domingo, 24 de janeiro de 2010

QUEM QUER SORVETE?



“Os ecologistas são como as melancias: verdes por fora e vermelhos por dentro...”.

Luc Ferry, filósofo francês, presidente do Conselho de Análises da Sociedade, organismo do governo da França.


De acordo com a entrevista concedida na revista mensal brasileira Galileu, da edição de número 222, de janeiro de 2010, pelo autor da frase acima, que elegi como epígrafe deste post, um líder francês dos verdes (não identifiquei o autor da afirmação) teria dito: “Cheguei ao verde pelo vermelho”. Achei tudo muito interessante e cá estou eu, querendo falar a respeito. Porém, talvez seja melhor transcrever as perguntas feitas pela jornalista brasileira Rita Loiola ao entrevistado e as suas respostas. Já bastam as polêmicas criadas pelo filósofo. As minhas seriam desnecessárias – acho eu. Quiçá, em alguns aspectos, redundantes. Vejamos...


Nathalie Bernardo da Câmara




NO REINO DA (ECO) CHATICE

A ecologia nasceu do nazismo? O encontro de Copenhague serve para algo? Os ambientalistas querem que a gente pare de comprar carros e iPods? Sabia que golfinhos já foram processados? Na entrevista a seguir, O filósofo Luc Ferry revela o que você nunca imaginou sobre o passado e o futuro do meio ambiente.



O filósofo francês Luc Ferry pratica a dolorida arte de cutucar certezas. Dê uma olhada, por exemplo, no que ele acha de alguns dos movimentos ambientais que brandem seus cartazes recicláveis por aí: “Os ecologistas radicais pensam que, para se chegar a uma solução, é preciso destruir o capitalismo e até a democracia. Mas a verdadeira ecologia é aquela que acredita na inovação, na razão e na ciência”. O autor de A Nova Ordem Ecológica (Ed. Difel), que acaba de sair no Brasil, não espera grandes mudanças de encontros como o de Copenhague. Eventos desse tipo servem mais para resolver problemas políticos e econômicos do que fazer algo de bom para a saúde do planeta. Ferry entende que a saída para o aquecimento global está na tecnologia e nada mais. Polêmico? O pensador, que ficou conhecido mundialmente por ter banido o véu das escolas francesas em 2004, enquanto foi ministro da educação, vai mais longe. Seu ganha-pão é mostrar o inusitado escondido nas coisas mais comuns. Um exemplo? Você sabia que o movimento ambiental pode ser visto como um sucessor direto do... nazismo? De Paris, Ferry, que é presidente do Conselho de Análises da Sociedade, ligado à Presidência da França, explicou essa história. E falou também sobre radicalismo ecológico, o julgamento de insetos e os direitos das árvores.

* Encontros como o de Copenhague servem para colocar em questão os movimentos ecológicos mundiais. Você acha que eles resolvem alguma coisa?

Ferry: No fundo, o problema é que a ecologia tenta resolver um conflito econômico e político. O mundo vive a seguinte contradição: de um lado, temos que continuar crescendo para sair da crise econômica. Sem crescimento há falência, miséria e desemprego. Mas, por outro, se o Brasil, a Índia e a China crescerem tanto quanto os americanos, se vocês tiverem tantos carros, computadores ou televisões quanto eles, seriam necessários muitos planetas para tudo isso! Então, o que vários ecologistas defendem é o “decrescimento”. O problema é que eles são totalmente incapazes de assumir as consequências humanas, sociais e políticas de um processo como esse.

* Os ecologistas são contra o capitalismo?

Ferry: A civilização ocidental moderna é baseada em uma cultura de consumo sem fim, ou seja, de um esgotamento das riquezas naturais. Aqueles que defendem o “decrescimento” são, desse ponto de vista, também anticapitalistas — e daí vem a forte ligação do altermundialismo (corrente política que usa o lema “um outro mundo é possível” e combate a globalização) e da ecologia. E há também uma forte crítica ao humanismo, à filosofia que está na base da modernidade.

* Como assim?

