domingo, 31 de outubro de 2010


BRASIL?
NO FUNDO DO POÇO...







Nathalie Bernardo da Câmara

PINOQUILÂNDIA:
A TERRA DOS PINÓQUIOS






Sem direito à epígrafe...



Garanti o meu passaporte, ou seja: justifiquei a minha ausência do meu domicílio eleitoral, que é o Distrito Federal. Infelizmente, estou em Natal. Não tem mais Marina Silva nem agências dos Correios abertos – antigamente, que eu me lembre, se justificava nos Correios. Aqui, nesta província, só tem algo que se chama Central do Cidadão... Qual cidadão? Eu? Eu, hoje – a exemplo de todos os jornalistas brasileiros –, sou só uma escória, banida que fui pelos três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, a mando de Sarney e de Lula. Ocorre que a IMPRENSA é o quarto poder. Quarto poder de merda, não é? Afinal, querem calar a nossa boca. E que Lula, essa coisa, pare de proferir o nome DEMOCRACIA em vão. Afinal, ele não sabe o que é isso. Muito menos sabe o que seja um Estado laico. Enfim! Votem em quem quiser. Só não assino embaixo. Ah! E devolvam a minha cidadania...



Nathalie Bernardo da Câmara




sábado, 30 de outubro de 2010

UM ESPECTRO RONDA O BRASIL:
O ESPECTRO DA INQUISIÇÃO...


Foto: D. R.

“O pior cego é aquele que não quer ver...”.

Dito popular




Eu já havia decidido que, neste segundo turno das eleições, não iria pedir voto a ninguém. Afinal, não sou pedinte, mendicante. Tanto que, apesar da antidemocrática obrigatoriedade do comparecimento à urna, eu fui, no pleito do dia 3 de outubro, de livre e espontânea vontade, conscientemente. Até paguei, do meu bolso, para isso. E votei feliz. Sim, porque, se sou contra a obrigatoriedade do comparecimento à urna – sei o que é democracia –, eu também poderia ter anulado o meu voto ou tentado justificá-lo, o diabo a quatro. Até rasgar a merda do título eleitoral, que não vale mais nem um centavo. Porém, ao contrário disso, contrariando a propaganda enganosa que diz que votemos no menos mal, votei na melhor: MARINA SILVA. O resto? Carnaval, que, aliás, não suporto. Só hipocrisia! E vindo goela abaixo, com direito a esofagites...

No entanto, quando, esta semana, certo idoso – com muito respeito só a sua idade (não à religião que prega) – fez uma maldita interferência no atual processo eleitoral brasileiro, se manifestando contra o presidenciável - qual deles? -, a favor do aborto, o meu estômago gritou, rasgou e foi parar no INFERNO: o Vaticano. Só que, mesmo querendo roubar a cena, o infeliz não conseguiu. E é, para mim, embora cada um tenha a sua posição e quereres, que muito respeito, uma das criaturas mais indigestas que a TERRA já teve o desprazer de pisar em seu solo. Igual todos os mais recentes presidentes norte-americanos, incluindo o atual, bem como líderes religiosos fundamentalistas etc. O nome do infeliz, ao qual me refiro? Joseph Ratzinger, acobertado pelo manto de Bento XVI, a peste em pessoa, ou seja, uma epidemia de dengue.

Quais os motivos para eu dizer isso? Todos! Segundo a minha irmã, virei, sem querer, especialista da biografia de Joseph Ratzinger. Nem tanto! Só li o suficiente sobre a sua vida para, enfim, bani-lo do meu universo. Enfim! Certa vez, publiquei um texto, no qual falo da criatura. Vou transcrevê-lo:


 
(...) Por seu curriculum vitae, que inclui um mandato de quase longos vinte e quatro anos (1981 - 2005) como prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, instituída pelo papa Paulo VI (1897-1978), em 1965, considerada o quarto e atual estágio da Inquisição, ele [Joseph Ratzinger] ocupa o primeiro lugar no meu Index de persona non grata. À época, aliás, Bento XVI era o cardeal Joseph Ratzinger, arcebispo de Munique, na Alemanha, e foi indicado para o cargo por João Paulo II (1920 - 2005), de quem era mentor intelectual. 

Assim, não é de se estranhar muitas das posições do atual Papa, eleito em 2005 – o 8° de origem alemã e o 265° da História –, que, desde o início do seu pontificado, tem dado provas de que continua pensando como um inquisidor. Agora, óbvio, com mais poder, mais ainda, aliás, de quem ganha na mega-sena acumulada... Como podem ver, portanto, eu não faço parte das multidões de fiéis, que se ajoelham – e ele adora! –, diante das suas pregações de uma fé surreal, estimulando a prática da caridade, por exemplo, ao invés de promover a justiça social, mas, sim, das que se erguem – que ele teme! – diante do seu sadismo cada vez mais requintado.

Pior, inclusive, do que as arbitrariedades que ele cometeu quando era inquisidor. Sim, porque, à época, dispondo de apenas um martelinho, que era usado quando aplicava uma sentença, acusava um herege de cada vez. Agora, na condição de Papa, ampliou o seu campo de atuação e as suas vítimas, visto que o seu poder e influência tornaram-se consideravelmente maiores, já que disponhe não mais de um mísero martelinho, mas da chave da porta do céu, a qual só concede passagem aos que ele considera merecedores da sua santa indulgência. Vejamos, portanto, a título de ilustração, um dos inúmeros casos de prática inquisitorial exercida por Ratzinger quando era inquisidor.

Em 1985, por exemplo, Ratzinger decidiu aplicar um corretivo ao frade franciscano e teólogo brasileiro Leonardo Boff por causa do livro Igreja: carisma e poder, de sua autoria, que, publicado pela Editora Vozes, em 1981, apenas denunciava a opressão da mulher, a concentração do poder nas mãos do clero e defendia os direitos humanos. À época, fins do séc. XX – não mais a Idade Média, portanto –, Boff foi considerado um caso de heresia. O corretivo, então, foi a condenação de Boff ao silêncio obsequioso. “Uma espécie de silêncio penitencial”, explicou o teólogo basileiro, um dos fundadores da Teologia da Libertação. 

Leonardo Boff “não podia falar, escrever, publicar, dar aulas...”. Penalidades, aliás, extremamente paradoxais, sobretudo porque, quem as aplicou, um dia, talvez estivesse sob efeito de alguns cálices de vinho – bento, é claro! –, chegou a dizer que “quando o respeito é violado, algo de essencial se perde”. O tal do silêncio obsequioso, entretanto, só foi suspenso graças a outro religioso, o arcebispo brasileiro dom Paulo Evaristo Arns, que, em encontro com Ratzinger, disse: “Sua Santidade, o senhor fez com um aluno meu (Boff) aquilo que os militares do Brasil fazem: fechar a boca, cortar a língua”. Sem saída, o cardeal tentou se defender.

Constrangido, ele teria dito: “Eu, como os militares, torturadores? Absolutamente! Liberem o Boff!”... A ascendência de dom Evaristo Arns sobre o inquisidor, por sua vez, deveu-se ao fato da sua reputada e irrepreensível conduta moral e política – diferentemente da de Ratzinger, por exemplo – ao longo de vinte e oito anos (1970 - 1998) à frente da segunda maior comunidade católica do mundo, a Arquidiocese de São Paulo, perdendo apenas para a da Cidade do México. Ao assumir, então, o cargo de arcebispo, fez, mais uma vez, transparecer o seu caráter: vendeu o Palácio Episcopal por cinco milhões de dólares, empregando o dinheiro em obras sociais.

Além disso, dom Evaristo Arns destacou-se, ainda, por ter sido uma das mais expressivas lideranças religiosas do Brasil, sobretudo pela sua resistência e combate à intransigência da ditadura militar (1964 - 1985), em defesa das vítimas da repressão e dos direitos humanos, principalmente durante os chamados anos de chumbo, que teve início com a edição, pelo marechal Costa e Silva (1902 - 1969), em 13 de dezembro de 1968, do AI-5 – instrumento jurídico que suspendeu todas as liberdades democráticas e os direitos constitucionais e individuais dos cidadãos brasileiros, além de fechar o Congresso Nacional e censurar a liberdade de imprensa no Brasil.

O peso dos anos de chumbo, contudo, seria sentido, ainda, até o final do governo do general Emílio Garrastazu Médici (1905 - 1985), em março de 1974 – período, aliás, onde as torturas intensificaram-se. Porém, tema de um projeto de pesquisa, iniciado em 1979 e coordenado por dom Evaristo Arns, realizado durante anos no mais discreto e sigiloso silêncio, e concluído em 1985, os horrores cometidos pela ditadura militar estão registrados no livro BRASIL: NUNCA MAIS – em caixa alta mesmo. Publicado no mesmo ano da conclusão do projeto, o livro foi prefaciado pelo próprio Arns e, por seu teor, causou comoção e, obviamente, polêmicas.

