terça-feira, 28 de junho de 2011

O DIA QUE BOLA DE GUDE VIROU BARRA DE SABÃO*


A inteligência é uma espécie de paladar que nos dá a capacidade de saborear idéias...”.

(1933 - 2004)

Escritora, cineasta e ativista política norte-americana



Outro dia, diante de um comentário que me foi feito por minha mãe a respeito de uma receita exótica à base de caviar, publicada em um jornal – não lembro qual –, comentei que não apreciava o prato, o dito original, feito a partir de ovas de estrujão, cujo nome científico é Acipenser oxyrinchus, um peixe que remonta à época dos dinossauros, que, inclusive, experimentei em Paris e que, confesso, não gostei. Imaginem, então, as receitas, com pitadas de tropicalismo, criadas utilizando a tal ova! De há muito, contudo, o estrujão anda a navegar em águas doces e salgadas de várias partes do mundo, existindo, atualmente, em torno de 24 tipos da espécie, embora, das quais, segundo pesquisei, apenas 03 – sevruga, asetra e beluga –, procedidos do mar Cáspio, considerado livre de qualquer poluição, são, majoritariamente – cerca de 90% – consumidos a nível mundial. Eu, particularmente, embora seja um prato considerado para lá de chique, não suporto caviar. Ora! Não que eu seja esnobe ou arrogante a respeito do caviar de estrujão. Eu, simplesmente, não gosto, embora adore lagosta, camarão e outros frutos do mar. E, afinal, é um direito que eu tenho de não apreciar certos pratos, independentemente de eles serem oriundos do mar, da terra ou do ar, considerados nobres ou não. Tanto que, segundo a minha mãe, a melhor ova que ela já comeu é a do peixe que se chama curimatã, sem definição de um nome científico específico e, inclusive, com algumas variações da espécie. Qual, então, a relação do caviar com a rapadura? Afinal, histórica e respectivamente falando, uma é burguesa e a outra proletária. No caso da rapadura, considerada um subproduto da cana-de-açúcar, cuja fabricação é originária das Canárias, ilhas espanholas, no Atlântico, também chamada de raspadura, ela é um produto que, apesar de ser tido como rústico, é de alta qualidade nutricional. Por isso que, de há muito, ela não se resume mais a ser um complemento alimentar de muitos tropeiros brasileiros, que a carregavam em suas matulas, resistindo as mais diversas condições climáticas, nem, também, se limitando a uma guloseima qualquer, adicionada que já foi à merenda escolar de muitos alunos da rede pública de ensino do Nordeste do Brasil e aos subsídios que dizem respeito à alimentação das populações mais carentes do país.


Querendo entender...


“A imprensa perseguida e amordaçada é, de fato, o único partido de oposição deste país [Brasil]!...”.

Priscilla Wilmers
Jornalista brasileira, uma grande amiga. Há mais de 20 anos, desde a universidade, companheira de jornalismo. Trabalhamos juntas e, até hoje, buscamos lutar contra as injustiças. Todas! 



Enfim! Dependendo do paladar de cada um, cada alimento tem a sua importância – as variantes que levam a isso são muitas! Um exemplo, no caso, de carência alimentar? A informação de boa qualidade. Como se explica, então, o jornal O Estado de S. Paulo encontrar-se sob censura há 685 dias (à época em que publiquei este post) – hoje, 697? E isso apenas porque o senador José Sarney (PMDB-AP), à época com a conivência do ex-presidente Lula, quis calar o periódico brasileiro em função de seus interesses escusos? O curioso é que, em seu discurso de posse, no dia 1° de janeiro de 2011, quando assumiu o comando do Brasil, la presidenta Dilma Rousseff disse preferir “o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras” já que, durante o regime militar no Brasil (1964 - 1985), lutou “contra o arbítrio e a censura”... Que ela se prontifique, então, a acabar com a censura no país, pondo, de vez e definitivamente, um ponto final nessa história, promovendo, assim, o resgate ao direito à liberdade de expressão e à de opinião dos jornalistas, bem como nos garantindo o direito ao exercício da imprensa livre das amarras que a cerceiam.

Desse modo, obviamente, estariam igualmente garantidos os anseios democráticos e de liberdade do povo brasileiro. Sem falar que, segundo eu escrevi no post A Criação, publicado neste blog dia 03 de janeiro do corrente: “Espero que Dilma também não se esqueça de aproveitar a influência dos ditos novos ares pairando sobre o também dito novo Brasil desperto, fazendo a diferença, para apoiar a Proposta de Emenda Constitucional - PEC nº 33/2009, que restabelece a exigência do diploma de nível superior para o exercício da profissão de jornalista, cuja votação, no Senado, foi adiada para 2011, bem como a PEC nº 386/2009, igualmente prevista para ser votada este ano. E que sejam votações favoráveis, já que, no dia 17 de junho de 2009, a categoria dos jornalistas foi sumariamente injustiçada pelo Supremo Tribunal Federal – STF”.

O mais estranho, contudo, é que, diante de inúmeros acontecimentos quem estão acontecendo no mundo inteiro, muitos acham que andamos a viver um processo de revolução social, cultural e política – sabem-se lá mais o quê! –, já que estamos a exigir o pleno exercício da democracia, com manifestações populares a favor dos direitos humanos e fundamentais eclodindo por toda parte. Ledo engano! O atual período é de convulsão de valores. No caso do Brasil, por exemplo, onde já se viu – aconteceu no dia 10 do corrente –, o governo do estado do Rio de Janeiro prender quase todos os bombeiros da Cidade Maravilhosa apenas porque eles reivindicaram aumento salarial e melhores condições de trabalho para a categoria? Quanto retrocesso, o do governador Sérgio Cabral e o da sua milícia, já que, histórica e tradicionalmente – no mundo inteiro –, bombeiros salvam vidas e não podem ficar detidos por meros caprichos de quem quer que seja. Que libertem, então, todos os bombeiros, que são trabalhadores, e atendam as suas reivindicações. Todas! É o mínimo a se fazer...