Ferry: Com o nascimento dos direitos humanos, o Ocidente colocou o homem no centro do Universo. Alguns ecologistas querem tirar o homem do centro e colocar a natureza, defendendo, por exemplo, o direito dos animais ou das árvores. Essa ideia é, principalmente, uma arma de guerra, mas guarda uma certa verdade. Afinal, com o desmatamento, o Homo occidentalis se portou mal com a natureza e com os seus habitantes. E esse é o problema da ecologia: ela sempre tem um fundo de verdade. Se tudo estivesse errado, seria muito fácil... mas esse fundo de verdade é quase sempre transformado em arma de guerra contra a democracia moderna.

AS PEDRAS E AS ÁRVORES TAMBÉM TÊM DIREITOS!



Nos anos 70, uma tremenda confusão no vale de Sierra Nevada, nos Estados Unidos, resgatou a discussão dos direitos de montanhas e rochedos. Na época, o governo americano permitiu que a Disney construísse um parque na região, e a Sierra Club, então uma das mais fortes associações de ecologistas do mundo, entrou com uma ação contrária. O argumento é que a entrada da Disney iria destruir o equilíbrio da região. Para impedir a construção, o advogado da entidade pedia diretos legais às florestas, oceanos, rios e ao meio ambiente em geral. Ele chega até a cogitar uma representação proporcional para as árvores no legislativo. Assim, a natureza teria uma personalidade jurídica e poderia ser defendida por advogado ou uma associação.



* Aliás, em seu livro, você fala sobre pessoas que, na Idade Média, não só quiseram colocar a natureza no centro de tudo como também defender carunchos, ratos e árvores em tribunais de verdade... Será que estamos dando um passo atrás, caminhando de novo para isso?

Ferry: Os processos de animais na Idade Média europeia são completamente ignorados pelo grande público, mas bastante significativos — e divertidos. Entre os séculos 13 e 18, houve na Europa centenas de processos de porcos, ratos, pulgas... com tribunais, juízes e até advogados de verdade! Esses processos que hoje nos fariam gargalhar não eram absurdos. A ideia de base era o direito antigo, o direito romano, segundo o qual o juiz está lá, um pouco como o médico, para colocar em ordem o “cosmos”, a natureza, cada vez que ela fica bagunçada. Quando um porco comia a mão de um menino na rua (na época os porcos viviam pela rua, não nos currais), era o porco a vítima do processo, e não seu proprietário. Quando o porquinho era condenado à morte, quem o executava era um carrasco... de verdade! A ordem cósmica era restabelecida, eliminando-se o fator problema, humano ou animal. Então, de certa forma, sim, você tem razão, as discussões sobre os direitos animais ou das árvores são uma forma de retorno às visões antigas do mundo. O problema, a princípio, é que, hoje, quando alguém tem direitos, tem também deveres, algo que para os animais e as árvores é um tanto complicado...

* Em 1992, você previu que a discussão ecológica de hoje seria sobre o “grau de desprezo dos animais”. Haveria uma proporcionalidade entre o grau de humanidade de uma pessoa e seu respeito pelos animais. O que me coloca em uma situação bem complicada cada vez que eu quero que um porco morra para virar linguicinha, ou um ganso seja torturado para que eu coma um bom foie gras...

Ferry: Essa é uma questão e tanto. Como sempre, há um lado de verdade na ecologia, e o sofrimento animal não é algo evidente. E nós sentimos isso, intuitivamente. Não temos nenhuma piedade pelas ostras ou pelos mariscos que comemos, não vemos problema nenhum com a morte deles. Mas, veja só, alguém que tortura um animal de estimação, como um cachorro ou um gato, nos horroriza. Não precisamos fazer uma declaração dos direitos animais, como na Europa, para achar o sofrimento animal algo realmente problemático e complicado. Como mostro no livro, a questão do limite é muito difícil de resolver... Isso posto, eu diria que, por trás do amor aos animais, se esconde também um ódio aos homens. Então é preciso desconfiar bastante desse amor.

* Ativistas-celebridades como Brigitte Bardot e Woody Harrelson odeiam mesmo os homens?