Foi dessa realidade, portanto, à qual se referiu dom Evaristo Arns quando repreendeu o inquisidor Ratzinger por ter proibido Leonardo Boff de falar, escrever, publicar e dar aulas, silenciando-o injustamente. Bom! Como eu já disse em um outro artigo, intitulado As Bruxas de Salem, postado, inclusive, neste blog, podendo ser encontrado nos arquivos referentes ao mês de março [2009], “o curioso é que, interrogado durante horas no Palácio do Santo Ofício, onde, em tempos remotos, se praticavam torturas, Boff sentou-se na mesma cadeira onde, em outras circunstâncias, sentaram-se os italianos Galileu Galilei (1564 - 1642) e Giordano Bruno (1548 - 1600).

“Segundo Boff, os métodos da atual Inquisição mudaram. Hoje, se tortura apenas a psique do acusado, não mais o seu corpo... Ocorre que, anos depois, durante a Eco-92, no Rio de Janeiro, Boff, mais uma vez, foi repreendido por Ratzinger, que voltou a lhe impor o silêncio obsequioso, além de obrigá-lo a deixar o Brasil e a América Latina, devendo escolher um convento, nas Filipinas ou na Coréia, onde ficaria encerrado, sem nem mesmo pensar!”. Cansado, contudo, dos desmandos do Vaticano, Boff, que vem se considerando “um cigano teológico”, reagiu, renunciando ao sacerdócio. Para ele, “a Igreja mente, é corrupta, cruel e sem piedade!”.

Em fevereiro [2009], entrevistado pela jornalista Fabíola Ortíz, da Agência de Notícias de Portugal, Leonardo Boff disse que, quando inquisidor, Ratzinger “puniu mais de 150 teólogos e cerceou a liberdade de pensamento na igreja”, questionando, inclusive, a sua indicação e eleição para o mais alto cargo da hierarquia da Igreja católica: “Até hoje é um mistério, pois [Ratzinger] é uma figura de desunião, de polêmica” (...).


Enfim! Não sou religiosa e nunca, nem sob tortura, negaria o meu ateísmo, embora respeite quem, independentemente de religião ou de não importa o quê, é decente, tipo, no caso da Igreja católica, a minha tríade religiosa querida: dom Paulo Evaristo Arns, Leonardo Boff e frei Beto. E só! O resto, como eu já disse antes, é carnaval. E não me falem mais em Bento XVI. Afinal, qual a moral de uma coisa (Ratzinger) que nem sabe o que são vaginas, ovários e úteros para, em nome de dogmas católicos – uma aberração! –, versar sobre o aborto, tentando influenciar o processo eleitoral do Brasil por causa desse assunto ou de outros, igual eutanásia, casamento entre pessoas do mesmo sexo, drogas etc? O melhor seria esse INFELIZ ir cuidar da PEDOFILIA que permeia as batinas das fileiras da instituição sem futuro que gere...

Daí que, hoje, Lula, o cara que preside o Brasil, disse que Bento XVI respeite o nosso país, que é laico. Engraçado... Foi a única frase decente do jovem em oito anos de governo que ouvi. Ah! Por curiosidade, Lula sabe o que é um Estado laico? Mas, de qualquer modo, pegando a deixa... Se o Brasil é laico, não deveria, também, ter direito a uma IMPRENSA livre do julgo do Executivo, abolindo, de vez, Sarney, que, há 456 dias, mantém sob censura o Estadão, e que, igualmente, com a conivência de Lula, reduziu a nossa categoria de jornalista à merda? Falando nisso, que Sarney saia do hospital Sírio-Libanês, onde já devia ter morrido - cadê a eutanásia? -, direto para um tumulo de vinte covas. Ou cinqüenta. Bom! Por isso que, em nome do povo brasileiro – espoliado até dizer basta! –, deixem a gente em PAZ. Seja Bento XVI, Sarney e congêneres - ou seriam genéricos? Infelizmente, só tem bandido.


Nathalie Bernardo da Câmara

 

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

NO PAÍS DA COBRA GRANDE III

Poder Judiciário: a serviço de quem?



“Perguntei a um homem o que era o Direito.
Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade.
(...) Comi-o...”.

Oswaldo de Andrade (1890 - 1954)
Multimídia brasileiro
Passagem extraída do Manifesto Antropofágico - 1928



Uma curiosidade me persegue: a de saber quando o Poder Judiciário brasileiro, e em todas as suas instâncias, sem exceção, de fato cumprirá com imparcialidade e zelosamente com as suas funções, que não são poucas, perante a sociedade, banindo, enfim, e de vez, a corrupção das suas entranhas. Afinal, como se já não bastassem um Legislativo historicamente comprometido com os interesses de uma minoria e um Executivo ainda mais indecente, conivente com leis e práticas imorais, a dita Justiça, no Brasil, mais parece um teatro de marionetes, manipulada que é por políticos e empresários inescrupulosos, cuja única fala das protagonistas nos faz lembrar do bordão de leilões, ou seja: Quem dá mais?

Digo isso porque ainda anda a me entalar a garganta a permissividade do Supremo Tribunal Federal - STF com as falcatruas de Joaquim Roriz, ex-governador do Distrito Federal, que, no dia 24 de setembro, para não ser enquadrado na mais suja das fichas e ter impugnada a sua candidatura ao GDF, recorreu à artimanha de renunciar à mesma. Ora, se o registro da candidatura de Roriz havia sido barrado exatamente por ele ter renunciado ao mandato que tinha como senador em 2007, tentando evitar um processo de cassação, em hipótese alguma o STF deveria ter concordado com a substituição da candidatura do político incauto por outra, independentemente do substituto, poucos dias antes do pleito do dia 3 de outubro.

E não deveria, sobretudo porque, como todas as urnas eletrônicas para o referido pleito já estavam lacradas, não haveria tempo hábil, portanto, para substituir a foto e o nome de Joaquim Roriz pelos do seu substituto, no caso, a sua própria mulher – outra armação da raposa velha. Ocorre que esse foi exatamente o argumento dos supremos da vida para manterem a foto e o nome do ex-governador, ou seja, as urnas estarem lacradas. Sei não, mas, por isso mesmo que a coligação da qual Roriz fazia parte deveria ter perdido o direito a concorrer ao GDF com não importa qual candidatura. Resultado: a candidata Weslian, casada com o malfeitor, foi, infelizmente, para o segundo turno das eleições.

Isso, sim, se chama fraude! E das grandes, com os magistrados brasileiros a serem os primeiros a darem um péssimo exemplo ao povo, que é o de como ser indecente neste país e ainda ficar impune... O pior, contudo, é que, no dia 19 passado, O Tribunal Superior Eleitoral - TSE decidiu manter a foto e o nome de Joaquim Roriz nas urnas eletrônicas do pleito do próximo dia 31, beneficiando, assim, a candidatura de Weslian, ou melhor, beneficiando o ex-governador, já que, caso a aspirante à política seja eleita – uma vergonha nacional! –, ninguém, de posse das suas faculdades mentais, tem dúvida de que o esposo - não ela -, um dos homens mais corruptos deste país, é quem irá governar o GDF.

Felizmente, não estarei em meu domicílio eleitoral no segundo turno destas eleições – uma das mais fraudulentas da História do Brasil, diga-se de passagem, primando, inclusive, pelo baixo nível das campanhas. Assim, não terei o desprazer de, por obrigação, comparecer as urnas, sobretudo porque, caso o fizesse, anularia o meu voto, tanto para presidente como para governador, pois não me compraz ser conivente com os desmandos de ninguém, muito menos ver candidatos, assessores, cabos eleitorais e congêneres disputando no tapa os votos e a dignidade dos eleitores – haja baixaria! E eu quero voltar à escola, sendo de novo alfabetizada, se a candidatura de Weslian Roriz não for ilegítima...


Nathalie Bernardo da Câmara


terça-feira, 26 de outubro de 2010

NO PAÍS DA COBRA GRANDE II

Non-sens:
Censo Demográfico 2010...




“A Mesopotâmia inventou a escola para as elites; a sociedade industrial inventou a escolarização e o consumo de massa...”.

