sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

BRASIL: UM PAÍS DE TODOS...

















E lá vamos nós!


Nathalie Bernardo da Câmara


UM ACENO VERDE!


“A natureza pode suprir todas as necessidades do homem,
menos a sua ganância...”.

Gandhi (1869 - 1948)
Advogado e pacifista indiano



O Ano Internacional da Biodiversidade despede-se, mas com poucos presentes na mala. E a porção senadora de Marina Silva (PV-AC), eleita para dois mandatos consecutivos, em 1994 e em 2002, também, embora, no caso, ela tenha sido a grande surpresa no cenário político brasileiro em 2010, não somente por suas posturas comprometidas com o meio ambiente, mas, também, por conquistar cerca de 20% dos votos válidos nas eleições presidenciais deste ano, sendo o fato, portanto, um acontecimento memorável. Porém, temos de esperar quatro anos para, enfim, vê-la comandar o Brasil. Até lá, estaremos fadados ao continuísmo do PT no governo.

Em seu último discurso no Senado, contudo, no dia 16 do corrente, Marina versou sobre os seus sonhos, adiantando que não pretende se limitar à condição de candidata à presidência do Brasil em 2014, mas, sobretudo, “fazer parte de um processo como parte do processo”, acrescentando: “Quero lutar por um Brasil que seja economicamente próspero e socialmente justo, ambientalmente sustentável e culturalmente diverso. Quero voltar à sociedade como ativista, como professora, não só na questão partidária, mas como mantenedora de utopias”, sendo a maior de todas, deste século, ainda segundo ela, a utopia, viável, da questão da sustentabilidade ambiental.

Para Marina, o Brasil, livre das desigualdades sociais, promete ser o país da economia de baixo carbono, da educação que gera oportunidade para todos, apostando na inclusão produtiva e um exemplo de prosperidade e sustentabilidade ambiental. Em sua avaliação, “nós podemos usar os recursos do pré-sal para poder fazer a economia de baixo carbono. (...) Para isso é preciso criar o processo e as novas estruturas para esse mundo em crise, que pode ter na sua crise a grande oportunidade da transformação desse início de século”, disse, desejando, ainda, apesar das divergências, boa sorte à Dilma Rousseff. De fato, de muita boa sorte o novo governo vai precisar.

Afinal, as pendências deixadas por Lula não são poucas. De qualquer modo, que, nos próximos quatro anos, ele não se torne uma sombra a manipular o mandato da sua companheira, influenciando em suas decisões. Bom! Dias antes, contudo, do referido discurso, Marina alertou para o retrocesso da proposta de mudanças no artigo 23 da Constituição Brasileira, que transfere a competência do poder fiscalizatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA aos estados e municípios, comprometendo as metas já assumidas pelo governo federal para a redução do desmatamento e das emissões de gases do efeito estufa - GEE.

Isso sem falar na reforma – para lá de polêmica – prevista para o Código Florestal, que, de acordo com a ambientalista, deve ser rejeitada. Afinal, o referido documento foi criado para proteger as nossas florestas, não para ameaçar as políticas de manejo sustentável florestal. Enfim! Um artigo de sua autoria, intitulado Uma evolução silenciosa, foi publicado este mês, na edição especial Veja Sustentabilidade, respondendo a questão formulada pela revista: “O Brasil pode crescer em ritmo chinês sem agredir o meio ambiente?”. Independentemente das minhas simpatias pelas idéias de Marina, li o artigo e acho que ela foi pertinente em suas colocações.


A onda agora, então, é a de tentarmos salvar o planeta, não contribuir para deletá-lo de uma vez... Eis a íntegra, portanto, para quem quiser conferir, do mencionado artigo: Uma evolução silenciosa, Revista Veja, edição especial sustentabilidade, dez/2010  


Nathalie Bernardo da Câmara

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

COP-16: UMA AVALIAÇÃO...


“As emissões globais continuam subindo em ritmo acelerado e as expectativas de seu controle foram reduzidas. Temos de acabar com as omissões dos governos, assumir compromissos e mobilizar a sociedade global na construção de bases estruturais que assegurem o futuro da vida no planeta...”.

Marina Silva
Senadora (PV-AC)


Nesta terça-feira, 28, o jornal O Globo publicou um artigo, de autoria de Jeremy Hobbs, diretor-executivo da Oxfam Internacional – Genebra, no qual são analisados os resultados da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-16), em Cancún, no México, no início deste mês. Vale a pena conferir!


Nathalie Bernardo da Câmara




 


Fim da ressaca de Copenhague

Jeremy Hobbs



É certo que a Conferência para o Clima realizada este mês em Cancún - COP16 - não foi perfeita, mas as bases que nos colocarão no rumo certo a um prêmio final de um acordo justo, ambicioso e legalmente vinculante foram lançadas, e isso é importante. As decisões tomadas no balneário mexicano foram muito mais significativas que os resultados da alardeada Conferência de Copenhague - COP15, do ano passado, e podem salvar milhões de vidas.

A mais importante foi a criação do Fundo Climático - um fundo único que agilizará a disponibilização de recursos fundamentais para que pessoas e comunidades que mais precisam deles possam fazer frente aos impactos climáticos. Essa questão sempre foi a pedra angular para a construção de um acordo entre países ricos e pobres em Cancún.

Um nível mínimo foi estabelecido para os compromissos de cortes de emissões assumidos após a reunião de Copenhague. Ainda que insuficiente, abriu-se um caminho para que esse patamar seja elevado de acordo com as verificações científicas mais recentes.

O Protocolo de Kyoto - duramente atacado nas duas últimas semanas - sobreviveu. E foi só isso. Muito mais precisa ser feito, mas agora temos uma linha de base segundo a qual as emissões devem ser reduzidas em relação a 1990 - e não a 2005 -, envolvendo níveis de redução muito mais ambiciosos. Os países em desenvolvimento estão mais confiantes de que as nações mais ricas apoiarão a continuidade do segundo período de compromisso.

Esse não é o fim da história - é apenas o início. Precisamos aumentar os níveis dos compromissos previstos no Acordo de Cancún e garantir a aplicação de mecanismos de observância aos Estados Unidos para que possamos ter reduções reais de emissões. Essa medida é crucial, uma vez que os americanos não assumiram metas compulsórias no âmbito do Protocolo de Kyoto. Precisamos identificar fontes de financiamento de longo prazo: a Organização Marítima Internacional talvez possa assumir a dianteira desse esforço quando se reunir em 2011 para discutir a aplicação de taxas sobre a navegação internacional, que ainda não foram regulamentadas. A aviação internacional também deve fazer parte dessa equação.

Longe das negociações climáticas da ONU, a determinação de países e de blocos de países de tomar medidas em relação às mudanças climáticas pode aumentar. A União Europeia deve ampliar sua meta de cortes de emissões de 20 por cento em relação aos níveis de 1990 até 2020 para pelo menos 30 por cento. O Reino Unido, em princípio, irá adotar a recomendação do Comitê sobre Mudanças Climáticas e estabelecer uma meta de 60 por cento até 2030. Os países ricos devem aprender com a experiência "piloto" dos fundos de curto prazo e acesso rápido (Fast Start Funding) para que os financiamentos de longo prazo sejam efetivamente novos e adicionais à ajuda ao desenvolvimento.

Os países desenvolvidos precisam estar muito mais determinados na liderança da luta contra as mudanças climáticas globais. Nos Estados Unidos talvez seja necessário um esforço de reconstrução de baixo para cima - mobilizando comunidades para atuarem com vigor, pressionando seu governo cuja atuação nas negociações internacionais continua a impedir a adoção de medidas climáticas efetivas.

Brasil, África do Sul, Índia e China devem aproveitar as ações ambiciosas que desenvolveram desde Copenhague e em Cancún para criar um novo modelo de desenvolvimento limpo e de erradicação da pobreza. Os governos de países vulneráveis - os menos responsáveis pela crise climática, mas os primeiros a sofrer mais intensamente seus violentos efeitos - precisam implementar políticas de longo prazo para desenvolver a capacidade de suas populações e comunidades de se recuperar de impactos climáticos. Muitos dos países mais pobres já definiram planos ambiciosos para controlar o aumento de suas emissões - como, por exemplo, o plano das Ilhas Maldivas de serem neutras em carbono até 2020. A comunidade internacional deve apoiá-los nesses esforços destinados a salvar vidas.

