quarta-feira, 29 de junho de 2011

O TEMPO FECHOU EM MINAS GERAIS


“Mineiro come quieto...”.

Dito popular



Que eu sou apaixonada por Goiás, é um fato. Reconheço e assino embaixo. Tanto que, se não tivesse nascido em Paris, a minha queridinha, queria ter vindo ao mundo em Goiás, embora o que até hoje não entendo é o motivo desse estado tão generoso ter doado parte das suas terras para a criação de outro estado, que é o Tocantins (nome mais feio!) – fruto da ganância de certos políticos. Mas, essa é outra história... Agora, no que diz respeito a Minas Gerais – homenagem deste blog –, cuja cultura, de certa forma, se assemelha à goiana... Que maravilha! E um estado igualmente generoso. Na culinária e nas artes, por exemplo, é o próprio celeiro, só brotando... Os artistas mineiros, no caso, são impecáveis, precisos e geniais. Mas, enfim!

Citando certo site: Minas Gerais é “uma das 27 unidades federativas do Brasil, sendo a quarta maior em extensão territorial [superior à da França]. Localiza-se no Sudeste [do país] e limita-se a sul e sudoeste com São Paulo, a oeste com o Mato Grosso do Sul e a noroeste com Goiás, incluindo uma pequena divisa com o Distrito Federal, a leste com o Espírito Santo, a sudeste com o Rio de Janeiro e a norte e nordeste com a Bahia”. Entendi bem? Ou seja, tomou conta do país! Mas, prosseguindo... Segundo estado mais populoso do Brasil, com quase 20 milhões de habitantes, Minas Gerais “possui o terceiro maior Produto Interno Bruto - PIB do país, superado apenas pelos estados de São Paulo e Rio de Janeiro”.

Pudera! Com todas aquelas minas – eu só queria uma pedrinha de ouro... Para guardar de lembrança, já que os estrangeiros levaram e continuam levando grande parte da nossa riqueza natural. Mas, a gente ainda tem sorte. Afinal, os Estados Unidos só gostam de petróleo! Se gostassem de ouro, Minas Gerais e o Brasil já estariam fazendo parte de um passado qualquer, apagados do mapa, igual eles, os EUA, querem extirpar a comunidade árabe da face da Terra para, sem clemência, através de guerras insanas, roubar o seu petróleo. O governo norte-americano não tem vergonha na cara? Pelo visto, não. Só que genocídio e usurpação dão cadeia. Cadê a Organização das Nações Unidas - ONU?

Bom! Cuidemos da dengue... E a do tipo 4 é a pior. Ninguém merece viver compartilhando o próprio espaço com um mosquito que anda matando mais do que o ditador alemão Hitler (1889 - 1945). No mais, gostaria de lembrar que, na política, Minas Gerais nos deu Juscelino Kubitschek (1902 - 1976), que, arrojadamente, fundou Brasília – que adoro! –, supostamente morto em um acidente de carro, além do saudoso Tancredo Neves (1910 - 1985), que teve a coragem de desafiar os militares brasileiros e colocar um fim na dita dura. Foi igualmente assassinado – igual Ulisses Guimarães (1916 - 1992)... Enfim! A única coisa que Minas Gerais nos legou que não tem tempero foi la presidenta Dilma Rousseff...


Nathalie Bernardo da Câmara



terça-feira, 28 de junho de 2011

O DIA QUE BOLA DE GUDE VIROU BARRA DE SABÃO*


A inteligência é uma espécie de paladar que nos dá a capacidade de saborear idéias...”.

(1933 - 2004)

Escritora, cineasta e ativista política norte-americana



Outro dia, diante de um comentário que me foi feito por minha mãe a respeito de uma receita exótica à base de caviar, publicada em um jornal – não lembro qual –, comentei que não apreciava o prato, o dito original, feito a partir de ovas de estrujão, cujo nome científico é Acipenser oxyrinchus, um peixe que remonta à época dos dinossauros, que, inclusive, experimentei em Paris e que, confesso, não gostei. Imaginem, então, as receitas, com pitadas de tropicalismo, criadas utilizando a tal ova! De há muito, contudo, o estrujão anda a navegar em águas doces e salgadas de várias partes do mundo, existindo, atualmente, em torno de 24 tipos da espécie, embora, das quais, segundo pesquisei, apenas 03 – sevruga, asetra e beluga –, procedidos do mar Cáspio, considerado livre de qualquer poluição, são, majoritariamente – cerca de 90% – consumidos a nível mundial. Eu, particularmente, embora seja um prato considerado para lá de chique, não suporto caviar. Ora! Não que eu seja esnobe ou arrogante a respeito do caviar de estrujão. Eu, simplesmente, não gosto, embora adore lagosta, camarão e outros frutos do mar. E, afinal, é um direito que eu tenho de não apreciar certos pratos, independentemente de eles serem oriundos do mar, da terra ou do ar, considerados nobres ou não. Tanto que, segundo a minha mãe, a melhor ova que ela já comeu é a do peixe que se chama curimatã, sem definição de um nome científico específico e, inclusive, com algumas variações da espécie. Qual, então, a relação do caviar com a rapadura? Afinal, histórica e respectivamente falando, uma é burguesa e a outra proletária. No caso da rapadura, considerada um subproduto da cana-de-açúcar, cuja fabricação é originária das Canárias, ilhas espanholas, no Atlântico, também chamada de raspadura, ela é um produto que, apesar de ser tido como rústico, é de alta qualidade nutricional. Por isso que, de há muito, ela não se resume mais a ser um complemento alimentar de muitos tropeiros brasileiros, que a carregavam em suas matulas, resistindo as mais diversas condições climáticas, nem, também, se limitando a uma guloseima qualquer, adicionada que já foi à merenda escolar de muitos alunos da rede pública de ensino do Nordeste do Brasil e aos subsídios que dizem respeito à alimentação das populações mais carentes do país.


Querendo entender...


“A imprensa perseguida e amordaçada é, de fato, o único partido de oposição deste país [Brasil]!...”.

Priscilla Wilmers
Jornalista brasileira, uma grande amiga. Há mais de 20 anos, desde a universidade, companheira de jornalismo. Trabalhamos juntas e, até hoje, buscamos lutar contra as injustiças. Todas! 



Enfim! Dependendo do paladar de cada um, cada alimento tem a sua importância – as variantes que levam a isso são muitas! Um exemplo, no caso, de carência alimentar? A informação de boa qualidade. Como se explica, então, o jornal O Estado de S. Paulo encontrar-se sob censura há 685 dias (à época em que publiquei este post) – hoje, 697? E isso apenas porque o senador José Sarney (PMDB-AP), à época com a conivência do ex-presidente Lula, quis calar o periódico brasileiro em função de seus interesses escusos? O curioso é que, em seu discurso de posse, no dia 1° de janeiro de 2011, quando assumiu o comando do Brasil, la presidenta Dilma Rousseff disse preferir “o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras” já que, durante o regime militar no Brasil (1964 - 1985), lutou “contra o arbítrio e a censura”... Que ela se prontifique, então, a acabar com a censura no país, pondo, de vez e definitivamente, um ponto final nessa história, promovendo, assim, o resgate ao direito à liberdade de expressão e à de opinião dos jornalistas, bem como nos garantindo o direito ao exercício da imprensa livre das amarras que a cerceiam.

Desse modo, obviamente, estariam igualmente garantidos os anseios democráticos e de liberdade do povo brasileiro. Sem falar que, segundo eu escrevi no post A Criação, publicado neste blog dia 03 de janeiro do corrente: “Espero que Dilma também não se esqueça de aproveitar a influência dos ditos novos ares pairando sobre o também dito novo Brasil desperto, fazendo a diferença, para apoiar a Proposta de Emenda Constitucional - PEC nº 33/2009, que restabelece a exigência do diploma de nível superior para o exercício da profissão de jornalista, cuja votação, no Senado, foi adiada para 2011, bem como a PEC nº 386/2009, igualmente prevista para ser votada este ano. E que sejam votações favoráveis, já que, no dia 17 de junho de 2009, a categoria dos jornalistas foi sumariamente injustiçada pelo Supremo Tribunal Federal – STF”.

