terça-feira, 18 de janeiro de 2011

QUANDO O PANO CAI...


“O fundamentalismo é um quarto sem janelas...”.

Josep Ramoneda
Jornalista e filósofo espanhol



Divulgada na noite desta segunda-feira, 17, pelo Palácio do Planalto, a confirmação do recebimento da carta enviada pela deputada iraniana Zore Elahian, que preside a Comissão de Direitos Humanos do parlamento do Irã, à la presidenta Dilma Rousseff, informando que a pena de morte por enforcamento imputada à iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, 43, condenada por ser considerada cúmplice no assassinato do marido, foi suspensa. Até ontem, contudo, a carta ainda estava sendo traduzida do inglês para o português, devendo ser lida por Dilma nesta terça-feira, 18. Porém, nos primeiros dias de janeiro deste ano, quando da sua primeira entrevista na condição de presidenta do Brasil, Dilma já havia declarado a sua posição em relação ao drama vivido pela iraniana. Ou seja, “uma barbaridade”. O teor da carta que ela recebeu, entretanto, já tornado público.

E, desde ontem, por diversos veículos de comunicação de todo o mundo, através dos quais tomamos conhecimento da suspensão da tal pena. Não obstante, em minha vã ignorância, eu só queria entender, para minha curiosidade, se a palavra suspensão, em português – de acordo com as informações que têm sido divulgadas pela mídia –, tem o mesmo significado em persa, língua oficial do Irã. Afinal, na língua portuguesa, que eu tenha conhecimento, o verbo transitivo direto suspender significa, digamos, deixar pendente, no ar... Daí – eu perguntaria –, quem garante que, a qualquer momento, basta dá na telha das suas obtusas mentes, as autoridades do Irã não revejam a dita suspensão da aplicação da sentença de morte de Sakineh, já que, a priori, toda e qualquer suspensão tem caráter temporário, e resolvam aplicá-la, independentemente dos apelos contrários?

Afinal, a pena de morte por apedrejamento, à qual infligiram à Sakineh, e apenas porque ela manteve relacionamentos íntimos com outros homens após a morte do marido, também já foi suspensa e, mesmo assim, vez por outra, o governo do Irã diga que não. É, de fato, muita controvérsia. Enquanto isso, ou seja, enquanto as duas sentenças não forem definitivamente revogadas, a vida da iraniana permanece na corda-bamba, sabendo, contudo, que mesmo que não seja nem apedrejada ou enforcada, já que ninguém morre duas vezes, dez anos de prisão já estão certos. Enfim! A referida carta traz, ainda, críticas à Dilma, visto que, em dezembro de 2010, a então presidente eleita disse ao jornal americano Washington Post que não concordava com posições assumidas pelo governo brasileiro, em sessões da Organização das Nações Unidas - ONU, no que concerne ao Irã.

Ou seja, o Brasil teria se abstido de votar resoluções que repudiavam o Irã por violar direitos humanos. Seria, então, o caso de la presidenta tomar um partido a respeito? De qualquer modo, ainda no início deste ano, o embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, se reuniu com o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e manifestou o interesse do governo do seu país para que Dilma visite Teerã, embora, à ocasião, a data exata da visita ficou, digamos, em suspense... Bom! O curioso é que o artigo I da Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada pela ONU em 1948, diz: Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Em alguns países, contudo, apenas quando nascem! Sim, porque depois... Afinal, viver na desigualdade, em condições indignas e sem direitos não é vida para ninguém. É sobreviver.


Nathalie Bernardo da Câmara


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