Ferry: O ponto é que o interesse pela natureza, mesmo não envolvendo a pressuposição do ódio aos homens, pode não proibi-lo. Vamos confessar: Hitler aliou a mais ardorosa defesa dos animais com o ódio aos homens mais feroz que se conheceu na história. O fato de não nos servirmos dessa constatação em uma polêmica apressada contra todas as formas de ecologia não proíbe a reflexão sobre seu significado.


CULPA DE MACHO




Ambientalismo radical mais feminismo é igual a ecofeminismo, uma corrente que vê o sexo masculino na origem da opressão das mulheres e da natureza. O termo aparece pela primeira vez em 1974 e parte do princípio de que a teoria e prática feministas devem incluir a luta ecológica. O problema não é o antropocentrismo, mas o centro da existência ser o macho. Essa vertente acredita que a solução para os impasses ecológicos vem da mulher. Da mesma forma que o proletariado encarnaria a fração salvadora da humanidade, para o ecofeminismo, a mulher que vai dar a luz no fim do túnel.

* Falando em nazistas, há mesmo uma relação entre a política da diversidade, o nazismo e a ecologia?

Ferry: Historicamente, sim. Os nazistas foram os primeiros no mundo a colocar em prática, nos anos 30, uma grande legislação ecológica. E isso é uma herança direta do romantismo alemão. Hitler supervisionou pessoalmente a elaboração de três grandes leis: a lei de caça, a lei de proteção da natureza e a lei de proteção dos animais. O ideal que inspira os nazistas é duplo: primeiro há, como disse, a herança do movimento romântico, a ideia de que a natureza original, selvagem, não destruída pelos homens, deve ser defendida. Hitler mandou imprimir dezenas de milhares de cartões-postais com fotos dele na floresta alemã acariciando cervos. A busca da raça pura, do germânico puro, análogo à floresta virgem, também se inscreve nessa perspectiva. E existe também uma grande hostilidade à França, explícita no texto dessas leis ecológicas. O país é acusado de ridicularizar a diversidade, principalmente em sua relação com os povos colonizados, que podem ser “assimilados”. Para os nazistas as diferenças devem ser preservadas a todo custo e os povos primitivos devem ser mantidos em seu estado original. Eu cito textos nazistas incríveis sobre isso, que poderiam ser assinados tranquilamente por ecologistas e etnólogos contemporâneos!

* Olha, mas cuidado, viu? Em seu livro, você escreve sobre um processo de membros do partido verde europeu contra o diretor da revista Actuel, que os tratou de “fascistas”. Os ecologistas poderiam processar você por fazer uma relação dessas...

Ferry: E perderiam!

* Por que você diz que “partidos verdes são impossíveis”?

Ferry: A ecologia política é cada vez mais forte em todo o mundo ocidental. No entanto, em lugar nenhum ela é o partido do governo. Por quê? Simplesmente porque a política compreende todos os setores da vida humana, e não apenas o meio ambiente. Quando alguém é presidente da república, precisa falar também de escolas, de exército, do conflito no Oriente Médio ou no Iraque e, aí, não se trata mais de ecologia. A ecologia é, sobretudo, um lobby, que pode ser muito poderoso, mas que precisa se aliar à direita ou à esquerda para atingir o poder.

O JULGAMENTO DOS CARUNCHOS




Os insetos do vilarejo de Saint Julien, na França, foram processados em 1545. É sério! Os habitantes da vila estavam irritados com o prejuízo que os bichinhos estavam dando às vinhas. Defendidos por um advogado, os carunchos ganharam a disputa, com o argumento de que os animais, criados por Deus, possuíam o mesmo direito que os homens de se alimentarem de vegetais — no caso, as parreiras. Processos como esse estenderam-se por toda a Idade Média até o século 18, na Europa. Insetos, répteis, camundongos, sanguessugas, golfinhos (eles foram até excomungados do porto de Marselha), eram intimados a comparecer ao tribunal, ou então, “nomear” um advogado. Na época, os animais eram “sujeitos de direito”, representados pela lei, com tribunal, defesa, acusação e sentença. O papel do juiz era restabelecer a ordem do cosmos, quebrado por alguma atitude que desregula a harmonia do mundo. No século 18, com o nascimento do Humanismo, essa ordem foi para o espaço. Mas, em 1978, surgiu a primeira “declaração universal dos direitos do animal”, na França. Seu texto diz, por exemplo, que “todos os animais nascem iguais”.