O mais estranho, contudo, é que, diante de inúmeros acontecimentos quem estão acontecendo no mundo inteiro, muitos acham que andamos a viver um processo de revolução social, cultural e política – sabem-se lá mais o quê! –, já que estamos a exigir o pleno exercício da democracia, com manifestações populares a favor dos direitos humanos e fundamentais eclodindo por toda parte. Ledo engano! O atual período é de convulsão de valores. No caso do Brasil, por exemplo, onde já se viu – aconteceu no dia 10 do corrente –, o governo do estado do Rio de Janeiro prender quase todos os bombeiros da Cidade Maravilhosa apenas porque eles reivindicaram aumento salarial e melhores condições de trabalho para a categoria? Quanto retrocesso, o do governador Sérgio Cabral e o da sua milícia, já que, histórica e tradicionalmente – no mundo inteiro –, bombeiros salvam vidas e não podem ficar detidos por meros caprichos de quem quer que seja. Que libertem, então, todos os bombeiros, que são trabalhadores, e atendam as suas reivindicações. Todas! É o mínimo a se fazer...

A pergunta que não quer calar: caso a casa do governador do Rio de Janeiro pegasse fogo, quem iria apagá-lo?



Nesta vida, tudo é possível!


“Chamam-me de idiota porque fumo maconha, mas chamam de gênio quem inventou a bomba atômica...”.

Bob Marley (1945 - 1981)
Compositor, cantor e guitarrista jamaicano



De fato, o Supremo Tribunal Federal - STF do Brasil é uma incógnita. Para não dizer uma piada, um filme de ficção ou um conto da Carochinha... Afinal, ora os magistrados decidem contra não importa qual matéria, ora decidem a favor. Quando não, eles retornam à opinião anterior. Brincadeira! Quem entende isso? Tal prática, esquizofrênica, voltou a acontecer recentemente, quando, em menos de 15 dias, despontou no país o desejo de muitos em querer legalizar o uso da maconha, ou seja, liberá-la para consumo, sem que este seja considerado crime, mas reconhecido pela legislação brasileira. Qual a dúvida, então, do STF? Reconhecer as chamadas marchas pró-maconha no país, que aconteceram no dia 18 em várias capitais brasileiras?

Enfim! Dúvida vai, dúvida vem... No dia 15, eis que, acatando a proposta da Procuradoria-Geral da República - PGR, em defesa da liberdade de expressão, o STF, baseado na Constituição Brasileira, que garante o direito dos cidadãos se reunirem para expressar idéias, se posicionando sobre elas, decidiu ser favorável as ditas marchas, ou seja, as manifestações em prol da descriminalização – não confundir com discriminação – do uso da maconha no Brasil, na condição, entretanto, que as referidas manifestações sejam pacíficas e não estimulem a violência, promovendo, ainda, um debate “necessário”, segundo disse o ministro Celso de Mello, relator da matéria, e não fazer apologia à droga. Segundo a ministra Cármen Lúcia, em relação as manifestações pró-maconha:

“A liberdade é mais criativa do que qualquer algema que se possa colocar no povo. (...) Alguns avanços se fazem dessa forma, postulando algo que neste momento é tão grave e com o tempo passa a ser normal para todo mundo. Tenho profundo gosto pela praça porque a praça foi negada a nossa geração”, afirmou a ministra, fazendo referência à proibição de manifestações públicas durante o regime militar (1964-1985) no Brasil, segundo a jornalista brasileira Débora Santos, do G1, direto de Brasília.

Enfim! Como disse a própria Dilma, citando, em seu discurso de posse, o escritor mineiro Guimarães Rosa, seu conterrâneo: “A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem...”. E eu perguntaria: ter coragem para suportar as indecisões e os equívocos de la presidenta?


Nathalie Bernardo da Câmara



* No dia 16 do corrente, publiquei este post com o título original O Dia que caviar virou rapadura. Infelizmente, vítima de uma censura insensata – todas as censuras são insensatas –, já que nos nega, a todos, o direito à liberdade de opinião e o direito à liberdade de expressão – direitos garantidos pela Constituição Brasileira –, o exclui do meu blog sem maiores questionamentos, visto eu não ter o menor interesse em alimentar polêmicas estéreis nem confusão – não importa o tema, pois considero esse tipo de coisa a improficuidade em pessoa –, muito menos por causa de um mero título, que, aliás, no caso, reconheço, pesquei a idéia de outrem no ar, embora não tenha visto nisso crime algum, já que, fruto de uma fala coloquial, um bate-papo, o mesmo nem registrado estava. De qualquer modo, em respeito aos leitores do meu blog, que, aliás, adoraram a referida postagem –, mudei o título inicial e decidi republicar o post, com algumas modificações, é claro, aproveitando para retirar toda e qualquer referência ao autor do referido título. Só que, daqui para frente, diante de tanta repressão e sandice, vou andar com um exemplar da Constituição Brasileira pendurada no pescoço e um exemplar do Código Penal, também brasileiro, arrastado pelos pés, defedendo os meus direitos... Qual é mesmo o artigo constitucional que me concede a liberdade de expressão e a de opinião? Quem quiser, que pesquise. E só usei esse título porque foi bom demais! Afinal, em meus vários anos de jornalismo, sou, modéstia à parte, super criativa em títulos. Nem precisava disso. De repente, fiz até um favor, no caso da criatura, em divulgar a sua idéia. Mas... Se o "dono" da frase me censurou, deixa quieto. Problema meu que não é! Mas, como sou profissional, reconheço que o meu ficou bem melhor. Afinal, só quero divulgar as minhas idéias e, convenhamos, não vivemos mais na Idade Média... Et voilà!



segunda-feira, 27 de junho de 2011

AVARIAS DE JUNHO


“A festa move interesses políticos e econômicos que poucas vezes se imagina. Um exemplo disso é o esvaziamento do Plenário do Congresso em Brasília no mês de junho...”.

Rita Amaral
Antropóloga brasileira, se referindo ao São João



Nada muito a dizer sobre as festas juninas do Brasil, ocorridas no mês de junho, que são: Santo Antônio (13), São João (24) e São Pedro (29), que não aprecio muito, embora já as tenha estudado, e nem pretendo, aqui, historiar a respeito. Enfim! Populares e tradicionais, as chamadas festas juninas compreendem certa complexidade. Para Rita Amaral, as festas populares são religiosas e profanas, críticas e debochadas, conservadoras e vanguardistas, divertidas e devocionais. São, ainda, segundo a antropóloga brasileira, “um modo de reviver o passado e projetar utopias, afirmar identidades e de se inserir na sociedade global”, finaliza, em sua belíssima tese, que, inclusive, eu já li, intitulada Festa à Brasileira: sentidos do festejar no país que 'não é sério'. Uma obra-prima da pesquisadora!

Porém, apesar de serem herança portuguesa acrescida de costumes franceses, as festas juninas, pelo menos, que eu saiba, termina, no Brasil, sendo de alta periculosidade, já que alguns dos seus componentes são nitroglicerina pura, ou seja: os fogos de artifício, os explosivos e os balões, cujo uso, inclusive, já foi regulamentado pela legislação brasileira (fogos de artifício e explosivos regulamentados em 2000 e os balões em 1998 e 1999). Infelizmente, há quem abuse! E, aí, não são poucos os acidentes que, a cada ano, durante os festejos, o trio provoca, muitos dos quais – reconheçamos – fatais. Segundo a Associação Brasileira de Cirurgia de Mão - ABCM: “40% dos queimados pelo uso de fogos são menores entre 4 e 14 anos e uma em cada dez pessoas que manuseiam esse tipo de artefato sofre amputações...”.

