terça-feira, 24 de novembro de 2015
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
NA “PINDURA” DAS CHUTEIRAS
Charge Jorge Braga/Jornal
O POPULAR – 8/11/2015
Outro
dia, num ônibus, papeando com uma jovem professora que eu havia acabado de
conhecer – falamos sobre acessibilidade nos transportes coletivos, coisas desse
tipo –, findamos, casualmente, por esbarrar na ‘Regra 85/95’... Daí que cinco meses
após a publicação no Diário Oficial da União (18/6) da Medida Provisória nº 676/2015,
alterando a Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social, quando passaram a valer novas regras na
concessão de benefícios da Previdência Social – medida essa aprovada em votação
simbólica pelo Senado em 7/10 –, o Brasil ainda anda às voltas com dúvidas e
questionamentos a respeito da chamada ‘Regra 85/95’, que, no frigir dos ovos, significa
que o segurado tem de atingir um número mínimo de pontos, obtido a partir da
soma da idade e o tempo da contribuição para poder aposentar-se com o valor
integral do benefício – a mulher precisa somar 85 pontos e o homem 95.
Um assunto maçante, convenhamos, para leigos e, de repente,
até mesmo para matemáticos, embora o seu entendimento faz-se necessário. Curiosamente,
o assunto parece só não ser enfadonho para o polêmico sociólogo italiano Domenico
de Masi: “Com o aumento da expectativa de vida, as pessoas passaram a viver
muito mais do que antes, mas as regras da aposentadoria continuaram as mesmas
da Sociedade Industrial. A aposentadoria deveria acontecer aos 80 anos, e não
aos 60. Você sai do seu trabalho justamente na fase que adquiriu mais cultura e
experiência, e é levado para uma vida vazia, sem objetivos”. É o que ele chama
de ‘cultural gap’. Ideólogo do ‘ócio criativo’, que conjuga tempo livre e
criatividade, Masi defende, ainda, a redução da jornada de trabalho,
prerrogativa para validar o seu conceito. O fato é que, independentemente dos
méritos das novas regras para a aposentadoria no Brasil, ou da sua ausência,
tudo é uma questão de ponto de vista.
Tanto é que, muitos dos que antes da vigência das novas
regras estavam na iminência de requerem os seus benefícios previdenciários
tiveram de cancelar planos. Frustrados, sem a expectativa da aposentadoria, são
capazes de tudo acumularem, menos tolerância – o que é até compreensível. Isso
porque, levando em consideração as precárias condições de trabalhos e os baixos
salários, entre outras adversidades, esses contribuintes serão obrigados a
permanecerem, contrariados e sem estímulo algum, na árdua labuta ainda durante
vários anos – e sabemos que não há nada mais antipático do que fazer algo por
obrigação. Haja estresse! Este, por sua vez, no caso, abala, inexoravelmente, a
saúde e o bem-estar do trabalhador, que, apesar de fatigado, terá, sem muitas
opções, de render-se ou a uma queda paulatina da sua produtividade, consequentemente,
da qualidade do seu trabalho, ou a uma radical mudança de pensamento, de
mentalidade, atualizando-se.
O papo no ônibus? Quando pensamos que já vimos de tudo na
vida... Lá pelas tantas, a minha interlocutora confidencia-me, gracejando, que
um irmão seu, técnico em engenharia, algo assim, andava a fazer algo sui generis, ou seja, devido a Regra ‘85/95’, já pagava, há cerca de dois meses, o INSS para uma filha de... 4 anos
de idade! Não nego, confesso, que me surpreendi ao tomar conhecimento do
inusitado gesto – reação semelhante teve a jovem professora, disse-me ela, quando
soube da decisão filial tomada em benefício da sobrinha. Pudera, pois, provavelmente,
talvez seja o único caso, nesse sentido, no Brasil. Desse modo, não nos restou
gargalhar, obviamente chamando a atenção dos demais passageiros, que ignoravam
o motivo do nosso bom humor – motivo esse, aliás, que me legou reflexões, inspirando-me
a escrever este artigo, cujo tema, para digerir, se é que isso é possível,
faz-se necessário ainda mastigar bastante. E rir, se isso também é possível.
Nathalie
Bernardo da Câmara
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
DRUMMOND E A LIRA DO RIO DOCE
Paisagem mineira – Holmes Neves (Brasil, 1925) – óleo sobre
tela, 50 x 61 cm
LIRA
ITABIRANA
Carlos
Drummond de Andrade
I
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
II
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
III
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
IV
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
(1984)
domingo, 15 de novembro de 2015
DE TRAGÉDIAS II
Cartum de Ed Carlos Santana –
FACEBOOK – 15/11/2015
Incrível
como a intolerância de muitas pessoas em relação as dores de outrem, rolando
patrulhamento, anda a interferir na criação dos cartunistas! Na semana passada,
todos compadeceram-se com o drama de Mariana – eu mesma entupi o meu face com
reportagens, charges as mais diversas... E não apenas porque defendo o meio
ambiente – e houve uma catástrofe ambiental, afetando a todos –, mas também
pelas vidas ceifadas, interrompidas pela ganância. Uma verdadeira tragédia.
