domingo, 30 de maio de 2010

SIMPLESMENTE, UM IDIOTA!



Sente-se.
Está sentado?
Encoste-se tranquilamente na cadeira.
Deve sentir-se bem instalado e descontraído.
Pode fumar.
É importante que me escute com muita atenção.
Ouve-me bem?
Tenho algo a dizer-lhe que vai interessá-lo.

Você é um idiota.

Está realmente a escutar-me?

Não há pois dúvida alguma de que me ouve com clareza e distinção?
Então Repito: você é um idiota. Um idiota.
I como Isabel;
D como Dinis;
outro I como Irene;
O como Orlando;
T como Teodoro;
A como Ana.
Idiota.

Por favor não me interrompa.
Não deve interromper-me.
Você é um idiota.
Não diga nada.
Não venha com evasivas.
Você é um idiota.
Ponto final.

Aliás não sou o único a dizê-lo.
A senhora sua mãe já o diz há muito tempo.
Você é um idiota.
Pergunte pois aos seus parentes
se você não é um idiota...
Claro, a você não lho dirão, porque você se tornaria vingativo como todos os idiotas.
Mas os que o rodeiam já há muitos dias e anos sabem que você é um idiota.
É típico que você o negue.
Isso mesmo: é típico que o Idiota negue que o é.
Oh, como se torna difícil convencer um idiota de que é um Idiota.
É francamente fatigante.
Como vê, preciso de dizer mais uma vez que você é um Idiota e no entanto não é desinteressante para você saber o que você é e no entanto é uma desvantagem para você não saber o que toda a gente sabe.
Ah, sim, acha você que tem exatamente as mesmas idéias do seu parceiro.
Mas também ele é um idiota.
Faça favor, não se console a dizer que há outros Idiotas: Você é um Idiota.
De resto isso não é grave.
É assim que você consegue chegar aos 80 anos.
Em matéria de negócios é mesmo uma vantagem.
E então na política!
Não há dinheiro que o pague.
Na qualidade de Idiota você não precisa de se preocupar com mais nada.
E você é Idiota.

B. B.


P.S.: Sempre achei interessante este poema do camarada alemão Bertolt Brecht (1898 - 1956).

Ironia pura!


Nathalie Bernardo da Câmara

sábado, 29 de maio de 2010

NO MUNDO DA MALDADE...



“Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
teu mais amável e sutil recreio...”.

Mário Quintana (1906 - 1994)
Poeta e jornalista brasileiro


Outro dia, um amigo, lá de longe, angustiado que estava, enviou-me um e-mail, contando que foi vítima de uma psicopata. E ele me contou meio que sem saber como, porque, até então, ainda não havia digerido muito bem o que lhe havia acontecido e estava desesperado. Como ele sabia que eu já tinha sido vítima de uma criatura com erro de fábrica, como alguns especialistas chamam a psicopatia, ele pensou que, de certa forma, eu iria entender o seu problema. Aí, desabafou: virei divã.

Entender eu não entendo, meu amigo, porque a psicopatia extrapola qualquer forma de normalidade, mas posso ser solidária, já que, de fato, vivi, digamos, uma situação delicada, cujos respingos sinto até hoje, igual fantasma, rondando a minha vida, não desejando a ninguém o que me ocorreu. E eu só posso dizer, querido, indo ao fundo das minhas entranhas, que o pior não é nem a psicopatia em si – a medicina pode cuidar e sugerir paliativos, aliviando o mal –, mas quando o psicopata é alguém que você ama.

Esse é o drama e é insuperável, doendo mais do que aquela anestesia que você toma para que o médico possa costurar o corte que levou na sola do pé, que é dor física e passageira. No caso de cortes morais, a dor é emocional e permanente – se brincar, vai com você ao túmulo –, visto legar uma sensação de impotência, já que ninguém tem como solucionar um problema que não tem solução. Sim, porque, infelizmente, ao contrário do que dizem certos especialistas e não é porque a ciência ainda não evoluiu o suficiente...

A psicopatia não tem cura: a vítima – se posso falar assim – nasce com ela, vive com ela e morre com ela. Por isso eu sentir pena de quem nasce psicopata. E muito lamento. Afinal, um psicopata tem todos os predicados que qualquer um gostaria de ter, mas que ele utiliza para o mal, o que os tornam inválidos. Assim, como não sou especialista no assunto – nem quero! –, mas apenas uma vítima (do psicopata) de outra vítima (da psicopatia), a única coisa que posso fazer é recomendar uma terapia – você escolhe a linha do terapeuta.

Ah! E um livro que li a respeito: Mentes perigosasO Psicopata mora ao lado, da psiquiatra brasileira Ana Beatriz Barbosa Silva. A autora, inclusive, que, de certa forma, me esclareceu o problema que não tem solução, prestou assessoria à novelista brasileira Glória Perez, em um folhetim recente, que abordava o tema, vítima, por tabela, de dois psicopatas, que mataram, a sangue frio, a sua filha, a atriz Daniela Perez (1970 - 1992). Depois de ler esse livro, confesso que não fui mais atrás de outros que me explicassem o problema.

Afinal, o drama foi-me explicado. No mais, li alguns artigos, aqui e acolá... Se quiser e se eu puder ajudar você e demais pessoas vítimas da vítima, e se não quiser adquirir o livro, leia um resuminho básico do referido:


“A psicopatia, também conhecida como “sociopatia” (termo que alguns teóricos evitam), é normalmente associada a serial killers. No entanto, nem todos os assassinos são psicopatas e nem todos os psicopatas são assassinos violentos. Embora mais comuns entre os homens, atualmente também é possível encontrar mulheres no metiê. O portador começa a dar indicativos já na infância, quando maltrata animais de estimação corriqueiramente. Por volta dos 15 anos, na adolescência, os sintomas começam a se agravar e são bem perceptíveis, embora consigam “imitar” sentimentos dos outros:


•Ausência de culpa: nunca sentem arrependimento, nem remorsos. Agem como se os outros fossem os culpados por tudo o que acontece. Têm certeza de que nunca erram.


•Mestres da mentira: realidade e ficção, para eles, se fundem num só conceito, pelo qual regem seu mundo. São capazes de mentir como se tivessem realmente vivido uma determinada situação.


•Manipulação e egoísmo: não têm a noção do bem comum. Desde que ele esteja bem, o resto do mundo não lhe interessa. Usa as pessoas como “objetos”.


•Inteligência: o quociente de inteligência costuma ser acima da média, embora muitos profissionais discordem desse traço. A aparente inteligência poderia ser a extrema racionalidade em lidar com problemas.


•Ausência de afeto: não são pessoas afetuosas e não são do gênero que “dá colo” aos filhos.


•Impulsivos: devido ao déficit de superego, não consegue conter os próprios impulsos. Por isso, comete toda espécie de crimes.


•Isolamento: gosta de viver só, e quando vive em grupo quer ser líder, mesmo que destrua tudo o que possa encontrar pela frente.


Bom! Encontrei, também, um excelente artigo que fala a respeito do tema, intitulado O que é um psicopata?, publicado na revista Mente e cérebro, da Duetto editorial, de autoria de Scott O. Lilienfeld e Hal Arkowitz, professores de psicologia. O primeiro da Universidade Emory e o segundo da Universidade do Arizona. A tradução do artigo? Imagino que de um brasileiro: Julio Oliveira. A edição da revista é de número 181 e foi publicada em fevereiro de 2008. Eles questionam o que é um psicopata. Dá dó. Por eles, os psicopatas, e por nós...


Nathalie Bernardo da Câmara



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O Que é um psicopata?