No dia 29 de junho de 2010, por exemplo, postei dois textos comentando a respeito: o primeiro foi Fogos de artifício e explosivos: uma regulamentação necessária, enquanto o segundo Balão: persona non grata nos céus do Brasil. Sinceramente, não suporto três coisas que, aliás, são características das festas juninas, ou seja: o barulho odioso provocado pelos rojões lançados, aleatória e irresponsavelmente, ares afora – exemplo típico de poluição sonora –, se salvando quem puder, bem como a fumaça sufocante expelida pelas fogueiras, que, parece, temos a obrigação de inalar – imaginem o drama dos asmáticos... Enfim! A terceira coisa que não aprecio durante esse período são as iguarias à base de milho – vegetal, inclusive, que nunca me foi palatável. E olhe a chuva!




Ser ou não ser palatável: eis a questão...



“Des goûts et des couleurs il ne faut pas discuter…”.

Provérbio francês



Nesta segunda, 27, a nossa digníssima la presidenta Dilma Rousseff teve o desplante de nomear o incauto do ex-presidente Lula para chefiar uma missão especial do governo brasileiro na Assembléia Geral da União Africana, que ocorrerá em Guiné Equatorial, na África, a partir desta terça-feira, 28, até o dia 1° de julho. Infelizmente, nada se pode fazer para que Dilma reveja a sua decisão, visto que a referida nomeação já foi publicada no Diário Oficial da União - DOU. Que coisa! Afinal, devido o tema da assembléia, Empoderamento da Juventude para o Desenvolvimento Sustentável, la presidenta deveria ter nomeado a ambientalista Marina Silva (PV-AC) para representar o Brasil. Sim, porque, que eu saiba, Lula não entende nada de desenvolvimento sustentável. Ninguém merece! Sem falar de outras avarias...




ALEGRIA, ALEGRIA...



“Uma festa é um excesso permitido, ou melhor, obrigatório, a ruptura solene de uma proibição...”.

Freud (1856 -1939)
Médico austríaco, fundador da psicanálise



Tudo indica que a 15ª Parada do Orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais), mais conhecida como Parada Gay, ocorrida em São Paulo neste domingo, 26, foi um sucesso, apesar de certas represálias, vindo de toda parte. Enfim! Embalados pelo tema Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia!, a Parada Gay – como a marcha (palavra tão em voga nos dias de hoje) é mais conhecida – imprimiu cores – as do arco-íris, símbolo dos homossexuais –, fantasias, brilho, alegria e poesia a capital brasileira que é considerada a maior potência econômica do país, que virou flores. Nem a chuva, impiedosa, as fez murchar... Bom! Segundo a organização do evento, cerca de 4 milhões de pessoas participaram da Parada Gay. O curioso é que movimentos sociais outros aproveitaram a oportunidade para reivindicar por seus direitos e causas. Foi o caso de um grupo indígena do Alto Xingu, de Mato Grosso, que portaram faixas contra a construção da usina de Belo Monte. E olhe os índios, aí, gente!

Marcando igualmente presença, como sempre, a senadora Marta Suplicy (PT-SP), além do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que disse ser o desfile “uma demonstração de cidadania de todos os brasileiros que aqui vivem e que querem uma cidade, um país e um mundo cada vez mais voltado para ações de cidadania, mostrando que a grande maioria dos brasileiros respeita a diversidade e os direitos humanos”. Sem falar da cantora e atriz brasileira Preta Gil, musa da Parada Gay deste ano. Tendo, recentemente, entrado as turras com o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), em função do preconceito e da discriminação desmedidas do parlamentar, que, levianamente, condena quem for mulher, negro, pobre e homossexual – vai terminar perdendo o cargo –, Preta Gil declarou: — Eu acredito na diversidade e na inclusão. Sempre fui militante da causa GLS porque é a minha causa e de todo ser humano que entende a complexidade de ser humano... Corajosa, a moça. E haja bandeiras coloridas sendo desfraldadas!

Na contramão da História, contudo, ou seja, das conquistas dos homossexuais brasileiros, que, no dia 05 de maio viu aprovada a decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal - STF em reconhecer os direitos relativos à união estável para casais de mesmo sexo, reconhecendo, ainda, princípios de igualdade, liberdade e dignidade humana, além de segurança jurídica para a categoria, digamos assim, a deputada estadual Myrian Rios (PDT-RJ), igualmente uma reconhecida atriz, embora acrescente que também é missionária católica – pudera! –, declarou, em discurso, ser contrária à PEC de n° 23/2007, que altera a Constituição do Rio de Janeiro, incluindo a orientação sexual como direito fundamental, e que deve ser votada no próximo mês de agosto, inclusive, comparando, erroneamente, ter relacionado gays com pedofilia. Nada a ver! O pior é que, com a declaração da parlamentar, homossexuais e simpatizantes da causa já protestaram. Com toda razão. O que ocorre? Outro Bolsonaro, só que de saias?

Enfim! Nesta segunda-feira, 27, foi realizado, entrando para a História, o primeiro casamento gay oficializado pela Justiça brasileira. O fato ocorreu em Jacareí, uma cidade do interior de São Paulo, e os noivos, que solicitaram a conversão de união estável em casamento civil ao juiz Fernando Henrique Pinto, da 2ª Vara da Família e das Sucessões do município em questão, foram agraciados em sua solicitação. Nesta terça-feira, 28, Dia Mundial do Orgulho LGBT ou Dia Mundial do Orgulho Gay – uma coincidência –, os dois irão ao cartório para buscar a certidão de casamento, visto que há oito anos eles já haviam registrado a união estável de ambos. De fato, uma conquista para o casal. Sei não, mas... Se King Kong, o gorila gigante, se apaixonou perdidamente por uma mulher, cuja condição é humana – sentimento, inclusive, recíproco –, sendo que o romance, platônico, obviamente, foi retratado no cinema de forma ficcional, chegamos à conclusão de que, como já disse Caetano Veloso, compositor e músico brasileiro, “toda forma de amor vale a pena”...


Nathalie Bernardo da Câmara



quinta-feira, 23 de junho de 2011

CURTO E GROSSO


"A religião é o ópio do povo...".

(1818 - 1883)

Filósofo, economista e teórico alemão



 Parar o Brasil, um país com dimensões continentais, em plena quinta-feira, apenas por causa de um maldito feriado religioso, no caso, o de Corpus Christi? Ninguém merece! Quem quiser que comemore – nem sei o quê – em seus templos. O Brasil é um país laico – pelo menos, a nível das suas leis –, mas, não abusem! E é inegável o meu desprezo pelo catolicismo. Fico com o meu marxismo, leninismo, comunismo e ateísmo. Só ismos! E vou indo...


Nathalie Bernardo da Câmara



quarta-feira, 22 de junho de 2011

MORTE EM VIDA, SEVERINA?


Cortai a âncora que, por desgraça,
me prende a esse mar insosso das desilusões,
da improficuidade, do dissabor,
do triste e indigesto engano que conduz à dor...


Nathalie

Natal, 09 de março de 2011


terça-feira, 21 de junho de 2011

CASTRAR OU NÃO CASTRAR: EIS A QUESTÃO!

7 em 1






"A castração seria o fim da masculinidade do homem...".

Marcelino Lira,

criminólogo brasileiro






Um fato pode ser indubitavelmente constatado: o mundo está revelando a sua intolerância contra o estupro, sobretudo as mulheres, vítimas em potencial desse crime ignóbil. No Brasil, o mais recente caso de estupro que teve repercussão internacional, chocando a opinião pública, foi o da menor brasileira, de apenas nove anos de idade, violentada desde os seis pelo padrasto, que engravidou de gêmeos e, graças ao serviço de aborto legal disponibilizado em Pernambuco, a sua gravidez foi interrompida por uma equipe médica do Centro Integrado da Saúde Amaury de Medeiros - CISAM, da Universidade de Pernambuco, que atende a mulher, a criança e dá apoio familiar, considerando que o caso, em específico, estava contemplado pelo art. 128 Código Penal brasileiro, que é a gravidez resultante de estupro e risco de morte para a gestante.