Porém, quando acontece o que aconteceu em Paris e uma grande
quantidade de pessoas também se compadece com a tragédia que lá ocorreu, vem
uma reação estúpida de certas pessoas contra quem coloca avatar com a bandeira
da França etc, cobrando: se é para colocar bandeira que seja a de Minas Gerais,
a de Mariana...
Ora, tenham dó!
Como diz a jornalista, escritora e fotógrafa Cora Ronai, “uma
dor não invalida a outra”.
E ninguém tem de ficar dando satisfação porque colocou tal ou
qual imagem em seu perfil. Isso é uma questão de foro íntimo e, portanto, deve
ser respeitada. Agora, quem se sentir incomodado com as pessoas que estão
comentando sobre o atentado na França e colocando avatar da bandeira francesa
ou de algo alusivo ao assunto, q ignore as postagens dos amigos que o fazem,
sem a antipatia de dizer: “E a tragédia de Mariana?”.
Misericórdia! Quantas vezes serão necessárias repetir que o que
aconteceu em Minas Gerais, embora uma tragédia, foi um acidente, ou seja,
poderia ter sido evitado. E ninguém está minimizando nada aqui não. Mesmo porque,
a situação vai se agravar: já rola por aí a informação de que tem outra
barragem, também em Minas, a ponto a de arrebentar. Então... O que as
autoridades estão fazendo para evitar mais uma tragédia que, caso aconteça,
será em proporções bem maiores do que a de Mariana? Isso sem falar q, ao todo, atualmente,
no Brasil, são 29 barragens em condições mais precárias do que a primeira, que
rompeu.
Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, a guerra está
rolando: hoje, a França bombardeou a Síria, destruindo espaços pertencentes ao
Estado Islâmico. E me preocupo muito com isso, sim, pois não sou alienada para
achar que o que está acontecendo não tem nada a ver comigo. Tem. E muito. Com
todos nós, aliás, pois isso é uma guerra, envolvendo um monte de fanáticos, de
fundamentalistas religiosos que, de tão ignorantes e alienados, dementes até,
não enxergam além da máscara que cobrem os seus rostos – um bando de gente
covarde que, dia após dia, renega a cultura ocidental, os valores da cultura
ocidental, da qual, pelo menos, eu faço parte e não gostaria de vê-la lesada
mais do q já está.
Desse modo, por favor, quem se sentir incomodado, guarde o
seu incômodo para lá ou, então, vá ler um livro de História... Só não fiquem
enchendo o saco de quem está atento e preocupado com a guerra e os seus
desdobramentos. Dá um tempo! Ou será preciso desenhar?
Cartum de Alpino – FACEBOOK – 15/11/2015
Nathalie Bernardo da
Câmara
DE TRAGÉDIAS
“A real tragédia da
vida é quando os homens têm medo da luz...”.
Platão (428 - 348), filósofo
grego.
Tragédia é tragédia. O único ponto em comum
entre as tragédias é que são tragédias. E cada um, cada pessoa, lamenta e chora
pela tragédia que bem entender: seja por uma ou por outra, ou pelas duas
juntas; por uma terceira etc – antipatia é quererem controlar o lamento e o
choro de alguém pela dor do outro, não importa qual.
Noutros tempos, falava-se de patrulhamento ideológico, cabresto político, religioso... Hoje, na era das redes sociais, quando as emoções navegam virtualmente, até um ‘bom dia’ que você dá passa por um crivo surpreendente: se a saudação vier com um ponto, significa uma coisa; com exclamação, outra; se colocar, então, 3 pontinhos, aí é que a coisa complica-se; sem pontuação alguma, um deus nos acuda!
Gente, vamos parar com isso! Coisa feia. Afinal, como diria Caetano Veloso: “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. E cada um verte as suas lágrimas na direção que quiser – patrulha das emoções de outrem, agora, fiscalizando? A que ponto chegamos! Isso é ridículo.
E a ponto de o jornal Sensacionalista – debochado por excelência – , “anunciar”, ironicamente, que, para evitar polêmicas, o Facebook vai criar um avatar com bandeiras da França e de Minas Gerais – lembrando que, no rol das bandeiras, se é para ser assim tão nacionalista e patriótico, ou melhor, bairrista, nada global (globalização não é só a da economia nem a da informação, mas igualmente a das emoções), também deveria entrar a do Espírito Santo...
Ora, ora!
Como diria um provérbio francês – sim, francês, qual o problema? Ou alguém vai querer que eu conte uma piada de mineiro, já que Minas Gerais é um Estado Brasileiro, consequentemente, geograficamente, está mais perto? Ou os dois juntos? Lamento, mas não darei esse gostinho.
Então... Como diria um provérbio francês: “Des goûts et des couleurs, il ne faut pas discuter”. Ou seja – sim, tem de traduzir, né? Afinal, a França está longe, do outro lado do Atlântico, faz parte da Europa – nada a ver com a nossa cultura tupiniquim – e ninguém tem a obrigação de saber francês.
Então... Cada um é livre para pensar, de agir segundo as suas preferências”.
Nathalie Bernardo da Câmara
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