas portas ao público, a fim de evitar aglomerações, atendendo apenas delivery, demais estabelecimentos comerciais e de serviços, incluindo academias, bancos, universidades (as escolas das redes de ensino públicas e privadas foram as primeiras a serem interditadas) et cetera, encontram-se na mesma situação. Eventos culturais, públicos e privados, com mais de 100 pessoas por 60 dias, estão igualmente suspensos. No caso do funcionalismo público do RN, foi liberado o teletrabalho, enquanto os cartórios funcionarão de forma remota. Os supermercados, por sua vez, só permitem a presença de um membro de cada família para fazer compras, embora a maioria esteja fazendo pedidos por telefones e/ou aplicativos da internet, assim como as farmácias, que não podem ser fechadas, nas quais, aliás, faltam respiradores, máscaras descartáveis duplas com elásticos, frascos de álcool gel e de álcool etílico hidratado 70%... Luvas ainda têm. De qualquer forma, o Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN), o Ministério Público Federal (MPF) e o Governo do Estado assinaram acordo para a aquisição imediata de respiradores e demais insumos. Já os hospitais e os planos de saúde suspenderam consultas, exames e procedimentos eletivos para frear o avanço do vírus. Enquanto isso, o Governo do RN requisitou o prédio onde funcionava o Hospital Papi para atender os casos suspeitos e confirmados do coronavírus no Estado – a unidade estava desativada, mas em condições de ser colocada em funcionamento. Além disso, um dos hotéis da Via Costeira foi reservado para, numa eventual explosão de infectados, ser emergencialmente transformado em hospital – “coisa” que, se espera, não se concretize. Uma curiosidade é que, após o último dia 20, ao entrar em vigor a determinação da igreja Católica suspendendo a realização de missas com a presença de fiéis, o padre responsável por uma dada paróquia da cidade, seguindo o exemplo de outro religioso, enviou mensagens aos seus fiéis pelo WhatsApp, pedindo que eles enviassem fotos suas e dos seus entes queridos para serem colocadas nos bancos da igreja, sendo as missas transmitidas ao vivo pela internet. Outra curiosidade é que o Facebook dobrou a capacidade de servidores do WhatsApp e as operadoras de celular também aderiram a certas medidas. Sem falar que, independente dos planos contratados por seus assinantes, uma empresa de TV a cabo local liberou todos os seus canais sem qualquer custo adicional e por tempo indeterminado, aumentando, ainda, a velocidade da internet – uma maneira de os seus usuários “passarem” o tempo, já que estão praticamente confinados em suas casas, mesmo porque, cidade litorânea, as praias de Natal, por exemplo, estão esvaziadas, assim como fechadas as salas de cinema locais, todas localizadas em shoppings, interditados; os poucos teatros também, assim como os parques... Opções de lazer para esse período incerto? Numa época em que a internet e as redes sociais servem igualmente de distração, muitas pessoas têm lido pouco ou nem isso. Desse modo, essa parece ser uma ocasião propícia para que tiremos livros esquecidos em nossas estantes, dedicando-nos a uma boa leitura, pois manter a mente sã nunca é demais, principalmente para que não venhamos a sucumbir à paranoia e ao pânico. Escrever cartas, mesmo para quem, com o advento das redes sociais, perdeu o hábito, também é algo extremamente salutar. E não importa se a missiva seja enviada por e-mail, já que, não é de hoje e infelizmente, os Correios do Brasil têm priorizado a entrega de compras pelas internet em detrimento das correspondências pessoais. Ah, jardinagem é igualmente outra boa opção. Enfim, sejamos criativos!


De utilidade pública – Twitter da Prefeitura Municipal de Natal postado neste domingo, 22/03: Nesta segunda-feira (23) teremos apenas 30% da frota de ônibus circulando em Natal. O objetivo é atender a demanda dos trabalhadores dos serviços essenciais, que precisam sair de suas casas. Se não é o seu caso, por favor, #FicaemCasa.





Para quem ainda não sabe... No último dia 11, o coronavírus foi oficialmente classificado como pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que pediu aos governos do mundo inteiro que tomem ações simultâneas para que se tente conter o alastramento da doença infecciosa  – no Rio Grande do Norte, 13 casos do coronavírus já foram confirmados até hoje, domingo, 22 (ontem,  sábado, 21, eram nove), e mais de 282 suspeitos. No Brasil, segundo dados das secretarias estaduais do país, os casos confirmados já passam de 1,6 mil, mas, de acordo com o último boletim do Ministério da Saúde (MS), atualizado hoje, 1.546 pessoas estão infectadas, com os óbitos subindo para 25 – números conflitantes, os das secretarias estaduais e os do MS.

Então... Retornando para casa após o meu breve passeio matinal, percebi que a casa de uma das minhas vizinhas, que, normalmente, tem o hábito de ouvir música, boa música, ainda mais num domingo, estava silenciosa. Ligando para ela, ficamos sabendo que, preocupada com a atual situação pela qual o mundo passa, optara por rezar... No computador, fiz uma pesquisa na internet sobre a origem do coronavírus. No site do Centro de Vigilância Epidemiológica da secretaria de Saúde do governo de São Paulo, encontrei informações curiosas:

Os coronavírus (CoV) são uma grande família viral, conhecidos desde meados dos anos 1960, que causam infecções respiratórias em seres humanos e em animais. Geralmente, infecções por coronavírus causam doenças respiratórias leves a moderada, semelhantes a um resfriado comum. A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem. Os coronavírus comuns que infectam humanos são alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Alguns coronavírus podem causar síndromes respiratórias graves, como a síndrome respiratória aguda grave que ficou conhecida pela sigla SARS da síndrome em inglês “Severe Acute Respiratory Syndrome”. SARS é causada pelo coronavírus associado à SARS (SARS-CoV), sendo os primeiros relatos na China em 2002. O SARS-CoV se disseminou rapidamente para mais de doze países na América do Norte, América do Sul, Europa e Asia, infectando mais de 8.000 pessoas e causando entorno de 800 mortes, antes da epidemia global de SARS ser controlada em 2003. Desde 2004, nenhum caso de SARS tem sido relatado mundialmente.