Domenico de Masi
Sociólogo italiano




Dizem que, no Brasil, o povo vive em um regime democrático de direito... Como, se tudo o que se faz é por imposição de uma legislação caduca? Vejamos... Comparecemos as urnas para – em tese – votar (já que podemos anular o nosso voto), mas, apenas, porque somos obrigados. Agora, vem o Censo... Segundo a Lei (L maiúsculo) de nº 5.534, de 14 de novembro de 1968 – ano do AI-5, aquela aberração da ditadura militar (1964 - 1985) –, o dito cidadão brasileiro é obrigado a prestar informações sobre a cor da sua pele. Ninguém merece! E, eu perguntaria: quem, de fato, sabe a sua cor? Vai ver, só a atriz brasileira Thaís Araújo, de repente, garota propaganda do Censo 2010, deve sabê-lo. Afinal, ela já aparece na telinha dizendo que é negra, mas que a cor da sua pele é preta... Confesso que não entendi nada. E olhe que não disponho de apenas dois meros e insignificantes neurônios. Há dias, quero entender a frase proferida pela atriz e... Nada!

O fato é que a propaganda virou assunto durante um almoço em casa da minha mãe. Qual seria, enfim, a cor de todos nós? Coisa besta, isso! O próprio governo é racista e não sabe. E vira um debate infrutífero, estéril. O curioso é que, nesses últimos oito anos, ao invés de fazer demagogia, já que nunca tira da boca a palavra democracia, Lula devia ter feito por onde para que, de fato, o Brasil fosse um país democrático, isentando o povo, por exemplo, não somente de ser obrigado a comparecer as urnas, mas, também, de todos os demais engodos aos quais é violentamente obrigado a cumprir. E nem me classifiquem de parda! Parece palavrão, já que sou morena desbotada, embora, em minha certidão de nascimento, me classificaram como branca. Quanta perda de energia! Falando nisso, o Censo 2010 prevê o albinismo, por exemplo, em suas classificações de pele? Ou o albino está classificado na categoria Outros? Ocorre que, neste Brasil, repentinamente afro, ai de quem questionar.

Ah! Outra questão que, em minha ignorância elementar e racial, eu faria, ou seja: qual a diferença entre o negro e o albino? Bom! Idiota como eu sou, creditaria tal diferença à melanina. O primeiro tem em excesso; o segundo de menos. Ou melhor, nada. Assim, já que muitos – e não é de hoje –, desrespeitam todos os nossos direitos fundamentais – independentemente de raça, sexo, credo e, por aí, vai –, quem sabe não seria melhor entender que o Brasil não tem cor ou possui todas elas ao mesmo tempo: índio, branco e negro? Por isso que também nunca entendi a cota para negros nas universidades públicas – maior manifestação de racismo, que ocorreu em 2006, não poderia... Enfim! Se um pau mandado do Censo 2010 perguntar qual a cor da minha pele, pode mandar me prender. Afinal, como sou obrigada a responder e, por ignorância, eu não sei... Punam-me, então! Mas, que a punição seja exemplar, incluindo a de Lula, por proferir o nome democracia em vão. E é isso! Nesse dégradé de raças, fico eu...


Nathalie Bernardo da Câmara

domingo, 24 de outubro de 2010

NO PAÍS DA COBRA GRANDE

Salve-se quem puder!




“A política tem a sua fonte na perversidade
e não na grandeza do espírito humano...”.

Voltaire (1694 - 1778)
Filósofo e escritor francês

 

A biodiversidade da fauna brasileira é, simplesmente, surreal. Dá de um tudo! Mas, nesta vida, depois que se conhece a maldade humana, nada mais causa espanto... O mais intrigante, contudo, é não saber o que é mais grave: se cobras engolindo cobras, cada uma, aliás, com as suas presas bucais particulares e os seus venenos ainda piores, ou as rinhas de galos, vistas, nos últimos tempos, por exemplo, nas arenas da política brasileira – se brincar, uma tourada espanhola é até menos sanguinolenta e provoca menos danos colaterais do que esse carnaval tupiniquim. De quinta – diga-se de passagem! E que ninguém merece, pois, no nosso caso, brasileiros idiotas, termina virando picuinha deles, coisas pessoais de um político contra outro, que – convenhamos – não levam em consideração o desejo do povo: a gente...

Enfim! No Manifesto Antropofágico, do multimídia brasileiro Oswald de Andrade (1890 - 1954), publicado no número I da Revista de Antropologia, de 1928, em São Paulo, Brasil – uma resposta as questões postas pela Semana de Arte Moderna, de 1922, cuja imagem para retratar o período histórico foi, nada mais, nada menos, do que a pintura:

 
Abaporu – 1928 – Óleo/Tela 85x73 cm
Tarsila do Amaral (1886 - 1973)
Pintora brasileira



Sim, o autor do manifesto citou - numa boa - a deglutição do religioso português Pero Fernandes (1495 - 1556) por índios Caetés, embora dita injusta e desumana por malditos católicos. Só que, em minha opinião, foi uma deglutição de bom tom! Afinal, quem mandou infelizes virem para a Terra dos Papagaios, usurpando os direitos dos aborígines locais, tipo o jesuíta português Anchieta (1534 - 1597), um bandido a mando do rei da época? Assim, após naufragar na foz do rio Coruripe, no hoje Estado de Alagoas, no Nordeste do Brasil, o Pero, religioso, mais conhecido como o bispo Sardinha, caiu nas garras dos Caetés – canibais de natureza. A criatura, com nome de peixe, capturada e abrasada? Problema o dele. Vai ver, culpa do sobrenome... Em minha opinião, a sardinha foi muito bem assada e degustada. À época, eu faria o mesmo.

Hoje, particularmente, embora tenha um dedo nos Potiguara, igualmente canibais de origem – coisa do passado -, não comeria ser humano algum, muito menos um religioso, pois sou alérgica à batina. Ah! Tenho outros dedos espalhados... Na África - da qual nem falo! -, na Europa... Enfim! Na urna brasileira atual, sem vislumbre de digerir espécie alguma de fauna. Nem em processos crus, sólidos, líquidos ou gasosos... Melhor vomitar, pois me proíbo de votar em quem quer que seja! Afinal, falando em fauna, não quero, com o meu voto, servir de boi de piranha para ninguém. Quer quiser, o faça. Fico com o beija-flor. E me esqueçam. Não gostaria de, um dia, ouvir a jornalista brasileira Fátima Bernardes – a apatia por excelência –, do Jornal Nacional, da Rede Globo, dizendo que o representante do Executivo saiu para comprar cigarro. Pior! Quando nem fuma...

 


Nathalie Bernardo da Câmara



quinta-feira, 14 de outubro de 2010

NO PAÍS DAS MARAVILHAS III

Em busca de um direito perdido...



“Se começássemos a dizer claramente que a democracia é uma piada, um engano, uma fachada, uma falácia e uma mentira, talvez pudéssemos nos entender melhor...”.

José Saramago (1922 - 2010)
Escritor português


Concluindo, portanto, a presente trilogia, gostaria de tecer algumas palavras sobre o conteúdo de um e-mail que, outro dia, despencou em minha caixa postal. Trata-se de um desmentido, intitulado A Ficha falsa de Dilma no DOPS. Ou seja, uma notícia informando que a suposta ficha criminal da ex-militante Dilma Rousseff, publicada no jornal Folha de São Paulo e circulando com freqüência na internet desde meados do ano passado, não passou, segundo laudos de peritos, de uma fraude. O curioso é que, no embalo da mesma notícia, divulgaram, igualmente, uma suposta ficha do também presidenciável José Serra, que, de igual modo, teria sido preenchida pelo Departamento de Ordem Política e Social - DOPS, famigerado órgão repressor da ditadura militar (1964 - 1985).

Bom! Para quem não conhece os detalhes dessa história, tudo teve início, como já foi dito, quando, no dia 5 abril de 2009, a Folha publicou a tal ficha criminal da ex-militante Dilma Rousseff, atribuindo a sua autoria ao DOPS. Curiosamente, no mês seguinte, no dia 12 de maio, ao reproduzir uma cópia da mencionada ficha no blog Ciranda Internacional de Informação Independente, o jornalista brasileiro Vinícius Souza questionou: A Folha publicaria uma ficha falsa do Serra como fez com a Dilma? Bom! Se a Folha publicaria, eu não sei – pode, inclusive, até já ter publicado –, mas, que eu publiquei... Só que uma cópia, que encontrei no Google, provavelmente de outra fraude, que também anda circulando na internet, e a pus ao lado da de Dilma, ilustrando a abertura deste post.

