sábado, 9 de abril de 2011

PSICOPATIA:
MALDADES A 3x4


“Concordo plenamente quando alguns autores, de forma metafórica, dizem que os psicopatas entendem a letra de uma canção, mas são incapazes de compreender a melodia...”.

Ana Beatriz Barbosa Silva


Psiquiatra brasileira, em comentário acerca de uma declaração de uma das maiores autoridades canadenses em psicopatia, o também psiquiatra Robert Hare, a respeito do papel da razão e da emoção na vida dos psicopatas.




Na última quinta-feira, 7, uma tragédia abalou o Brasil, alcançando, por suas dimensões, repercussão internacional: um jovem brasileiro Wellington Menezes de Oliveira, de apenas vinte e três anos de idade, invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e, aleatoriamente, disparou cerca de sessenta tiros contra alunos do estabelecimento de ensino. O saldo do atentado? Doze mortos, sendo que, dos mais de dez alunos feridos, três encontram-se hospitalizados em estado grave. Alvejado pela polícia, o assassino, um ex-aluno da escola, se matou em seguida. O triste episódio, portanto, por sua gravidade, tem gerado uma série de polêmica, na mídia e alhures, não apenas devido à exposição da precariedade da segurança nas escolas brasileiras, mas, sobretudo, ao comportamento demasiadamente violento do atirador.

Diferentemente, por exemplo, do diretor da escola onde os adolescentes foram brutalmente atacados, ou seja, o professor Luiz Marduk, que declarou à imprensa não ter “a menor intenção de entender a cabeça deste psicopata”, a psiquiatra forense brasileira Hilda Morana destacou-se nos noticiários por tirar dúvidas que chegaram até ela pela mídia e pelo twitter sobre psicopatia. Para ela, segundo o G1, um indivíduo como o monstro de Realengo não é louco, “mas apresenta uma falha de desenvolvimento cerebral na parte que corresponde ao caráter”. De acordo com a matéria, um transtorno de personalidade dessa natureza, que é a psicopatia, não é determinado pela criação dada pelos pais a uma criança nem pela educação que ela recebe, muito menos pelo ambiente, não sendo, portanto, o referido transtorno adquirido ao longo da sua vida.

Afinal, na opinião da psiquiatra, um psicopata já nasce psicopata. Daí a psicopatia não ter cura. Ocorre que, quando um caso é diagnosticado, o recomendável é que haja um acompanhamento médico, estimulado pela família, devendo o paciente ser monitorado pelo resto da sua vida. O pior é que os psicopatas não se reconhecem como tal, o que, na maioria das vezes, dificulta o tratamento, visto que, por natureza, eles são pessoas extremamente arrogantes. Não é a toa que, citando, ainda, o G1, a médica afirmou que os psicopatas têm a exata noção do que é certo e do que é errado. E isso apenas porque o seu transtorno não reside no intelecto, mas no caráter, alertando, por fim, que um adulto com esse quadro clínico já demonstra, desde a mais tenra idade, comportamentos de risco e agressividade, além de ser egoísta e mentiroso.


PSICOPATAS:
“LÍDERES NATOS DA MALDADE”

Mentes Perigosas proporciona ao leitor um panorama do comportamento dos psicopatas, delineando preventivos resguardos e defesas das pessoas que eventualmente venham a se relacionar com eles...”.
Arthur Lavigne
Advogado criminalista brasileiro


P
ara a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro Mentes perigosas – O Psicopata mora ao lado, lançado em 2008, identificar um psicopata não é uma tarefa nada fácil. Afinal, por dominarem a arte de interpretar, os psicopatas representam papéis os mais diversos melhor do que muitos atores profissionais. “Inteligentes, eloqüentes, charmosos e sedutores”, eles são muito hábeis em mascarar a sua natureza perniciosa, dissimulando, assim, as suas reais intenções. Infelizmente, incógnitos, estão em todos os setores da sociedade, sem exceção, e compreendem, ainda, 4% da população: 3% são homens e 1% é mulher. Ou seja, independentemente de sexo, faixa etária, raça, credo, grau de instrução, profissão, poder aquisitivo, classe social, orientação sexual etc, a proporção é de um psicopata para cada vinte e cinco pessoas.

Segundo Ana Beatriz Barbosa Silva, os psicopatas “transitam tranqüilamente pelas ruas, cruzam nossos caminhos, freqüentam as mesmas festas, dividem o mesmo teto, dormem na mesma cama...”, acrescentando que, “apesar de mais de vinte anos de profissão, ainda fico muito surpresa e sensibilizada com a quantidade de pacientes que me procuram totalmente em frangalhos, com suas vidas arruinadas, alvejadas por esses ‘seres bípedes’ que sugam o nosso sangue e vampirizam a nossa alma”, ressaltando, ainda, que “os psicopatas possuem níveis variados de maldade: leve, moderado e severo”, embora, neste caso, ela faça uma ressalva, a de que nem todos os psicopatas são assassinos, mas apenas aqueles cujo transtorno de personalidade é diagnosticado severo. E, aí, dependendo da situação, eles não hesitam em matar. E sem arrependimento.