Cancún é um capítulo importante na épica história do combate às mudanças climáticas globais. Se os países virem Cancún como deveriam - um momento de virada que lançou bases para avanços futuros - o final do livro pode estar próximo.



domingo, 26 de dezembro de 2010

CHINA: PERSONA NON GRATA


“Para a treva só há um remédio: a luz...”.

Monteiro Lobato (1882 - 1948)
Escritor brasileiro



Durante a nossa infância, os meus irmãos e eu passávamos muito tempo em casa de dona Nanoca (1910 - 2003), a minha avó paterna, que, à época, morava aos pés da ladeira da rua Quintino Bocaiúva, na parte antiga de Natal, à margem direita do rio Potengi. Não muito distante, na rua de cima, defronte a secular igrejinha de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, morava uma mulher, cujas histórias fantasiosas que ouvíamos ao seu respeito eram, para a maioria de nós, assustadoras e temíveis, já que atribuíam à ela supostos mistérios e excentricidades que, quiséssemos ou não, eram incompreensíveis para a nossa tenra idade, mas, de certo modo, povoando o nosso imaginário infantil. Tanto que o conselho corrente dos adultos, para não dizer ameaça acintosa à pureza das crianças, era o de que nem chegássemos perto da casa da tal mulher, uma viúva, de certa idade, que morava sozinha, todo o tempo a se vestir de preto e, detalhe, diziam ser comunista e que, por isso, tinha o bizarro hábito de comer criancinhas, ou melhor, o seu fígado... Vê se pode!

Ocorre que eu não tenho a menor dúvida de que quem propagava enganosamente essa idéia nem sabia no quê, de fato, consiste a verdadeira essência do comunismo – o que se sabia já devia ser deturpado – e que apenas o associavam à lenda do papa-figo para por rédeas e frear os ânimos e as traquinagens infantis. O pior, contudo, era que o sobrenome da mulher não ajudava em nada na desmistificação da propaganda negativa a seu respeito. Ao contrário, apenas agravava, para nós, o perfil que a vizinhança havia traçado para ela, ou seja, a criatura chamava-se Amélia Machado, sendo, entretanto, conhecida por todos como a viúva Machado, que, em nossas imaginativas cabecinhas, pensávamos que devia utilizar o instrumento cortante de mesmo nome para retirar os fígados humanos que comia. Agora, se engana quem pensa que tais historietas surreais causavam-me temor. Nunca! Elas só aguçavam ainda mais a minha curiosidade a respeito da solitária mulher que, supostamente, praticava o hobby de comer o fígado de crianças.

Isso sem falar que o casarão onde ela morava instigava-me, em sedução permanente, a me atrair para os seus portões de ferro. Mas, como eu poderia ousar, por exemplo, entrar nas dependências do casarão, ou seja, ultrapassar os limites que nos eram impostos pela vizinhança? Nem pensar! Além disso, como a gente andava em bando, se tornava quase uma missão impossível desvencilhar-me dos demais e me aventurar em seu interior. Caso o fizesse, era capaz de, no mínimo, terminar levando uns cascudos da minha irmã mais velha ou, quiçá, ficar de castigo quando chegasse em casa por não seguir os conselhos dos mais velhos. O fato é que – diga-se de passagem – o casarão, que, recentemente soube, data de 1910, sempre me fascinou, bem como a possibilidade de conhecer a sua dona, que, eu supunha, ficava a nos espreitar de uma janela qualquer – não lembro sequer de uma vez que a tenha visto –, observando a vida correr além e ela, pobre mulher, reclusa e solitária, tendo como companhia apenas a dos seus próprios fantasmas...

Comunismo:
os meus primeiros passos...

 

“Marx nunca teve tanta razão como hoje...”.

José Saramago (1922 - 2010)
Escritor português



Enfim! Toda essa introdução foi apenas para dizer que, desde a nossa infância, já pairava sobre as nossas cabeças o suposto fantasma do comunismo – frase que lembra a do filósofo e teórico alemão Karl Marx (1818 - 1883) no Manifesto Comunista de 1848, ou seja: “Um espectro ronda a Europa, o espectro do comunismo”. Ocorre que, na adolescência, aluna do curso de jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, me aproximei dos comunistas que freqüentavam a universidade. Os comunistas, por sua vez, percebendo a minha simpatia por suas causas, também se aproximaram de mim e, um belo dia, quando eu menos esperava, me vi assinando uma ficha de filiação ao histórico Partido Comunista Brasileiro – PCB, as voltas não somente com as idéias de Marx, mas, também, com as de Lênin (1870 - 1924), homem político russo e um dos líderes da Revolução de Outubro, ocorrida na Rússia, atual União Soviética, em 1917, de quem passei a ser admiradora incondicional. Tanto que, à época, final da década de oitenta, só para se ter uma idéia, a minha cor predileta, por exemplo, era a vermelha, enquanto o jornal semanal, a Voz da Unidade, órgão oficial do PCB, virou coleção. Curiosamente, a minha nova tendência também foi sentida nas artes...

A Internacional, cuja letra, um poema, é do francês Eugène Pottier (1816 - 1887) e a música do compositor radicado na França, mas de origem belga, Pierre Degeyter (1848 - 1932), se tornou a minha canção preferida, assim como o cinema do russo Sergueï Eisenstein (1898 - 1948), diretor, entre outros, dos filmes O Encouraçado Potemkine (1925) e Outubro (1927). A Mãe (1906), do russo Gorki (1868 - 1936), por sua vez, elegi meu livro de cabeceira, enquanto os poetas mais lidos eram o russo Maïakovski (1893 - 1930) e o alemão Bertolt Brecht (1898 - 1956). Enquanto isso, o teatro me fez conhecer o ator e dramaturgo russo Stanislavski (1863 - 1938) e a dança revelou-me a performance do russo naturalizado norte-americano Baryshnikov – um dissidente que, se hoje, caso fosse chinês, estaria fazendo companhia ao pacifista Liu Xiaobo, 54, Nobel da Paz deste ano. Bom! Na pintura, passei a admirar o trabalho da mexicana Frida Khalo (1907 - 1954), destacando, ainda, na fotografia, o famoso portrait (1960) do médico e líder revolucionário cubano, nascido na Argentina, Che Guevara (1928 - 1967), feito pelo fotógrafo cubano Korda (1928 - 2001), de quem, inclusive, cheguei a ouvir uma palestra, em Brasília, na qual ele falou da imagem-símbolo.

Falando em símbolo, não poderia deixar de fora dois ícones comunistas, que são a foice e o martelo, que representam os instrumentos de trabalho de camponeses e operários, transpostos, inclusive, de forma estilizada, para uma peça arquitetônica do Brasileiro Oscar Niemeyer – radiante, eu diria, no auge dos seus cento e três anos de idade –, que integra o Memorial JK, um museu edificado em Brasília em homenagem ao ex-presidente brasileiro Juscelino Kubitschek (1902 - 1976). Enfim! Diante de todo esse cenário que teci, me remetendo a mais de vinte anos atrás, nada mais natural que, ainda à época, o meu exemplo de mulher fosse a teórica e revolucionária alemã Rosa Luxemburg (1870 - 1919); a cidade que gostaria de visitar Moscou e o meu sonho de consumo... Conhecer o mausoléu de Lênin. O que fazer? Se deixar viver, dialeticamente. Afinal, c'est la vie! Porém, não demorou muito, em função de uma crise interna do PCB, a maioria dos seus militantes desfiliou-se do partido e se retirou das suas fileiras, cada um seguindo o seu próprio caminho. Alguns entraram em outras agremiações partidárias; outros não. Foi o meu caso – o que não significou que eu tenha me alienado politicamente e deixado de alimentar ideais comunistas. Ao contrário!