O fato é que, pouco mais de um mês depois, no dia 28 de junho, a Folha divulgou que a própria Dilma encaminhou ao jornal dois laudos técnicos, um produzido pelo Instituto de Computação da Universidade de Campinas - Unicamp e outro pela Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos - Finatec, ligada à Universidade de Brasília - UnB, contratados e custeados por ela, para que a suposta autenticidade da imagem reproduzida pelo periódico no dia 5 de abril fosse ou não comprovada, pondo, assim, um ponto final no episódio. Ou seria uma novela mexicana? Enfim! Na edição da reportagem em questão, ficamos sabendo, ainda, que os laudos apontaram “manipulações tipográficas” e “fabricação digital” para a criação da ficha que seria da militante Dilma.

Um dos peritos, por sua vez, informou que o Arquivo Público de São Paulo, onde estão abrigadas fichas de presos políticos, nada teve a ver com o qüiproquó, isentando o órgão de qualquer responsabilidade. À época, então ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff negou ter participado das ações mencionadas na ficha falsa, que, a bem da verdade, a Folha confessou ter sido encaminhada ao jornal através de um e-mail, ao mesmo tempo em que reconheceu que errou, pois não comprovou a autenticidade do material recebido, e se retratou. Então... Soa até estranho, de novo, agora, durante o 2° turno das eleições, desencavarem essa resenha, como se diz em Goiás, mesmo que seja em prol da presidenciável Dilma Rousseff. Afinal, quem gosta de História é historiador...

De qualquer modo, quando a falsa ficha tornou-se pública e ganhou notoriedade, foi o maior rebuliço, sendo esse, provavelmente, o objetivo do ilustre desconhecido que a forjou, bem como tentar desestabilizar emocionalmente a então toda poderosa ministra de Lula. O gesto do incauto, contudo, em nada abalou Dilma Rousseff, a dama de ferro do PT, cujo codinome, aliás, à época em que foi capturada, segundo a nada idônea ficha, teria sido Estela, nem, muito menos, balançado as estruturas das suas aspirações em se tornar a candidata de Lula à presidência do Brasil e, conseqüentemente, se eleita, a sua sucessora. Tanto que, hoje, Dilma está no 2° turno e, segundo as pesquisas de intenção de voto, é a favorita do eleitorado, com Serra em seu encalce. Falando no tucano...

Na ficha criminal do presidenciável, certamente fraudada, diz que a alcunha do militante José Serra era Vampiro – que maldade! – e que, à época, era tido como fugitivo. Bom! O fato é que ambos – Dilma e Serra – foram, sim, militantes de esquerda e, por isso, vítimas do regime militar. Não há como negar. Nem haveria motivo para isso. Muito menos negar que Dilma foi torturada até dizer basta. Direitos humanos? Isso não pertencia ao povo brasileiro durante a ditadura. Curiosamente, hoje, os dois pleiteiam o cargo de maior visibilidade que pode existir em um país. À Dilma, contudo, legaram a pecha de terrorista. E aí, eu perguntaria: Terrorista para quem? Afinal, quem impunha o terror à população eram os militares. Não os militantes de esquerda.

E foram exatamente os militares que, durante um dos períodos mais macabros da História do Brasil, passaram a chamar todos os que eram contrários ao regime e se opunham a ele de terroristas, capazes de explodir bombas, atentar contra o povo brasileiro – uma propaganda enganosa... Sim, porque, segundo os registros desse dado período histórico, quando militantes de esquerda seqüestravam, por exemplo, um embaixador qualquer, eles só o faziam porque essa era a única moeda de troca que dispunham para negociar a libertação de políticos detidos injustamente nos porões da ditadura, onde sofriam os mais cruéis dos abusos. Além disso, se também assaltavam bancos era para poderem financiar a sua resistência aos desmandos do regime e continuarem vivos.

Enfim! O único objetivo dos militantes de esquerda sempre foi o de promover a derrocada da ditadura, libertando o país e o seu povo do julgo de homens cuja única política era a da censura, da força bruta e da negação de não importa qual direito humano. Tanto que, para isso, tentaram evitar que o Brasil terminasse sendo uma ZBM nas mãos dos militares. ZBM? Nada mais nada menos do que a popular zona do baixo meretrício... E isso sem falar que a nação, vítima de constantes e contínuos estupros, teve a sua soberania ignorada pelos militares, que, atléticos, praticavam, a 3x4, os seus esportes favoritos: exilar, perseguir, aprisionar, torturar, assassinar e, não se sabe como, fazer desaparecer gente inocente cujo único ideal era o do direito à liberdade, sobretudo a de expressão. Infelizmente, vozes foram silenciadas...

Aos sobreviventes, a infelicidade de conviver com as lembranças de um pesadelo que nem um dos homens mais sábios do séc. XX, que foi o psiquiatra suíço Jung (1875 - 1961), seria capaz de apagá-las. Retornando, contudo, à inspiração deste post... Dilma Rousseff de fato não mentiu ao dizer que não foi terrorista. Afinal, os militares é que eram. Ela, como muitos outros, apenas uma vítima do regime antidemocrático, tendo, inclusive, e por diversas vezes, sido convidada a visitar os porões do regime – sabe-se lá o que a criatura sofreu nas mãos de insanos e quais os tipos de tortura que sofreu. No mais, em minha opinião, acho que, além do péssimo hábito das pessoas de pré-julgarem tudo o quanto elas possam, também costumam dar uma dimensão maior a não importa o quê.

Com isso, apenas revelam o grau da angústia que as dominam, como se discernir fosse sinônimo de lepra. Agora, se havia alguém a questionar a veracidade da tal ficha publicada pela Folha e rodando que nem pião na internet, antes, é claro, de se descobrir a fraude, esse alguém – mais ninguém – seria a própria Dilma. E foi o que ela fez. Ao mesmo tempo, não deixa de ser lamentável a descoberta de que a ficha foi forjada, já que, se autêntica, no mínimo poderia ser mais um documento que registra uma página obscura da História do Brasil, embora o presidente Lula já tenha dito que “boa parte dos arquivos da ditadura inexiste”. Não duvido. Só que nada justifica o não cumprimento de uma promessa feita por ele, que seria a de abrir os arquivos secretos do regime militar...

 

O Baú da ditadura



“(...) Quem uma vez pratica a ação [tortura], se transtorna diante do efeito da desmoralização infligida. Quem repete a tortura quatro ou mais vezes se bestializa, sente prazer físico e psíquico tamanho que é capaz de torturar até as pessoas mais delicadas da própria família! (...)”.

Dom Paulo Evaristo Arns
Texto extraído do prefácio do livro BRASIL: NUNCA MAIS, um relato da repressão e da tortura que se abateram sobre o Brasil na ditadura militar, publicado pela Editora Vozes em 1987.



Sim, no ano de 2002, durante a sua campanha para presidente do Brasil, Lula prometeu, em alto e bom som – ouviu-se a promessa do Oiapoque ao Chuí –, que, se eleito, uma das suas primeiras ações seria determinar a abertura dos arquivos secretos do regime ditatorial imposto ao país pelos militares, lavando, assim, a alma de muitos brasileiros, que, enfim, teriam acesso a informações contidas em documentos até então trancados a sete chaves sabe-se lá onde, vendo desmascarado, portanto, um bando de celerados que, não medindo esforços, soterraram os direitos humanos na ilha mais perdida do planeta e, achando pouco, remeteram à Idade Média o mapa que poderia localizá-los, a fim de que fosse queimado em uma das inúmeras fogueiras da Inquisição católica.

Ocorre que, eleito, Lula, como havia prometido, não fez da abertura dos tais arquivos uma das primeiras realizações do seu mandato. Ou seja, o ano de 2002 transcorreu sem nenhuma alusão a tal da promessa e, em 2003, cometendo outro deslize, quiçá de memória, em relação ao compromisso assumido publicamente, omissão total, já que, à época, segundo declaração à imprensa do ministro-chefe da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da presidência em 2008, jornalista Paulo Vannuchi, Lula teria dito que “aquele [a abertura dos tais arquivos] não era um assunto importante, que deveria ser deixado para depois”. Em 2004, 2005, 2006, 2007, nada também! Quando, então, da mencionada entrevista de Vannuchi, em dezembro de 2008, detalhes das hesitações de Lula são reveladas.

Ou seja, ficamos sabendo que a intenção do governo era a de executar um pacote de medidas para aquele ano, mas que, dissuadido pelo ministro-chefe da secretaria de Comunicação Social da presidência, jornalista Franklin Martins, que argumentou que as festas de fim de ano ofuscariam o pacote, este seria adiado para janeiro de 2009, quando seria elaborado um projeto de lei para que os arquivos secretos fossem abertos, bem como o lançamento de um edital, que convocaria ex-militares a entregarem ao governo federal todo e qualquer documento, referente à ditadura, que possuíssem em casa. À oportunidade, Vannuchi relatou, ainda, uma conversa que teve com Lula, na qual alertou que ele não poderia concluir o seu segundo mandato de presidente sem uma solução para o problema.