Infelizmente, se o episódio tivesse acontecido no Piauí, o procedimento médico de interrupção da gravidez não teria acontecido, já que o Estado é o único do Nordeste que não disponibiliza para as mulheres o serviço de aborto legal – realidade, aliás, que está prestes a mudar, já que, no último dia 16, a Coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Saúde, Promotora Cláudia Seabra, informou que a Secretaria da Saúde do Piauí já está agindo para, finalmente, implantar o serviço na rede pública do Estado. Para Lúcia Quitéria, integrante da Organização não-governamental Católicas pelo Direitos de Decidir - CDD, uma das entidades que protocolaram representação junto ao Ministério Público do Piauí nesse sentido, "continuar negando esse direito às mulheres, é patrocinar uma violência inominável".


O problema do estupro, portanto, sobre o qual falei em minha última postagem, A Verdadeira história de Chapeuzinho Vermelho – Uma parábola do estupro, não é novidade e acompanha o homem desde os seus primórdios. Felizmente, de uns tempos para cá, as vítimas têm deixado o medo e a vergonha de lado e a violência sexual tem ganhado maior visibilidade na mídia, que, cumprindo com o seu papel social, está contribuindo para coibir esse tipo de abuso. Segundo a revista brasileira Época, "uma pesquisa nacional do Centro de Estudos Superiores de Maceió - Cesmac, tendo como base noventa mil denúncias a delegacias e ao Disque 100 (o serviço telefônico criado pelo governo federal para receber denúncias anônimas) feitas entre 2001 e 2007, revelou que, na maior parte dos casos, os abusos acontecem dentro de casa".


Pior! Que os padrastos lideram as estatísticas de violência sexual, seguido pelos pais, tios e avôs. A pesquisa revela, ainda, que só nos dois primeiros meses de 2009 "foram registradas, em todo o Brasil, 4.700 denúncias de abuso envolvendo crianças, sendo 31% relativas à violência sexual". O curioso é que, para os especialistas, "os abusadores nem sempre podem ser considerados pedófilos". Segundo o psicólogo Liércio Pinheiro, coordenador do curso de psicologia do Cesmac, "a pedofilia é um transtorno de perversão, em que o acometido tem um desejo incontrolável por fazer sexo com crianças. Nesses casos, porém, eles poderiam tanto agredir uma criança como um adulto", explica. Dados do Ministério da Saúde, por sua vez, apontam que mais de cento e noventa mil meninas de dez a quatorze anos engravidaram no país entre 2000 e 2006.


No mesmo período, cento e cinco meninas de até quatorze anos morreram em decorrência de gravidez, parto ou aborto. Para o médico Cristião Rosas, representante da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia - Febrasgo, os dados podem indicar uma incidência ainda maior de violência sexual do que a que chega ao conhecimento público quando ocorre a gestação. Segundo ele, "a fertilidade da mulher-menina, nessa idade, é muito baixa, as ovulações são esporádicas". E argumentou: "Para existir mais de cento e noventa mil gestações abaixo dos quatorze anos de idade dá para se imaginar o número de estupros contra meninas e adolescentes que ocorrem nesse país". E pensar que o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, o conservador dom Dedé, como é conhecido, foi contra o aborto, excomungou a família da menor e a equipe médica que interrompeu a sua gravidez, e perdoou o estuprador...











18 de maio


Dia Nacional Contra o Abuso e Exploração
Sexual de Crianças e Adolescentes











O Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes foi criado em 2000 (Lei Federal N°. 9970/00). Esta data foi escolhida, pois, neste mesmo dia, em 1973, Araceli Cabrera Sanches, uma menina de oito anos foi seqüestrada, drogada, espancada, estuprada e assassinada por filhos da alta sociedade de Vitória, no Espírito Santo. O caso, que comoveu todo o país e em 2009 completa trinta e seis anos, permanece impune.


O que fazer?


Solução é o que não falta! E, para não nos prolongarmos muito neste assunto, que dá até uma reviravolta no estômago, falemos das soluções. Só que dar uma surra ou prender não resolve, porque o estuprador sofre de uma patologia. Resolve, sim, se as leis contemplarem a castração, seja ela física ou química, do estuprador, sobretudo se ele for um pedófilo, que sofre de transtornos de pervesão. Ocorre que uma mutilação física dos testículos do estuprador ou uma castração química, que remove o tecido que produz a testosterona, são paliativas, pois, apesar de punir, não leva o castrado à redenção dos seus atos vis e doentios, considerando que, mesmo sem a capacidade de produzir esperma, eles poderão continuar estuprando, já que basta haver sangue na corrente sangüínea do pênis que este fica ereto. Isso sem falar que o paciente castrado pode muito bem encomendar testosterona pela internet!


Tal experiência, inclusive, já aconteceu com gatos, cachorros e congêneres, ou seja, demais bichos. Não haveria, também, de acontecer com homens? Assim, a solução ideal seria mesmo radicalizar e extrair o pênis... Sem dó nem piedade. Aí, duvido que o cabra se atreva!


Abre parênteses...

Freud (1856 - 1939)

médico austríaco, fundador da psicanálise


 
A castração está articulada com a ordem fálica e não com a presença física do pênis. A falta do pênis, percebida como um corte na menina e um possível corte no menino, traz duas noções fundamentais para entender a castração: a falta e a concepção de alguma coisa que falta.

Para Freud:


O caráter principal dessa organização genital é, ao mesmo tempo,
o que a diferencia da organização genital definitiva do adulto.
Este reside no fato de que, para os dois sexos, um único órgão genital,
o órgão masculino, desempenha um papel.
Não existe, pois um primado genital,
mas um primado do falo (ESB. vol. VII, p.129 ss.).

Fonte: Traço freudiano. Veredas lacanianas. Escola de Psicanálise.
http://www.traco-freudiano.org/
Revista Veredas




Fecha parênteses...

Michelangelo (1475 - 1564)

David, 1504
Florença, Itália – Academia de Belas Artes

Há pouco, lembrei-me de um filme que assisti há muito tempo – não recordo o ano, o título do filme nem o diretor –, que abordava o estupro e a mutilação física de estupradores, que consistia na extração do seu pênis. A história? Uma médica-cirurgiã perde a sua filha, que, após ser estuprada, é assassinada. Ela, então, cria um grupo de apoio, que reúne várias mulheres que, de alguma forma, foram atingidas direta ou indiretamente pelo estupro. O tempo passa e as adesões ao grupo aumentam.


Certo dia, o grupo decide radicalizar e fazer justiça com as próprias mãos, literalmente. Ou seja, olho por olho, dente por dente. O plano resume-se, portanto, a: as mulheres mais jovens e mais bonitas saem a noite, aparentemente sozinhas, e tentam seduzir os estupradores, enquanto são seguidas por uma outra que, no momento certo, dopam os homens com clorofórmio e o levam a casa da médica, que, no sótão, improvisou uma sala de cirurgia, onde realiza as castrações.


Castrados, os estupradores são deixados, ainda dopados, em algum lugar da cidade, público ou não, e, quando acordam, descobrem, para o seu desespero, que estão sem pênis. E as castrações não são poucas. Elas repetem-se inúmeras vezes, até quando a médica e as demais mulheres, quando menos esperam, são descobertas. Infelizmente, eu não me lembro do final do filme, mas o fato é que a narrativa é mais uma possibilidade de se discutir sobre o assunto do estupro e as suas traumáticas conseqüências.



A pergunta que não quer calar: E quando o estuprador ou o pedófilo é uma mulher? Castra-se, também? Ou melhor, mutila-se a genitália feminina? Ou seja, pratica-se à ablação? Sim, porque mulher também estupra e pode ser pedófila! Vejamos um exemplo...