Dr. Lecter, psicopata vivido no cinema por Anthony Hopkins


Cercada de mitos, a psicopatia nem sempre está associada à violência e, ao contrário do que se imagina, pode ser tratada.

por Scott O. Lilienfeld e Hal Arkowitz


O termo “psicopata” caiu na boca do povo, embora, na maioria das vezes, seja usado de forma equivocada. Na verdade, poucos transtornos são tão incompreendidos quanto a personalidade psicopática.

Descrita pela primeira vez em 1941 pelo psiquiatra americano Hervey M. Cleckley, do Medical College da Geórgia, a psicopatia consiste num conjunto de comportamentos e traços de personalidade específicos. Encantadoras à primeira vista, essas pessoas geralmente causam boa impressão e são tidas como “normais” pelos que as conhecem superficialmente.

No entanto, costumam ser egocêntricas, desonestas e indignas de confiança. Com freqüência adotam comportamentos irresponsáveis sem razão aparente, exceto pelo fato de se divertirem com o sofrimento alheio. Os psicopatas não sentem culpa. Nos relacionamentos amorosos são insensíveis e detestam compromisso. Sempre têm desculpas para seus descuidos, em geral culpando outras pessoas. Raramente aprendem com seus erros ou conseguem frear impulsos.
Não é de surpreender, portanto, que haja um grande número de psicopatas nas prisões. Estudos indicam que cerca de 25% dos prisioneiros americanos se enquadram nos critérios diagnósticos para psicopatia. No entanto, as pesquisas sugerem também que uma quantidade considerável dessas pessoas está livre. Alguns pesquisadores acreditam que muitos sejam bem-sucedidos profissionalmente e ocupem posições de destaque na política, nos negócios ou nas artes.

Especialistas garantem que a maioria dos psicopatas é homem, mas os motivos para esta desproporção entre os sexos são desconhecidos. A freqüência na população é aparentemente a mesma no Ocidente e no Oriente, inclusive em culturas menos expostas às mídias modernas. Em um estudo de 1976 a antropóloga americana Jane M. Murphy, na época na Universidade Harvard, analisou um grupo indígena, conhecido como inuíte, que vive no norte do Canadá, próximo ao estreito de Bering. Falantes do yupik, eles usam o termo kunlangeta para descrever “um homem que mente de forma contumaz, trapaceia e rouba coisas e (...) se aproveita sexualmente de muitas mulheres; alguém que não se presta a reprimendas e é sempre trazido aos anciãos para ser punido”. Quando Murphy perguntou a um inuit o que o grupo normalmente faria com um kunlangeta, ele respondeu: “Alguém o empurraria para a morte quando ninguém estivesse olhando”.

O instrumento mais usado entre os especialistas para diagnosticar a psicopatia é o teste Psychopathy checklist-revised (PCL-R), desenvolvido pelo psicólogo canadense Robert D. Hare, da Universidade da Colúmbia Britânica. O método inclui uma entrevista padronizada com os pacientes e o levantamento do seu histórico pessoal, inclusive dos antecedentes criminais. O PCL-R revela três grandes grupos de características que geralmente aparecem sobrepostas, mas podem ser analisadas separadamente: deficiências de caráter (como sentimento de superioridade e megalomania), ausência de culpa ou empatia e comportamentos impulsivos ou criminosos (incluindo promiscuidade sexual e prática de furtos).

Três mitos

Apesar das pesquisas realizadas nas últimas décadas, três grandes equívocos sobre o conceito de psicopatia persistem entre os leigos. O primeiro é a crença de que todos os psicopatas são violentos.

Estudos coordenados por diversos pesquisadores, entre eles o psicólogo americano Randall T. Salekin, da Universidade do Alabama, indicam que, de fato, é comum que essas pessoas recorram à violência física e sexual. Além disso, alguns serial killers já acompanhados manifestavam muitos traços psicopáticos, como a capacidade de encantar o interlocutor desprevenido e a total ausência de culpa e empatia. No entanto, a maioria dos psicopatas não é violenta e grande parte das pessoas violentas não é psicopata.

Dias depois do incidente da Universidade Virginia Tech, em 16 de abril de 2007, em que o estudante Seung-Hui Cho cometeu vários assassinatos e depois se suicidou, muitos jornalistas descreveram o assassino como “psicopata”. O rapaz, porém, exibia poucos traços de psicopatia. Quem o conheceu descreveu o jovem como extremamente tímido e retraído.
Infelizmente, a quarta edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-IV-TR) reforça ainda mais a confusão entre psicopatia e violência. Nele o transtorno de personalidade anti-social (TPAS), caracterizado por longo histórico de comportamento criminoso e muitas vezes agressivo, é considerado sinônimo de psicopatia. Porém, comprovadamente há poucas coincidências entre as duas condições.

O segundo mito diz que todos os psicopatas sofrem de psicose. Ao contrário dos casos de pessoas com transtornos psicóticos, em que é freqüente a perda de contato com a realidade, os psicopatas são quase sempre muito racionais. Eles sabem muito bem que suas ações imprudentes ou ilegais são condenáveis pela sociedade, mas desconsideram tal fato com uma indiferença assustadora. Além disso, os psicóticos raramente são psicopatas.

O terceiro equívoco em relação ao conceito de psicopatia está na suposição de que é um problema sem tratamento. No seriado Família Soprano, dra. Melfi, a psiquiatra que acompanha o mafioso Tony Soprano, encerra o tratamento psicoterápico porque um colega a convence de que o paciente era um psicopata clássico e, portanto, intratável. Diversos comportamentos de Tony, entretanto, como a lealdade à família e o apego emocional a um grupo de patos que ocuparam a sua piscina, tornam a decisão da terapeuta injustificável.

Embora os psicopatas raramente se sintam motivados para buscar tratamento, uma pesquisa feita pela psicóloga Jennifer Skeem, da Universidade da Califórnia em Irvine, sugere que essas pessoas podem se beneficiar da psicoterapia como qualquer outra. Mesmo que seja muito difícil mudar comportamentos psicopatas, a terapia pode ajudar a pessoa a respeitar regras sociais e prevenir atos criminosos.







quarta-feira, 26 de maio de 2010

AQUELE ABRAÇO!



“Eu ainda acredito na bondade humana...”.

Anne Frank (1929 - 1945)
Judia alemã morta em campo de concentração nazista.



Um release é-me enviado pela Agência de Notícias do Terceiro Setor, pedindo a divulgação de uma campanha que está sendo movida em prol do Dia da Bondade, a ser comemorado no próximo dia 3 de junho. De imediato, lembrei de uma frase, que li ainda adolescente, escrita por outra adolescente, Anne Frank, em seu famoso diário, publicado pela primeira vez em 1947. Narrando as agruras de viver anos em uma clarabóia, escondida, juntamente com a família, da tirania do ditador alemão Adolf Hitler (1889 - 1945), O Diário de Anne Frank foi traduzido em sessenta e sete línguas e é um dos livros mais lidos em todo o mundo. Se viva, Anne Frank, que nasceu em Frankfurt, na Alemanha, completaria oitenta e um anos de idade no próximo dia 12 de junho. Quando faleceu, de tifo, tinha, apenas, quinze anos de idade.



Nathalie Bernardo da Câmara



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Dia da bondade



Prezados,


Quinta feira dia 03 de Junho de 2010, feriado de Corpus Christi, será também o Dia da Bondade – uma mobilização da TV Tarobá e Super Muffato para arrecadar donativos nas cidades de Londrina, Foz do Iguaçu, Campo Mourão, Cascavel e Toledo.