Segundo o ministro, poderia nem ser uma solução ideal, mas que havia, sim, a necessidade de uma solução nem que fosse para não manchar a biografia de Lula... Como diria a cantora brasileira Vanessa da Mata: “Ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai, ai”. O pior ainda foi que, em represália ao pacote de medidas anunciado, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica discordaram da iniciativa e colocaram os seus respectivos cargos à disposição do presidente Lula, que, por sua vez, tentou amenizar o impasse prometendo ao quarteto alterar alguns pontos da proposta de Criação da Comissão da Verdade, cujo papel, se aprovada pelo Congresso Nacional, será o de analisar os casos de violações de direitos humanos na ditadura militar.

Ô cabra frouxo, que nega as origens! Sim, porque, de nordestino arretado, como se costuma dizer, Lula não tem nada, já que – virou Lesão por efeito repetitivo - LER – ele nunca ouve nem vê nada, ou seja, não sabe de nada, parece até cego em tiroteio, com a vantagem, contudo, de nem mesmo ouvir o estrondo das balas. Enquanto isso, cerca de um ano depois, o advogado e tutor do Portal Educação, Carlos Eduardo Gomes Figueiredo, enfatizou que os direitos humanos devem ser resguardados, garantindo à população o direito de acesso aos acontecimentos ocorridos durante o regime militar. Para ele, “qualquer barreira na liberdade à informação e história pode configurar uma negação desta fase, que faz parte do desenvolvimento político-jurídico do país”, afirmou.

À época, as palavras de Gomes Figueiredo foram exemplarmente corroboradas pelas do então presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, Cezar Britto, que disse ser a abertura dos arquivos da ditadura a única medida capaz de evitar erros cometidos no passado. E foi somando forças nesse sentido que o ex-ministro-chefe da Secretaria Especial dos Direitos Humanos e atual presidente da Fundação Perseu Abramo, o jornalista Nilmário Miranda, autor, inclusive, do projeto que criou a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, afirmou que o que de fato ocorre é que alguns militares têm medo de serem punidos casos os polêmicos arquivos sejam abertos, já que, alegando estarem restaurando a democracia no Brasil, eles instauraram foi uma ditadura.

Para Nilmário Miranda, a abertura dos arquivos só depende, agora, do poder Executivo, visto que “o Judiciário já abriu, com sentença transitada em julgado (NR: sentença contra a qual não cabem mais recursos) sobre a Guerrilha do Araguaia”, por exemplo. E é inadmissível, em sua opinião, que as Forças Armadas insistam em dizer que não dispõe de um documento sequer referente ao movimento armado que ocorreu no início da década de setenta ao longo do rio Araguaia, na Amazônia, ainda mais porque a operação militar desencadeada para coibi-lo foi considerada a maior já ocorrida no país desde então. Segundo o jornalista, os documentos existem, sim, e são os únicos que faltam vir à tona, bem como os que dizem respeito aos casos de tortura ocorridos no Brasil.

Bom! Diante da omissão de Lula, espero que o próximo presidente deste país não hesite e, enfim, abra os (mal) ditos arquivos secretos, calando, assim, a boca dos que, apesar dos inúmeros testemunhos e documentos que atestem o contrário, insistem em negar que a tortura existiu na Terra dos Papagaios. Afinal, tudo indica que Lula, que prometeu fazê-lo e até hoje não o fez, não irá rever a sua posição e o faça ainda no fim do seu segundo mandato, sobretudo, agora, estando o Brasil no banco dos réus, sendo julgado pela Organização dos Estados Americanos - OEA por, até hoje, não ter punido com rigor os responsáveis pela detenção arbitrária, tortura e desaparecimento de dezenas de pessoas ligadas à Guerrilha do Araguaia. Bem feito! É nisso que dá ser covarde. E que sirva de lição...

 
Nathalie Bernardo da Câmara






terça-feira, 12 de outubro de 2010

NO PAÍS DAS MARAVILHAS II

Ser ou não ser não é a questão!




“Creio em um velho ditado chinês que diz o seguinte:
‘Todos os fatos têm três versões: a sua, a minha e a verdadeira...’”.

Jarbas Passarinho
Militar e político brasileiro



Quem acompanha o meu blog ou me conhece sabe que, no pleito do dia 3 de outubro, votei na candidata Marina Silva para presidente do Brasil. E optei pela ambientalista não para protestar contra a polarização de dois dos candidatos na campanha eleitoral, como muita gente fez, mas por seu programa de governo e, sobretudo, porque tomei conhecimento de que Marina é uma das cinqüenta pessoas no mundo com reais condições de ajudar a Terra, que também tem os seus direitos, contemplando, assim, a minha preocupação com inúmeros problemas – não mais um espectro, se limitando a ameaçar, mas já uma realidade visível a olho nu – que andam a atingir o nosso meio ambiente, sobretudo os decorrentes do aquecimento global, diferentemente de muitos que, inclusive, ignoram os apelos do seu próprio habitat, bem como sequer sabem, por exemplo, que a água é incolor. Não digo nem inodora, pois, no caso da do mar, cheira a sal, e nem insípida, veneno que é para um hipertenso, considerando – convenhamos – que é salobra.

Bom! O fato é que toda essa introdução foi apenas para adentrar no tema do post em questão – seqüência do anterior –, ou seja, os direitos humanos em suas mais diversas feições. No caso, o respeito a ser garantido, indiscriminadamente, a todo e qualquer cidadão, independentemente do seu papel e da sua função na sociedade. Além disso, adianto, também, que, pela minha condição de humanista, politicamente sempre combatendo as mais diversas faces da tirania, da mais sutil e velada à escancarada, e independentemente da minha opção neste 2° turno das eleições, mesmo porque, tudo indica, não estarei em Brasília no dia do pleito, 31 de outubro, devendo, portanto, justificar a minha ausência do meu domicílio eleitoral, confesso que ando impactada com o baixo nível ao qual já chegou a disputa dos presidenciáveis pelo poder na reta final da campanha eleitoral – pensava que só quem gostasse de térreo fosse anão. Enfim! Repudio a prática do dito vale tudo para se ganhar uma campanha não importa a qual preço.

Sim, com candidatos, assessores, cabos eleitorais e congêneres saindo no tapa para disputar nem que seja um voto que garanta uma dada vitória nas urnas, enquanto os escrúpulos rolam esgotos abaixo. E a situação torna-se ainda mais gritante porque muitos utilizam a internet – ferramenta poderosa – para emporcalhar ainda mais o já deprimente cenário político. No caso, me refiro a uma notícia que, recentemente, foi não somente divulgada na mídia, mas também na internet, circulando, aleatoriamente, nesse mundo sem fronteiras, inclusive nas caixas postais dos internautas, que, aliás, se não acionarem um dispositivo para filtrarem os e-mails que, indiscriminadamente, lhes são enviados e nem instalarem um poderoso antivírus, terminarão sendo vítimas de uma lavagem cerebral mais eficiente do que as próprias propagandas eleitorais gratuitas, cujo intuito, aliás – tudo indica – é o de fazer uma no eleitor, tipo: vote em mim e em mais ninguém, por isso, por aquilo e, por aí, vai.

Desse modo, entupindo, ou melhor, poluindo as nossas caixas postais virtuais, sem prévio aviso e sem respeito ao nosso direito a uma informação asséptica, os e-mails capciosos surgem de toda parte e, no caso da campanha eleitoral, apenas com o deplorável objetivo de chafurdar ainda mais os debates entre os presidenciáveis, que já não são lá essas coisas. E apenas pelo simples fato de que não são balizados por propostas de governo respaldadas pela honestidade, pela transparência e, principalmente, pela ética – um prato cheio para informações que são a maldade em pessoa, sendo, portanto, os debates, contaminados por todo tipo de leviandade, que, para nosso desespero, logo entra em pauta. Está sendo assim, por exemplo, com a presidenciável Dilma Rousseff... Como se já não bastassem as acusações – naturais e válidas – de irregularidades que teriam acontecido na Casa Civil, quando a candidata era a sua ministra chefe, ela, agora, teve a sua vida privada vasculhada e virou alvo de adjetivos pejorativos os mais diversos.

