domingo, 23 de maio de 2010

QUEM OFUSCA QUEM?



“É mais fácil mudar a natureza do plutônio
do que mudar a natureza maldosa do homem...”.

Albert Einstein (1879 - 1955)
Físico alemão, Prêmio Nobel de 1921




Recebo uma ligação: “Onde você está?”. Diante do inusitado da pergunta, como se a criatura não soubesse exatamente onde eu estava, achei melhor me situar. Para não ter dúvidas, olhei para um lado, olhei para o outro... O fato é que, hoje, quase mais ninguém diz alô nem pergunta como você vai. Já vão querendo saber onde você está! E tudo é celular, que, aliás, deveria ser chamado de coisa, já que – convenhamos – possui três características que o fazem um superdotado, que são: a onisciência, a onipresença e a onipotência. Ou seja, o celular sabe tudo, está ao mesmo tempo em toda parte e pode tudo. Estou enganada?

Enfim! Respondi onde estava. “E fazendo o quê?”, o meu interlocutor prosseguiu. Eu disse que estava no computador, escrevendo, revisando uns escritos, lendo... E lá vem cobrança! Como é que – questionou –, se eu estava na dita Cidade do Sol, em uma manhã ensolarada de domingo, preferia ficar em casa, perdendo o meu tempo a escrever e a ler, ao invés de estar na praia, pegando sol, tomando banho de mar? Bom! Já que, na opinião da pessoa, eu estava perdendo o meu tempo, e ela, ainda, me tirando a concentração, aproveitei o ensejo para também perder a paciência.

Sim, porque – não é de hoje –, se muitos têm o péssimo hábito de não respeitar as preferências do outro, não via motivo algum para prolongar aquele diálogo, mais improfícuo, aliás, do que discurso de político. Assim, tentei explicar, embora a criatura também já o soubesse – só gastei o meu latim –, que nada é mais desagradável do que estar em um lugar por contingências; segundo, nunca gostei de sol nem sou vegetal, não necessitando, portanto, de fotossíntese para viver, muito menos de tanta luminosidade, que só agride a retina, sem falar nos riscos, ao se expor aos raios ultravioletas, de adquirir melanomas.

Terceiro, não suporto calor – me dá mal-humor; quatro, tomar banho de mar em águas comprovadamente poluídas não é, de fato, uma das coisas que aprecio – a não ser que eu quisesse adquirir anticorpos, que não é o caso. Por fim, não sou chegada à multidão, ruído, trânsito, nenhum tipo de poluição. No caso, sonora e humana. É como diria um amigo: dois, para mim, já é assembléia. Lá pelas tantas, enfim, o papo agradável diluiu-se e retornei aos meus afazeres. De repente, veio-me, de súbito, uma questão: Quem ofusca quem, afinal? O Sol ofusca a Terra ou é a Terra quem ofusca o Sol?

Uma pergunta idiota, eu sei, mas a formulei para mim mesma. Afinal, para os ambientalistas, é a Terra, ou melhor, os seus habitantes, com a sua ganância desenfreada, quem ofusca o Sol, provocando, inclusive, o seu aquecimento, que, por sua vez, desencadeia uma série de outros problemas. Porém, se pararmos para pensar, a conclusão será a de que é o Sol quem, arrogantemente, por ser o centro do mundo – e só sabemos disso devido à teoria heliocêntrica do astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473 - 1543) –, ofusca a Terra, pondo-se no caminho das benéficas conquistas do ser dito humano.

Sim, o Sol é a própria personificação do mal, já que, negativamente, reage aos avanços dos terrestres, que, ao contrário do que dizem os ambientalistas, estão evoluindo. Querem algo mais evolutivo, por exemplo, do que emitir gás carbônico na atmosfera? Por essas e outras ações, portanto, considero até um impropério dizer que, por excelência, os humanos são predadores do seu habitat, ameaçando a sua própria sobrevivência. Que nada! Eles só querem crescer e multiplicar. Nada de diminuir. Há algo errado nisso? Eu creio que não, já que o progresso é a busca pelo bem-estar. Não se constitui em um crime.

Errado agiu quem construiu – deve ter sido um engenheiro de quinta! – a camada de ozônio tão mal construída. Daí o seu famoso cisma. O ser humano, por sua vez, é perfeito em tudo o que faz. Quando, por exemplo, ele constrói uma estrada, uma ponte ou um edifício não comete atos falhos. O que dirá de uma plataforma de petróleo, de uma hidrelétrica! E nunca, nunca mesmo – eu garanto! –, devastou a Mata Atlântica. Nem sequer está repetindo o gesto com a Amazônia. Todas as acusações, aliás, nesse sentido, não passam de calúnias. Afinal, o ser humano é de uma decência sem tamanho. Tudo de bom!

Tanto que, quando eu crescer, quero ser igual a ele, o ser humano – exemplo dos melhores dos bons exemplos. Falando nisso, veio-me, agora, à mente, a 15ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas - ONU (COP15), que aconteceu em dezembro do ano passado, em Copenhague, na Dinamarca. Reunindo líderes mundiais de quase duzentos países e que tinha como objetivo encontrar medidas para frear o aquecimento global da Terra, o evento foi inútil. Melhor, desastroso. Daí que, se dependermos dos nossos governantes, estamos, inexoravelmente, condenados ao desastre.

Inoperância, para eles, na questão ambiental, por exemplo, é lugar-comum. E digo isso tendo como referência a pérola proferida por Dilma Rousseff, candidata à presidência do Brasil, na condição de chefe da delegação brasileira no evento: “O meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”. Senti até vergonha quando ouvi isso. Então... Um humano pode até tentar domar outro humano, mas ninguém doma a natureza. É como diria Goethe (1749 - 1832), escritor alemão: “A natureza reservou para si tanta liberdade que nunca poderemos penetrá-la completamente com o nosso saber e a nossa ciência”. Ainda bem!


Nathalie Bernardo da Câmara



P.S.: Gostaria de dizer para o autor da ligação, que eu recebi em meu celular, que até gosto de um banho de mar, apesar da poluição das suas águas, mas que o tempo esteja nublado. Quanto ao ser humano, nunca vi coisa tão sensível! Ou melhor, para rimar, desprezível...

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