domingo, 10 de maio de 2015

EM CASA DE MÃE JOANA

Charge de Ivan Cabral (10/05/2015) - Novo Jornal




Quem foi Joana?


Jeanne D’Anjou (1326 - 1382), rainha de Nápoles


Coroada rainha em 1344, após a morte do avô, Joana era tida como uma protetora de poetas, artistas e intelectuais. A sua vida, contudo, foi recheada de escândalos e polêmicas as mais diversas, sendo, inclusive, acusada de conspirar contra a vida do primeiro marido, o príncipe húngaro Andrew, barbaramente assassinado. Exilada em Avignon, na França, Joana instalou-se em um castelo que já havia sido residência de vários papas. Levada a julgamento pelo suposto envolvimento na morte do marido, foi inocentada, ficando livre para mandar e desmandar em Avignon.

No dia 8 de agosto de 1347, indignada com a prostituição feminina nas ruas de Avignon, Joana publicou um edital que, segundo o escritor francês Alexandre Dumas, Pai (1802-1870), em seu romance Comemorou crimes, escrito em 1839/40, foi, provavelmente, o primeiro no gênero. No edital, além de determinar a criação de um prostíbulo, decretou normas de funcionamento e de conduta, a fim de que a ordem fosse mantida, a aplicação de severas sanções para toda e qualquer violação das normas de disciplina. “A Nova Babilônia”, no dizer de Dumas, era, por assim dizer, uma “instituição salutar”.

No prostíbulo, portanto, reinavam soberanas línguas e costumes, esplendor e trapos, riqueza e miséria, rebaixamento e grandeza. Entre as normas, contudo, constava a restrição de que o estabelecimento abriria todos os dias do ano, “com exceção dos últimos três dias da Semana Santa”, além – o mais curioso – de “a entrada ser barrada aos judeus”, o que, de certa forma, contrariava a principal norma:

“O lugar terá uma porta por onde todos possam entrar”...

A máxima viajou o mundo de várias formas, embora com o mesmo sentido, e, chegando ao Brasil, trazida pelos colonizadores portugueses, tornou-se conhecida na expressão: “Casa de mãe Joana”, que, segundo o folclorista brasileiro Luís da Câmara Cascudo (1898 - 1986), significa onde cada um faz o que quer. Pior! Um lugar onde impera a desordem, bem como a desorganização e o desmando, além da variante chula: “Cu da mãe Joana”.

De certa forma abrasileirada, a alcunha em nada se compara ao gesto “altruísta” de Joana, sendo, portanto, no mínimo injusta para com a nobre dama, que, aliás, chegou a se casar quatro vezes – isso sem contabilizar os amantes! De qualquer modo, Joana era do bem. Tão do bem que, num ato de vingança pela morte de um dos seus cônjuges, ela foi assassinada por um primo – ironicamente, o seu herdeiro natural...

Nathalie Bernardo da Câmara



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