Só que o tempo passa e a gente também passa por transformações – é dialético. Tanto que, hoje, apesar do meu coração permanecer rubro, a minha cor tornou-se a verde, mas apenas porque estou atenta e preocupada com os efeitos do aquecimento global. Na política, Dilma Rousseff, recentemente usurpada por uma máfia infame (atualizei, em 3/9/2016).
Quanto aos jornais, os disponíveis na internet. Nas artes, independentemente da nacionalidade, um ecletismo que me espanta, já que, na música, por exemplo, aprecio da clássica à caipira genuína. Cinema? Os filmes que tenham bom roteiro e direção, prendendo a minha atenção, embora eu tenha mais simpatia pelas produções européias. Livros? Os que contêm uma boa história e são bem escritos. Poetas? Confesso que não sei. No teatro e na dança, lacunas... A pintura, por sua vez, aquela que eu olhe e, de imediato, entenda. Tipo um retrato! Nada de surrealismo, de pinceladas aleatórias – quer dizer, aleatórias pelo menos para mim. Falando em retrato, fico com as minhas fotografias.

Na arquitetura, tenho uma queda pelas antigas, de séculos bem passados. Nada do dito modernismo. Um exemplo de mulher? A minha mãe... Enfim! O meu sonho de consumo tem sido a paz mundial. Assim, com a paz garantida, eu teria tranqüilidade para poder publicar os meus livros, cujos originais não são poucos. Só que, pegando a deixa, gostaria de acrescentar a minha lista de preferências quatro cidades que guardo no lado esquerdo do peito, no coração. São elas: Paris, Lisboa, Veneza e Baía Formosa, além do arquipélago de Fernando de Noronha, bem como a minha simpatia por três línguas: a portuguesa, a francesa e a grega. Na culinária, de todas as cozinhas que já fui apresentada – vamos por eliminação –, quatro não me são palatáveis, ou por seus ingredientes ou por seus temperos, que são a chinesa, a tailandesa, a japonesa e a indiana. Por outro lado, reconheço que tenho paladar suficiente para apreciar as cozinhas brasileira, francesa, italiana, portuguesa, grega e árabe, sem esquecer uma sopa vietnamita que eu costumava tomar quando morava em Paris – só que, essa, é uma outra história... Bom! Na medicina, sou adepta da homeopatia, da fitoterapia, da acupuntura, do shiatsu e dos chás. Já no quesito ateísmo – não poderia deixar de mencionar esse detalhe...

O ateísmo é erroneamente associado aos comunistas, embora, para alguém ser comunista, não tem de, necessariamente, ser ateu... E vice-versa. Eu, particularmente, independentemente de ser comunista, sempre me senti atéia – acho até que já nasci não acreditando em nada que tente macular a nossa condição de humano, sem essa necessidade que muita gente tem de crer em uma entidade supostamente divina, tenha ela o nome que tiver, para o grande suplício que é viver, sobretudo em um mundo onde se vive sob o domínio da demagogia, que se traduz em injustiça (que odeio), tirania, opressão – algo extremamente criminoso. O que dirá, então, aderir a uma religião? Afinal, como o próprio Marx já o disse: “A religião é o ópio do povo”. E não é que ele estava certo, embora a religião, qualquer que seja ela, não seja apenas a ilusão de muitos povos, mas, também, a ilusão de muitas elites? Em nome de uma dada religião, por exemplo, quantos já não cometeram injustiças? Quantos já não mataram? Quantas guerras já não foram fomentadas em nome de não importa qual religião – todas capazes de cegar milhares de fiéis, desrespeitando, inclusive, demais crenças, ou seja, desrespeitando a diversidade, o direito à liberdade de culto e, mesmo, à liberdade de não ter nenhum? Daí não ser à toa dizerem que a fé é cega, embora costumem omitir que a faca também é amolada...

Bom! Com o tempo a passar apenas solidifiquei ainda mais a minha certeza, ou melhor, a minha convicção de que não preciso de religião alguma nem, muito menos, acreditar em um ser dito superior para viver no mundo daqueles que se dizem humanos – coisa até que podem ser, apesar de muitos, por cometerem atos extremistas, desconhecem o que seja discernimento. E me vem à mente um episódio interessante – para não dizer hilário! – atribuído à biografia do escritor francês Voltaire (1694 - 1778). Ou seja, contam que, pouco antes de morrer, Voltaire recebeu a visita de um padre ansioso em lhe dar a extrema-unção e redimir o ateu impenitente em um ato de contrição. O irônico e cínico moribundo, por sua vez, não teria hesitado em perguntar ao religioso: — Vens da parte de quem?

                — Sou um representante de Deus. – responde o padre, demonstrando convicção em suas crenças.

De maneira incisiva, contudo, apesar dos seus últimos suspiros, Voltaire não se faz de rogado: — Mostre-me, então, as vossas credenciais ou, senão, saia deste quarto!

 
Comunismo:
nos dias de hoje...

"Charge sem crítica não é charge: é piada de salão...".

Roque Sponholz
Chargista brasileiro



Desde os primórdios da dita civilização até os dias de hoje, enquanto a Terra realiza os seus giros habituais, o mundo dá voltas e mais voltas e o ser dito humano roda feito pião, ora acertando e ganhando, no caso de uma minoria, ora errando e perdendo, no caso da maioria. Porém, como não é o meu intento versar sobre os altos e baixos de uma espécie cada vez mais deprimente, sobretudo quando se trata do seu processo involutivo – não tenho visto evolução alguma –, me limito ao tema proposto neste post, registrando, portanto, a minha indignação em relação as atrocidades que, há décadas, têm sido cometidas pelos dirigentes da China comunista. Afinal, de há muito o governo chinês tem passado dos limites, perdendo o sentido das realidades, a exemplo do que disse do papa Bento XVI o ex-ministro para a Cooperação e Desenvolvimento da Holanda Bert Koenders, quando, em 2009, em visita ao continente africano, o religioso declarou ser contra o uso de preservativos, contribuindo, assim, com a proliferação e disseminação do vírus HIV e demais doenças sexualmente transmissíveis. Nos dois casos, convenhamos, uma repugnante aberração – um atentado à integridade humana.

No caso da China, contudo, a situação agrava-se porque, é público e notório, os direitos humanos têm sido sistematicamente violentados, bem como negados os inúmeros apelos de organizações humanitárias mundiais para que cessem as execuções no país, que os seus presos políticos sejam libertados e respeitados os direitos fundamentais dos cidadãos chineses. Digo isso porque, por mais comunista que uma pessoa seja, ela não tem de, necessariamente, ser violenta nem conivente com a violência de um camarada seu. Eu, particularmente, repudio os abusos e os desmandos do Partido Comunista Chinês - PCC. E é inaceitável, por exemplo, o infanticídio feminino que, há décadas, é promovido na China. Ora! O país, que se quer tão poderoso economicamente, não é capaz de criar uma política de contracepção dita normal, como o uso da pílula ou o do preservativo, entre outros métodos? Sinceramente, sou a favor do aborto, mas que o mesmo parta de uma decisão pessoal da mulher, não importa a sua motivação nem nacionalidade, já que o seu corpo lhe pertence. Eu só não sou a favor – ao contrário, sou terminantemente contra –, é o governo chinês estimular o aborto como controle demográfico.

O mais criminoso, contudo, é esse mesmo governo estimular o sacrifício de recém-nascidas... Sei não, mas é delírio demais para a minha cabeça! Afinal, o aborto e o sacrifício de meninas na China provocam não somente um grave desequilíbrio entre os sexos na população do país, mas, sobretudo, a institucionalização de uma prática insana, que é o genocídio. Essa realidade chinesa, portanto, me apavora. Felizmente, não sou obrigada a rezar na cartilha do PCC, que, aliás, por cometer essas e outras violações aos direitos humanos, apenas contribui com a disseminação do anticomunismo no mundo. O que é uma pena... Enfim! De nada adianta todo esse sectarismo, pois qualquer pessoa que tenha o mínimo de bom senso não simpatiza com ditaduras – não importa a sua natureza. Tanto que, por exemplo, os Estados Unidos pintam de democratas, mas os seus governos vivem sob a égide da ditadura da arrogância e da ganância, já que, a cada novo mandato presidencial, inventam uma guerra imbecil, amparados por um aparato bélico sem igual, e não estão nem aí para a soberania de uma dada nação quando decidem invadi-la, desrespeitando todos os tipos de direito que possam existir.

