“Hoje em dia, os nomes já não possuem significado. O que importa são os números: o número da conta, da identidade, do passaporte. São eles que contam...”.
José Saramago (1922 - 2010)
Escritor português
Nascido no final do séc. XIV, em Portugal, apesar de não se saber, ao certo, as origens dos seus ancestrais, João Gonçalves Zarco (1390-1471) era comandante de caravelas. De herança judaica, mas convertido ao cristianismo, Zarco, cujo nome é árabe e significa quem tem olhos azul-claros, foi o responsável por duas importantes possessões portuguesas. Em 1418, por acaso ou intencionalidade, descobriu, oficialmente, juntamente com Tristão Vaz Teixeira (1395-1480), a Ilha de Porto Santo e, em 1419, com Bartolomeu Perestrelo (1394-1457), a Ilha da Madeira. Como recompensa, Zarco recebeu do Infante dom Henrique (1394-1460) a missão de colonizar a Ilha da Madeira, tornando-se o primeiro capitão donatário do Funchal, em 1419, e, em função de existir uma câmara de lobos marinhos na ilha (gruta ou caverna, no português do Brasil), teve o seu sobrenome mudado para Câmara de Lobos. Tal mudança, entretanto, só foi reconhecida no dia 4 de julho de 1460, em decreto assinado e publicado por dom Afonso V (1432-1481), que ordenou João Gonçalves, mesmo tardiamente, pois ele morreu em 1421, cavaleiro fidalgo da realeza portuguesa, com direito a um brasão e a divisa: Pela fé, pelo príncipe, pela pátria. Casado com Constança Rodrigues de Sá (1393-1484), conhecida como a capitoa, João Gonçalves da Câmara de Lobos deu início, então, a uma estirpe, a uma História, com os seus descendentes perpetuando o sobrenome Câmara, mas abolindo o complemento, ou seja, de Lobos. Em 1492, um suposto neto de João Gonçalves, o também navegador Salvador Fernandes Zarco, mais conhecido como Cristóvão Colombo, descobre a América. Sim, Cristóvão Colombo, que muitos historiadores afirmam que nasceu no Alentejo, em Portugal, não em Gênova, na Itália, como reza a versão dita oficial da história. Ao longo do tempo, portanto, além dos títulos de nobreza: barões, condes, marqueses, viscondes e senhores de morgados, os Câmaras têm se destacado na advocacia, na arquitetura, na engenharia, na medicina e no jornalismo. O pioneirismo, portanto, somado ao dinamismo e à inovação, tornou-se uma característica dos nascidos com o sobrenome Câmara – sobrenome esse inventado.
Nathalie Bernardo da Câmara
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