A Campanha não recebe doações em dinheiro. O objetivo é arrecadar roupas, agasalhos, calçados, cobertores e alimentos. Tudo será entregue ao Provopar, o único responsável pela distribuição. Cerca de 400 entidades serão atendidas em todo Paraná.

O Dia da Bondade é realizado desde 1987. Todo o quadro de funcionários da TV Tarobá e dos hipermercados Super Muffato doa um dia de serviço para ajudar quem precisa. Serão ao todo cerca de 1300 voluntários. Toda a programação local (TEMPO QUENTE, VITRINE, BRASIL URGENTE, PRIMEIRA HORA etc) vai ao ar direto do posto central de arrecadação, este ano o Super Muffato da Duque de Caxias em Londrina e da mesma maneira nas demais cidades. Serão doze horas no ar – sensibilizando, pedindo, instigando doações. Nos espaços de coleta, haverá atrações extras. Shows e brincadeiras para que o Dia da Bondade seja uma data festiva.

Na última edição, em 2009, foi arrecadado somente em Cascavel 241.720 peças de roupas, 18.413 pares de calçados, 7.563 quilos de alimentos; 2.780 brinquedos; quase dois mil cobertores e vários eletrodomésticos. No total chegamos a aproximadamente 214 toneladas de doações, um número recorde comparando a campanha 2009 com os anos anteriores.

Para este ano as expectativas são ainda melhores, teremos shows, atrações diversas, brincadeiras e a cobertura ao vivo deste evento em todas as cidades que compõem o Dia da Bondade e ainda o mais importante: “A participação em massa das comunidades, para que mais uma vez centenas de pessoas e várias entidades recebam as doações e com isso ganhem um pouco mais de carinho e conforto”.


SEJA VOCÊ TAMBÉM UM VOLUNTÁRIO
NESTA CORRENTE DO BEM... PARTICIPE!



Apoio: Planeta Voluntários

Dia da Bondade / 3 de Junho de 2010
http://www.diadabondade.com.br/



"Aqueles que tomam, no final perdem; mas aqueles que dão, ganham eternamente. Esta é uma regra que o Universo nunca quebra."

Douglas M. Lawson

domingo, 23 de maio de 2010

QUEM OFUSCA QUEM?



“É mais fácil mudar a natureza do plutônio
do que mudar a natureza maldosa do homem...”.

Albert Einstein (1879 - 1955)
Físico alemão, Prêmio Nobel de 1921




Recebo uma ligação: “Onde você está?”. Diante do inusitado da pergunta, como se a criatura não soubesse exatamente onde eu estava, achei melhor me situar. Para não ter dúvidas, olhei para um lado, olhei para o outro... O fato é que, hoje, quase mais ninguém diz alô nem pergunta como você vai. Já vão querendo saber onde você está! E tudo é celular, que, aliás, deveria ser chamado de coisa, já que – convenhamos – possui três características que o fazem um superdotado, que são: a onisciência, a onipresença e a onipotência. Ou seja, o celular sabe tudo, está ao mesmo tempo em toda parte e pode tudo. Estou enganada?

Enfim! Respondi onde estava. “E fazendo o quê?”, o meu interlocutor prosseguiu. Eu disse que estava no computador, escrevendo, revisando uns escritos, lendo... E lá vem cobrança! Como é que – questionou –, se eu estava na dita Cidade do Sol, em uma manhã ensolarada de domingo, preferia ficar em casa, perdendo o meu tempo a escrever e a ler, ao invés de estar na praia, pegando sol, tomando banho de mar? Bom! Já que, na opinião da pessoa, eu estava perdendo o meu tempo, e ela, ainda, me tirando a concentração, aproveitei o ensejo para também perder a paciência.

Sim, porque – não é de hoje –, se muitos têm o péssimo hábito de não respeitar as preferências do outro, não via motivo algum para prolongar aquele diálogo, mais improfícuo, aliás, do que discurso de político. Assim, tentei explicar, embora a criatura também já o soubesse – só gastei o meu latim –, que nada é mais desagradável do que estar em um lugar por contingências; segundo, nunca gostei de sol nem sou vegetal, não necessitando, portanto, de fotossíntese para viver, muito menos de tanta luminosidade, que só agride a retina, sem falar nos riscos, ao se expor aos raios ultravioletas, de adquirir melanomas.

Terceiro, não suporto calor – me dá mal-humor; quatro, tomar banho de mar em águas comprovadamente poluídas não é, de fato, uma das coisas que aprecio – a não ser que eu quisesse adquirir anticorpos, que não é o caso. Por fim, não sou chegada à multidão, ruído, trânsito, nenhum tipo de poluição. No caso, sonora e humana. É como diria um amigo: dois, para mim, já é assembléia. Lá pelas tantas, enfim, o papo agradável diluiu-se e retornei aos meus afazeres. De repente, veio-me, de súbito, uma questão: Quem ofusca quem, afinal? O Sol ofusca a Terra ou é a Terra quem ofusca o Sol?

Uma pergunta idiota, eu sei, mas a formulei para mim mesma. Afinal, para os ambientalistas, é a Terra, ou melhor, os seus habitantes, com a sua ganância desenfreada, quem ofusca o Sol, provocando, inclusive, o seu aquecimento, que, por sua vez, desencadeia uma série de outros problemas. Porém, se pararmos para pensar, a conclusão será a de que é o Sol quem, arrogantemente, por ser o centro do mundo – e só sabemos disso devido à teoria heliocêntrica do astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473 - 1543) –, ofusca a Terra, pondo-se no caminho das benéficas conquistas do ser dito humano.

Sim, o Sol é a própria personificação do mal, já que, negativamente, reage aos avanços dos terrestres, que, ao contrário do que dizem os ambientalistas, estão evoluindo. Querem algo mais evolutivo, por exemplo, do que emitir gás carbônico na atmosfera? Por essas e outras ações, portanto, considero até um impropério dizer que, por excelência, os humanos são predadores do seu habitat, ameaçando a sua própria sobrevivência. Que nada! Eles só querem crescer e multiplicar. Nada de diminuir. Há algo errado nisso? Eu creio que não, já que o progresso é a busca pelo bem-estar. Não se constitui em um crime.

Errado agiu quem construiu – deve ter sido um engenheiro de quinta! – a camada de ozônio tão mal construída. Daí o seu famoso cisma. O ser humano, por sua vez, é perfeito em tudo o que faz. Quando, por exemplo, ele constrói uma estrada, uma ponte ou um edifício não comete atos falhos. O que dirá de uma plataforma de petróleo, de uma hidrelétrica! E nunca, nunca mesmo – eu garanto! –, devastou a Mata Atlântica. Nem sequer está repetindo o gesto com a Amazônia. Todas as acusações, aliás, nesse sentido, não passam de calúnias. Afinal, o ser humano é de uma decência sem tamanho. Tudo de bom!

Tanto que, quando eu crescer, quero ser igual a ele, o ser humano – exemplo dos melhores dos bons exemplos. Falando nisso, veio-me, agora, à mente, a 15ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas - ONU (COP15), que aconteceu em dezembro do ano passado, em Copenhague, na Dinamarca. Reunindo líderes mundiais de quase duzentos países e que tinha como objetivo encontrar medidas para frear o aquecimento global da Terra, o evento foi inútil. Melhor, desastroso. Daí que, se dependermos dos nossos governantes, estamos, inexoravelmente, condenados ao desastre.