E eu perguntaria: qual a diferença, no caso, entre os dois países, ou seja, a China e os Estados Unidos, quando, digamos, o primeiro resolve calar a boca de quem se opõe ao regime comunista, seja trancafiando o opositor em uma masmorra qualquer ou o executando, ou quando o segundo declara guerra a uma nação autônoma e independente apenas com o objetivo de se apropriar de alguma riqueza que porventura o seu suposto inimigo disponha, ficando ainda mais poderoso economicamente e ampliando os seus domínios? Eu não vejo diferença alguma. Daí não tolerar nenhum dos dois países. No caso da China, o seu governo, recentemente, se mostrou de uma periculosidade sem fronteiras quando o pacifista chinês Liu Xiaobo, acusado de subversão e condenado a onze anos de prisão pelo governo chinês, foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz de 2010. Sentindo-se afrontado – não sei por qual motivo – esse mesmo governo exerceu todo tipo de pressão, velada ou não, para anular a indicação. Em vão! Dias antes, contudo, de Liu Xiaobo ser laureado, a porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Jiang Yu, declarou que os membros do Comitê Nobel não passavam de meros “palhaços”. 

Quanta grosseria! E tudo isso apenas porque Liu Xiaobo move uma não-violenta luta pelos direitos humanos na China, querendo aplicá-los no país... O fato é que, no dia 10 do corrente, dia, inclusive, em que se comemora a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Organização das Nações Unidas - ONU no dia 10 de dezembro de 1948, a premiação foi oficialmente consumada, deixando o governo chinês ainda mais enfurecido. O detalhe, contudo, é que, enclausurado, Liu Xiaobo se viu impedido de comparecer à cerimônia, assim como a sua mulher, que se encontra em prisão domiciliar, e os seus parentes interditados de deixarem a China para representar o homenageado em Oslo, na Noruega. O presidente do Comitê Nobel, por sua vez, Thorbjoern Jagland, criticou o governo chinês por sua conduta, pedindo que o prisioneiro, injustamente condenado, fosse libertado. Para ele, como pode um país, que tem se revelado uma estrela ascendente no cenário político e econômico mundial, agir de maneira tão paradoxal, inclusive censurando canais estrangeiros de televisão, sites e redes sociais da internet, evitando que o povo chinês tenha acesso a informações referentes à solenidade?

Enquanto isso, sob o véu nublado da censura, a estatal chinesa CCVT sequer mencionou o ocorrido. O povo chinês, entretanto, reagiu. Os internautas da China, por exemplo, protestaram nas redes sociais chinesas – as únicas, aliás, do país, visto que as estrangeiras já haviam sido banidas da China antes mesmo do qüiproquó do Nobel. O episódio, contudo, não é uma novidade. Afinal, em 1935, quando o pacifista alemão Carl von Ossietzky (1889 - 1938), que havia sido detido pelo regime nazista de Adolf Hitler (1889 - 1945), na Alemanha, foi laureado com o Nobel da Paz, ninguém, à época, foi autorizado a representá-lo na renomada solenidade. Enfim! No que diz respeito à China, fico a pensar... O governo chinês teria agido como agiu caso o prêmio fosse, digamos, um Nobel da Guerra? Só que, felizmente, o mundo não corre esse risco, já que a Fundação Nobel, criada em 1900, não está autorizada a promover tamanha sandice. Afinal, o testamento do químico e industrial sueco Alfred Nobel (1833 - 1896), criador da fundação, não previa tal premiação. Segundo o documento, a instituição estava autorizada a atribuir prêmios de reconhecimento apenas aos que se destacassem por servir ao bem da humanidade.

E isso porque, após consagrar a sua vida ao estudo da pólvora e à criação de explosivos, sendo o responsável por múltiplos inventos e patentes, entre eles o do detonador (1863) e o da dinamite (1866), Alfred Nobel entrou em depressão profunda quando viu que as suas invenções estavam sendo utilizadas para fins bélicos, incrementando a guerra. Daí ele querer fazer a diferença, deixando, em seu testamento, antes de morrer solitário e amargurado, completamente isolado, se culpando por seus inventos, a ordem para a criação da fundação, que deveria gerir a sua fortuna e, anualmente, atribuir os prêmios por ele idealizados (física, química, fisiologia e medicina, literatura e paz), já que não lhe agradava a idéia de ser lembrado apenas como um dos homens que havia dado um incremento a mais as guerras. É, infelizmente, certos inventos dão nisso! Tanto que uma situação similar ocorreu ao aviador brasileiro Santos-Dumont (1873 - 1932), considerado o Pai da aviação, cujo primeiro vôo homologado data de 1906, que, após nos fazer ir as alturas, conheceu de perto a depressão, já que aviões estavam sendo construídos para servir a guerras, como, por exemplo, portando e lançando bombas. 

Mas, essa já é outra história... Quanto a Alfred Nobel, acredito que, se vivo, ele teria dado um puxão de orelha nos dirigentes do governo chinês por terem esnobado não somente a maior das premiações conferidas aos que lutam pela paz no mundo, mas porque impediram o homenageado de receber o prêmio, bem como por terem chamado de “palhaços” os membros do Comitê Nobel. Que feio fez a China por acusar a premiação de um pacifista de “farsa política”, já que, segundo as leis da ditadura chinesa, Liu Xiaobo é oficialmente considerado um criminoso, embora, boicotes à parte, seja, também, o primeiro cidadão chinês a receber o Nobel da Paz. Só que, ao invés de renegar o prêmio, o governo da China deveria era ter se sentido lisonjeado com a homenagem, aproveitando, aliás, para abolir de vez com a censura no país, com as prisões e as execuções. Isso, sim, é criminoso! Não o fato de alguém ser pacifista. Sem falar que, além de repulsivos, crimes contra a humanidade são démodés! E isso vale até mesmo para os cometidos em Cuba, país que me desperta simpatia pelos feitos de Fidel Castro, de Chez e de demais camaradas, mas que, quando dá na telha do seu governo, também sai por aí a praticar execuções...

Busquemos, portanto, encontrar o equilíbrio – no sentido holístico da palavra, como reza a homeopatia –, de cada país e o do planeta como um todo através de meios pacíficos, o que inclui proteger o meio ambiente da espécie humana, que o agride acintosa e indiscriminadamente. Daí o aquecimento global e demais desequilíbrios ambientais, que, por sua vez, ameaçam à sobrevivência de todos e de tudo, sem esquecer das inúmeras ameaças nucleares que estão por toda parte – realidade impossível de negar... É o que está acontecendo com outro exemplo de insanidade cerebral/mental, ainda e sempre envolvendo motivações de natureza econômicas e religiosas para estimular guerras. No caso, idiotice das duas Coréias, a do Norte e a do Sul, cujos governos perderam o sentido das realidades, já que ambas estão prontas e disponíveis para, a qualquer hora, meter bala uma na outra, ou melhor, não somente acender o pavio atômico que levará ao fim não somente a vida desses kamikazes – que se danem! –, mas, sobretudo, o fim da nossa espécie humana e o do nosso planeta. Afinal, não foi o suficiente para as duas Coréias os estragos em Hiroshima e Nagasaki, ambos em 1945, provocados por bombas atômicas dos Estados Unidos?

