sexta-feira, 8 de outubro de 2010

UM ESPECTRO RONDA A CHINA:
O ESPECTRO DA PAZ...



“É loucura o carneiro promover uma conferência de paz com o lobo...”.

Thomas Fuller (1608 - 1681)
Historiador britânico

De nada adiantou o recrudescimento da pressão exercida pelo governo chinês – leia-se Partido Comunista da China – para tentar evitar que o dissidente político chinês e critico do sistema de partido único Liu Xiaobo, 54, fosse laureado com o Prêmio Nobel da Paz de 2010 pela sua não-violenta luta pelos direitos humanos na China. A decisão, apesar dos protestos e das ameaças do governo chinês, foi anunciada nesta sexta-feira, 8, por Thorbjoern Jagland, presidente do Comitê Nobel em Oslo, capital da Noruega, que justificou a decisão, que relaciona direitos humanos e paz, dizendo que, antes de ser tomada, ela foi largamente analisada, considerando, sobretudo, que, “nas últimas duas décadas, Liu foi um grande porta-voz em favor da aplicação dos direitos fundamentais na China”, que, inclusive, por ser a segunda maior economia mundial, deveria assumir “mais responsabilidades” devido a seu cada vez mais importante papel no cenário internacional.

Em entrevista, o Dalai-Lama, chefe espiritual dos tibetanos, já contemplado, inclusive, com o Nobel da Paz, em 1989 – decisão que, à época, também foi duramente criticada pelo governo chinês, pois é considerado um separatista –, afirmou que o reconhecimento à causa de Liu irá, de certa forma, levar a China a iniciar reformas no país. A organização de direitos humanos Anistia Internacional, por sua vez, igualmente laureada com o mesmo prêmio em 1977, além de solidarizar com Liu, disse que a premiação “coloca em evidência as violações de direitos na China” e clamou ao governo chinês para que liberte todos os prisioneiros políticos detidos no país, inclusive o próprio Liu, que, condenado em 2009 por subversão, se encontra, desde então, nas masmorras do regime comunista chinês – menos, camaradas, menos. Não é assim que se conduz uma nação nem, muito menos, se conquista a democracia.

Considerado a voz contra a censura na China e o fim da ditadura no país, Liu é escritor e professor de literatura, sendo o primeiro cidadão chinês a receber um Nobel. Para Kristian B. Harpviken, diretor do Instituto de Pesquisa da Paz - Prio, com sede em Oslo, acredita que o Nobel representa uma severa crítica ao governo chinês. “E lançaria luz sobre a restrição à expressão, à representação política e aos direitos humanos. Espera-se que tal prêmio instigue forte reação de Pequim”...



 



Já dizia o músico alemão Sebastian Bach (1685 - 1750):

“Se eu decidir ser um idiota,
serei um idiota com acorde próprio...”.







Enquanto isso, na Bolívia...



“A liberdade de expressão é apanágio da condição humana
e socorre as demais liberdades ameaçadas, feridas ou banidas.
É a rainha das liberdades, disse Rui Barbosa [(1849 - 1923)]...”.

Ulysses Guimarães (1916 - 1992)
Político brasileiro desaparecido


Como se vê, a liberdade de expressão é um tema que, parece, nunca sai de pauta. E não apenas na China comunista, mas no mundo inteiro. Tanto que, em protesto a dois dos artigos de um projeto de lei contra o racismo, de iniciativa do governo do presidente Evo Morales, já que eles atentam contra a imprensa e a liberdade de expressão, prevendo sanções econômicas e suspensão de licença de funcionamento dos meios de comunicação, que, caso publiquem conteúdos que possam ser considerados discriminatórios pelo governo, poderão ficar sujeitos à regulamentação, os mais expressivos jornais bolivianos têm chegado as bancas e aos assinantes com as suas respectivas primeira página praticamente em branco, sem as notícias habituais, se limitando, apenas, à estampar a frase: “Não há democracia sem liberdade de expressão”.

A atitude dos donos dos jornais, entretanto, de tornar público o drama em questão, foi duramente criticada por Morales, que os acusou de racistas por se manifestarem contra um projeto de lei que consiste exatamente em combater o racismo. O diretor-executivo da Associação Nacional de Imprensa - ANP, Juan Javier Zeballos, por sua vez, argumentou que os jornalistas “não estão protestando contra a lei contra o racismo e a discriminação, mas não podemos conceber que uma lei tão nobre possa coibir um direito fundamental como a liberdade de expressão”. A exceção entre os jornais que trouxeram a mensagem de repúdio ao projeto lei de Morales foi o La Razón, que optou por protestar em seu editorial. Além disso, cerca de sessenta jornalistas decidiram radicalizar e optaram por uma greve de fome, ignorada, inclusive, por Morales.

O pior é que, não satisfeito com os ataques aos jornalistas, aos veículos de comunicação e aos seus donos, Morales também repudiou os bispos católicos solidários com a imprensa, já que eles passaram a alertar que, com a promulgação da lei, assinada, aliás, nesta sexta-feira, 8, será inevitável a supressão da sua liberdade de expressão. Segundo os bispos, a lei fará desaparecer “o exercício democrático” e a opinião pública passará a ser assunto de Justiça, visto que “a discussão dos diferentes pontos de vista de uma sociedade” é vista como “fator de equilíbrio social”. Preocupado com os rumos da Bolívia, o diretor-executivo da ANP abriu uma queixa à Organização dos Estados Americanos - OEA contra a lei promulgada por Morales, e tudo indica que, neste sábado, 9, ele também apresentará uma outra à Organização das Nações Unidas - ONU.


P. S.: Diante de um cenário tão desolador, parece que, no que concerne à paz, os bolivianos, agora, mas sobretudo a imprensa, caso não haja uma solução para tão grave impasse com Morales, que fez a Bolívia retroceder no tempo, terão de se contentar com o nome da capital do seu país, ou seja, La Paz, coisa, aliás, que, de há muito, eles até que procuram, mas não acham...
 


Nathalie Bernardo da Câmara






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