Caricatura: Gilmar
de Oliveira Fraga
“A minha impressão era que haviam
apagado todas as luzes...” – sobre o Ato Institucional nº 5, o famigerado AI-5,
decretado em 13 de dezembro de 1968.
Dom Paulo Evaristo Arns
(14/9/1921 - 14/12/2016)
Símbolo de resistência à ditadura
militar no Brasil (1964 - 1985), o arcebispo emérito da Arquidiocese de São Paulo,
dom Paulo Evaristo Arns, internado para tratar de uma broncopneumonia desde o dia 28 de
novembro no Hospital Santa Catarina, em São Paulo, faleceu na manhã desta
quinta-feira (14) por falência múltipla dos orgãos.
Em sua longa trajetória,
trabalhou como jornalista, professor e escritor. Publicou 57 livros. Durante a
Ditadura Militar, destacou-se por sua luta política, em defesa dos direitos
humanos, contra as torturas e a favor do voto nas Diretas Já. Em 1972, criou a
Comissão Justiça e Paz de São Paulo e, como presidente regional da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), liderou a publicação do Testemunho de paz, documento com fortes
críticas ao regime militar que ganhou ampla repercussão à época.
Arns organizou, ainda, de
1979 a 1985, e em completo sigilo, o Projeto
Brasil: Nunca Mais desenvolvido ao lado do rabino Henry Sobel, Pastor
presbiteriano Jaime Wright e equipe, no qual reuniram informações em 707
processos do Superior Tribunal Militar (STM), revelando a extensão da repressão
política no Brasil e sistematizada em um livro, publicado pela Editora Vozes em
1985. Um dos criadores da Pastoral da Criança, em
1983, com o apoio de sua irmã, Zilda Arns, que morreu no terremoto de 2010 no
Haiti, onde realizava trabalhos humanitários, Arns recebeu inúmeros
prêmios e homenagens no Brasil e no exterior.
Numa postagem do meu
blog, publicada na década passada, relatei uma passagem curiosa que se destaca
no ativismo de Arns e que remonta a 1985, quando o então prefeito
da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, considerada o quarto
e atual estágio da Inquisição, ou seja, o cardeal Joseph Ratzinger, à época arcebispo
de Munique, na Alemanha – depois, papa Bento XVI –, decidiu
aplicar um corretivo ao frade franciscano e teólogo brasileiro Leonardo Boff
por causa do livro Igreja: carisma e poder (1981), publicado pela Editora Vozes, apenas porque o autor denunciava
a opressão da mulher, a concentração do poder nas mãos do clero e defendia os
direitos humanos.
Considerando Boff um
caso de heresia, Ratzinger interrogou-o e torturou-o por horas, condenando-o
ao silêncio obsequioso, proibindo-o de “falar, escrever, publicar,
dar aulas...”: “Uma espécie de silêncio penitencial”, de acordo com Boff, um
dos fundadores da Teologia da Libertação e segundo o qual: “os
métodos da atual Inquisição mudaram. Hoje, se tortura apenas a psique do
acusado, não mais o seu corpo...”.
O fato é que o tal do silêncio
obsequioso só foi suspenso graças ao arcebispo dom Paulo Evaristo Arns,
que, em encontro com Ratzinger, disse: “Sua Santidade, o senhor fez com um
aluno meu (Boff) aquilo que os militares do Brasil fazem: fechar a boca, cortar
a língua”. Sem saída e constrangido, o cardeal tentou se defender: “Eu, como os
militares, torturadores? Absolutamente! Liberem o Boff!”... E Boff foi
liberado.
Eis o link para a exposição virtual em homenagem a dom
Paulo: acabei de receber (21 de dezembro):
http://yoba.com.br/16/2016/12/21/cartunistas-homenageiam-dom-paulo-evaristo-arns-em-exposicao-virtual/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aceita-se comentários...