Inoperância, para eles, na questão ambiental, por exemplo, é lugar-comum. E digo isso tendo como referência a pérola proferida por Dilma Rousseff, candidata à presidência do Brasil, na condição de chefe da delegação brasileira no evento: “O meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”. Senti até vergonha quando ouvi isso. Então... Um humano pode até tentar domar outro humano, mas ninguém doma a natureza. É como diria Goethe (1749 - 1832), escritor alemão: “A natureza reservou para si tanta liberdade que nunca poderemos penetrá-la completamente com o nosso saber e a nossa ciência”. Ainda bem!


Nathalie Bernardo da Câmara



P.S.: Gostaria de dizer para o autor da ligação, que eu recebi em meu celular, que até gosto de um banho de mar, apesar da poluição das suas águas, mas que o tempo esteja nublado. Quanto ao ser humano, nunca vi coisa tão sensível! Ou melhor, para rimar, desprezível...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

COM OU SEM TREMA?



“Nada fortalece tanta autoridade quanto o silêncio...”.

Leonardo da Vinci (1452 - 1519)
Um ariano do bem



Um habitué do meu blog pede-me que eu fale da reforma ortográfica da língua portuguesa. Já falei. E falei, inclusive, no primeiro post de A Bagagem do navegante, intitulado Navegar é preciso!, quando o inaugurei, no dia 6 de janeiro de 2009, deixando exatamente clara a minha opinião a respeito. À época, disse:

“É importante ressaltar que, por ser declaradamente contra a reforma ortográfica da língua portuguesa, que passou a vigorar no dia 1º de janeiro de 2009, além de uma total indisposição e indisponibilidade intelectual em adotar as novas normas, ‘atualizando-me’, os meus textos ainda andam as voltas com a nossa recém-considerada caduca ortografia.

Afinal, é ridícula essa tentativa de unificar o modo de escrever da língua portuguesa, idioma dito o oficial de Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, que, aliás, é falada, ainda, na antiga Índia Portuguesa (Goa, Damão, Diu e Dadrá e Nagar-Aveli), Macau e Guiné Equatorial. O curioso é que – estranho isso –, se queriam mudanças, por que não optaram, então, por mudar a realidade caótica da educação do povo de todos esses países, sobretudo a das crianças, que têm uma base educacional capenga?

Não seria melhor, por exemplo, primeiro alfabetizar que tornar ainda mais complexa a língua portuguesa, que permeia o cotidiano de mais de 200 milhões de nativos, sendo, ainda, a quinta língua mais falada do mundo? Isso sem falar no nacionalismo exacerbado que a referida reforma ortográfica deixa transparecer. Já não basta um equivocado Fernando Pessoa (1888 - 1935) dizer que “a minha língua é a minha pátria”? Que me perdoem os patriotas de plantão, mas acho que, apesar da sua genialidade, o escritor português exagerou!

E eu perguntaria: Essa absurda e desnecessária reforma ortográfica atenderia aos interesses de quem? Pelo visto – parece –, apenas aos interesses dos presidentes das repúblicas dos tais países que falam a língua portuguesa. Quando nem deveria! Sim, porque a única coisa que eles costumam escrever é o próprio nome, quando assinam decretos, medidas provisórias e um sem fim de outras leis. Por que, então, não promoveram um amplo e democrático debate para tratar da questão e toda a sociedade participar de uma decisão tão séria como essa?

Sim, um debate com associações de classes, como, por exemplo, as dos educadores, jornalistas, escritores, antropólogos, sociólogos, historiadores e, por aí, vai... Mesmo porque, quem forma a opinião pública somos nós, não quem cria as leis. Por isso que, em sinal de protesto, já que ninguém me consultou a respeito, me recuso a escrever como reza a cartilha da reforma ortográfica. E já que “todo o poder emana do povo”, segundo pelo menos a Constituição Brasileira, em seu primeiro artigo, por que não consultaram o povo, realizando um plebiscito?

Afinal, é o povo quem fala, é o povo quem escreve, é o povo quem elege. Eu, particularmente? Profundamente desgostosa, porque, por exemplo, aboliram o tão charmoso trema – só entende isso quem escreve. E não admito ter de me privar do seu uso, apesar do seu já reconhecido desuso. Assim, na seqüência, só adotarei as novas normas da ortografia da língua portuguesa por mera consequência, já que a minha rebeldia e a de muita gente só será tolerada até 2013, quando as mudanças das novas regras da língua portuguesa serão obrigatórias.

Ou seja, o prazo para que voltemos a aprender a escrever corretamente. Isso, óbvio, para quem já escreve...”.





Nathalie Bernardo da Câmara

segunda-feira, 17 de maio de 2010

QUE SEJA FEITA A VONTADE DE DEUS?

PARTE II



“A Igreja é uma instituição fúnebre
que brutaliza o mundo para melhor controlá-lo...”.

Giordano Bruno (1548 - 1600)
Filósofo e dominicano italiano



Quando, em 2000, o ano dito sagrado da Igreja católica, o papa João Paulo II (1920 - 2005) achou por bem pedir perdão por tudo de nocivo que a instituição engendrou em seus dois mil anos de História, em nenhum momento ficou claro a quais fatos, especificamente, ele se referia. E nem adiantou demais autoridades católicas tentarem convencer a opinião pública mundial de que, no gesto inédito de perdão, estavam subtendidas, por exemplo, as barbáries cometidas pelas Cruzadas e pelas Inquisições, em suas diversas fases, as quais, diga-se de passagem, de santas não tinham nada. E isso sem falar nos inúmeros outros crimes e aberrações cometidos por representantes da Igreja, homens de carne e osso, mas sem coração, em nome de um suposto Deus.

Resumindo... A impressão que passou, da parte de João Paulo II, foi a de um pedido de perdão para lá de genérico e, provavelmente, sem muita esperança de que o mesmo fosse concedido. Sim, porque – imagino – ele não era ingênuo nem idiota a ponto de acreditar que o mundo perdoaria as atrocidades cometidas pela Igreja católica ao longo, como ele mesmo disse, dos seus dois mil anos de História, mesmo que esse mesmo mundo estivesse debilitado, sofrendo de Mal de Alzheimer, com lapsos de memória – o que não foi nem é o caso. Além do mais, como costumo dizer, há coisas na vida para as quais não tem perdão. Nesse caso, o mundo não perdoou. Bom! O fato é que a imprensa mundial continuou acusando e cobrando – continua até hoje.

À época, o então bispo italiano da cidade de Como, dom Sandro Maggiolini – elevado à condição de bispo emérito e morto em 2008 –, preocupou-se com a repercussão que causaria no mundo o gesto de João Paulo II. Para ele, um pedido de perdão requer prudência, “senão acaba-se por dar a impressão de que, ao converter-se ao catolicismo, entra-se numa gang de malfeitores e não na comunhão dos santos”. Santos? Fico com a gang. O teólogo alemão Hans Küng parece que também, porque foi ousado ao diagnosticar que “o Vaticano tem urgente necessidade de um Gorbachev que introduza glasnost e perestroika no petrificado sistema vaticano. Fica a esperança – disse – de encontrar um entre os cardeais”. Sei não, mas, como dizem que a esperança é a última que morre...

Em Porto Seguro, no Brasil, pouco depois da peça que intitulei de O Dia do perdão, protagonizada por João Paulo II, cuja trilha sonora poderia ter sido Requiem, última composição do austríaco Mozart (1756 - 1791), considerada um pedido de perdão, um índio pataxó, presente a uma missa celebrada pelo cardeal italiano Angelo Sodano, quando das comemorações do quinto centenário do achamento da Terra dos Papagaios, irritou-se com a fala do religioso, que reproduziu a mensagem do Papa, e interrompeu a liturgia, acusando os colonizadores de terem “destruído a cultura dos povos indígenas, estuprado suas mulheres, invadido e devastado suas terras a qualquer custo”. Aplaudido pelos presentes, inclusive bispos, solidários à causa indígena, o pataxó foi taxativo:




“Não perdôo, não perdôo esse massacre”.