Recentemente, em uma pequena cidade da Califórnia, nos Estados Unidos, uma mulher, de trinta anos de idade, seduziu e manteve relações sexuais com vários menores amigos da sua filha para protegê-la de eventuais assédios. Presa, a mulher está sendo acusada de onze crimes. No início, ela negou as acusações, mas, terminou confessando. Segundo o relatório policial, a mulher disse que "nunca quis ferir ninguém", mas que desfrutava da atenção que recebia dos garotos: — "Sentia-me jovem, estranhava a situação...", teria dito a acusada à polícia.
Fonte: Metamorfose Digital, Mulher diz que fez sexo com menores para resguardar filha


Curiosidade: Antigamente, na China o Eunuco era o homem cujos testículos foram removidos por orquidectomia ou são congenitamente não-funcionais.




De origem grega, o termo eunoukhos pode ser traduzido como guardião da cama.


Na Grécia antiga, a prática era usada como pena para impedir a reincidência em casos de estupro ou adultério, embora os gregos também costumassem castrar serviçais domésticos para torná-los mais dóceis e inofensivos.


Uma coisa é certa: a principal finalidade da castração era tornar os eunucos sexualmente impotentes. Mas muitos que tinham só os testículos arrancados ainda eram capazes de ter ereções (escondiam esse segredo muito bem)...


Os eunucos foram usados como guardas ou serviçais dos haréns onde ficavam as esposas e concubinas reais. Muitos deles eram prisioneiros de guerra, mas na China muitos homens pobres submetiam-se voluntariamente à castração para obter vantagens financeiras.


Fonte: M Diversidades – Miriã Soares






E quanto a estes, abaixo?
Eunucos é que não são...



Aí já é demais!


Tal imagem/cena, aliás, só me remete as experiências genéticas
grotescas do médico Josef Mengele (1911 - 1979), no campo de
concentração nazista de Auschwitz, ou, então, as crianças, pelo físico
deplorável, sejam da Etiópia e, por algum motivo, foram castradas...


Mas, como se julgava
um estupro em 1833?




SENTENÇA JUDICIAL
Ipsis litteris, ipsis verbis
(Trata-se de língua portuguesa arcaica)
PROVÍNCIA DE SERGIPE


"O adjunto de promotor público, representando contra o cabra Manoel Duda, porque no dia 11 do mês de Nossa Senhora Sant'Ana quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o supracitado cabra que estava em uma moita de mato, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a lume, e como ella se recuzasse, o dito cabra abrafolou-se dela, deitou-a no chão, deixando as encomendas della de fora e ao Deus dará. Elle não conseguiu matrimonio porque ella gritou e veio em amparo della Nocreto Correia e Norberto Barbosa, que prenderam o cujo em flagrante. Dizem as leises que duas testemunhas que assistam a qualquer naufrágio do sucesso faz prova.


CONSIDERO: QUE o cabra Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para conxambrar com ela e fazer chumbregâncias, coisas que só marido della competia conxambrar, porque casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana;


QUE o cabra Manoel Duda é um suplicante deboxado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quiz também fazer conxambranas com a Quitéria e Clarinha, moças donzellas;


QUE Manoel Duda é um sujeito perigoso e que não tiver uma cousa que atenue a perigança dele, amanhan está metendo medo até nos homens.


CONDENO: O cabra Manoel Duda, pelo malifício que fez à mulher do Xico Bento, a ser CAPADO, capadura que deverá ser feita a MACETE. A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta Villa.


Nomeio carrasco o carcereiro.
Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.


Manoel Fernandes dos Santos
Juiz de Direito da Vila de Porto da Folha Sergipe, 15 de Outubro de 1833".


Detalhe:


Abrafolou-se (atracou-se)
Matrimônio (ato sexual)
Conxambrar com ella (fazer sexo)
Encomendas (órgãos sexuais)

Fonte: M Diversidades – Miriã Soares




De estupradores, é claro!




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A IGREJA DO NÃO!

"O Arcebispo de Olinda e Recife,
o Papa e os Cardeais da Cúria romana
não envelhecem, envilecem...".
Carlos Esperança,
presidente da Associação Ateísta Portuguesa


O caso da menor brasileira de nove anos de idade, estuprada pelo padrasto desde os seis, é deveras indigesto. O fato veio a tona no dia 25 de fevereiro, mas, desde então, ainda incomoda muita gente, sobretudo porque não é um caso isolado, embora, diferentemente dos demais, ganhou repercussão internacional por causa do barraco que dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife, armou sem nenhuma precisão. Um idoso, aliás – perdoe-me os setuagenários de plantão – que só pode estar caducando ou, então, padecendo de algum outro mal.


Afinal, se opor ao aborto, decorrente do estupro continuado ao qual a menor – a chamarei de Alice (o nome é fictício, já que, por determinação do Ministério Público de Pernambuco, o seu nome verdadeiro ou mesmo as suas iniciais devem permanecer ocultos para ela não ser identificada) – foi vítima é, no mínimo, sinônimo de alienação. Para não dizer de maldade ou outra coisa que o valha, já que o padrasto, inclusive, um verme asqueroso costumava ameaçá-la com uma foice, caso ela contasse à mãe que mantinha relações sexuais com o mau-caráter.


Tenha dó, dom Dedé! E também não precisava fazer tanto estardalhaço por causa do aborto que foi feito em Alice, não. Mesmo porque o aborto em questão estava amparado pelo Código penal brasileiro e é isso o que importa. Agora, imaginem se não estivesse! Afinal, se, mesmo legal, o aborto de Alice transformou dom Dedé em um ciclope, que, por possuir um único olho, limita o seu campo de visão, fazendo-o enxergar apenas as leis anacrônicas do Código de Direito Canônico, não quero nem pensar no que ele poderia ter se transformado se o aborto tivesse sido clandestino.


Se deixássemos, ele seria até capaz de acender uma fogueira no Alto da Sé, em Olinda, e queimar viva a pobre coitada da Alice, não mais imaculada, reavivando as chamas da Inquisição medieval ao bradar, cegamente: "Herege!"... E o Coelho Branco do nem tanto assim fictício País das Maravilhas, doido de pedra, igual a todas as personagens da sua trupe: o Chapeleiro Maluco, o Gato Risonho, a Duquesa, a Lagarta Azul, desandando a subir, como sempre atrasado, as íngremes ladeiras de Olinda, encontrando, ainda, apesar da respiração ofegante, forças para cantarolar:
— "É tarde! É tarde! É tarde até que arde!".

Sem esquecer-se, claro, de ligar para o celular da patroa, ou melhor, da Rainha de Copas, de curto pavio e conselheira de dom Dedé para assuntos pervesos, pedindo que o esperasse para dar início ao caloroso espetáculo... Não foi a toa que o Jornal francês Le Monde não se fez de rogado e estampou para todo o mundo ver: A Cruzada conservadora de dom Dedé. Eu cá, do meu mundinho, remeti-me ao séc. XI, quando, em 1095, o papa Urbano II (1042-1099) idealizou e instituíu as Cruzadas, expedições de caráter militar, organizadas pela Igreja católica, que, aliás, duraram mais de dois séculos.


O objetivo das Cruzadas, contudo, que, aliás, possuía elementos para justificar um filme épico, era o de, supostamente, libertar a chamada Terra Santa – Jerusalém – dos mulçumanos. Só que, achando pouco a sangria desatada provocada pelos celerados das Cruzadas, em nome de uma mentalidade insana, o papa Lúcio III, lá por volta do ano de 1184, em Verona, na Itália, criou o que ele chamaria de Santa Inquisição, antecipando-se ao psicopata britânico Jack, o estripador (mera semelhança com estuprador), que, em fins do séc. XIX – até hoje ninguém, pelo menos oficialmente, descobriu a sua identidade –, atemorizou as mulheres de Londres.


Obviamente que de santa a Inquisição não tinha nada, mesmo porque santidade não existe, e a sua criação oficial e regulamentação, com o nome de Tribunal do Santo Ofício, deu-se apenas, em 1231. E, diga-se de passagem, pela suma proteção do então papa Gregório IX (1170 - 1241), prolongando-se até 1859 com o único objetivo de investigar e punir atos – a inofensiva da heresia – considerados crimes contra a fé católica e, a ferro fogo, garantir o poder e a dita supremacia da Igreja católica, que, sem argumentos lógicos, fez da coação e da violência uma prática.