E, hoje, quais seriam as dimensões desses estragos? Uma, duas ou mais bombas radioativas afetariam não somente o eixo da Terra, mas afetariam – ledo engano se pensam que não – o equilíbrio do universo. E, aí, estaríamos fadados ao cemitério... Quanta sandice! Ora são guerras motivadas por ambições materiais, um país ou outro que se quer mais poderoso, economicamente falando, ora por questões religiosas – quanto atraso de vida. Mas, como já dizia o advogado indiano Gandhi (1869 -1948), que, após vários agravos na África do Sul, retornou ao seu país de origem e, através da política da não-violência, fez de tudo para libertar a Índia do jugo do império britânico, e, quando conseguiu, passou a tentar acertar, digamos, as diferenças entre hindus e mulçumanos: “Houve tiranos e assassinos... Por um tempo, eles parecem invencíveis, mas, ao final, sempre caem”. E fico a pensar: quando é que vamos respeitar a nossa condição humana e abolir os instintos violentos dos nossos corações? Enfim! Como teria dito o dominicano e filósofo italiano Giordano Bruno (1548 - 1600) em seu suposto testamento, redigido magistralmente pelo teólogo alemão Eugen Drewermann: “Toda violência é um defeito do espírito”. E voilà!



LUTEMOS PELA NÃO-VIOLÊNCIA!


PELA PAZ...



Nathalie Bernardo da Câmara






domingo, 19 de dezembro de 2010

TIRIRICA:
O PALHAÇO X O POLÍTICO


MADE IN CEARÁ


“Neste mundo que mais parece um circo de horrores,
eu prefiro ser o palhaço...”.

Carlos Messala
Um brasileiro lúcido



Apelido é um troço curioso... Às vezes, contudo, apesar das tentativas normalmente maledicentes, com intenções depreciativas, ele nem pega, mas, quando pega, e dependendo de qual seja, coitada da criatura apelidada! No caso de Francisco Everardo Oliveira Silva, nascido lá pelas bandas de Itapipoca, no Ceará, nos idos de 1965, a sua alcunha (que nome feio!), Tiririca, traduz, literalmente, o temperamento que ele tinha quando criança: mal-humorado, se zangando com qualquer coisa, ou seja, um geniosinho daqueles! O destino, contudo, lhe reservava algumas surpresas. Tanto é que, não tardou muito, os ânimos de Tiririca mudaram. Com apenas oito anos de idade, ainda em sua cidade natal, começou a trabalhar em um circo, ou barraca, como, à época, eram chamadas pequenas companhias circenses, mudando, radicalmente, o cenário da sua vida. Da noite para o dia, ele se tornou palhaço, o palhaço Tiririca, que, ao invés do mal-humor habitual, passou a ofertar bom-humor, alegria, risos...

Daí em diante, como se diz, a sua vida deslanchou. As apresentações de Tiririca foram tornando-se constantes. Lançou um CD, que bateu índices recordes de venda devido ao seu carro-chefe, a música Florentina, cuja composição, dizem, é sui generis – recuso-me a versar sobre... Afinal, não sou crítica musical. Bom! Na televisão, outros recordes de audiência em diversos programas e mais algumas músicas controversas a lhe garantir dividendos. E um processo por racismo, pois uma das músicas do seu primeiro CD sugeria, segundo a legislação brasileira, algo desse tipo. Fosse o que fosse, ele foi inocentado. Outros CDs vieram. E mais participações em programas televisivos. Conquistou a fama. Virou o que chamam de celebridade. No auge, se candidatou a deputado federal pelo Estado de São Paulo, elegendo-se como o mais votado deputado federal na História do Brasil. Um fenômeno! E, como negar isso? Impossível. É fato. E, sobre isso, falaremos agora...



A Cara do Brasil 
 
 
“Os verdadeiros analfabetos
são os que aprenderam a ler e não leem...”.

Mário Quintana (1906 - 1994)
Poeta brasileiro



O jornal francês Le Monde, que considerou a democracia brasileira “uma das mais vibrantes do mundo”, estampou: Um palhaço é o deputado mais votado do Brasil. Na reportagem, a pergunta: “O que faz um deputado?”, sendo que Francisco Everardo Oliveira Silva, ou melhor, Tiririca (PR-SP), o candidato a deputado federal mais votado nas eleições de 2010, com mais de 1,3 milhão de votos, já havia dito que não sabe, mas que irá descobrir. Bom! Eleito, o palhaço em questão foi acusado de fraudar impostos e de apresentar uma declaração de alfabetização falsa, que se caracteriza em crime de falsidade ideológica. Em função disso, o promotor eleitoral Maurício Lopes chegou a pedir que o humorista fosse enquadrado e cumprisse cinco anos de prisão. Submetido a testes específicos, de leitura e ditado, pelo Tribunal Regional Eleitoral - TRE de São Paulo, a fim de que fosse provado que ele é capaz de ler e escrever, Tiririca comprovou que pelo menos noções básicas de leitura e de escrita possui.

Assim sendo, o juiz Aloisio Silveira, da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, o absolveu da acusação de falsidade ideológica, alegando que “a Justiça Eleitoral tem considerado inelegíveis apenas os analfabetos absolutos e não os funcionais”, caso, segundo a sentença, o de Tiririca, que teria demonstrado “um mínimo de intelecção do conteúdo do texto, apesar da dificuldade na escrita”, tendo, portanto, segundo o seu advogado de defesa, Ricardo Vita Porto, “instrução para ser deputado”, ou seja, exercer os seus direitos políticos. Ainda segundo o advogado, ao denunciar o humorista por “estelionato eleitoral”, fazendo, com essa denúncia, nada mais do que “uma tempestade em copo d'água”, o promotor Maurício Lopes buscava, apenas, se auto-promover, já que o fez simplesmente por não aceitar que um palhaço fosse campeão de votos. Daí que, na opinião de Vita Porto, o promotor e a denúncia não têm nenhuma credibilidade, visto limitar-se a uma perseguição pessoal a Tiririca e ao seu bom resultado nas urnas.

O fato é que, como resultado de uma representação do Conselho Nacional do Ministério Público - CNMP, órgão de controle externo das atividades do Ministério Público, a Corregedoria do Ministério Público de São Paulo investiga e apura eventuais excessos do promotor na condução do processo contra Tiririca. O autor da representação, por sua vez, o conselheiro Bruno Dantas, disse que o promotor manisfetou-se publicamente de maneiras “inadequadas, exageradas e preconceituosas” contra o humorista, querendo desmoralizá-lo, por ele não possuir histórico de uma educação dita formal, “em vez de pautar a sua atuação na técnica processual, como faz a maioria dos membros do Ministério Público que não depende dos holofotes”. Sem falar que eu fiquei profundamente chocada ao ler no jornal uma inusitada declaração da atriz brasileira Fernanda Torres, dizendo que a eleição de Tiririca “foi apenas uma piada niilista do eleitor, que vai se voltar contra ele mesmo”.

Depois ainda dizem que o brasileiro vive em um regime democrático de direito... A verdade é que a eleição do cearense Francisco Everardo Oliveira Silva tem incomodado muita gente. E não duvido nada que todos esses preconceitos e discriminações estão fundados nas origens nordestinas humildes de Tiririca, no sucesso que obteve com o esforço do seu próprio trabalho e porque em seu histórico de vida não constam registros de que tenha recebido educação formal. Ocorre que - não é nenhuma novidade - Tiririca apenas reflete a realidade da maioria do povo brasileiro, que é ou analfabeta funcional ou absoluta. Que, então, a educação seja levada a sério e o analfabetismo seja, de vez, erradicado no país, bem como a miséria. Enfim! Desmacaradas as intenções escusas do promotor e sendo absolvido das duas acusações, já que a Justiça Eleitoral também emitiu parecer favorável em relação as contas da sua campanha, o recém-deputado eleito Tiririca visitou, na quarta-feira, 15, o Congresso Nacional.

Foi a sua primeira vez em Brasília - ocasião que, para ele, não poderia ter sido melhor: “Cheguei em um bom dia”, disse, ironicamente, pouco antes da votação de um reajuste salarial, e em caráter de urgência - qual a urgência? -, de 61%,8 para os parlamentares a partir do dia 1º de fevereiro de 2011... Engraçado, quando se trata de aumentar o salário mínimo esses mesmos parlamentares inventam toda sorte de argumentos para não fazê-lo (que coisa feia!). Então... Dois dias depois do aumento desproposital e surreal dos parlamentares, Tiririca, motivo deste post, foi diplomado deputado federal na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, sendo o primeiro a receber o diploma - gesto que lhe valeu aplausos -, dizendo ser o primeiro de muitos que ainda receberá, adiantando que está estudando. À oportunidade, Tiririca também disse que pretende focar os seus projetos nas áreas de educação e cultura, bem como na defesa dos artistas circenses em geral e dos ciganos.

