segunda-feira, 27 de junho de 2011

AVARIAS DE JUNHO


“A festa move interesses políticos e econômicos que poucas vezes se imagina. Um exemplo disso é o esvaziamento do Plenário do Congresso em Brasília no mês de junho...”.

Rita Amaral
Antropóloga brasileira, se referindo ao São João



Nada muito a dizer sobre as festas juninas do Brasil, ocorridas no mês de junho, que são: Santo Antônio (13), São João (24) e São Pedro (29), que não aprecio muito, embora já as tenha estudado, e nem pretendo, aqui, historiar a respeito. Enfim! Populares e tradicionais, as chamadas festas juninas compreendem certa complexidade. Para Rita Amaral, as festas populares são religiosas e profanas, críticas e debochadas, conservadoras e vanguardistas, divertidas e devocionais. São, ainda, segundo a antropóloga brasileira, “um modo de reviver o passado e projetar utopias, afirmar identidades e de se inserir na sociedade global”, finaliza, em sua belíssima tese, que, inclusive, eu já li, intitulada Festa à Brasileira: sentidos do festejar no país que 'não é sério'. Uma obra-prima da pesquisadora!

Porém, apesar de serem herança portuguesa acrescida de costumes franceses, as festas juninas, pelo menos, que eu saiba, termina, no Brasil, sendo de alta periculosidade, já que alguns dos seus componentes são nitroglicerina pura, ou seja: os fogos de artifício, os explosivos e os balões, cujo uso, inclusive, já foi regulamentado pela legislação brasileira (fogos de artifício e explosivos regulamentados em 2000 e os balões em 1998 e 1999). Infelizmente, há quem abuse! E, aí, não são poucos os acidentes que, a cada ano, durante os festejos, o trio provoca, muitos dos quais – reconheçamos – fatais. Segundo a Associação Brasileira de Cirurgia de Mão - ABCM: “40% dos queimados pelo uso de fogos são menores entre 4 e 14 anos e uma em cada dez pessoas que manuseiam esse tipo de artefato sofre amputações...”.

No dia 29 de junho de 2010, por exemplo, postei dois textos comentando a respeito: o primeiro foi Fogos de artifício e explosivos: uma regulamentação necessária, enquanto o segundo Balão: persona non grata nos céus do Brasil. Sinceramente, não suporto três coisas que, aliás, são características das festas juninas, ou seja: o barulho odioso provocado pelos rojões lançados, aleatória e irresponsavelmente, ares afora – exemplo típico de poluição sonora –, se salvando quem puder, bem como a fumaça sufocante expelida pelas fogueiras, que, parece, temos a obrigação de inalar – imaginem o drama dos asmáticos... Enfim! A terceira coisa que não aprecio durante esse período são as iguarias à base de milho – vegetal, inclusive, que nunca me foi palatável. E olhe a chuva!




Ser ou não ser palatável: eis a questão...



“Des goûts et des couleurs il ne faut pas discuter…”.

Provérbio francês



Nesta segunda, 27, a nossa digníssima la presidenta Dilma Rousseff teve o desplante de nomear o incauto do ex-presidente Lula para chefiar uma missão especial do governo brasileiro na Assembléia Geral da União Africana, que ocorrerá em Guiné Equatorial, na África, a partir desta terça-feira, 28, até o dia 1° de julho. Infelizmente, nada se pode fazer para que Dilma reveja a sua decisão, visto que a referida nomeação já foi publicada no Diário Oficial da União - DOU. Que coisa! Afinal, devido o tema da assembléia, Empoderamento da Juventude para o Desenvolvimento Sustentável, la presidenta deveria ter nomeado a ambientalista Marina Silva (PV-AC) para representar o Brasil. Sim, porque, que eu saiba, Lula não entende nada de desenvolvimento sustentável. Ninguém merece! Sem falar de outras avarias...




ALEGRIA, ALEGRIA...



“Uma festa é um excesso permitido, ou melhor, obrigatório, a ruptura solene de uma proibição...”.