Vida privada essa que, aliás, só diz respeito a ela. Só que, se nem no dia a dia as pessoas respeitam a intimidade alheia, o que dirá em uma campanha política! O fato é que não deve ser da conta de ninguém o que uma criatura fez, faz ou deixa de fazer na esfera da sua vida privada, diferentemente do que ela fez, faz ou deixa de fazer em sua vida pública, quando tem uma. Só que, no caso de um político, ainda mais em campanha eleitoral, aí o bicho pega, porque – parece – as pessoas querem mais é ver o circo pegar fogo e, sem medir as conseqüências dos seus atos, a língua corre solta. Nesses últimos dias, portanto, a vítima tem sido Dilma – se acontecesse o mesmo com Serra ele também teria a minha solidariedade –, já que o bafafá que está rolando é com ela, que teve o seu direito à privacidade violado, embora apenas para se tentar denegrir a sua imagem pública. Sei não, mas os pais dos que agem de má fé, ao invés, por exemplo, de exercerem a cidadania com responsabilidade, não lhes ensinaram bons modos na infância?

Enfim! Já que as pessoas andam a dar uma dimensão desnecessária, inútil e fútil a supostos detalhes da intimidade de Dilma Rousseff – coisa que nem me interessa –, só resta questionar por onde andava, antes do 2° turno, a autora da denúncia que, ora, pesa sobre a presidenciável. Afinal, se a celebridade do momento garante e diz ter provas que manteve uma vida em comum com a mulher Dilma, mas que foi abandonada e que, por isso, se sente lesada – daí reivindicar supostos direitos, no caso, uma pensão –, qual o motivo de não ter procurado a hoje presidenciável quando ela ainda estava, por exemplo, à frente da Casa Civil e já devia possuir uma conta bancária polpuda – se é que o não pagamento de uma pensão, paga pela cidadã Dilma, seja realmente o motivo para a tal denúncia –, ou mesmo ter desencadeado esse escândalo já no 1° turno? Daí eu continuar questionando... Qual seria, então, independentemente da veracidade da informação em questão, a real causa de todo esse estardalhaço, justo na reta final da campanha eleitoral?

O mais lamentável, contudo, da repercussão da referida denúncia, é que o aparente drama da suposta ex-amante de Dilma parece que se tornou a coisa mais importante da face da terra, em detrimento – o que é uma pena – do programa de governo da candidata, esse, sim, a ser levado em consideração e debatido com a população, que, inclusive, deve compará-lo com o de Serra, cujos assessores de marketing, aliás – um bando de sanguessugas –, devem ser os verdadeiros responsáveis pelo Caso Danado – eu que batizei a baixaria assim. Enfim! Sem maiores comentários a respeito, concluo este dizendo que, caso estivesse em meu domicílio eleitoral no dia 31 de outubro, com certeza não votaria em Serra, visto que, em hipótese alguma, entrego a minha confiança a um político que, em campanha, já se revela inescrupuloso. Porém, independentemente da minha opção política, rogo aos dois presidenciáveis que se limitem a pautar as suas respectivas campanhas naquilo que chamamos de honestidade, transparência e ética.

 
 



E que respeitem o direito do povo brasileiro à decência, já que, nem de longe, ele é fossa de quem quer que seja e, embora não pareça, pode surpreender nas urnas, tomando uma decisão que nem o mais sábio dos homens seria capaz de adivinhar... No mais, adianto que o próximo post tratará de outra notícia, também com um pé na questão dos direitos humanos, que, outro dia, me foi enviada por e-mail e que, de certa forma, já anda a ganhar espaço nos vexatórios debates do 2° turno das eleições para presidente. Voilà!

 
Nathalie Bernardo da Câmara


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Cartilhas, batinas, censuras...
Não as quero!

“A essência dos direitos humanos é o direito a ter direitos...”.

Hannah Arendt (1906 - 1975)
Filósofa germânica



Diante da irritante insistência de leigos em direitos humanos, que fincam o pé, igual criança contrariada quando lhe dizem não, embora eles aleguem entender do assunto, apesar das suas posturas assemelharem-se as dos fundamentalistas mais extremistas – haja redundância! –, querendo, a todo custo, influenciar a opinião de terceiros nos debates acerca das propostas dos programas de governo dos presidenciáveis, ou melhor, impor a outrem os seus respectivos entendimentos – diga-se de passagem, equivocados – sobre alguns temas, polêmicos de natureza, como, por exemplo, o aborto, publiquei, neste blog, na sexta-feira, 8, o texto intitulado Aborto: a dona do corpo é quem decide. Ocorre que, como a temperatura do que chamam de debate anda a aumentar de uma forma tal, pior do que o aquecimento global e na iminência de se tornar um caso de polícia, sobretudo quando o tema em questão vem à tona, decidi recorrer ao mesmo.

Então... Independentemente dos entendimentos que Fulano, Beltrano ou Cicrano têm do aborto, sou da opinião de que a interrupção da gravidez – não importa o motivo que leva uma mulher a tal decisão – é um problema de saúde pública e de direitos fundamentais. Assim, que durante o 2° turno destas eleições não se continue dando ao aborto uma dimensão que o tema não tem nem carece de ter. E que as polêmicas – estéreis – em seu nome não sirvam de pretexto para inflar ainda mais, por exemplo, o ego de certos religiosos, no caso, os católicos, que, pensando estarem na Idade Média – quem anda para trás é caranguejo –, fazem de tudo para negar o direito à liberdade de pensamento das pessoas e, sem escrúpulo algum, influenciar em suas decisões, sem falar nas almas consideradas desgarradas que, de lambuja, eles aliciam, diferentemente dos candidatos, que, apenas interessados nas urnas, cujo resultado pode elegê-los, angariam votos.

O pior, contudo, é que a empreitada de tais religiosos, amparada por suas crenças nos dogmas católicos – os filmes do cineasta italiano Fellini (1920 - 1993) perdem em surrealismo –, mais parece um jogo de vale tudo. Engraçado... Quando o assunto é o aborto, a Igreja católica logo ergue o punho, esbravejando contra a sua prática, como se a interrupção de uma gravidez fosse equivalente aos crimes considerados hediondos por não importa qual legislação, quando, a bem da verdade, tal decisão só diz respeito única e exclusivamente à mulher e a mais ninguém, já que o seu corpo – assim como a sua mente –, lhe pertence. Paradoxalmente, essa mesma Igreja católica silencia quando questionada sobre a pedofilia que, não é de hoje, está mais entranhada na cultura dos seus representantes de batina do que carrapato em cachorro vira-lata. Isso, sim, se chama hipocrisia! Ou tenha o nome que tiver – sinônimos é que não faltam.

Afinal, não é muito difícil definir uma aberração que já se tornou lugar-comum no seio da instituição, no caso, a pedofilia, embora os religiosos façam de tudo para encobrir um crime que, pelas leis terrenas, dá cadeia. No caso do Brasil, por exemplo, nem é preciso consultar o Código Penal do país para saber que, se confirmado o ato criminoso, um pedófilo logo passa a fazer parte das estatísticas. Porém, no que diz respeito à Igreja católica, o agravante é que, para azar das vítimas, muitas vezes, aliás, consideradas culpadas pelos abusos que sofrem, a maioria dos casos de pedofilia envolvendo religiosos é abafada. Só que os chargistas divertem-se...





Além disso, outro contra-senso da Igreja católica – incoerente por excelência –, igualmente trazido à tona nestas eleições, é a sua posição terminantemente contrária à união civil de pessoas do mesmo sexo. Sei não, mas eu daria tudo para entender a lógica da Igreja católica, que, feito mula que decide empacar, teima em negar uma realidade – o homossexualismo –, que, por sinal, ocorre a 3x4 no seio da instituição. Só que, no caso, não por debaixo de panos, mas de batinas, em um faz-de-conta cujo savoir-faire dá de 10 nos melhores contos de fadas já criados pelos mais renomados escritores de não importa qual nacionalidade. E que essa minha avaliação – qualquer pessoa de bom senso também a faria –, extensiva, inclusive, aos evangélicos, que em nada diferem dos católicos nos quesitos aborto e união civil de pessoas do mesmo sexo, estimule a reflexão, já que, infelizmente, ambos os direito não são reconhecidos constitucionalmente como fundamentais.

Que os dois direitos sejam, então, incluídos na Constituição Brasileira, mas sem que, para isso, haja a necessidade de um plebiscito. O que não se pode mais tolerar é que eles permaneçam excluídos da legislação mais soberana do país, bem como estigmatizados e marginalizados pelos que, não importa o que lhes motiva a isso, são contrários ao seu reconhecimento constitucional. Além do mais, como eu já disse antes, é infrutífero polemizar a respeito, já que certas polêmicas, além de estéreis por natureza, só têm como serventia atrasar a nossa evolução como seres capazes de discernir e, segundo o ginecologista brasileiro Thomaz Gollop, em entrevista ao jornal Correio Braziliense, publicada neste domingo, 10, alimentar preconceitos, ignorando conceitos. Ainda segundo o médico, se referindo, no caso, aos candidatos, a abordagem, em seus programas de campanha, mais especificamente do tema aborto, “está completamente inadequada”.