Sei não, mas, diante de um cenário que insiste em se manter desolador, eu só espero que Tiririca não se corrompa - coisa que acontece à maioria que chega ao Congresso Nacional. Nem, muito menos, que se torne o bobo da Corte tupiniquim, já que, infelizmente, é alvo de uma série de estigmas. E o meu receio é exatamente porque de bobo ele não tem nada! Que permanecesse, portanto, como diria o cineasta britânico Charles Chaplin (1889 - 1977), a ser uma coisa só, ou seja, um palhaço, condição que o colocaria em um nível mais alto do que o de qualquer político, ainda mais se levarmos em consideração a realidade da política brasileira, onde contamos nos dedos os políticos idôneos. Porém, queiram ou não, Tiririca é um palhaço que, por contingências, se tornou um político. Que nunca se torne, então, um político palhaço, como muitos que existem por aí, a envergonhar o povo brasileiro, ainda mais quando já está sendo ventilada a possibilidade da sua vida ser transposta as telas dos cinemas. Quem diria!

 
Nathalie Bernardo da Câmara

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A GRAÇA SEM FRONTEIRAS DO PALHAÇO, OS DIREITOS HUMANOS, A PAZ EM OSLO, AS INTRIGAS DA CHINA E A LEI DO HUMOR...


A ARTE DO RISO


“Sorrio quando o que eu mais desejo
é gritar todas as minhas dores para o mundo...”.

(1889 – 1977)
Cineasta britânico



Por dias, em função de uma rebeldia qualquer ou quiçá de um capricho do meu 3G, a minha conexão com o universo sem fronteiras, que é a internet, me deixou a ver navios, sem a possibilidade de navegar. Nada engraçado! Agora, se não foi uma artimanha de natureza tecnológica, só pode ter sido alguma travessura de um engraçadinho qualquer. Afinal, sexta-feira, 10, foi o Dia Universal do Palhaço, oportunidade, inclusive, em que também se comemora a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Organização das Nações Unidas - ONU no dia 10 de dezembro de 1948. Aos direitos humanos, contudo, um vínculo com o riso e, sobretudo, com a paz. Falando nisso, de nada adiantaram as pressões veladas e as não veladas exercidas pelo governo da China comunista para que o dissidente político chinês Liu Xiaobo, 54, detido por subversão, fosse indicado para o Prêmio Nobel da Paz de 2010 nem, muito menos, ser laureado. Tanto que, no dia oito de outubro, a decisão foi oficialmente anunciada por Thorbjoern Jagland, presidente do Comitê Nobel em Oslo, na Noruega.

Ocorre que, na terça-feira, 7, deste mês, três dias antes cerimônia de entrega do renomado prêmio a Liu Xiaobo por sua não-violenta luta pelos direitos humanos na China, a porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Jiang Yu, fez, direto de Pequim, uma deslavada declaração à imprensa, garantindo, entre outras coisas, que a maioria dos países convidados a comparecer ao evento iria boicotá-lo – informação, entretanto, desmentida por Geir Lundestad, diretor do Instituto Nobel. Porém, à ocasião da deselegante declaração, além de nada diplomática – nenhuma surpresa, já que os camaradas chineses sequer vislumbram o que seja diplomacia –, a porta-voz do governo chinês disse, em alto e bom som, que, por orquestrarem entre eles uma agitação antichinesa, os membros do Comitê Nobel não passam de meros “palhaços”. E tudo isso apenas porque, “nas últimas duas décadas – como já havia dito Thorbjoern Jagland – Xiaobo foi um grande porta-voz em favor da aplicação dos direitos fundamentais na China”.

Enfim! O dia dez chegou e, apesar da ausência do homenageado – que detido estava nos porões da China, detido permaneceu, enquanto a sua mulher cumpre prisão domiciliar – a cerimônia simbólica realizou-se com todo o glamour que sempre lhe foi devidamente merecido, sendo, contudo, nesse caso, afixada uma imensa fotografia do laureado no recinto. Outro detalhe é que, após o seu discurso de abertura do evento, no qual pediu ao governo chinês que libertasse Liu Xiaobo, antes mesmo do cumprimento da pena de onze anos que lhe foi imposta, já que o crime que lhe é atribuído resume-se ao simples fato de ele ter exercido o seu direito à liberdade de expressão, Thorbjoern Jagland depositou o diploma do prêmio do ativista pró-democracia sobre a cadeira vazia que lhe foi reservada – gesto que enfureceu à China, que não disfarçou a suposta força dos seus punhos de ferro e, duramente, o criticou, afirmando que o mesmo se tratava de uma “farsa política”, já que, pelas leis chinesas, o premiado é oficialmente considerado um criminoso. O pior é que...







Achando pouco, o governo chinês proibiu parentes de Liu Xiaobo de representarem o homenageado na entrega do prêmio. Isso sem falar na censura imposta aos canais estrangeiros de televisão, aos sites e as redes sociais da internet, evitando que a China tivesse acesso a informações referentes à solenidade, enquanto a estatal CCVT sequer mencionou o ocorrido. Muitos chineses, contudo, reagiram à censura. Os internautas, por exemplo, protestaram nas redes sociais chinesas. Bom! Boicotes à parte, Xiaobo tornou-se o primeiro cidadão chinês a receber o Nobel da Paz, pouco importando se o governo do seu país tenha tachado de “palhaços” – que feio! – os que concederam o prêmio ao contemplado deste ano. Enfim! Para o presidente do Comitê Nobel, Thorbjoern Jagland, é inadmissível o comportamento do governo chinês, sobretudo quando a China encontra-se em crescente poder político e econômico, não devendo, portanto, os seus dirigentes – os reais palhaços – ignorarem os direitos humanos.






O riso é ânimo que acalenta prantos



“Sorrisos onde há lágrimas...”.

Slogan da entidade humanitária Palhaços sem Fronteiras,
fundada em 1993 e com sede em Barcelona, na Espanha



De palhaço em palhaço – não os pejorativos bufões chineses –, a categoria adora pegar uma estrada, levando, na bagagem, por suas propriedades terapêuticas, apenas o riso... Organização não Governamental que atua em parceria com demais entidades humanitárias, como Médicos sem Fronteiras, Cruz Vermelha, entre outras, a Palhaços sem Fronteiras tem em suas fileiras não somente palhaços, mas demais artistas, de natureza circense ou não, e voluntários que, respeitando toda e qualquer diversidade cultural, realizam missões internacionais em regiões de situações de crise, conflitos bélicos, desastres naturais, desigualdades sociais etc em qualquer parte do mundo, com o objetivo de tentar minimizar danos provocados por não importa qual catástrofe, agindo, portanto, em zonas de vulnerabilidade.

Na mala, como já foi dito, eles portam consigo apenas risos, que, gentilmente, levam a centros educativos e sociais, mas, principalmente, a campos de refugiados e regiões de riscos, bem como as que possuem altos índices de pobreza ou graves problemas sociais, a fim de, através do despertar da alegria, tentar minorar os efeitos nocivos que as tragédias desencadeadas por certos insanos, tiranos sisudos e sem coração, legam as suas vítimas. Falando nisso, será que a China, cujo governo arbitrário mantém cativo o pacifista chinês Liu Xiaobo, além de repudiar o Prêmio Nobel da Paz com o qual o seu atual mais ilustre cidadão foi laureado, já teve o prazer de ser anfitriã dos Palhaços sem Fronteiras? Enfim! Quem quiser conhecer um pouco mais sobre essa entidade humanitária é só acessar o seu site oficial: www.clowns.org







As várias faces do riso


“Rir é o melhor remédio...”.