Freud (1856 -1939)
Médico austríaco, fundador da psicanálise



Tudo indica que a 15ª Parada do Orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais), mais conhecida como Parada Gay, ocorrida em São Paulo neste domingo, 26, foi um sucesso, apesar de certas represálias, vindo de toda parte. Enfim! Embalados pelo tema Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia!, a Parada Gay – como a marcha (palavra tão em voga nos dias de hoje) é mais conhecida – imprimiu cores – as do arco-íris, símbolo dos homossexuais –, fantasias, brilho, alegria e poesia a capital brasileira que é considerada a maior potência econômica do país, que virou flores. Nem a chuva, impiedosa, as fez murchar... Bom! Segundo a organização do evento, cerca de 4 milhões de pessoas participaram da Parada Gay. O curioso é que movimentos sociais outros aproveitaram a oportunidade para reivindicar por seus direitos e causas. Foi o caso de um grupo indígena do Alto Xingu, de Mato Grosso, que portaram faixas contra a construção da usina de Belo Monte. E olhe os índios, aí, gente!

Marcando igualmente presença, como sempre, a senadora Marta Suplicy (PT-SP), além do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que disse ser o desfile “uma demonstração de cidadania de todos os brasileiros que aqui vivem e que querem uma cidade, um país e um mundo cada vez mais voltado para ações de cidadania, mostrando que a grande maioria dos brasileiros respeita a diversidade e os direitos humanos”. Sem falar da cantora e atriz brasileira Preta Gil, musa da Parada Gay deste ano. Tendo, recentemente, entrado as turras com o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), em função do preconceito e da discriminação desmedidas do parlamentar, que, levianamente, condena quem for mulher, negro, pobre e homossexual – vai terminar perdendo o cargo –, Preta Gil declarou: — Eu acredito na diversidade e na inclusão. Sempre fui militante da causa GLS porque é a minha causa e de todo ser humano que entende a complexidade de ser humano... Corajosa, a moça. E haja bandeiras coloridas sendo desfraldadas!

Na contramão da História, contudo, ou seja, das conquistas dos homossexuais brasileiros, que, no dia 05 de maio viu aprovada a decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal - STF em reconhecer os direitos relativos à união estável para casais de mesmo sexo, reconhecendo, ainda, princípios de igualdade, liberdade e dignidade humana, além de segurança jurídica para a categoria, digamos assim, a deputada estadual Myrian Rios (PDT-RJ), igualmente uma reconhecida atriz, embora acrescente que também é missionária católica – pudera! –, declarou, em discurso, ser contrária à PEC de n° 23/2007, que altera a Constituição do Rio de Janeiro, incluindo a orientação sexual como direito fundamental, e que deve ser votada no próximo mês de agosto, inclusive, comparando, erroneamente, ter relacionado gays com pedofilia. Nada a ver! O pior é que, com a declaração da parlamentar, homossexuais e simpatizantes da causa já protestaram. Com toda razão. O que ocorre? Outro Bolsonaro, só que de saias?

Enfim! Nesta segunda-feira, 27, foi realizado, entrando para a História, o primeiro casamento gay oficializado pela Justiça brasileira. O fato ocorreu em Jacareí, uma cidade do interior de São Paulo, e os noivos, que solicitaram a conversão de união estável em casamento civil ao juiz Fernando Henrique Pinto, da 2ª Vara da Família e das Sucessões do município em questão, foram agraciados em sua solicitação. Nesta terça-feira, 28, Dia Mundial do Orgulho LGBT ou Dia Mundial do Orgulho Gay – uma coincidência –, os dois irão ao cartório para buscar a certidão de casamento, visto que há oito anos eles já haviam registrado a união estável de ambos. De fato, uma conquista para o casal. Sei não, mas... Se King Kong, o gorila gigante, se apaixonou perdidamente por uma mulher, cuja condição é humana – sentimento, inclusive, recíproco –, sendo que o romance, platônico, obviamente, foi retratado no cinema de forma ficcional, chegamos à conclusão de que, como já disse Caetano Veloso, compositor e músico brasileiro, “toda forma de amor vale a pena”...


Nathalie Bernardo da Câmara



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