Incontestavelmente, o índio agiu corretamente, não perdoando os algozes dos pataxós e dos demais povos indígenas. Afinal, o perdão é um valor cristão, não sendo, portanto, obrigatoriamente extensivo à quem não reza na cartilha dos ditos valores cristãos – herança, aliás, que mais parece um fardo, ofuscando quem os herdou. Além do mais, só sendo ou estando mentalmente perturbado para perdoar quem comete assassinatos, carnificinas, genocídios ou qualquer outro tipo de crime que viole os direitos humanos, sobretudo o direito à vida. Quanto ao pedido de perdão solicitado por João Paulo II... Não é porque ele era um idoso, quando formulou o tal pedido, que o mundo deveria satisfazê-lo. Mesmo porque é mais fácil acreditar nos contos da Carochinha do que nas supostas boas intenções de um papa.

Não é a toa que Saramago – homem e escritor de opiniões muito bem formadas – entende a história do papado como “algo de terrível, de simplesmente tenebroso”. E ele prossegue: “Não me tiram nem sequer um grama ou um átomo da minha raiva contra a instituição chamada Igreja católica” – sentimento esse, aliás, que é elevado ao cubo quando se trata de Bento XVI. E Saramago questiona, por exemplo, como é que o atual papa tem “a coragem de invocar Deus para reforçar o seu neomedievalismo universal”, sobretudo “um Deus que ele jamais viu e com quem nunca se sentou para tomar um café”. Para o escritor, o fato apenas evidencia ainda mais “o seu absoluto cinismo intelectual”. Enfim! Parece que a História da humanidade, pelo menos na ótica da Igreja católica, quando é conveniente, resume-se ao que narra a Bíblia.

É um obscurantismo tão arraigado que lembro só ter visto algo igual no desequilibrado monge Jorge de Burgos, personagem de O Nome da rosa, romance do escritor italiano Umberto Eco. Guardião da biblioteca de um mosteiro beneditino cravado nos Alpes italianos em pleno séc. XIV, Jorge de Burgos não media esforços para evitar o acesso de outrem ao livro Poética, do filósofo grego Aristóteles (384 - 322 a. C.). E o seu empenho era tamanho que, bastava ele achar necessário, nem a cegueira o impedia de matar. Isso porque, no romance de Eco, mesmo que ficcionalmente, está contemplada, na íntegra, a parte dedicada ao riso. Obviamente que eu não estou comparando a Bíblia com a Poética. Nem poderia! Afinal, simbolizando o cárcere, os textos bíblicos negam o riso.

Assim, diferentemente dos originais do elogio ao riso, de Aristóteles, que simbolizavam a liberdade e que, por isso, são notoriamente dados como desaparecidos até hoje – nem preciso dizer quem lhes deu sumiço – a Bíblia, inquestionavelmente, é um livro de lamentações, de tragédias. A analogia, portanto – dou-me esse direito – dar-se entre a postura da Igreja católica em relação a Caim, de Saramago, e a postura de Jorge de Burgos em relação à Poética, de Aristóteles. Daí que costumo dizer que sorte a nossa não mais vivermos na Idade Média! O grave, contudo, é que, na linguagem religiosa do bibliotecário Jorge de Burgos, bem como na da Igreja católica, o riso deve ser combatido, quando não extirpado, pois liberta o indivíduo do medo. De Deus e do Diabo.

Por isso que, em determinados períodos históricos, a tirania foi exercida por essa mesma igreja, imputando o medo aos fiéis, quando não o temor, as duas supostas entidades que, afinal – Saramago não me deixa mentir –, só existem na cabeça dos homens. De qualquer modo, é a ignorância que gera o tirano, favorecendo as mais bárbaras das ações. Como não temer, então, essas duas entidades, uma representando o bem e a outra o mal, consideradas, ainda, oniscientes, onipresentes e onipotentes? Realmente, quem criou essa tríade – que sabe tudo; que está ao mesmo tempo em toda parte; que pode tudo – tinha uma imaginação muito fértil, sem falar no delírio que foi a invenção de Deus e do Diabo.

Assim, considerando que, no ensaio Entre o sagrado e o profano: o interdito ao riso, o historiador brasileiro Antônio Ozaí da Silva propôs uma reflexão crítica sobre o riso, é imperativo e mais do que urgente pensar que, “se não agirmos positivamente, os fundamentalistas de todos os credos e ideologias, no oriente e/ou no ocidente, imporão o seu fanatismo e a intolerância. Voltaremos, então, à Idade Média, de onde alguns parecem nunca terem saído ao reencarnarem os espíritos medievais”. A referida reflexão, contudo, proposta pelo historiador, foi motivada por protestos suscitados em alguns recônditos do mundo devido à publicação, em 2006, no jornal dinamarquês Jyllands-Posten, de charges do profeta Muhammad (cerca de 570 – 632 d. C.), nascido em Meca e fundador da religião mulçumana.

O France Soir, por sua vez, que reproduziu as charges, estampou a frase: Sim, nós temos o direito de caricaturar Deus. Concordo. Sem falar que, uma simples frase como essa faz-nos retomar a discussão sobre o direito à liberdade de expressão, “mesmo que isso signifique contrariar uma comunidade religiosa”, disse, à época, um editorial do jornal Folha de São Paulo, que também reproduziu as charges – episódio, aliás, que me faz retornar a Saramago... Alvo de uma avalanche de críticas por ter, em Caim (2009), reescrito, de maneira irreverente, irônica e mordaz, passagens do Gênesis, primeiro livro do Antigo Testamento, Saramago contrariou a Igreja católica, já que, em seu romance, quando não está culpando Deus pelas desgraças da humanidade está questionando a sua existência.

Natural. Afinal, como disse o jornalista e escritor espanhol Juan Arias, o deus de Saramago é o homem, apenas o homem. É como diz um provérbio francês: Des goûts et des couleurs, il ne faut pas discuter. Eu, particularmente, gosto de Saramago, que, por sua vez, considera o Antigo Testamento “uma enxurrada de absurdos”. Agora, quanto ao perdão... Em um dos posts do seu blog, O Caderno de Saramago, ao mencionar o pedido de perdão da Igreja anglicana a Charles Darwin (1809 - 1882), quando das comemorações dos duzentos anos do nascimento do naturalista britânico, o escritor português praticamente sugere que Bento XVI peça perdão a Giordano Bruno, “cristãmente torturado, com muita caridade, até à própria fogueira onde foi queimado”...


Nathalie Bernardo da Câmara

domingo, 16 de maio de 2010

QUE SEJA FEITA A VONTADE DE DEUS?

PARTE I


ALHOS E BUGALHOS




“O Deus bíblico não é de confiança
e a Bíblia é um rosário de incongruências...”.

José Saramago
Escritor português


Confesso que não entendo o tsunami de críticas ácidas ao livro Caim, de Saramago, lançado em outubro de 2009. E não entendo pelo simples fato de que, em sua maioria, tais críticas têm sido feitas por católicos que, aliás, nem sequer leram o livro. Daí, a meu ver, serem críticas inconsistentes, já que são baseadas apenas no fato de o escritor, nas palavras de dom Eurico Dias Nogueira, ex-arcebispo de Braga, em Portugal, ser “ateu confesso e comunista impenitente”, bem como nas opiniões pessoais que ele emite sobre não importa qual tema, mas, sobretudo, os que concernem à política e à religião, nas mais diversas entrevistas que concede, normalmente já provocando o maior estardalhaço, preconceito e discriminação.