* Você acredita que esse tipo de ecologia é um bom substituto para as utopias dos anos 60?

Ferry: Sim, claro! Aliás, é daí que vem a famosa piada francesa: os ecologistas são como as melancias, verdes por fora e vermelhos por dentro! Na Europa, quase todos os eco-líderes são uns comunas antigos que precisaram abandonar o maoísmo ou o trotskismo, mas que substituíram essas correntes pela ecologia para continuar sua luta anticapitalista. Basicamente, é isso. Como diria um líder francês dos verdes, “cheguei ao verde pelo vermelho”!

* É possível cuidar da natureza sem ser extremista?

Ferry: É possível! Óbvio que é. Somos todos ecologistas, e eu sou o primeiro deles! Ninguém quer um desenvolvimento “insustentável”, ou o esgotamento dos recursos naturais e a destruição do planeta. Os ecologistas radicais pensam que, para chegar a uma solução, é preciso destruir o capitalismo e talvez até a democracia, já que é necessário impor medidas de urgência à humanidade. E é aí que a divergência começa. Aos meus olhos, a verdadeira ecologia, é aquela que quer o crescimento sustentável e que acredita que a solução se encontra na inovação, na razão e na ciência, não no decrescimento e no ódio à democracia.

HITLER, O AMBIENTALISTA





Apesar de pouco (ou nada) conhecida, a primeira legislação do mundo que uniu proteção da natureza a um projeto político foi assinada por Hitler. Na década de 30, os nazistas foram os desbravadores das leis ecológicas. Inspirados pelo romantismo alemão, eles reuniram em um volume de 300 páginas todas as disposições jurídicas sobre o meio ambiente, encabeçadas por uma introdução com os motivos filosóficos e políticos. “É uma série de textos muito elaborados”, afirma Ferry. Hitler, que diziam ser vegetariano, chegou a discursar: “No novo Reich não haverá mais lugar para a crueldade com os animais”.


* A solução para a ecologia é a tecnologia?

Ferry: Existe uma outra leva de ecologistas — da qual faço parte — que apostam na inovação, na ciência e no desenvolvimento sustentável. Por quê? Simplesmente porque não é possível regular o desenvolvimento de países como Índia ou China: nem o Lula nem o Sarkozy têm poder para impedir isso. Os indianos e os chineses fazem o que querem, e o que eles querem é crescer, certo? Então precisamos urgentemente inventar produtos “sustentáveis”, não-poluentes, como os carros elétricos, por exemplo. O caminho é esse...

domingo, 17 de janeiro de 2010

TERRA EM TRANSE

“O mundo está despertando para os sinais do aquecimento global, que se manifesta nos desastres naturais, mais intensos e freqüentes...”.

Zilda Arns Neumann (1934 - 2010)
Trecho extraído do discurso que seria proferido pela médica pediatra e sanitarista brasileira, fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança Internacional, bem como da Pastoral da Pessoa Idosa, organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, durante Assembléia da Conferência dos Religiosos do Haiti, onde, no último dia 12, um terremoto assolou a capital Porto Príncipe. Zilda Arns foi uma das vítimas fatais.