Sem esquecer de ressaltar que, ao longo dos séculos, a Inquisição teve vários nomes e, apesar do seu objetivo permanecer o mesmo, os métodos de tortura dos inquisidores se tornaram, ainda, mais requintados e sádicos. Foi Inquisição Medieval, a de Gregório IX; Inquisição Espanhola, inaugurada por Sisto IV (1414 - 1484), em 1478... Em 1542, sob o foco da Reforma (séc. XVI), liderada pelo teólogo e monge agostinho alemão Martinho Lutero (1483 - 1546), o papa Paulo III foi forçado a apresentar um inquérito oficial do Vaticano sobre os excessos cometidos pelas duas últimas inquisições.



Os inquisidores só podiam, mesmo, viver desesperados, com receio de que a sua Igreja perdesse influência e poder, já que eles chegaram ao extremo de considerar crime contra a fé o fato, em um exemplo bem simplista, de uma mulher fazer chás com folhas de plantas aromáticas ou mesmo com folhas de alguma erva com poder terapêutico, acusando-a, por esse bucólico gesto, de bruxaria. Negavam-lhe, então, por isso, o direito à defesa, submetendo-a a torturas – não eram raros os casos de estupros – para, depois, enforcá-la, embora, na maioria das vezes, o costume era o de jogá-la viva à fogueira, queimando-a por inteiro...
(Do artigo As Bruxas de Salem, de minha autoria)


Baseando-se, contudo, na lógica dos tiranos, Paulo III criou a Congregação de Inquisição. Mais um nome. Como se não bastasse, um equivocado papa Pio X (1835 - 1914), que sequer conhecia o conceito de modernidade, achou por bem inovar. No séc. XX, em 1908, reorganizou a Inquisição, criando a Congregação do Santo Ofício. O papa Paulo VI (1897 - 1978), por sua vez, mascarando as intenções do Vaticano, instituiu, em 1965, a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, considerada o quarto e atual estágio da Inquisição, sendo que, em 1983, o nome Sagrada foi suprimido.


O prefeito dessa aparentemente inofensiva versão da Inquisição durante quase longos vinte e quatro anos, de 1981 a 2005, foi o então cardeal alemão Joseph Ratzinger, arcebispo de Munique, na Alemanha, indicado ao cargo por João Paulo II (1920 - 2005), sendo, hoje, o misericordioso papa Bento XVI... De tão íntimo da família que é, sequer mexeu um dedo para conter o desvario que se apossou de dom Dedé, que, no frigir dos ovos, diante das suas constantes aparições na mídia, fustigadas por ele próprio, diga-se de passagem, só queria virar celebridade da noite para o dia.


Sem precisão, ele atraiu para si os holofotes e deu publicidade até demais – sem precisão alguma – a um fato que, em termos morais, não deveria ultrapassar os adros da Igreja católica, limitando-se aos seus púlpitos e à consciência de fiéis que queiram ou não seguir tal ou qual orientação religiosa ou sabe-se lá mais o quê. Sim, porque, em termos legais, no caso do Brasil, o aborto só diz respeito à gestante e a mais ninguém. Eu, particularmente, diria que dom Dedé se meteu onde não foi chamado. Ganhou fama, mas perdeu o seu tempo e também o nosso.


Por que, então, dom Dedé não faz alguma coisa de útil e adere as fileiras daqueles que reivindicam do Vaticano que aprovem o aborto, a eutanásia, o uso da maconha, o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, o divórcio, a contracepção e demais reivindicações básicas feitas pelo povo católico e não católico, ou seja, um pacote completo? Afinal, somos humanos e vivemos na Terra. O céu e o inferno resumem-se a figuras de linguagens, metáforas. E o ser humano deve, sim, ter o direto de dispor do seu corpo e da sua vida tendo como guia a sua própria consciência e moral.





Não as dos que não se contentam em queimar livros e,
de tão covardes, terminam por queimar os donos dos livros.


Quanta estupidez! E eles, ainda, se diziam e dizem cristãos... Sei não, mas, diante do sadismo dos inquisidores – um bando de celerados ensandecidos (alguém duvida?) –, a psicopatia de Hitler pode até passar como uma discreta histeria. E diante da carnificina promovida pela dupla Cruzada e Inquisição – centenas de milhões de mortos –, o triste legado do Nazismo, que foi o holocausto – cerca de seis milhões de óbitos – parece brincadeira de criança... Enfim! Se "toda violência é um defeito do espírito", como sentenciou o filósofo italiano Giordano Bruno (1548 - 1600), quantos espíritos tortos teremos, ainda, de suportar?


Mas que Alice, apesar das adversidades,
possa, um dia, dormir o sono dos justos,
com a sua gatinha Dinah no colo,
sem a ilusão de que vivemos
em um país das maravilhas...


Fonte: Do ensaio Trama macabra, de minha autoria

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DEU À LUZ A MEIA-LUZ

Toulouse-Lautrec (1864 - 1901), pintor francês

Le Baiser, 1892
"Não há paixão mais egoísta do que a luxúria...".

Marquês de Sade (1740 - 1814)
escritor francês


As margens da rodovia BR 101, em um motel de beira de estrada, no balneário de Camboriú, no litoral de Santa Catarina, uma profissional do sexo, 31, estava em pleno programa quando começou a sentir fortes contrações que indicavam a iminência de um parto. Em entrevista ao Jornal de Santa Catarina, uma funcionária do motel, onde ocorreu o inusitado episódio, a mulher e o acompanhante só acionaram a recepção do estabelecimento depois do parto, para á de inusitado, por volta das sete da manhã.


Segundo ela, quem provavelmente fez o parto e deu os primeiros-socorros à mãe foi o acompanhante: "Quando a camareira, que está grávida e já tem um filho, entrou no quarto, encontrou o bebê na cama. Ele estava roxinho, gelado e de bruços. Foi ela quem o enrolou no lençol e virou a barriguinha pra cima, para ele poder expelir as sujeirinhas e respirar tranquilamente", detalhou. Em seguida, os bombeiros foram acionados e conduziram mãe e o recém-nascido a um hospital local.


O Conselho Tutelar do Balneário Camboriú passou a acompanhar o insólito caso e apresentou uma representação ao Ministério Público Estadual, sugerindo a perda do mátrio poder da prostituta: "O caso requer muita atenção, pois a mãe já possui outras quatro crianças e é usuária de crack", afirmou Adriano Gervásio, presidente do Conselho Tutelar do município. Mãe e filho, contudo, que nasceu com mais de três quilos, foram submetidos a diversos exames, incluindo o do vírus HIV e o de sífilis, que deram normais e negativos.


Segundo ele, a mulher "reluta em se tratar da dependência química" e, assim, não tem condições de criar filho nenhum, já que a mãe assumiu ser usuária de crack e estava bêbada e drogada, informando, ainda, que toda a sua família mora no Paraná e, por isso, o órgão aguarda uma manifestação da Justiça: "Como ela não quer ajuda, esperamos que o juiz transfira imediatamente essa criança a um abrigo até que um familiar se manifeste e antes que ela abandone o hospital".


Para Manoel Mafra, também do Conselho Tutelar: "O que mais impressiona é a negligência da mãe, que, no dia do nascimento da criança, estava se prostituindo e, visivelmente, drogada", declarou. A mulher, por sua vez, poderá responder, criminalmente, por negligência. Os outros quatro filhos da jovem de programa, que não tem residência fixa, moram com os avós no Paraná, destino provável do bebê. O mistério, contudo, reside na identidade do cliente, que, assustado, fugiu do motel.


Em observância ao Guia de Ética, Qualidade e Responsabilidade Social, da RBS, o nome da mulher não está sendo divulgado.