Para Saramago, levando em consideração o desrespeito das pessoas, sem falar no alto grau de intolerância, principalmente a dos católicos, em relação a opiniões contrárias as suas, esse tipo de postura, apesar de injusta, é compreensível, já que, para ele, nem os católicos leem a Bíblia. Afinal, segundo o escritor, os textos bíblicos são mal escritos, sendo, para a maioria, um enigma, salvo se houver ao lado um teólogo para decifrá-lo. Daí que, em sua lucidez peculiar, Saramago até entende certos arroubos de ignorância de quem repudia alguns dos seus livros ou mesmo o conjunto da sua obra, mas questiona de qual moral os autores de tais arroubos se revestem para julgar os escritos de outrem, criticando-o negativamente.

Porém, diferentemente da Bíblia, Caim não exige do leitor nenhuma muleta para ser compreendido. A narrativa é fluída, a linguagem clara, direta, sem artimanhas, embora o que incomoda Saramago é o seu livro, que reconstrói passagens do Antigo Testamento, ser visto não como um trabalho literário, mas um caso político-religioso. Além disso, ele espera que a contestação religiosa votada a Caim, um ousado e bem elaborado libelo contra Deus – grafado sempre em caixa baixa no livro –, não se transforme “em insulto ao autor”, visto que o direito à liberdade de opinião e expressão o ampara. Um dos motivos, inclusive, que encorajou Saramago a escrever Caim. Afinal, segundo ele, “já não há fogueiras da Inquisição”.

O curioso é que, apesar de protegido por lei e privilegiado por viver em um período histórico que se supõe de amplas liberdades democráticas, já que ainda existem sociedades dominadas por governantes tiranos e guerras fomentadas por mentes insanas, Saramago também tem sido alvo da ira e da intolerância do político português nascido em Angola Mário David, deputado ao Parlamento Europeu e vice-presidente do Partido Popular Europeu, que, em seu site na internet, alegando vergonha de ter o escritor como “compatriota”, exorta-o, absurdamente, à renúncia da cidadania portuguesa, além de questioná-lo se ele se julga imune a reações contrárias as suas “imbecilidades e impropérios”.

Não satisfeito, o eurodeputado prossegue: “Se a outorga do Prêmio Nobel deslumbrou-o [Saramago], não lhe confere a autoridade para vilipendiar povos e confissões religiosas, valores que, certamente, desconhece, mas que definem as pessoas de bom caráter”. Quanta arrogância! Só que, a meu ver, imagino que o parlamentar disse isso com o único intuito de atrair os holofotes para si, já que, por suas opiniões retrógradas e tacanhas, não deve receber com freqüência – se é que há alguma – atenção ao seu mandato. E ele também não tem autoridade para criticar o livro de Saramago, já que nem sequer o leu: “Não li nem vou ler. Ou é obrigatório?”, ironizou, possivelmente com inveja da mente brilhante do escritor.

Um ignóbil cidadão esse Mário David. Já o nobre Nobel, ao contrário das declarações levianas do parlamentar, não se deixa deslumbrar por honrarias. Afinal, além do radicalismo da sua ideologia, como ele costuma dizer, ou seja, de agarrar as coisas pela raiz, que “para o homem é o próprio homem”, como já dizia o filósofo e economista alemão Karl Marx (1818 - 1883), da sua coerência e sensatez, o que importa, para Saramago, são os seus leitores. Nada mais. A portuguesa Edite Estrela, por sua vez, eurodeputada pelo Partido Socialista, indignada com a declaração de Mário David, disse, em plenário, que o parlamentar “mostrou a sua intolerância e atitude inquisitorial” ao exigir que Saramago renunciasse à nacionalidade portuguesa.

Denunciou, assim, Mário David, esclarecendo qual dos dois atacou a liberdade de expressão. Em outro momento, na Sociedade Independente de Comunicação de Portugal, ao debater com o padre e teólogo Joaquim Carreira das Neves, o maior estudioso português da Bíblia, Saramago esclareceu que nunca pensou em renunciar à cidadania portuguesa. À oportunidade, aproveitou, ainda, para propor a inclusão de dois novos direitos à Declaração Universal dos Direitos Humanos: o direito à dissidência e à heresia, embora ambos os direitos propostos pelo escritor já estejam contemplados nos artigos XVIII e XIX do referido documento, os que se referem as liberdades fundamentais.

Quanto à insólita rapidez de representantes da Igreja católica nas críticas a Caim, a imprensa quis saber a opinião de Saramago a respeito. Sem rodeios, como é do seu feitio, o escritor disse: “O que me surpreende é a frivolidade dos senhores da Igreja”, que, segundo ele, derramaram-se “em opiniões e desqualificações, tanto da obra como do seu autor. Como falta de seriedade intelectual, não se poderia esperar pior. Compreendo que tenham de ganhar o seu pão, mas não é necessário rebaixarem-se a este ponto” – opinião que, com certeza, cai como a uma luva para uma declaração de Carreira Neves, que, apesar de fã da literatura de Saramago, considera-o um “gato fedorento a brincar com a Bíblia”.

Porém, mantendo-se firme em suas posições, o escritor não hesitou em dizer que quem lê a Bíblia, “um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana”, perde a fé, ressaltando que, sem o livro considerado sagrado, “seríamos outras pessoas, provavelmente melhores”. E afirma: “Não percebo como é que a Bíblia se tornou um guia espiritual”. Para ele, o leitor, lendo os textos bíblicos, encontra-se “com o desastre, digamos, do alargamento da influência do cristianismo”, que promoveu crueldades e carnificinas: “É uma verdade inquestionável”, que “custou cidades destruídas, milhares de pessoas degoladas, queimadas... As Cruzadas foram qualquer coisa que a Igreja [católica] devia pedir perdão!”.


Nathalie Bernardo da Câmara

terça-feira, 11 de maio de 2010

EU VOU, EU VOU
PRA PORTUGAL, EU VOU!



“Deus é o silêncio do universo
e o homem o grito que dá sentido a esse silêncio...”.

José Saramago
Escritor português


Bento XVI até que escolheu um bom período do ano para ir a Portugal: Primavera... Legal! E terá feito uma outra boa escolha se levou na mala o chapéu com o qual está na fotografia. Da sua coleção, é, particularmente, o que eu mais gosto. Sério! Não é deboche, já que, além de exótico, o chapéu é de bom corte e até rejuvenesce o religioso. Dá brilho, luz. Ele fica até bonitinho! Deve ter custado caro... Agora, pena que ele não tenha viajado de férias. Pelo que eu soube, foi a trabalho e, em sua agenda, dentre os assuntos a tratar em Portugal, consta o divórcio e o aborto. Isso sem falar na possibilidade de, como de hábito, ele denunciar o uso de preservativos...

Aí, caro padre – falando sério –, não tem mais quem agüente! É sempre a mesma coisa, onde quer que vá... Logo o senhor, um homem tão culto, poliglota, podendo falar de outros temas, sobretudo mais pertinentes. Afinal, bagagem intelectual para isso não lhe falta. Enfim! Só tenho a lhe desejar boa permanência em terras lusas e, se, por um acaso, por essas paragens, esbarrar com Saramago, não o evite. Ele é um homem de bem, do bem e, como o senhor, domina todo tipo de assunto, ou seja, não deixa ninguém entediar-se, e, portanto, aproveite a oportunidade para convidá-lo a tomar um café, sem esquecer de dizer que lhe mandei aquele abraço!