Como se já não bastasse a tragédia provocada pelo terremoto que abalou o Haiti, na noite passada, 16, foi a vez do sudoeste do Irã, com abalos que chegaram até 4,9 graus na escala Ritcher. Curiosamente, esta manhã, mais dois terremotos surpreenderam o mundo: o primeiro, segundo o Instituto de Sismologia dos Estados Unidos, atingiu a costa da Papua Nova Guiné e foi de 5,9 graus, enquanto o outro, de 6,3 graus abalou a costa sul da Argentina. A título de ilustração, portanto, vejamos os últimos tremores de terra que abalaram o Brasil, de acordo com informações divulgadas no site do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília:

Ainda segundo o site do Observatório Sismológico da UnB, “A quase totalidade dos terremotos tem origem tectônica, isto é, estão associados a falhamentos geológicos. Entretanto, terremotos podem ser também ocasionados por atividades vulcânicas ou pela própria ação do homem que, neste caso, recebe a denominação de sismos induzidos. Como exemplos significativos temos os sismos produzidos por explosões nucleares ou gerados pela criação de grandes reservatórios hidrelétricos....”. Então, será que ainda precisa acontecer mais alguma grande tragédia para que as autoridades ditas competentes decidam coibir os abusos cometidos pelo ser dito humano contra o meio ambiente?


Nathalie Bernardo da Câmara

sábado, 16 de janeiro de 2010

O HAITI É AQUI!

A história da humanidade é a história da intervenção humana na natureza para domá-la...”.

Domenico de Masi, sociólogo italiano


No Haiti o que ocorre é o encontro de placas tecnônicas. Aqui (no RN), é o interior de uma placa tectônica que provoca o tremor”, disse o vice-coordenador do Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Aderson Farias do Nascimento, onde o tremor sentido, na última segunda-feira, 11, foi de mais de 3.8 graus na escala Ritcher. Felizmente, não houve feridos. No dia seguinte, um tremor de 4.0 graus atingiu a região de Las Marcas, no centro da Itália, alarmando a todos. No mesmo dia, Porto Príncipe, capital do Haiti, na América Central, foi, igualmente, afetada – no caso, tragicamente – com um terremoto de 7.0 graus.

O fato é que, em menos de vinte e quatro horas, o planeta Terra tremeu em três placas tectônicas distintas: na América do Sul, no Caribe e na Europa. Mas, qual a relação entre os três episódios, eu perguntaria? Aparentemente, segundo os sismólogos, nenhuma. Só que a Terra é um planeta. Um corpo só. E esse corpo está gritando, com os membros gemendo, pedindo socorro. Vejamos... Em Taipu, no Rio Grande do Norte, no Brasil; a região italiana, também afetada, e Porto Príncipe, no Haiti, fazem um vértice, um triângulo, que é uma figura geométrica e considerada mística. E o triângulo – o vértice – está aberto. Falta mais alguma coisa acontecer?

E será que todos esses fatos não querem nos dizer alguma coisa? Ou seja, quando o ser humano vai deixar de ser idiota e parar de agredir a natureza? Até quando a natureza vai precisar gritar e implorar que a deixem em paz? Recentemente, a 15ª Conferência do Clima da ONU (COP15), ocorrida de 7 a 18 de dezembro do ano passado, em Copenhague, na Dinamarca, que reuniu líderes mundiais de cento e noventa e três países e tinha como objetivo encontrar medidas para frear o aquecimento global da Terra, foi um fiasco. Daí, podemos pressupor que, se dependermos dos nossos governantes, estamos em maus lençóis. Eles são incompetentes na questão ambiental.

Uma vergonha, por exemplo, foi a chefe da delegação brasileira no evento, a toda poderosa ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, dizer que “o meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”. Coisa de doido. Como se não bastasse, Lula, presidente do Brasil, disse: “Eu acredito em Deus, eu acredito em milagres”, transferindo a responsabilidade de solucionar os problemas ambientais para uma entidade supostamente divina. Se ele quer pensar assim que pense. Tem todo o direito. Quero só ver quando cair a última das árvores da Granja do Torto, residência que ocupa, em Brasília... Quem irá acudi-lo?

Lamento, contudo, a morte da médica pediatra e sanitarista brasileira Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança e irmã de um homem cujos méritos vão além de toda e qualquer religiosidade, dom Paulo Evaristo Arns, por quem tenho respeito e admiração, encerrando este lembrando um fato envolvendo um dos mortos no Haiti. Em missão, no país, um militar brasileiro falava pela internet com a esposa e, de repente, uma interrupção. A mulher pensou que a ligação tivesse caído, mas, tinha sido o terremoto, que fez cair a edificação onde estava o seu marido. Detalhe... A esposa do militar estava de férias, em Natal, no Rio Grande do Norte, onde, um dia antes, a terra tremeu. Coincidência?