A pergunta que não quer calar: caso a casa do governador do Rio de Janeiro pegasse fogo, quem iria apagá-lo?



Nesta vida, tudo é possível!


“Chamam-me de idiota porque fumo maconha, mas chamam de gênio quem inventou a bomba atômica...”.

Bob Marley (1945 - 1981)
Compositor, cantor e guitarrista jamaicano



De fato, o Supremo Tribunal Federal - STF do Brasil é uma incógnita. Para não dizer uma piada, um filme de ficção ou um conto da Carochinha... Afinal, ora os magistrados decidem contra não importa qual matéria, ora decidem a favor. Quando não, eles retornam à opinião anterior. Brincadeira! Quem entende isso? Tal prática, esquizofrênica, voltou a acontecer recentemente, quando, em menos de 15 dias, despontou no país o desejo de muitos em querer legalizar o uso da maconha, ou seja, liberá-la para consumo, sem que este seja considerado crime, mas reconhecido pela legislação brasileira. Qual a dúvida, então, do STF? Reconhecer as chamadas marchas pró-maconha no país, que aconteceram no dia 18 em várias capitais brasileiras?

Enfim! Dúvida vai, dúvida vem... No dia 15, eis que, acatando a proposta da Procuradoria-Geral da República - PGR, em defesa da liberdade de expressão, o STF, baseado na Constituição Brasileira, que garante o direito dos cidadãos se reunirem para expressar idéias, se posicionando sobre elas, decidiu ser favorável as ditas marchas, ou seja, as manifestações em prol da descriminalização – não confundir com discriminação – do uso da maconha no Brasil, na condição, entretanto, que as referidas manifestações sejam pacíficas e não estimulem a violência, promovendo, ainda, um debate “necessário”, segundo disse o ministro Celso de Mello, relator da matéria, e não fazer apologia à droga. Segundo a ministra Cármen Lúcia, em relação as manifestações pró-maconha:

“A liberdade é mais criativa do que qualquer algema que se possa colocar no povo. (...) Alguns avanços se fazem dessa forma, postulando algo que neste momento é tão grave e com o tempo passa a ser normal para todo mundo. Tenho profundo gosto pela praça porque a praça foi negada a nossa geração”, afirmou a ministra, fazendo referência à proibição de manifestações públicas durante o regime militar (1964-1985) no Brasil, segundo a jornalista brasileira Débora Santos, do G1, direto de Brasília.

Enfim! Como disse a própria Dilma, citando, em seu discurso de posse, o escritor mineiro Guimarães Rosa, seu conterrâneo: “A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem...”. E eu perguntaria: ter coragem para suportar as indecisões e os equívocos de la presidenta?


Nathalie Bernardo da Câmara



* No dia 16 do corrente, publiquei este post com o título original O Dia que caviar virou rapadura. Infelizmente, vítima de uma censura insensata – todas as censuras são insensatas –, já que nos nega, a todos, o direito à liberdade de opinião e o direito à liberdade de expressão – direitos garantidos pela Constituição Brasileira –, o exclui do meu blog sem maiores questionamentos, visto eu não ter o menor interesse em alimentar polêmicas estéreis nem confusão – não importa o tema, pois considero esse tipo de coisa a improficuidade em pessoa –, muito menos por causa de um mero título, que, aliás, no caso, reconheço, pesquei a idéia de outrem no ar, embora não tenha visto nisso crime algum, já que, fruto de uma fala coloquial, um bate-papo, o mesmo nem registrado estava. De qualquer modo, em respeito aos leitores do meu blog, que, aliás, adoraram a referida postagem –, mudei o título inicial e decidi republicar o post, com algumas modificações, é claro, aproveitando para retirar toda e qualquer referência ao autor do referido título. Só que, daqui para frente, diante de tanta repressão e sandice, vou andar com um exemplar da Constituição Brasileira pendurada no pescoço e um exemplar do Código Penal, também brasileiro, arrastado pelos pés, defedendo os meus direitos... Qual é mesmo o artigo constitucional que me concede a liberdade de expressão e a de opinião? Quem quiser, que pesquise. E só usei esse título porque foi bom demais! Afinal, em meus vários anos de jornalismo, sou, modéstia à parte, super criativa em títulos. Nem precisava disso. De repente, fiz até um favor, no caso da criatura, em divulgar a sua idéia. Mas... Se o "dono" da frase me censurou, deixa quieto. Problema meu que não é! Mas, como sou profissional, reconheço que o meu ficou bem melhor. Afinal, só quero divulgar as minhas idéias e, convenhamos, não vivemos mais na Idade Média... Et voilà!



Um comentário:

  1. Olá Nathalie!
    Parabéns pelos textos produzidos...
    Me identifiquei muito com o 1º. Só para acrescentar, o nome científico sempre é escrito com a primeira letra da palavra, que representa o gênero em maiúsculo e a segunda letra da palavra, que representa a espécie em minúsculo. Resultado: Acipenser oxyrinchus.
    Ah! E a palavra sempre vem destacada com itálico, negrito ou sublinhado... Não sei fazer esse recurso aqui. Rsrs!!! Sobre o peixe curimatã, o nome científico é Prochilodus vimboides.

    Novamente, parabéns!!!!
    Abraço forte de GoiÃnia...

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