Nathalie Bernardo da Câmara

sábado, 1 de maio de 2010

VIVER:
O PIOR DOS TRABALHOS...


“São aqueles com quem vivemos e que amamos
que sabem como nos enganar...”.

Norman Maclean (1902 - 1990), escritor norte-americano



Tudo o que se faz obrigado, inclusive feriar, não é legítimo e, portanto, não merece consideração. O que dizer votar só porque se é obrigado? Mas, bom... Hoje, parece, é o Dia Mundial do Trabalho, que, dizem, foi instituído em 1889, durante um congresso socialista realizado em Paris – tinha de ser! Dizem, também – não quero nem saber a autoria da frase –, que o trabalho dignifica o homem, embora uma outra criatura tenha dito que é o homem quem dignifica o trabalho. Quanta perda de tempo! Afinal, não dizem, igualmente, que a ordem dos fatores não altera o produto? Mas, para não ficar parecendo que eu não estou nem aí para tão honrosa data - como se eu me importasse com isso -, dedico esta homenagem, digamos assim, a um trabalhador de extrema sensibilidade e profissionalismo, que é o ortopedista que, outro dia, me atendeu, porque consultar que é bom, nada! E só não digo o nome do santo porque, ao contrário dele e da minha ironia habitual, tenho o péssimo hábito de ser ética.

O fato é que, no início de abril, após dias e noites a escrever, quase devorando o teclado do meu computador, senti uma dor assombrosa no braço esquerdo, estendendo-se ao peito, tudo indicando, pelo menos para mim, que certos músculos estavam gritando. Como tenho Lesão por esforço repetitivo - LER nos dois braços, já tendo o problema, inclusive, atingido ambas as omoplatas, devido o uso indiscriminado do computador – antes era o da máquina de escrever, manual, e, antes desta, o das próprias mãos –, ao longo de mais de trinta anos, achei que era uma crise aguda decorrente da lesão e solicitei a um ortopedista, não o do qual pretendo falar, mas outro, um relaxante muscular alopata – coisa que só faço no extremo dos extremos, porque sou homeopatizada desde criança e, para mim, a homeopatia é a solução para todos os nossos problemas. Que o diga o meu estimado Hahnemann (1755 - 1843), o seu fundador e por quem nutro verdadeira consideração.

Ocorre que, durante o período em que tomei o medicamento alopata, que faço questão de dizer o nome, ou seja, Sirdalud, à base de cloridrato de tizanidina, 2 mg, com posologia recomendada de oito em oito horas, fabricado pela empresa Novartis e vendido só sob precrição médica, algo extremamente estranho, fora da aparente normalidade, aconteceu comigo. Além do distúrbio em meu sono, da sonolência e sabe-se lá mais o quê que deve ter me passado despercebido, atribuídos aos efeitos colaterais da droga, o meu braço, o mesmo que, dolorido, me fez pedir ao ortopedista um remédio para dor, desatou a manifestar incongruências, mas, sobretudo, na mão e nos dedos. Inicialmente, nem dei atenção, relevei, porque o incômodo, se é que posso chamar falta de sensibilidade no dedo mindinho esquerdo de incômodo, não me incomodava em nada, apenas estava lá, em nada me impedindo de escrever. Só que, para engano meu, a tal da falta de sensibilidade no mindinho foi, simplesmente, apenas o primeiro dos sintomas de algo que, depois, revelou ser mais complexo.

Assim, achando que era só mais uma crise de LER, fui levando. Dias se passaram e, de repente, na cozinha, ao cortar alguns legumes, dei-me conta de que estava sem a força habitual no braço, deixando derrapar uma cebola, uma batata, um chuchu... Para piorar, nesse mesmo dia, lá por volta da meia-noite – nem lembro mais o movimento que fiz diante do computador –, percebi o enrijecimento do meu dedo anular esquerdo. Como sou formada em jornalismo e – digamos – aprendiz de escritora, não tendo o maldito dom de escrever, que, aliás, nos leva a tecer escritos até então impensados, inclusive este post, para falar de um infeliz, impossível chegar, de imediato, a um diagnóstico. Desse modo, nem pensei duas vezes: corri para o hospital, em busca de um neurologista, acreditando que poderia estar desenvolvendo um Acidente vascular cerebral - AVC. Não, não pensem que sou hipocondríaca. Acho, apenas, que cada um tem a sua devida função nesta uma das faces da terra.

Ou melhor, do universo. Daí nunca me atrever a falar ou versar sobre algo que não tenho conhecimentos para tal. E, se procuro um especialista é porque – convenhamos –, como o nome já o diz, a criatura é um especialista, não importa a sua área de atuação. Além disso, por ser adepta da homeopatia, sou, portanto, um ser humano consciente e saudável, com imunidade de sobra, anualmente fazendo as mais diversas prevenções exatamente para não adquirir doenças, ou melhor, indigestos contras-tempo, defendendo a tese de que para todo problema existe uma causa. E é exatamente na causa que devemos buscar a solução para um dado problema. Bom... O neurologista que me consultou, após uma série de exames, deixou-me tranqüilizada, esclarecendo-me que a sintomatologia que eu apresentava não era a de nenhum tipo de AVC, mas que eu procurasse meu neurologista e fizesse um determinado exame.

Foi o que fiz e, dias depois, já de posse do resultado do tal exame, tentei marcar uma consulta com o ortopedista que o meu neurologista me indicou – o dito cujo de quem quero falar, especialista em pé, a quem, inclusive, eu deveria aproveitar a oportunidade e mostrar o meu tornozelo direito, que, ainda no carnaval, quando eu estava fazendo uma fotografia, teve, em função de uma pisada em falso, um rompimento em um dos seus ligamentos. Então... Após mais de três semanas tentando marcar uma consulta, inclusive implorando junto as atendentes/telefonistas, para, se possível, ser encaixada entre uma consulta e outra, já que – parece – ele é muito solicitado, eis que, finalmente, o homem resolve me atender. Ou melhor, me encaixar. Assim, encaixada, eis que, depois de esperar um tempo sem fim na sala de espera para ser atendida, apesar de ser hora marcada, uma porta abre-se, diante de mim, e, ao invés do médico, a primeira coisa que me chama a atenção, são diplomas.

Sim, os meus olhos, possivelmente refletindo certa perplexidade, se depararam com diplomas de não sei o quê pendurados em uma das paredes do consultório. Já achei estranho... Afinal, além de careta, não se usa mais esse tipo de artifício para alguém se afirmar, atestando que é bom nisso ou naquilo. Em minha opinião e acho que na da maioria das pessoas, é muita pretensão ou ignorância alguém, em pleno séc. XXI, achar que um diploma, ainda mais pendurado em uma parede, aos olhos de todos, seja comprovante de capacidade para alguma coisa. Esse cara, sem sombras de dúvidas, ou é narcisista ou teve um pai tirano, que, a todo custo, exigiu, ou melhor, cobrou do infeliz um diploma. No caso, o diploma de médico ortopedista e, aparentemente, especialista de pé. Digo aparentemente porque – tirando o problema do braço –, em menos de cinco minutos de atendimento, sem nem analisar o inchaço do meu tornozelo, ele já foi imprimindo uma receita de medicamentos para ambos, braço e pé.

