E assim caminha o brasileiro...
Cartum: Latuff.
Um dia que começa com Temer recebendo a benção do pastor Malafaia para iniciar a
sua travessia numa hipotética ponte para o futuro só pode ser o prenúncio do
fim do mundo, previsto, aliás, para ontem, quarta, 27, por uma seita dita cristã com sede nos EUA... Enquanto
isso, já abençoado, Temer recebe um Collor renovado, apresentando proposta para
a “reconstrução” do Brasil – essa foi de doer! Igual à frente fria que paira
sobre o Sul e Sudeste do país, que, com ela, trouxe o anúncio do congelamento
do salário mínimo e o dos servidores públicos numa eventual gestão Temer – imagina o que mais vem pela frente, na educação, na saúde...
Nisso, é feita uma denúncia, com provas, de que Anastasia não é quem ele diz
ser, mas sim um ciclista incauto, infringindo as leis do trânsito, não podendo,
portanto, entre outras máculas curriculares, ser o relator do processo de
impeachment contra Dilma no Senado. E quem liga para isso? O único que liga é Lewandowski,
mas para Cunha, com quem marca um cafezinho e de quem ganha um mimo de 41,347% de
reajuste escalonado para o judiciário, não um pagamento de fatura como as más
línguas andam a dizer. Nesse meio tempo, juízes da América Latina tornam
público um documento contra o golpe assinado pela categoria – infelizmente, os magistrados
tupiniquins nem ao respeito se dão... Tem coisa mais feia do que isso? Tem, que
é o filho de Kátia Abreu – quem herda aos seus não degenera –, sair colhendo assinaturas
para criar uma lei anti-Lula, que, se aprovada, proibirá candidaturas para
cargos públicos de quem não possui curso superior... Porém, pelo que ouvi
dizer, o homenageado, com os seus mais de 50 títulos honoris causa, não está nem aí. Roseana Sarney, por sua vez, talvez
possa ser a próxima ministra da Educação... Eita, engasguei. E com a pipoca que
ainda nem comi, porque o STF proibiu, quando for assistir o filme Nise – O coração da loucura no primeiro
cinema público de Belo Horizonte, recém-inaugurado. Falando na sétima arte,
faleceu, também nesta quarta, o ator Umberto Magnani, 75, em consequência de um
AVC – sim, o face também é obituário. Coincidentemente, há um ano, falecia, dormindo, em sua casa, Inês Etienne Romeu, 72, a única
presa política a sair com vida da Casa da Morte, em Petrópolis, aparelho
clandestino de tortura da ditadura militar, após 96 dias de tortura. Sobre o tema... A União Brasileira dos Escritores (UBE) – uma boa
notícia, pois tinha de ter uma – pediu ao Tribunal Penal Internacional, com
sede em Haia, na Holanda, que abra uma investigação criminal contra Bolsonaro,
argumentando para tal a sua apologia da tortura, crime de lesa-humanidade,
durante a votação do impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados, lembrando que outras investigações estão na agenda de instituições brasileiras. E não para por aí: está circulando uma petição, que já assinei, para que, em maio, o parlamentar não seja
homenageado pela Câmara de Vereadores de Campo Grande, que pretende conferir-lhe
o status de “visitante ilustre”... É, o face também gosta de dá um de colunista
social – não foi à toa que conseguiu localizar Sérgio Moro nesta quarta, até
então, de paradeiro ignorado. Sim, embora sem a sua capa indefectível – prefiro
a do Zorro –, o juiz foi finalmente encontrado numa homenagem que lhe foi
prestada, em Nova York, por ter sido capa da revista Time da semana como uma das cem pessoas mais influentes da
atualidade... Ora, influente foi o casal que denunciou para o mundo, que está de olho, o golpe de Estado em
curso no Brasil e a fraude que é a Rede Globo, como também marcou um golaço o
Levante Popular da Juventude, protestando contra a emissora na final da Copa do