Para ele, “o aborto não é uma carnificina nem é uma questão religiosa em si”. A antropóloga brasileira Débora Diniz, por sua vez, referência mundial no assunto, também ouvida pelo Correio, fez um alerta: “Se os candidatos querem seriamente discutir o aborto, não devem fazer disso uma moeda de troca com as religiões. Debater o aborto deve ser um marco da saúde das mulheres, não uma concessão religiosa”. Um debate, sim, a respeito dessa problemática, se faz necessário, mas, também, tão logo seja possível, a inclusão do direito ao aborto, o tirando da ilegalidade, na Constituição. Afinal, se fizéssemos raios-x da realidade dramática que é a realização clandestina de abortos no Brasil, acho até que choraríamos diante dos resultados...

 


Para o jornalista Vinícius Sassine, que assinou a reportagem, “uma romaria de mulheres procura diariamente os hospitais públicos brasileiros. Depois de abortos clandestinos e malsucedidos, elas precisam de atendimento médico com urgência. São, em média, duzentas e cinqüenta e seis a cada dia, dez por hora. A mesma quantidade de vítimas de clínicas ou medicamentos clandestinos enfrenta a decisão pelo aborto sem qualquer suporte médico”. E o jornalista, fazendo jus ao título da reportagem – Tema recorrente na política, o aborto é um problema grave de saúde –, prossegue, informando que “os hospitais mantidos pelos repasses do Sistema Único de Saúde (SUS) não fazem tantas cirurgias quanto as curetagens. São procedimentos que exigem anestesia, geral ou local, para a retirada de restos de placenta do útero. Necessárias depois de abortos provocados, são quinhentas curetagens por dia. É mais do que o dobro de procedimentos de retirada de útero e o triplo da quantidade de cirurgias de períneo, as duas cirurgias mais frequentes pelo SUS, depois da curetagem”. E a reportagem alerta para o fato de que, “em todo o país, o aborto é a terceira ou a quarta causa – de acordo com cada região – de morte de mulheres no parto. A cada quatro dias, em média, morre uma brasileira que decidiu fazer aborto, levando-se em conta apenas os registros de mortes informados pelos hospitais ao Ministério da Saúde”.



Enfim! Sem políticas públicas que solucionem o problema, o aborto, no Brasil, termina, em sua maioria, se resumindo a um caso de polícia, já que a legislação brasileira garante a sua realização apenas em casos de gravidez decorrente de estupro ou quando a gravidez oferece riscos de morte à gestante. Desse modo, para quem insiste em desperdiçar energia polemizando sobre não importa qual dos dois temas aqui abordados, ou seja, aborto e união civil entre pessoas do mesmo, eu sugiro outro, de fato pertinente, sobre o qual, inclusive, podem polemizar à vontade – e o Brasil agradece –, que é a venda de ações, decidida, inclusive, sem o aval do povo, da mais queridinha das estatais brasileiras, a PETROBRÁS. Ou, então, que se polemize sobre o drama vivido pelo jornal O Estado de São Paulo, há 437 dias sob censura, já que a dita Justiça brasileira, por livre e espontânea pressão do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), assim determinou.

Sei não, mas, em minha opinião, Sarney era quem deveria estar sob censura, já que, em seu histórico político, é quem mais coleciona casos de nepotismo e tráfico de influências neste Brasil de paradoxos – o país das maravilhas –, cujo judiciário, que não hesita em cercear a liberdade de expressão da imprensa, aceita de bom tom que homens como o filho do senador em questão, o empresário Fernando Sarney, seja indiciado, embora ele negue de pés juntos, por formação de quadrilha, gestão de instituição financeira irregular, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica... Só coisa boa! Aí, para não ver o pimpolho incauto atrás das grades, Sarney manda calar a boca do Estadão, que nada mais fez do que cumprir com a sua função social, ou seja, publicar detalhes da investigação realizada pela Polícia Federal, que ainda anda apurando a gravidade dos crimes cometidos pelo meliante. Isso sim é que é herança genética! Ou seja, tal pai, tal filho. E tudo fica em família...

 


Parece até que estamos na Bolívia... Bom! O fato é que a liberdade de expressão – direito fundamental incluso na Constituição Brasileira – não deveria ser censurada. E em hipótese alguma! Muito menos para satisfazer as vaidades de um político que nada mais é do que uma fraude, pois, apesar de se dizer escritor, com livros publicados e premiados, desconhece, por completo, o que seja, por exemplo, ética... Ora, assim é muito bom fazer da política uma carreira! Só que os meios aos quais os candidatos recorrem para chegar a não importa qual cargo eletivo mais parecem uma equação matemática. E daquelas que ninguém entende nada. Sim, porque, primeiro – a tarefa mais fácil – deve-se iludir o povo com discursos vazios, mas recheados de promessas demagogas. Em seguida, dando uma de mendigo, o candidato, aparentando humildade – coisa que ele também desconhece –, pede o voto desse mesmo povo, que, aliás, o dá de bom grado – haja ingenuidade!

Em uma terceira etapa, contudo, a mais excitante – diga-se de passagem –, pois garante adrenalina para todo o seu mandato, o político eleito sequer hesita em meter a mão na riqueza do mesmo povo que, no início da sua campanha eleitoral, ele enganou sem nem pestanejar – se pestanejou foi devido a um cisco que, em meio à multidão, sem pedir licença, o deixou ainda mais cego... E é isso! Desejo, portanto, ao final deste texto, dizer que faço minhas as palavras da filósofa germânica Hannah Arendt, que assina a epígrafe deste post, e que os direitos fundamentais – todos – possam, enfim, ser garantidos por lei. Ou seja, se tornem, de fato, um fato. Mas, para isso, nada de plebiscito! E se já andam a ventilar a possibilidade de a Constituição ser revista, que comecem pela inclusão de direitos fundamentais que, desde a primeira das constituições do país, por ignorância ou oportunismo, foram ignorados, relegados ao mais fétido dos guetos.

Por isso que, em nome dos direitos humanos, da paz, da não-violência e em nome dos nossos cinco sentidos, que não são esgotos, onde se depositam toda sorte de poluição, faço um apelo aos candidatos, sobretudo os presidenciáveis, e aos seus assessores:


 
 
Que no 2° turno das eleições, sobretudo as presidenciais, as propagandas dos candidatos e os seus discursos sejam pautados pela decência, não pela vulgaridade. E é exatamente por isso que achei o maior despropósito – fora de tom, eu diria – uma notícia que, outro dia, foi divulgada na mídia, sobretudo na internet, circulando com uma rapidez impressionante, feito pavio de pólvora. Só que, seguida desta notícia, recebi outra, que, apesar de não ser tão polêmica como a primeira, é igualmente curiosa, sobretudo porque ambas são exemplos da mediocridade humana e – o que é pior – nos mostram até que ponto pode chegar a leviandade das pessoas. Daí eu ter decidido fazer das duas notícias temas dos dois próximos posts, dando, assim, continuidade a este...

 

Nathalie Bernardo da Câmara




sábado, 9 de outubro de 2010

BRASÍLIA TREME...



“Nem todo tremor é Parkinson...”.

Alvino Dutra
Neurologista brasileiro

 
Como se já não bastassem os cento e vinte dias consecutivos de seca – das brabas! – no Distrito Federal, ou seja, quatro meses de estiagem, com rachaduras a comprometer o solo do Cerrado e a sola do pé dos que nele vivem, sem falar da tempestade de areia que, no dia 28 de setembro, engoliu Brasília, mais parecendo o véu maculado de uma noiva a caminho do cadafalso, deixando, de longe, o Palácio do Planalto, por exemplo, na Esplanada dos Ministérios, invisível a olho nu, na tarde desta sexta-feira, 8, às 17h17, um tremor de terra, o maior já sentido no Distrito Federal, surpreendeu a capital do Brasil. Segundo o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília – UnB, os abalos foram provocados por um terremoto de 4,5 pontos na escala Richter, considerado de grande magnitude para os parâmetros brasileiros, cujo epicentro deu-se no município Mara Rosa, na região ao norte de Goiás, na divisa com o Tocantins.