O problema, contudo, é que se já não é fácil reconhecer de cara um psicopata, o que dirá, no caso de reconhecer um, ter nem que seja uma vaga idéia do grau da sua maldade, até onde o seu transtorno psicológico pode conduzi-lo. De qualquer modo, a psiquiatra adverte que não importa a variação do grau da maldade de um psicopata, visto que, por possuírem um talento nato para a mentira, a trapaça e a manipulação, “todos, invariavelmente, deixam marcas de destruição por onde passam, sem piedade”. Afinal, por serem, de natureza, frios e calculistas, transgredindo regras morais e sociais a 3x4, sempre focados em seu próprio universo e desprovidos de sentimentos de compaixão e arrependimento, os psicopatas são potencialmente capazes de, a seu bel prazer, arruinar empresas e famílias, provocar intrigas, destruir sonhos e até vidas...

Para Ana Beatriz Barbosa Silva, “os psicopatas mostram uma total e impressionante ausência de culpa sobre os efeitos devastadores que suas atitudes provocam nas outras pessoas”. Daí os psicopatas serem por ela classificados de “predadores sociais”. Em seu livro, inclusive, a psiquiatra afirmou ser possível “observar características de psicopatia desde a infância até a vida adulta”, listando, para isso, dezenove características comportamentais genéricas, capazes de, se verificadas em um padrão repetitivo e persistente, podem, em qualquer fase da vida de um indivíduo, despertar o alerta de que algo está errado, embora seja bom salientar que o diagnóstico exato só pode ser dado por especialistas no assunto. De qualquer modo, quem quiser conferir as dicas que, de repente, podem ajudar na identificação de um psicopata, ei-las!



01. Mentiras freqüentes (às vezes, o tempo todo);
02. Crueldade com animais, coleguinhas, irmãos etc;
03. Condutas desafiadoras as figuras de autoridade (pais, professores etc);
04. Impulsividade e irresponsabilidade;
05. Baixíssima tolerância à frustração, com acessos de irritabilidade ou fúria quanto são contrariados;
06. Tendência a culpar os outros por erros cometidos por si mesmos;
07. Preocupação excessiva com seus próprios interesses;
08. Insensibilidade ou frieza emocional;
09. Ausência de culpa ou remorso;
10. Falta de empatia ou preocupação pelos sentimentos alheios;
11. Falta de constrangimento ou vergonha quando pegos mentindo ou em flagrante;
12. Dificuldades em manter amizades;
13. Permanência fora de casa até tarde da noite, mesmo com a proibição dos pais. Muitas vezes, podem fugir e levar dias sem aparecer em casa;
14. Faltas constantes, sem justificativas, na escola ou no trabalho (quando mais velhos);
15. Violação às regras sociais que se constituem em atos de vandalismo como destruição de propriedades alheias ou danos ao patrimônio público;
16. Participação em fraudes (falsificação de documentos), roubos ou assaltos;
17. Sexualidade exacerbada, muitas vezes levando outras crianças ao sexo forçado;
18. Introdução precoce no mundo das drogas ou do álcool;
19. Nos casos mais graves, podem cometer homicídio.



Em material de divulgação do livro Mentes perigosas..., de Ana Beatriz Barbosa Silva, o psiquiatra Robert Hare, afirmou que “os psicopatas têm total ciência dos seus atos”, sendo o seu cognitivo ou racional perfeito: “Eles sabem perfeitamente que estão infringindo regras sociais e por que estão fazendo”. Afinal, o déficit dos psicopatas diz respeito ao “campo dos afetos e das emoções”, não ao da razão. Assim, “para eles, tanto faz ferir, maltratar ou até matar alguém que atravessa o seu caminho ou os seus interesses, mesmo que esse alguém faça parte de seu convívio íntimo”. Em sua opinião, “esses comportamentos desprezíveis são resultados de uma escolha exercida de forma livre” e sem qualquer culpa. Porém, no quesito sentimentos, os psicopatas “são absolutamente deficitários e pobres de afeto e de profundidade emocional”.

Para a escritora e novelista brasileira Glória Perez, que assinou o prefácio de Mentes perigosas..., por nos fazer “descobrir que estamos sempre correndo o risco de ser a próxima vitima”, o livro é “perturbador”, embora nos ofereça armas para que possamos reconhecer os psicopatas, nos defender e nos afastar, já que a incapacidade dessas pessoas de sentirem empatia pelo outro é, segundo ela, a prova da sua anormalidade: “Psicopata não tem semelhante”, disse. Não? Nem que esse semelhante, digamos, seja um outro psicopata? Bom! Sei que os que estão dentro dos ditos padrões de normalidade são vítimas em potencial de psicopatas. Glória Perez, por exemplo, já o foi. Eu também, mas... Enfim! Sem querer defendê-los, os psicopatas, por sua vez, como atestam os próprios psiquiatras, também são vítimas. No caso, da psicopatia – um erro de fábrica...



Nathalie Bernardo da Câmara


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