terça-feira, 7 de setembro de 2010

SONHOS? FOI-SE O TEMPO!
NULAS AS ESPERANÇAS...


“Só sei que nada sei...”.

Sócrates (470 - 399 a. C.)
Filósofo grego



2010. Ano de eleições no Brasil, cujo povo, o eleitor, anda mais perdido do que apostador principiante do jogo do bicho. Afinal – convenhamos –, os candidatos a deputado estadual, distrital - no caso do Distrito Federal - federal, governador, senador e presidente, que ora ocupam espaços da propaganda eleitoral gratuita, sobretudo na televisão, se assemelham mais a mais bizarra das faunas, desrespeitando, com as suas performances, até o mais instruído dos eleitores. Sim, porque formular uma frase corretamente, que é bom, nem pensar! Articulá-la com precisão, então... Uma vergonha. E eles, os candidatos, ainda pedem voto. É uma mendicância total! Todos mendigando voto.

Nossa! Voto não se pede. Conquista-se. Tanto que, após uma explanação de motivos, a maioria mirabolante, para se tentar justificar o fato de estarem pleiteando tal ou qual cargo, é mais ou menos assim que muitos dos candidatos concluem as suas falas: — Por isso, eu peço o seu voto. Outros, contudo, já começam dizendo: — Eleitor, eu peço o seu voto porque (e, por aí, vai)... Sem falar que têm aqueles que ainda dizem: — Minha amiga, meu amigo: sem o seu voto, não poderei (etc)... Ninguém merece! Porém, o curioso é que, quando eleitos e tomado posse dos seus cargos, os ex-candidatos – ex-mendicantes – transformam-se da água para o vinho. Tornam-se arrogantes, como se fossem mais soberanos do que a própria Constituição brasileira.

O pior é que, invariavelmente, esquecem aqueles que, ludibriados por um proselitismo eleitoral, os elegeram. Aí, das falcatruas verbais – as promessas feitas nas campanhas –, passa-se as falcatruas manuais, já que, tão logo podem, os eleitos correm para assinar decretos, medidas provisórias ou outro absurdo qualquer. O lamentável é que tais leis apenas os favorecem, em detrimento do povo, que fica à mercê de programas ditos sociais, meramente assistencialistas, como se isso fosse a salvação da lavoura, mas que é, apenas, um paliativo. Até quando essa farsa? E não estou defendendo candidato algum – não me compete –, mas, simplesmente, propondo uma reflexão diante de um cenário político tão deprimente.

Afinal, quem conhece a História do Brasil sabe que, desde os seus primeiros desbravadores, em 1500, até os dias de hoje, não houve muita mudança em relação à situação dos governantes que já passaram e continuam passando pelo poder na tão decantada Terra dos Papagaios. Daí que, no frigir dos ovos, chegamos à conclusão de que, de fato – infelizmente –, o poder corrompe a maioria que, amparada pela dita legitimidade do voto que o elegeu, o detém. E, sinceramente, nunca vi um governante que, realmente, tivesse pulso forte para implementar mudanças estruturais necessárias para que, enfim, possamos dizer que vivemos em um país democrático, ou seja, em um regime democrático de direito.

O curioso é que, quando escrevi a palavra implementar, o dicionário do computador recusou o verbo transitivo direto, dizendo que o mesmo não existe. Vai ver que é por isso que os políticos nunca implementam mudanças de estrutura que, enfim, eliminem as desigualdades sociais – eles nem sequer as vislumbram. E nem poderiam, porque, caso o fizessem, perderiam, inevitavelmente, os privilégios que o poder, equivocadamente, confere. Por isso que a tão ambicionada sociedade justa e igualitária resume-se a uma utopia – ninguém pode ser livre passando privações. E, assim, continuamos em um faz-de-conta – tipo um filme de quinta – onde, por exemplo, os discursos dos candidatos, durante as campanhas eleitorais, diferem em quase nada.

O fato é a maioria dos discursos ser indecente e o compromisso com a ética – em extinção –, que deveria ser condição sine qua non para as candidaturas serem aceitas pelos tribunais eleitorais, nunca é posto em questão. Afinal, a gestão pública é algo sério, mas muitos fazem caso disso e é daí que advém a corrupção, as acusações por improbidade administrativa, os escândalos nos governos, seja em âmbito municipal, estadual ou federal. O projeto Ficha Limpa, por sua vez, aprovado este ano pelo Congresso Nacional, propondo critérios mais rígidos para o registro de candidaturas, ainda não é a solução para evitar que canastrões demagogos candidatem-se e, de repente, sejam eleitos.

Sem falar que muitos políticos terminam fazendo da política uma carreira. Assim sendo, que sejam criados cursos de graduação para que isso se efetue. Afinal, para alguém se tornar um engenheiro, um médico ou um jornalista, por exemplo, se requer anos de estudo em uma universidade. Tal exigência, portanto, deveria ser extensiva para quem ambiciona seguir o ofício de político, já que, nos bancos da universidade, eles teriam a oportunidade para aprenderem conhecimentos vários: ética, moralidade, decência, gestão pública etc – coisas que, não é de hoje, poucos sabem do que se trata. Quanto ao quesito consciência... Infelizmente, essa, nenhuma universidade é capaz de legar, pois consciência se adquire. Ou não.

Outro aspecto, contudo, que me preocupa, é o vice. E, no caso das eleições deste ano, o vice de um candidato a governador e a presidente. Vejamos... A maioria dos eleitores não atenta para o vice. Só que, caso o governador ou o presidente eleito fique, por algum motivo, impossibilitado de governar, quem assume? O vice, mas, quem é o vice? Qual o seu passado político, por exemplo? Isto é, quando ele tem um. Desse modo, é importante levar em consideração não apenas o histórico dos candidatos a governador e a presidente, mas, também, o dos seus vices, alguns escolhidos apenas em função de certas exigências das coligações feitas pelos partidos que apóiam os candidatos a governador ou a presidente.

Algo que também me indigna é a maioria dos candidatos não utilizar os espaços garantidos a sua propaganda eleitoral gratuita para informar o eleitor sobre a sua plataforma de governo. Ao contrário! Cada um fica comparando as suas ações – quando elas existem – com a de outros candidatos. Isso quando não ignoram as suas próprias propostas, sem divulgá-las, perdendo, inclusive, o tempo que lhes é destinado, porque se limitam a criticar, negativamente, os adversários, explorando, muitas vezes, detalhes da sua vida pessoal. Atitude mais sórdida não poderia haver, pois se os candidatos que, ainda nas eleições, já se revelam inescrupulosos, imaginem como atuarão ao serem eleitos e assumirem o poder!

Ética, que é bom, nada... Enfim! Em pleno séc. XXI, o Brasil insistir na obrigatoriedade do comparecimento as urnas, é dose! Isso não é – convenhamos – uma prática de governos que se dizem democráticos, mas de governos totalitários, quando, a bem da verdade, o ideal é o que se chama de voto facultativo. Ou seja, o cidadão sairia de casa para comparecer à urna e votar em tal ou qual candidato se quisesse. Não porque é obrigado por lei. Afinal, não há nada mais indigesto do que fazer algo só porque se é obrigado. Assim, o cidadão termina sendo refém de uma legislação démodée, caduca por excelência, que, aliás, deveria ser revista e reelaborada, sendo substituída por outra mais moderna. E é isso!

Nathalie Bernardo da Câmara

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