Nathalie Bernardo da Câmara

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

MUNDO GIRA

“Ser ou não ser, eis a questão...”

William Shakespeare (1564 - 1616), poeta e dramaturgo inglês


Se, por um lado, a estupidez é um desafio ao meu discernimento, por outro, não há nada mais irritante do que a imposição da verdade de outrem. Afinal, convenhamos, não existe verdade absoluta. Cada um crer ou não no que quer. E acreditar no que se quer é um direito inalienável. É uma questão de foro íntimo. Porém, se, em pleno séc. XXI, ainda há quem queira fazer valer apenas a sua opinião, em detrimento das demais, significa que quem se comporta assim daria um ótimo e competente tirano em um Estado totalitário ou, pior, um exemplar inquisidor, caso vivêssemos na Idade Média, julgando hereges pensamentos contrários aos da Igreja católica da época e lançando à fogueira inocentes de mentes livres.

Não falo, aqui, de tolerância, mas de respeito a opiniões divergentes. Tolerância é concessão e a questão não se trata disso. Acima de tudo, o respeito é fundamental para uma convivência pacífica e harmoniosa. Mesmo porque as pessoas não são obrigadas a terem as mesmas crenças ou descrenças. São livres para ocuparem as suas mentes com não importa quais pensamentos. E o fato de não pensarem igual não implica que, por isso, uma pessoa é melhor ou pior do que outra. As pessoas simplesmente são o que são. E não devem ser discriminadas nem desrespeitadas por suas opiniões. Infelizmente, a discriminação e o desrespeito existem, alimentando certo obscurantismo e maculando as relações humanas.

O ideal seria não travar embates motivados por crenças pessoais, sobretudo se elas são de caráter político ou religioso. Esse tipo de coisa não se discute. Quando se discute gera um embate estéril, uma polêmica que não leva à nada. Só ao conflito, distanciando as pessoas. E a vida é muito mais do que se engalfinhar por ideologias. Cada um tem a sua e pronto. Sem comentários. Além disso, a vida é breve. Deveríamos aproveitá-la mais e melhor, buscando serenidade e sabedoria, a paz interior tão necessária para uma existência plena e saudável, sem discórdias, alimentando em nossos corações apenas sentimentos bons, a exemplo do amor, sem o qual apenas vegetamos. Ou seja, não somos nada...



Nathalie Bernardo da Câmara

domingo, 3 de janeiro de 2010

2010: E DAÍ?



"Estar informado sempre será preferível a desconhecer..."

José Saramago
, escritor português



A
s pessoas não deveriam nortear a sua vida nem pautar a sua existência por calendários, mas, sim, por suas ações. Os supostos bons sentimentos e ditas boas intenções – não importam quais –, por exemplo, que se apoderam das pessoas nas festividades de cada final de ano e início de outro, deveriam permear o seu cotidiano, independentemente de datas. Afinal, a vida não se resume a datas, sejam elas quais forem, mas a uma existência regada com os humores das nossas emoções, frutos de nossas experiências, sentidas e transmitidas ao sabor da cada novo dia. Um novo ano, contudo, teve início. E se, infelizmente, as pessoas precisam de um réveillon para sonhar e planejar mudanças de atitudes, que pensem duas vezes, então, por exemplo, antes de magoar o seu próximo, achando que, durante o ano, tudo pode, todos ficam impunes, mas que, ao final desse mesmo ano, ao raiar de outro, serão perdoados, porque é assim que a maioria pensa que a vida em sociedade é regida, tornando-se, portanto, esse tipo de comportamento, um ciclo vicioso. Ocorre que, por sermos humanos, cada um com as suas especificidades e uma individualidade própria, nem sempre, dependendo da gravidade dos danos causados por outrem e das lesões legadas – muitas das quais não cicatrizadas –, é possível perdoar. Um dia, quem sabe, todavia, porém...


Nathalie Bernardo da Câmara