Fonte: Jornal de Santa Catarina e Ric Record

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ATIREM OS TAMANCOS!
"Produto natural da vida em sociedade,
a lei depende das condições instáveis dessa mesma vida...".

Anatole France (1844 - 1924)
Escritor francês

Deu na BBC: O Centro de Saúde e Prostituição de Amsterdam, na Holanda, pretende cuidar da saúde e do desenvolvimento das profissionais do sexo e convertê-las em pequenas empresárias de sucesso. O Ministério do Trabalho do Brasil, por sua vez, tem a sua cartilha para as profissionais do sexo, mas, quem inovou mesmo foi a moderna Holanda, que, desde 2000, legalizou a profissão mais antiga do mundo. Para isso, o governo holandês levou em consideração dois argumentos fundamentais: um maior controle das doenças venéreas e a emancipação das mulheres de seus cafetões.


Ainda segundo a BBC, o Centro de Saúde e Prostituição, que é uma entidade estatal, dispõe, ainda, de psicólogos, assistentes sociais e contadores, oferecendo as profissionais do sexo informação sobre proteção sexual e oficinas didáticas de superação profissional, onde elas aprendem desde os segredos do oficio as manhas para tratar bem o cliente e receber uma boa gorjeta. A novidade, contudo, são os cursos de computação e administração para que ela aprendam a pagar impostos, abrir uma conta bancária, acessar um crédito hipotecário, pagar uma aposentadoria ou quitar alguma dívida.


No entanto, quem quiser deixar o oficio não vai encontrar objeção nenhuma do centro, embora os objetivos do empreendimento sejam outros: o de "dar todas as ferramentas possíveis para que as profissionais do sexo tenham sucesso como trabalhadoras independentes", diz Therese von der Helm, coordenadora do projeto: "Não podemos esquecer que são mulheres de negócios, por isso ensinamos não só a sobreviver em sua profissão, mas, também, em questões outras: administração e autodefesa e uma atitude firme quando estiverem atrás de uma vitrine.


Os outros cursos são proteção sexual, contabilidade, desenvolvimento profissional e aprendizagem do idioma holandês: "Com certeza estamos ajudando a melhorar suas condições trabalhistas, sociais e de saúde, e a prevenir a exploração e o abuso sexual", resume Van Der Helm, com vinte anos de experiência no ramo.
 

Guys Constantin (1802-1892), desenhista francês

Courtisane turque sur Le pás de sa porte, 1856
Paris, França – Museu do Louvre

Atualmente, são mil prostitutas
que circulam nas ruas de Amsterdam.


Segundo um folheto informativo, o ideal é "boa saúde e vigor no trabalho sexual e saber que sempre se pode dizer Não!". E até criaram quadrinhos que orientam o que fazer com tarados que querem de tudo, até usar consoladores de viúvas. O ideal seria que em paralelo, existissem programas para transformar a mentalidade da sociedade, que, mesmo se tratando de uma profissão legalizada e a mais antiga da humanidade, conserva sua imagem negativa a seu respeito. Até hoje, aquelas que trabalham na legalidade, devem pagar impostos e realizar um controle médico regular.


A cada três meses, por serem consideradas trabalhadoras independentes, as profissionais das vitrinas pagam ao estado dezenove por cento de seus ganhos. No bairro da Luz vermelha, mais conhecido como De Wallen, muitas se queixam do pagamento de impostos e consideram que, agora, o cafetão é Estado. Quem diria...

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CASA DA MÃE JOANA



"Política é a segunda profissão mais antiga do mundo.
Aliás, muito semelhante à primeira...".
Ronald Reagan (1991 - 2004),
ator e ex-presidente dos Estados Unidos


Séc. XIV. Palco das venturas e desventuras de uma mulher que, de uma hora para outra, apesar dos títulos de nobreza, passou à condição de fugitiva. A história é deveras interessante, sobretudo por ser tratar nada mais nada menos de Jeanne I D’Anjou (1326 - 1382), rainha de Nápoles, princesa de Achaea, condessa de Provence e Forcalquier, rainha consorte de Maiorca, princesa consorte de Taranto e duquesa consorte de Brunswick-Grubenhagen. Nascida em Nápoles, Joana – em português – era filha de Charles, duque de Calabria e o primogênito do rei napolitano Robert (1278 - 1343) de Nápoles, chamado de O Sábio, e de Marie de Valois, irmã do rei francês Philippe VI de Valois (1293 - 1350).


Coroada rainha, em 1344, após a morte do avô, Joana era tida como uma protetora de poetas, artistas e intelectuais. A sua vida, contudo, foi recheada de escândalos e polêmicas as mais diversas, sendo, inclusive, acusada de conspirar contra a vida do primeiro marido, o príncipe húngaro Andrew, barbaramente assassinado. Exilada em Avignon, na França, Joana instalou-se em um castelo que já havia sido residência de vários papas. Levada a julgamento pelo suposto envolvimento na morte do marido, foi inocentada, ficando livre para mandar e desmandar em Avignon. O seu segundo marido, pois colecionou alguns, foi Louis de Taranto, o único à quem ela concedeu o status de co-rei.


Na seqüência, viriam, ainda, James IV de Maiorca e Otto, duque de Calabria. No dia 8 de agosto de 1347, indignada com a prostituição feminina nas ruas de Avignon, Joana publicou um edital que, segundo o escritor francês Alexandre Dumas, Pai (1802-1870), em seu romance Comemorou crimes, escrito em 1839/40, foi, provavelmente, o primeiro no gênero. No edital, além de determinar a criação de um prostíbulo, decretou normas de funcionamento e de conduta, a fim de que a ordem fosse mantida, a aplicação de severas sanções para toda e qualquer violação das normas de disciplina. A Nova Babilônia, no dizer de Dumas, era, por assim dizer, uma "instituição salutar".


No prostíbulo, portanto, reinavam soberanas línguas e costumes, esplendor e trapos, riqueza e miséria, rebaixamento e grandeza. Entre as normas, contudo, constava a restrição de que o estabelecimento abriria todos os dias do ano, "com exceção dos últimos três dias da Semana Santa", além – o mais curioso – de "a entrada ser barrada aos judeus", o que, de certa forma, contrariava a principal norma:

"O lugar terá uma porta
por onde todos possam entrar...".

Toulouse-Lautrec (1864 - 1901), pintor francês

Au Salon de La rue des Moulins, 1894
Paris, França – Museu Toulouse-Lautrec

Joana foi mal interpretada, coitada, já que a sua intenção era a de ser a mais democrática possível, a fim de ser querida e popular por todos de Avignon, que ela, então, dominava. Porém, em 1380, foi declarada herege pelo papa Urbano VI (1318-1389) por diversos motivos, políticos e desregramento de comportamento, devendo ser executada – por ironia, um ancestral de Joana, o rei francês Louis IX (1214/15 - 1270), foi canonizado em 1297. O fato é que, após renunciar, ela foi presa na fortaleza de San Fele. Porém, à espera da execução, encerrada em uma cela, ainda segundo Dumas, a solidão aterrou o seu passado de glórias, cuja morte iminente não seria nada gloriosa. Tudo tinha desaparecido. Ajoelhou-se e rezou.


Para as suas respostas, um cordão de seda e ouro. Para o pescoço... Joana chorou e caiu sobre ele. Foi estrangulada. O dia? 12 de maio de 1382. O mandante da sua execução? O seu sobrinho Charles de Durazzo, que lhe herdou o trono, mas não a popularidade. Ao abrir o seu famoso prostíbulo, contudo, a ousadia de Joana foi tamanha que a norma "o lugar terá uma porta onde todos possam entrar" – virou máxima – viajou o mundo de várias formas, embora com o mesmo sentido, e, chegando ao Brasil, trazida pelos colonizadores portugueses, tornou-se conhecida na expressão: Casa da mãe Joana, que, segundo o folclorista brasileiro Luís da Câmara Cascudo (1898 - 1986), significa onde cada um faz o que quer.