Até então, ele só tinha lido o laudo do exame feito na clínica do meu neuro para o problema relacionado ao braço. Só que... E o meu tornozelo? Segundo o suposto mago, os medicamentos serviam para os dois problemas. Obviamente que pensei: “Esse cara é doido!”. E questionei. Na medida do possível. Infelizmente, pura perda de tempo. O meu. Porém, o pior viria depois. Após ter lido o tal laudo, o infeliz disse que o problema do meu braço era, simplesmente, uma tal de Síndrome do túnel cubital. E pronto! Assim, interrompendo a sua eloqüência, perguntei quais seriam as causas para um problema dessa natureza. Para minha surpresa – outra –, o douto disse não saber, comparando a sua função a de um engenheiro, dando, inclusive, um exemplo para isso. Ou seja: quebra-se um cano, troca-se o cano. Retruquei, querendo saber se, na condição de especialista, como ele, antes de trocar o cano, supostamente representando um braço, não ia atrás das causas que fizeram o cano ser trocado?

Só que, aumentando ainda a minha perplexidade, o infeliz respondeu que, para ele, as causas da corrosão, digamos, do cano, no caso do braço, não passavam de mero detalhe. Ora, dizer isso para uma pessoa que acredita piamente na homeopatia, que, aliás, concentra-se, sobretudo, nas causas e não no problema, é como se você dissesse para um padre pedófilo – já que também estamos falando de pé – que ele não poderia mais ser confessor de uma criança. É demais, como se eu fosse idiota para não perceber o seu charlatanismo! E isso porque o meu plano de saúde pagou o atendimento. Imaginem se eu tivesse pago em espécie! Aí, seria duplamente idiota. Só que, para completar, achando pouco todas as asneiras que disse, o jovem anotou em um papel o nome de outro suposto especialista, só que em mãos, a fim de eu procurá-lo, sugerindo, ou induzindo, para o meu caso, uma cirurgia. Não satisfeita, insisti em querer saber as causas que poderiam ter motivado o problema.

O médico? Levantando-se com um monte de papel em mãos, incluindo uma receita grampeada a uma propaganda de uma farmácia de manipulação - observei todos os seus passos -, já praticamente obrigando-me a aviar os medicamentos nela, dirigiu-se à porta. Eu? Sentada estava, sentada fiquei. E disse que não sairia enquanto ele não analisasse o meu pé, a sua especialidade. Assim, tirei a sandália, arregacei a calça e coloquei o meu pé em cima de uma cadeira, fazendo-o, a contragosto, ver o meu tornozelo. Pensam que mudou alguma coisa? Rien de tout! E fui obrigada a resignar-me, dirigindo-me à porta que ele me abria. Só que, antes de cruzar a soleira, voltei-me e perguntei se ele tomava guaraná em pó, embora a minha vontade fosse a de perguntar se ele cheirava cocaína. Surpreso com a minha pergunta, ele disse que não, ficando parado, a me olhar, como se quisesse saber o motivo do questionamento. Odiando aquele nosso encontro, eu disse que o achava muito ligado, que ele fosse mais atento com os seus pacientes.

Óbvio que não preciso dizer a cara de indignação e ódio que o médico fez. Mas, não pensem que fiquei p da vida com ele não. Nunca! Só constatei um fato. Simples. Afinal, para isso, sou especialista, já que essa é a função do jornalista, ou seja, constatar fatos. E, em minha opinião, o médico em questão é uma fraude. Tanto que, apesar de ele ter dito que eu voltasse lá daqui a dois meses para ver o meu tornozelo, nem quero mais vê-lo. E vou denunciá-lo ao meu neuro, que o indicou, embora devesse era denunciá-lo ao conselho regional de medicina. Ah! Antes que eu esqueça... Não vou aviar os medicamentos, um via oral e outro tópico, na farmácia que o ortopedista sugeriu, já que tudo o que vier dele não chego nem perto. Com exceção do especialista em mãos, que ele me indicou, para outra avaliação do meu braço, que espero não ser também um picareta. Mas, diga-se de passagem, só vou para ter outra avaliação sobre o meu braço, mão e dedos.

Ah! Além disso, vou reportá-lo do atendimento do seu colega dito especialista em pé. O engraçado, contudo, é que esse episódio fez-me lembrar de um depoimento da minha querida Lygia Fagundes Telles, que, aliás, já tive a honra de entrevistar. Ela disse: “Eu acho a loucura extraordinária. Nós somos razoavelmente loucos, todos nós. Eu acho isso ótimo. (...) Eu fiz análise. Um dia eu fui num cara e tal, eu estava muito aflita e, quando eu percebi, ele tinha mais medo, estava mais aflito do que eu. Eu fui lá para falar sobre o meu problema e ele acabou chorando, porque a sua mulher estava com câncer. Uma história horrível. Então, eu saí de lá, paguei uma nota alta, fui para a rua e disse: 'Olha, eu tenho de me virar eu mesma, porque eu já entendi tudo. Eu tenho de me virar mesmo...'”. Ah! Quem quiser ler a entrevista na íntegra, que, inicialmente, foi publicada no extinto Pasquim 21, em abril de 2003, ela está em meu blog, mais precisamente no link:

http://abagagemdonavegante.blogspot.com/2009/07/do-bau_30.html

Enfim! Para finalizar, gostaria de dizer que, se o ortopedista não foi capaz de me dizer as possíveis causas do meu problema, muito menos de explicá-lo, embora, necessariamente, não seja preciso uma intervenção cirúrgica para solucioná-lo, ainda mais sendo um transtorno tão comum, segundo ele, pesquisei na internet a respeito e, graças a uma revista médica virtual, fiquei sabendo que a tal da síndrome do túnel cubital “é o resultado da compressão do nervo ulnar, um dos principais nervos da mão, quando ele passa pela parte interna do cotovelo. Esta compressão pode ocasionar dor na mão e no cotovelo, diminuição de força na mão, adormecimento ou sensação de formigamento nos dedos anular e mínimo”. O nervo ulnar, por sua vez, “em seu trajeto pelo membro superior, pode sofrer compressão em vários níveis, sendo o cotovelo o local mais freqüente. A síndrome do túnel cubital, como é denominada essa alteração, é a segunda neuropatia compressiva mais comum do membro superior”.





Infelizmente, continuo sem saber se foi ou não o relaxante muscular que provocou tal agonia, embora eu ache que sim, porque, um dos seus efeitos colaterais é um tal de Distúrbio músculo-esquelético. Olhem o nome! E quem me explicaria que diabo é isso, ou seja, as causas do meu problema? Acho até que fizeram macumba para mim. Sim porque meu inferno astral já passou. Ou será que, ao invés de mensal, porque, segundo dizem, tudo de ruim acontece no período do inferno astral, o maldito virou anual?


Nathalie Bernardo da Câmara


P.S .: Dedico este post a minha irmã Tereza, educadora, que insistiu para eu não deixar passar em branco data tão memorável, atrasando, inclusive, para escrevê-lo, outros posts em elaboração, cujos temas, para mim, são mais interessantes. Ah! Ela, a minha irmã, entrou, inclusive, para as estatísticas da área da saúde, por, outro dia, ter contraído dengue - coisa de Terceiro Mundo - e, sendo o primeiro caso em seu bairro, foi solicitada para ir a Secretaria de Saúde do município de Natal, onde ela mora, para fazer um exame, comprovando o problema e, para seu bel prazer, fazer parte das estatísticas. O fato é que, por causa disso, o bairro no qual ela mora receberá a visita, sempre necessária, de um carro fumacê – acho que se escreve assim –, a fim de “espantar” os mosquitos da dengue na região. E tenho dito!