Em 2012, foi isolado outro novo coronavírus, distinto daquele que causou a SARS no começo da década passada. Esse novo coronavírus era desconhecido como agente de doença humana até sua identificação, inicialmente na Arábia Saudita e, posteriormente, em outros países do Oriente Médio, na Europa e na África. Todos os casos identificados fora da Península Arábica tinham histórico de viagem ou contato recente com viajantes procedentes de países do Oriente Médio – Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes e Jordânia.

Pela localização dos casos, a doença passou a ser designada como síndrome respiratória do Oriente Médio, cuja sigla é MERS, do inglês “Middle East Respiratory Syndrome” e o novo vírus nomeado coronavírus associado à MERS (
MERS-CoV).

Manifestações Clínicas

Os coronavírus humanos comuns causam infecções respiratórias brandas a moderadas de curta duração. Os sintomas podem envolver coriza, tosse, dor de garganta e febre. Esses vírus algumas vezes podem causar infecção das vias respiratórias inferiores, como pneumonia. Esse quadro é mais comum em pessoas com doenças cardiopulmonares, com sistema imunológico comprometido ou em idosos.

O MERS-CoV, assim como o SARS-CoV, causam infecções graves. Para maiores informações sobre as manifestações clínicas do MERS-CoV, acesse a página sobre MERS-CoV.

Período de incubação

De 2 a 14 dias

Período de Transmissibilidade

De uma forma geral, a transmissão viral ocorre apenas enquanto persistirem os sintomas É possível a transmissão viral após a resolução dos sintomas, mas a duração do período de transmissibilidade é desconhecido para o SARS-CoV e o MERS-CoV. Durante o período de incubação e casos assintomáticos não são contagiosos.

Transmissão inter-humana

Todos os coronavírus são transmitidos de pessoa a pessoa, incluindo os SARS-CoV, porém sem transmissão sustentada. Com relação ao MERS-CoV, existem a OMS considera que há atualmente evidência bem documentada de transmissão de pessoa a pessoa, porém sem evidencias de que ocorra transmissão sustentada.

Modo de Transmissão

De uma forma geral, a principal forma de transmissão dos coronavírus se dá por contato próximo* de pessoa a pessoa.

* Definição de contato próximo: Qualquer pessoa que cuidou do paciente, incluindo profissionais de saúde ou membro da família; que tenha tido contato físico com o paciente; tenha permanecido no mesmo local que o paciente doente (ex.: morado junto ou visitado).

Fonte de infecção

A maioria dos coronavírus geralmente infectam apenas uma espécie animal ou, pelo menos um pequeno número de espécies proximamente relacionadas. Porém, alguns coronavírus, como o SARS-CoV podem infectar pessoas e animais. O reservatório animal para o SARS-CoV é incerto, mas parece estar relacionado com morcegos. Também  existe a probabilidade de haver um reservatório animal para o  MERS-CoV que foi isolado de camelos e de morcegos (site abaixo).

Por fim... De fantasma em fantasma, as fronteiras do Brasil, país com dimensões continentais e uma população estimada em mais de 211 milhões pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram fechadas, as ruas não apenas de Natal acham-se “abandonadas”, mas, pelo que se tem visto nos noticiários, as das demais cidades brasileiras também. E as do mundo. O que é lastimável, pois, como é da natureza de todo e qualquer vírus, o corona é “democrático”, ou seja: age indiscriminadamente e pode infectar tanto um príncipe como um plebeu – o príncipe Albert de Mônaco, por exemplo, de 62 anos de idade, tem teste positivo para novo coronavírus, mas, segundo o porta-voz do seu gabinete, a sua saúde não inspira preocupação, embora não tenha dado maiores explicações a respeito. Quanto à plebe...  


Pronunciamento da governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, concedida neste domingo, 22/03, no Twitter (A gestora pediu que a população cumpra as medidas de isolamento social, respeitem o decreto de contenção do coronavírus e fiquem em casa): https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/ao-vivo/confira-as-ultimas-noticias-sobre-o-coronavirus-no-rio-grande-do-norte.ghtml

Guia do isolamento domiciliar: como preparar sua casa para conviver com suspeitos de infecção por coronavírus: https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/03/17/guia-do-isolamento-domiciliar-como-preparar-sua-casa-para-conviver-com-suspeitos-de-infeccao-por-coronavirus.ghtml


Sugestão de leitura
Crônica A Peste, na coluna Cena Urbana, do jornalista Vicente Serejo, publicada no jornal Tribuna do Norte deste domingo, 22/03: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/a-peste/475438

Confira AO VIVO as últimas notícias sobre o coronavírus no Rio Grande do Norte no site do G1/Inter TV: https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/ao-vivo/confira-as-ultimas-noticias-sobre-o-coronavirus-no-rio-grande-do-norte.ghtml

Nathalie Bernardo da Câmara



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