Dito popular

Provedor do riso, independentemente das suas origens, se culturais ou genéticas, quiçá com direito até à DNA – matéria para cientistas –, levando, ainda, em consideração os seus aspectos individuais e coletivos, já que é capaz de contagiar, o palhaço sempre é uma ajuda a mais para o desabrochar do humor – tão necessário nesse nosso mundo de faz-de-conta, igual ao Gato Risonho, personagem do livro Alice no País das Maravilhas, do escritor e matemático britânico Lewis Carroll (1832 - 1898). O palhaço, por sua vez, data, segundo pesquisadores – não todos – da Pré-História, ou melhor, da Idade da Pedra Lascada, quando, aliás, nem se pensava em poli-la e a espécie humana resumia-se a seres guturais habitando cavernas.
 
O riso, então, inerente ao palhaço, é, de natureza, lúdico, brotando de certa emoção. E, independentemente de ser ou não remunerado, quando, no caso, provem de um palhaço profissional, que também precisa sobreviver, embora muitas vezes sorria e estimule bem-estar em terceiros sem sequer ambicionar um retorno financeiro, a exemplo dos Palhaços sem Fronteiras e de muitos outros, o riso é incapaz de fazer mal. Nem mesmo aos corações dos mais empedernidos, que, por si só, se encarregam de alimentar a sua própria amargura, indiferente à satisfação que promove um sorriso. Porém, como toda regra tem exceções, quem não conhece as histórias de reis sisudos, os da antiguidade, que, muitas vezes, diante até dos gracejos mais bobos dos bobos das suas Cortes, desatavam a rir?
 
E, assim, alternando o regozijo que lhes proporcionavam as guerras insanas que desencadeavam, a fim de ampliar os seus domínios à custa da apropriação dos territórios alheios, bem como da exploração dos seus súditos, lhes cobrando cada vez mais impostos – parece que essas eram as únicas funções dos monarcas –, com as palhaçadas dos seus ditos bobos – uma espécie de catarse, provavelmente –, os reis até que se divertiam e se animavam. Porém, vale salientar que os bobos não tinham nada de abestalhados. Afinal, não foram raras as vezes, em meio as suas pilhérias, através das quais falavam certas verdades, mesmo que essas verdades fossem opostas as dos reis que serviam, que os bobos chegaram a influenciar em suas decisões políticas.
 
Exemplo disso é que, muito tempo depois, na Alemanha, os palhaços eram chamados de “alegres conselheiros”, já que, inteligentes, sagazes e astutos, acertavam nas observações que faziam e davam bons conselhos. No entanto, há quem diga que a origem do nome palhaço vem do italiano pagliaccio, oriundo de omino di paglia, que significa homem de palha – alusão ao homem do campo de origem humilde que, chegando a cidades desconhecidas e não conseguindo trabalho, ficava sem condições de se manter e passava a viver nas ruas, ganhando roupas e calçados de terceiros, mas de tamanho maiores e menores do que o seu, ficando o seu figurino, portanto, desproporcional, não diferenciando muito dos nômades, chamados de ciganos.
 
O fato é que é esse formato de palhaço, digamos assim, que conhecemos hoje, com roupas largas, sapatos exageradamente grandes, pinturas extravagantes e um jeitão desengonçado, mesmo que, na História da humanidade, muitas culturas, inclusive as indígenas, tenham tido o seu próprio formato de palhaço. Já na Idade Média, os palhaços perambulavam por feiras populares, buscando público e alguns trocados, que eles retribuíam com causos, embora fossem as suas trapalhadas que divertiam crianças e adultos. No teatro, contudo, com as suas peças, o poeta dramático inglês William Shakespeare (1564 - 1616) inverteu a ordem dos fatores ao mostrar que os palhaços também podiam fazer chorar, revelando, assim, uma outra face desses artistas.
 
Um dado curioso é que, apesar de muitas vezes ter sido visto como uma personagem ora burlesca, ora grotesca, ora estúpida, ora sarcástica, ora debochada, ora romântica – adjetivos não faltam –, afora as variantes pejorativas, a trajetória do palhaço ao longo dos tempos é plena de criatividade, em contínua evolução e mudanças. De qualquer modo, a verdade é que, embora solitário, a vida de um palhaço só tem sentido se ele interage com outrem: no circo, no teatro, nas ruas, nas feiras ou em qualquer outro lugar. Basta apenas que ele se sinta útil e cumpra com a sua função, que é a de fazer rir o seu público. Ou, como já disse Shakespeare, fazer chorar. O fato é que, carismáticos, os palhaços sempre foram e continuam sendo bastante populares.
 
Não é de hoje, por exemplo, que o mercado de trabalho dos palhaços ampliou incrivelmente as suas possibilidades de atuação – essa realidade, aliás, faz parte de todo e qualquer processo natural de evolução, com novas situações que despontam e novas oportunidades de espaços para a performance da categoria. Daí que muitos palhaços animam festas de aniversários, visitam doentes em postos e centros de saúde, bem como em hospitais, levando a alegria e esperança aqueles cujas vidas estão entregues à sorte, ou levando conforto aos que, por algum motivo, estão vivendo longe das suas casas, sejam asilos, abrigos, casas de repouso etc. Ah! Tem mais: hoje, com os avanços tecnológicos, uma nova dinâmica se exige dos profissionais em geral.
 
Inclusos, portanto, nessa dinâmica, os palhaços, que passaram a ter acesso à mídia eletrônica: emissoras de televisão e de rádio, onde muitos, inclusive, têm os seus próprios programas ou fazem comerciais; internet, que disponibiliza sites e redes socias; CDs, DVDs... Isso sem falar no cinema e em seus filmes. O objetivo do palhaço, contudo, continua o mesmo, ou seja, o de promover a alegria, despertando a nossa fantasia e alimentando o nosso imaginário. Ah! E a grande novidade, agora, pelo menos no Brasil, é a do palhaço político, do qual falarei na seqüência, esperando, apenas, que, tão logo assuma o seu mandato, o deputado federal eleito Tiririca proponha uma lei exigindo a obrigatoriedade do riso. Afinal, uma dose diária de humor não faz mal a ninguém...

 
Nathalie Bernardo da Câmara




sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

UM BRASIL FORA DE ÉPOCA


“O povo toma pileques de ilusão com futebol e carnaval.
São estas as suas duas fontes de sonho...”.

Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987)
Poeta brasileiro



Drummond vacilou ao não mencionar a religião e a política como outros dois dos ópios que são fontes de ilusão do povo brasileiro. Afinal, no que concerne à religião e, sobretudo, à política, eu nunca vi um país andar tão na contramão dos tempos quanto o Brasil! Outro dia mesmo, por exemplo, inconseqüente que só ele, o presidente Lula cometeu não digo nem uma gafe, mas um disparate que, em minha opinião, merecia era um puxão de orelha dos ambientalistas mundiais. Ou seja, com o maior dos descasos – para não dizer arrogantemente –, o presidente afirmou que, pelo fato de nenhum grande líder político europeu não comparecer à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-16, em Cancún, no México, sendo os debates, por isso, poucos práticos, sem efeito global e nenhum avanço, ele não iria pôs os seus pés no evento, ressaltando, ainda, que o mesmo não daria em nada, que seria improfícuo. Tipo, em vão...

Porém, em resposta à declaração de Lula, a costarriquenha Christiana Figueres, secretária-executiva da Convenção Quadro da Organização das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas - UNFCCC, de imediato retrucou, alegando que, em momento algum, a COP-16 foi idealizada como sede de encontros de chefes de Estado, acrescentando, ainda, que, apesar disso, cerca de trinta líderes internacionais já demonstraram intenção de comparecer ao evento. Diante, então, dessa informação, fornecida direta ou indiretamente a Lula, Figueres esclareceu que, mesmo não sendo os chefes de Estado o público-alvo da COP-16, os que prestigiarem a conferência serão bem recebidos. Quando, contudo, da declaração descabida de Lula, ficou confirmado que a sua acompanhante à COP-16, que seria a presidente eleita Dilma Rousseff, também não iria prestigiar o evento. Sinceramente, melhor notícia não poderia haver!

