sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

De aridez


O escaldante calor do verão

evidencia a perversidade da estação.

Padecendo, fadigados e indefesos,

corpos clamam por climas benfazejos.

Feito miragem, acenando aos leques de apelos,

a chuva cai, mas breve são os seus desvelos.

Em revide, arrogante e inclemente,

o sol tripudia, esfola, castiga – um demente,

cujo bafo irradia porções de venenos

indiferente ao alento de dias amenos...

 

Nathalie

Natal (RN), 1°-02/03/2022


 



sábado, 3 de fevereiro de 2024

Naufrágio

A Nicole Tinôco

 (03/02/1986-05/12/2023)

in memoriam

 

 

O marulho sibila o teu adeus... Não, não estava no script – ademais, cá entre nós, os oráculos erraram nas previsões, legando, convenhamos, lacunas tragadas pelas vagas, com a promessa não cumprida no fundo do mar... Porém, c’est la vie! E eu, ante um imenso oceano, ao longe vislumbrando emergir o teu semblante, um aceno... Quiçá, a pauta do dia, ou seja: a tua partida sem melindres, dispersando o relógio de areia – a ampulheta dos sonhos...



Na maresia,

sou ostra vazia...

E se ontem verdejava,

virei pau oco,

galho tosco, torto...

Flor a fenecer,

perdi aroma e frescor;

fruta desidratada,

descompasso ao plantear...

Embaçando ainda mais o meu olhar,

a noite também chorou:

nenhuma gota de orvalho sobrou...

 

Inconsolável,

sou desalento;

inabitável,

casa em ruínas

sem ecoar o mais lamentoso pio  

– faz frio...


Desolada,

embalada pelo torpor

– mélange de pesar, frustração e dor –

busco refúgio na copiosa saudade

e no amparo da melancólica pena

que a duras penas

fia esta legítima e pungente elegia,

nostálgica de um tempo

onde malgrado os malogros da vida

alinhavávamos o nosso bordado

– doce e singular poesia... 

 

Nathalie

 

Dezembro 2023