Pior! Um lugar onde impera a desordem, bem como a desorganização e o desmando, além da variante chula: Cu da mãe Joana – ninguém merece! No caso do gesto de Joana, uma alcunha, no mínimo, injusta. Alguém tem alguma dúvida?

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CIDADE DO SOL

"O que será de ti se a grã duna for escondida...".
Deth Haak, A poetisa dos ventos
Natal, um mar de poesias!


Falando em Casa da mãe Joana, parece que Natal, capital do Rio Grande do Norte, é a própria, sobretudo se considerarmos o gritante aumento populacional da cidade e o seu crescimento verticalizado – a velocidade em que são construídos edifícios lembra a produção em série de uma fábrica qualquer –, comprometendo, consideravelmente, a qualidade de vida da população local, que, não faz muito tempo, ainda podia desfrutar da brisa benfazeja que, devido à localização estratégica do lugar, era, generosamente, ofertada pelo mar, que, aliás, nunca pediu nada em troca. Ao contrário! Sempre esteve a dar mais e mais...


Infelizmente – não é de hoje – os turistas estão conhecendo as belezas das paisagens de Natal, o calor humano dos nativos e a sua peculiar gastronomia, e terminam se mudando para a cidade. Só que, como não tem muito mais espaço urbano para ela se expandir horizontalmente, a construção civil tem especulado no sentido vertical. Assim, diante de tantos obstáculos, a brisa do mar ou recua ou vai para outro lugar, não mais para a cidade. Quem perde com isso? Todos os que moram em Natal, que virou um forno abafado e quente, insuportavelmente inabitável, sobretudo para quem é avesso a calor. E com o efeito estufa, então!


Sem falar na erosão inevitável das dunas... O pior é que, com o crescimento populacional, aumenta o acúmulo de lixo e a quantidade de veículos circulando pelas ruas da cidade, que, desde os seus primórdios, foi privada de largas avenidas, o que agrava o fluxo de carros, tornando o trânsito estressante e sufocante, devido à emissão em demasia de gás carbônico na atmosfera. É poluição sonora, visual, do solo, do ar... A solução? Fechar os portões da cidade, igual foi feito em Tróia, esperando, contudo, que poupem a sua soleira de algum presente de grego, igual tem sido a chegada em massa – mas parece um comboio – de forasteiros na cidade.


Diga alguma coisa, Joana!
Afinal, a casa é sua...
Ou não é mais?


A poesia desperta...

 
Zila Mamede (1928 - 1985),
Poetisa brasileira
O Edifício
Visão: campo em vertical
o morto sem raiz
dorme: concreto e cal.


Estrutura em que
o morto numeral repousa
nem nome (nem lousa).


Morte que sobe o morto
e o delimita:
morto seu rés-de-chão desabita.


Exercício da palavra
1975


Não acredito que alguém,
em sã consciência,
ache isso normal...

 















Mirante João Olimpio Filho:
o maior prédio de Natal e do Nordeste,
com 138 metros de altura
Detalhe: a cobertura triplex
é de propriedade do jogador Ronaldinho Gaúcho


Uma pausa,
já que ninguém é de ferro,
de cal nem de concreto...




"É preciso amar uma cidade
para compreendê-la...".
Nei Leandro de Castro, escritor brasileiro

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CIDADE MARAVILHOSA

"Não entendo como alguns escolhem o crime,
quando há tantas maneiras legais de ser desonesto...".
Al Capone (1899-1947), gangster norte-americano


Estava demorando!... Sinceramente, como é que o Cristo Redentor teve tanta paciência para, até hoje, agüentar tanta violência e sair ileso, sem ser atingido por nenhuma bala perdida? Uma das Novas 7 Maravilhas do Mundo, o Cristo Redentor cansou da de há muito falida segurança pública do Rio de Janeiro, a mercê da corrupção, que pulula por todos os lados, sem alvo certo. Sem opção, o governador Sérgio Cabral decidiu construir onze quilômetros de polêmicos muros para conter o crescimento das favelas sobre as áreas verdes.


Segundo o artigo Os Muros do Rio de Janeiro, divulgado no site Metamoforse Digital, "na maioria dos estados do país, as invasões de terrenos de áreas urbanas são reprimidas com uma política de segurança enérgica. Invadiu? É área pública ou de preservação? Vai lá, despeja e, se insistir, prende. Simples assim. Ao que parece, o principal objetivo implícito na construção destes muros é o de conter o vai e vem de bandidos e traficantes pelas matas dos morros às margens das favelas. Os defensores dos direitos humanos, por sua vez, já falam em política de apartheid. Dizem que o muro irá criar uma distância maior entre asfalto e morro, entre pobres e ricos".


Ainda segundo o artigo, os muros irão "diminuir a auto-estima de quem mora nos locais murados. Mas, como sempre, nunca aparecem com uma sugestão para ajudar a resolver o problema". Enquanto isso, "a principal comunidade a ser murada seria a Rocinha, uma ‘fábrica de produzir marginal’ segundo o governador". O fato é que a cidade do Rio é um problema sem solução a curto prazo. "Se algo não for feito para conter a invasão das favelas sobre a cidade, logo o tráfico de drogas estará, oficialmente, governando a cidade não tão mais maravilhosa".


Fonte: Metamorfose Digital, Os Muros do Rio de Janeiro

Curiosidades: A estátua do Cristo Redentor começou a ser planejada em 1921, quando foi organizada a Semana do Movimento — uma campanha para recolher contribuições dos católicos. No entanto, as doações só começaram 10 anos depois quando o arcebispo dom Sebastião Leme passou a coordená-la. Os primeiros esboços do Cristo foram feitos pelo pintor Carlos Oswaldo, que o imaginou carregando uma cruz, com um globo terrestre nas mãos, sobre um pedestal que simbolizaria o mundo.


Mas foi a população carioca que optou pela forma da imagem do Redentor de braços abertos, como, hoje, ela é conhecida no mundo inteiro. O projeto foi desenvolvido pelo engenheiro brasileiro Heitor da Silva Costa (1873 - 1947) e levou quase cinco anos para ser concluído. Foram estudados vários materiais para o revestimento da estátua, mas, por fim, foi escolhida a pedra-sabão, utilizada por Aleijadinho para esculpir os Profetas em Congonhas do Campo, em Minas Gerais.


Embora seja um material fraco, que pode ser riscado até com uma unha, é extremamente resistente ao tempo e não deforma nem racha com as variações de temperatura. Como a execução da obra era impossível no Brasil, os desenhos foram levados para a França, aos cuidados do escultor polonês Paul Landowski. De volta ao país, as peças foram transportadas pela Estrada de Ferro do Corcovado e montadas no alto do morro. O Cristo Redentor tornou-se, portanto, um símbolo da cidade.


As Novas 7 Maravilhas do Mundo:


A Muralha da China;
A cidade de Petra, na Jordânia, toda construída em pedra;
O Cristo Redentor;
Machu Picchu, no Peru;
O templo de Chichén Itzá, no México;
O Coliseu, de Roma;
O Taj Mahal, na Índia.


No último dia 4 de maio de 2009, a cidade do Rio de Janeiro formalizou a intenção de receber da UNESCO o título de Patrimônio Mundial. A cerimônia de lançamento contou com a presença do governador Sérgio Cabral, do prefeito Eduardo Paes, do ministro da Cultura Juca Ferreira de Luis Fernando Almeida, presidente do IPHAN.


Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional

Olha quem está de volta!


Direto do blog O Caderno de Saramago: "Toda a vida tenho estado à espera de ver uma greve de braços caídos numa fábrica de armamento, inutilmente esperei, porque tal prodígio nunca aconteceu nem acontecerá. E era essa a minha pobre e única esperança de que a humanidade ainda fosse capaz de mudar de caminho, de rumo, de destino".

É isso aí, camarada!


Nathalie Bernardo da Câmara
Em busca de um lugar tranqüilo...

*Publicado, originalmente, no dia 26 de maio de 2009.