Afinal, quem não se lembra da presença para lá de desastrosa de Dilma Rousseff na COP-15, realizada em Copenhague, na Dinamarca, em 2009? À oportunidade, então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma foi nomeada chefe da delegação brasileira ao evento, pecando, entretanto, por levar com ela, na viagem, uma comitiva exagerada de séquitos, além de, visivelmente deslocada do contexto, ter chegado ao cúmulo de dizer, em pleno evento, que “o meio ambiente é um entrave para o desenvolvimento sustentável”... No mesmo período, quando declarou que acreditava em Deus e em milagres, transferindo a responsabilidade pela solução, por exemplo, do aquecimento global a uma entidade supostamente divina, Lula praticamente assinou um atestado de autismo, a exemplo do que disse de Bento XVI o ex-primeiro-ministro francês Alain Juppé quando, em 2009, o religioso posicionou-se contrário ao uso de preservativos.


Isso, sim, nos dois casos, ou seja, no de Dilma e no de Lula, é o que se chama perder o sentido das realidades! Falando nisso, ou seja, em perda do sentido das realidades e em uso de preservativos, sobretudo em época de COP-16...




“Fantasia é um troço que o cara tira no carnaval...”.

João Bosco
Compositor e músico brasileiro



Semanas antes do Carnatal 2010, marcado para ter início nesta quinta-feira, 2, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Norte - Cremern cogitou entrar na Justiça, pedindo o cancelamento do famoso carnaval fora de época, realizado, anualmente, em Natal, caso a grave crise na rede pública de saúde não fosse solucionada pelo Governo do Estado. Afinal, segundo o presidente do Cremern, médico Luiz Eduardo Barbalho, o Rio Grande do Norte não estaria em condições de permitir a promoção de um evento do porte do Carnatal se o seu sistema médico-hospitalar estivesse em condições precárias, caso, por exemplo, do Hospital Walfredo Gurgel, a maior unidade de saúde do Estado e referência no atendimento de trauma, que sequer dispunha de algodão, gases e esparadrapos – um descaso total –, a comprometer o seu funcionamento, sobretudo porque a maior das micaretas do Brasil chega a movimentar em torno de um milhão de pessoas antes, durante e depois dos seus quatro dias de folia.

Porém, dias depois, com o compromisso do Governo do Rio Grande do Norte em investir R$ 20 milhões na renovação e no abastecimento de todos os hospitais do Estado até o final de dezembro e, de imediato, repassar R$ 2 milhões para a diretoria do Walfredo, a fim de garantir o atendimento dos casos mais emergenciais, o impasse, pelo menos momentamente, foi solucionado. Só que fico a pensar... E se o Carnatal, que está a completar vinte anos de existência, não estivesse com data marcada e não gerasse cerca de quarenta mil empregos diretos e indiretos, além de promover considerável aumento no consumo de bens e serviços locais nesse período, igualmente gerando divisas? Teria o referido repasse sido efetuado rápido do jeito que foi ou a saúde pública, no Rio Grande do Norte, ainda estaria entregue as moscas, além dos enormes prejuízos que acarretaria o cancelamento do evento? Bom! O fato é que as portas do Walfredo permaneceram abertas e a abertura do Carnatal aconteceu como o previsto.

Enfim! Com encerramento previsto para o próximo domingo, 5, o Carnatal acontece no Corredor da folia, no Largo do Machadão, o estádio de futebol da cidade, onde os foliões, em blocos, oficiais e alternativos, incluindo os infantis, com os seus respectivos abadás e embalados por ritmos que variam do axé music da Bahia ao novo forró, saem, por várias horas diárias e em um período de quatro dias, atrás dos diversos trios elétricos da eufórica micareta, contagiando a todos. Ao público, portanto, ávido por diversão, bem como aos próprios foliões, os dos blocos e os da chamada pipoca, localizada atrás do cordão de isolamento que protege aqueles que usam abadás, mas todos seguindo os trios elétricos, o Carnatal disponibiliza arquibancadas laterais ao Corredor da folia e, para quem quer um espaço, como dizem, mais reservado e confortável, seletos camarotes, repletos de atrações, como, por exemplo, DJs, internet, salões de beleza, comida e bebida, áreas de relaxamento e pistas de dança. É, de fato, uma megaestrutura.

Estrutura essa que, aliás, dispõe de um posto de saúde com um circuito interno de diversas ambulâncias, trabalhando em conjunto com o Sistema de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU, a fim de deslocar eventuais casos graves aos hospitais da cidade, bem como de uma praça de alimentação e de ambulantes, cadastrados pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos - Semsur, que colocam as suas barracas ao longo do percurso feito pelos trios elétricos e foliões, bem como ambulantes não cadastrados, chamados de invasores. Além disso, uma Fiscalização Preventiva Integrada - FPI, que reúne vários órgãos e instituições como, por exemplo, o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio Grande do Norte - CREA, Corpo de Bombeiros, Secretaria Especial de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal - Semurb, Promotorias de Defesa do idoso e da Criança e do Adolescente, fazem vistorias nas instalações do Corredor da folia, averiguando questões relacionadas à segurança dos foliões.

Agentes da Polícia Militar, Civil e Federal e a Polícia Rodoviária Federal - PRF, por sua vez, atuam fardados e à paisana dentro dos blocos, dos camarotes, nas arquibancadas e no entorno do Corredor da folia. Já a Companhia de Serviços Urbanos de Natal - Urbana, que garante a assepsia do Carnatal, costuma, anualmente, recolher uma média diária de cerca de vinte toneladas de lixo. Este ano, curiosamente, quando da abertura do evento, garis e catadores desfilaram no Corredor da folia, portando mensagens com temas ambientais, que exibiram ao público. Outra informação interessante é que os organizadores do Carnatal costumam promover ações sociais, como o estímulo aos catadores de cooperativas de reciclagem; a campanha Doe Sangue, em parceria com o Hemocentro do Rio Grande do Norte - Hemonorte; o combate ao trabalho infantil, à exploração sexual infanto-juvenil e ao uso de droga; estimulando, ainda, o uso de preservativos, que, nas edições do evento, são distribuídos aos foliões.

Este ano, por exemplo, com o slogan Prevenção, informações antes para não pegar a doença depois, o Programa Municipal DST/AIDS da Secretaria Municipal de Saúde - SMS, em parceria com organizações não-governamentais, realiza uma campanha educativa de prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis, incluindo, no caso, a distribuição de duas mil camisinhas durante o evento, da mesma forma que o Programa Estadual DST/AIDS da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte lançou a campanha Fique Sabendo, que consiste na realização do teste anti-HIV, embora de rápida testagem, através da coleta de sangue na poupa digital dos que comparecerem ao stand da campanha. Várias escolas, por sua vez, também se prontificaram a distribuir camisinhas aos seus alunos, a fim de que, ao caírem na folia, eles caiam com segurança. Enfim! Os organizadores do Carnatal consideram que, em duas décadas de realizações, o evento está consolidado, já tendo, inclusive, conquistado público e fama internacionais.

O atual estádio de futebol da cidade, contudo, cujo largo acolhe o Carnatal, será em breve demolido, já que no local e nos arredores será edificado o complexo arquitetônico de nome Arena das Dunas, onde deverão ocorrer alguns dos jogos da Copa do Mundo de 2014, já que Natal foi eleita umas das sedes do evento. Assim, os organizadores do Carnatal terão de encontrar um novo endereço para realizá-lo em 2011. Para mim, que não aprecio futebol nem as versões contemporâneas do carnaval, o fato é-me indiferente, sobretudo no caso do Carnatal, apesar de há anos ele promover diversão a ¾ – efeito que não acontece com quem não lhe é simpatizante, ainda mais quando se mora ou se trabalha nas imediações do Corredor da folia. E isso porque a euforia coletiva que emana da artificialidade do evento em nada lembra os antigos carnavais brasileiros, que, em sua origem, brotaram das nossas raízes culturais mais genuínas. A sugestão? Deixar a cidade e pegar a estrada, longe da poluição sonora dos trios elétricos...


Nathalie Bernardo da Câmara