Nordeste, realizada no estádio Arruda, em Recife, chamando-a de “golpista” ao
vivo e a cores. À surdina, uma comissão do senado aprovou uma PEC que
dispensa análises da viabilidade de uma obra, para poder autorizar ou não o
licenciamento ambiental, a partir dos impactos socioambientais que ela pode
gerar, rasgando, assim, a legislação vigente. Não, nada de proteger o meio
ambiente para esse pessoal, que, com essa decisão, não fizeram que garantir
vales... E outras Vales. Enquanto isso, no Vale da Utopia, no Parque estadual da Serra do
Tabuleiro, o seu guardião, o artista plástico Vilmar Godinho, está sendo
ameaçado pela decisão do Ministério Público de Santa Catarina de retirá-lo da
caverna onde, por opção, mora há 26 anos, na maior interação com a natureza,
sem fazer mal a ninguém. E para que ele tenha o direito de permanecer recluso
também está rolando petição, manifestações locais. Outra boa notícia é que, na sessão da noite da
Câmara dos Deputados, revoltadas com mais manobras de Cunha, parlamentares peitaram
Cunha, ocuparam a mesa e botaram o meliante para correr – cabra frouxo! Já na
Praça dos Três Poderes, as mulheres tentaram iluminar os senadores para que
votem contra o golpe com um ‘iluminaço’ pela democracia. É, e no dia em que se
comemorou o nascimento da escritora, filósofa e feminista inglesa Mary Wollstonecraft, Dilma declarou em entrevista que lutará para
sobreviver. Por seu mandato e para defender o princípio democrático que rege a
vida política brasileira. E na abertura Conferência Nacional de Direitos
Humanos, para quem já tinha dito, referindo-se a Temer, que deve
ser mesmo muito confortável ser presidente sem votos, Dilma aproveitou para
alfinetar Cunha. Em sua opinião, o “pecado original” do processo de impeachment contra ela, que, no evento, garantiu encaminhar um projeto ao Congresso para, em regime de urgência, num prazo de 45 dias, pôr fim aos autos de resistência no país, uma antiga reivindicação dos movimentos sociais. Mas, como o
dia foi longo e nada indicava que o mundo fosse acabar na data prevista pela seita cristã, ainda teve uma de Erundina, que, preocupada, desabafou: “Isso (golpe) enxovalha a imagem do
Brasil no mundo.” Ora, onde já se viu bandido preocupado com imagem? Não estão
preocupados com o Brasil, o que dirá com a imagem do Brasil no mundo! O mais
preocupante, contudo, é que ambos, Cunha e Temer, parece não estarem batendo
nada bem da cabeça: além da canalhice habitual, Cunha teve o disparate de dizer
que o modus operandi do PT assemelha-se
ao de organizações criminosas, quando, na verdade, o maior bandido, hoje, no
Brasil, atuando como chefe de quadrilha, um gângster, é ele, inclusive na condição
de “foragido”, pois responde a um sem fim de processos no STF – infelizmente, a
instituição caiu no descrédito da população, pois, além de há meses não julgar
o réu, está seriamente comprometida com ele. Temer, por sua vez, não admite que
ninguém chame o processo de impeachment de golpe, mas chama de golpe a dissolução do Congresso e a possibilidade de novas eleições presidenciais serem convocadas – claro, já que o
seu partido, o PMDB, não é bom de voto para vencer sequer uma. Nas vezes em que
chegou a presidir o país foi de forma indireta ou, então, assumindo o cargo por
vacância. É, dois homens de bens que, no andar da carruagem, continuando a
falar desatinos, vão terminar num manicômio judiciário. Não, não aceito Temer
como o meu presidente, como o presidente do meu país, como o presidente do
Brasil. E, se necessário for, haverei, sim, de tornar-me uma desobediente civil.
Nathalie Bernardo da Câmara
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