quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

DOM PAULO EVARISTO ARNS: O CARDEAL DOS DIREITOS HUMANOS

 Caricatura: Gilmar de Oliveira Fraga

“A minha impressão era que haviam apagado todas as luzes...” – sobre o Ato Institucional nº 5, o famigerado AI-5, decretado em 13 de dezembro de 1968.

Dom Paulo Evaristo Arns
(14/9/1921 - 14/12/2016)


Símbolo de resistência à ditadura militar no Brasil (1964 - 1985), o arcebispo emérito da Arquidiocese de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, internado para tratar de uma broncopneumonia desde o dia 28 de novembro no Hospital Santa Catarina, em São Paulo, faleceu na manhã desta quinta-feira (14) por falência múltipla dos orgãos.

Em sua longa trajetória, trabalhou como jornalista, professor e escritor. Publicou 57 livros. Durante a Ditadura Militar, destacou-se por sua luta política, em defesa dos direitos humanos, contra as torturas e a favor do voto nas Diretas Já. Em 1972, criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo e, como presidente regional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), liderou a publicação do Testemunho de paz, documento com fortes críticas ao regime militar que ganhou ampla repercussão à época. 




Arns organizou, ainda, de 1979 a 1985, e em completo sigilo, o Projeto Brasil: Nunca Mais desenvolvido ao lado do rabino Henry Sobel, Pastor presbiteriano Jaime Wright e equipe, no qual reuniram informações em 707 processos do Superior Tribunal Militar (STM), revelando a extensão da repressão política no Brasil e sistematizada em um livro, publicado pela Editora Vozes em 1985. Um dos criadores da Pastoral da Criança, em 1983, com o apoio de sua irmã, Zilda Arns, que morreu no terremoto de 2010 no Haiti, onde realizava trabalhos humanitários, Arns recebeu inúmeros prêmios e homenagens no Brasil e no exterior.

Numa postagem do meu blog, publicada na década passada, relatei uma passagem curiosa que se destaca no ativismo de Arns e que remonta a 1985, quando o então prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, considerada o quarto e atual estágio da Inquisição, ou seja, o cardeal Joseph Ratzinger, à época arcebispo de Munique, na Alemanha – depois, papa Bento XVI –, decidiu aplicar um corretivo ao frade franciscano e teólogo brasileiro Leonardo Boff por causa do livro Igreja: carisma e poder (1981), publicado pela Editora Vozes, apenas porque o autor denunciava a opressão da mulher, a concentração do poder nas mãos do clero e defendia os direitos humanos.

Considerando Boff um caso de heresia, Ratzinger interrogou-o e torturou-o por horas, condenando-o ao silêncio obsequioso, proibindo-o de “falar, escrever, publicar, dar aulas...”: “Uma espécie de silêncio penitencial”, de acordo com Boff, um dos fundadores da Teologia da Libertação e segundo o qual: “os métodos da atual Inquisição mudaram. Hoje, se tortura apenas a psique do acusado, não mais o seu corpo...”.

O fato é que o tal do silêncio obsequioso só foi suspenso graças ao arcebispo dom Paulo Evaristo Arns, que, em encontro com Ratzinger, disse: “Sua Santidade, o senhor fez com um aluno meu (Boff) aquilo que os militares do Brasil fazem: fechar a boca, cortar a língua”. Sem saída e constrangido, o cardeal tentou se defender: “Eu, como os militares, torturadores? Absolutamente! Liberem o Boff!”... E Boff foi liberado.

Os cartunistas irão homenagear Arns com uma exposição, a ser marcada. Para enviar os seus cartuns, o jornalista e cartunista Jal José Alberto Lovetro pede que enviem os seus cartuns em tamanho A3, jpeg, 300 DPI para: flashexpocartoon@gmail.com


Nathalie Bernardo da Câmara


Eis o link para a exposição virtual em homenagem a dom Paulo: acabei de receber (21 de dezembro):
http://yoba.com.br/16/2016/12/21/cartunistas-homenageiam-dom-paulo-evaristo-arns-em-exposicao-virtual/


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