Porém, não foi essa a avaliação do renomado Serviço de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos – USGS. Segundo reportagem do jornal Correio Braziliense, o USGS anunciou que o terremoto chegou a 5,0 pontos, tendo ocorrido numa profundidade de 14,8km, com epicentro 75km ao norte de Uruaçu - GO, 235km ao sul de Gurupis - TO, 255km a norte-noroeste de Brasília e 275km a oeste-sudoeste de Campos Belos - GO. O fato é que, até agora, de acordo com os especialistas do Observatório Sismológico da UnB, a localização exata, as causas do terremoto, incomum aos padrões brasileiros, e a sua intensidade são, ainda, uma incógnita. E que os tremores que abalaram Brasília foram os maiores já sentidos no Distrito Federal. Além disso, eles não descartam a possibilidade de novos terremotos na região, que podem se repetir em escala maior ou menor. Por esse motivo é que, nos próximos dias, o observatório ficará em alerta máximo.

Afinal, no dia 4, também no município de Mara Rosa, que sofre constantes abalos sísmicos, porque fica no linear brasiliano – ignoro o que seja –, outro terremoto, de magnitude 3,5, já havia sido sentido, contrariando a tese de que, “normalmente, as réplicas de tremores têm intensidade menor do que o primeiro”. Por isso que, “como se trata de um fenômeno da natureza, não há como dar qualquer garantia ou fazer previsões”. Para o especialista George França, em entrevista concedida ao Correio, os danos materiais provocados pelo terremoto e os seus reflexos são proporcionais à precariedade das habitações. Caso de Mara Rosa, destino de mergulhadores brasilienses nos fins de semana, cujas edificações do centro da cidade são muitas antigas, a exemplo do prédio onde funciona o consultório da odontóloga Lígia Facundo, que atendia um paciente quando percebeu o tremor, pensando que tudo fosse afundar: “Foi horrível”, disse.

Daí que o especialista George França faz um alerta: “Se as casas e prédios não têm boa estrutura, correm mais risco de desabar com os tremores”. Ainda segundo o especialista, são geralmente as regiões mais pobres “que sofrem com os sismos e os governos tendem a apenas transferir as famílias do local o que não resolve o problema se as habitações não tiverem boa estrutura”, disse. Enfim! Complementando a reportagem do Correio, uma mensagem de utilidade pública foi destinada aos leitores, que é a de, caso novos tremores ocorram nos próximos dias, a orientação é a de não entrar em pânico. E a jornalista Adriana Bernardes esclarece: “Ao sentir a terra tremer, a primeira coisa a fazer é cobrir a cabeça com as mãos e, se der tempo, se esconder debaixo de uma mesa ou posicionar-se sob um portal. Caso esteja deitado, cubra a cabeça com um travesseiro imediatamente e, se avaliar que há tempo, entre debaixo da cama”.

Além disso, é imprescindível desligar o gás de cozinha e ficar longe de janelas e armários altos, porque os vidros podem se estilhaçar e os móveis caírem. Aí, quando a terra parar de balançar, as pessoas devem procurar áreas livres. “Não é recomendado se aproximar de edifícios, de linhas de transmissão, muros, árvores ou monumentos. Se estiver em edifícios, não use elevador ou escada durante o abalo”. Para George França, quem está em prédios altos sente mais o tremor, já que eles balançam naturalmente. “Quando a frequência natural do prédio entra em sintonia com a frequência do tremor da terra, ele tende a balançar mais. Foi por isso que as pessoas que [em Brasília] estavam em edifícios sentiram mais do que as que estavam em terra firme ou em automóveis”, explicou. O também especialista George Sand, do Observatório Sismológico da UnB, ressaltou que se o epicentro do terremoto tivesse sido o Distrito Federal, os danos não seriam poucos...


Tenha dó! Aí, a avaria seria ao cubo, já que a quantidade de tremores que temos visto em Brasília, de natureza as mais diversas, não é pouca... E haja turbulências!

 


O curioso – convenhamos – é que foi exatamente no dia em que teve início a propaganda eleitoral gratuita – rádio e televisão –, para os candidatos a governador que passaram para o segundo turno das eleições em várias unidades da Federação, bem como para os candidatos a presidente, que o terremoto veio à tona em Mara Rosa, repercutindo no Distrito Federal, sobretudo em Brasília, com tremores que, inclusive, chegaram a abalar até as bases de sustentação dos programas de campanha dos presidenciáveis. Por essa – imagino –, eles não esperavam. Nem muito menos os cartunistas brasileiros, que, sempre atentos, munidos, sobretudo, de humor, só querem um pé para criar divertidíssimas charges, retratando o que, no caso do Brasil, contemplando aí os escândalos na política, as eleições e qualquer outra fonte de inspiração, bem poderia ser chamado de Escatologia a moda da casa. O fim dos tempos, porque haja desgraça!


Luz no fim do túnel?



Pelo andar da carruagem, acho difícil!


Enquanto isso...

 

“Lava roupa, todo dia, que agonia...”.

Luiz Melodia
Músico brasileiro


Enfim! Teve início, nesta sexta-feira, 8, a propaganda eleitoral gratuita – rádio e televisão – do segundo turno para os candidatos a governador e a presidente. A diferença, contudo, das propagandas anteriores ao pleito do dia 3, cuja maioria dos candidatos nos dava até ânsia de vômito, será a quantidade reduzida dos mesmos, o que não impede – convenhamos –, que as baixarias continuem as mesmas. Já começaram, aliás, e vergonhosamente, antes mesmo de irem ao ar os primeiros dos programas, com escândalos envolvendo a vida íntima de alguns candidatos. No entanto – é bom prevenir –, vai dar de tudo, sendo as propagandas, entretanto, de 1001 utilidades: o telespectador/eleitor sofre, se entendia, dá risadas, se emociona, chora, roga praga, xinga, quer meter o pau, quebrar a televisão... Sim, as reações são as mais diversas e adversas. Porém – uma advertência –, as propagandas não são lá muito recomendáveis para quem tem, por exemplo, síndrome de pânico, caso – suspeito – do pobre Alfredo...

 
 

De qualquer modo...




Dá até para chorar, esquecer um pouco o dia árduo à beira do fogão, da pia, lavando o que vier pela frente...




É possível até tricotar! E, inclusive, com uma ajudinha dos incautos...




E aprender, por exemplo, que pedir nunca é demais. Não tira pedaço e o mínimo que a pessoa que pede pode receber é um não. No caso, o do eleitor, que, não é de hoje, não é lá muito chegado a um assédio – ainda mais de pedintes.




Além disso, a propaganda eleitoral pode até ser educativa, já que é liberada para todas as faixas etárias, propiciando a uma criança, por exemplo, a rara oportunidade de poder comparar os bons conselhos que recebe em casa com as ditas verdades dos candidatos, chamados, injustamente – coitados – de má influência. Quanta calúnia!




Ah! E as propagandas eleitorais também podem ser uma ótima chance para que uma criança possa aprender a estabelecer parâmetros os mais diversos, sobretudo os que podem balizar as suas preferências e os seus gostos pessoais.







Detalhe: as propagandas eleitorais são excelentes para que estimulemos o nosso discernimento, nos tornando capazes de distinguir quais são as forças do bem e quais as do mal.




Sem falar na possibilidade que as propagandas eleitorais nos permitem para que – já não era sem tempo – façamos uma assepsia moral e ética em nossos valores. Afinal, nós é que temos uma mente poluída e não somos nada justos, pois temos o péssimo hábito de fazemos pré-julgamentos das sempre boas intenções dos candidatos, que, aliás, só querem o nosso bem.



Falando em sujeira...


“A carreira de prostituta é igual à de jogador de futebol:
chega uma hora que você tem de parar...”.

Gabriela Leite
Socióloga, fundadora da ONG Davida



Sem comentários...

 

Por isso que Juju, ou seja, a mulher acima, mesmo não querendo, ela chega, às vezes, a perder até o próprio sentido de ser, com limitações que nem a consciência, que deveria ser guia, é capaz de minorar, aliviando-as. Isto é, quando, mesmo isenta de responsabilidades, há um sentimento de remorso, visto a manipulação da qual foi vítima, à revelia dos seus próprios desejos.



Até que...

 

“Só há uma blasfêmia: a injustiça...”.

Robert G. Ingersoll (1833 - 1899)
Advogado norte-americano



Horrorizada com os maus tratos que tem sofrido ao longo do processo eleitoral, Juju – pobre mulher –, deixou o seu santuário, na Praça dos Três Poderes, diante do Supremo Tribunal Federal, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, dizendo que ia comprar cigarro e foi se recolher na Ermida Dom Bosco, no Lago Sul, se limitando a contemplar – de longe – ora aridez, ora tempestades de areia, ora os abalos sísmicos da terra, ora os tremores dos presidenciáveis. E a chorar, desesperadamente, embalada tão somente pelos cantos gregorianos dos monges do bucólico mosteiro. Isso que é decepção! E o povo, como fica?




“Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade...”.

Paulo Freire (1921 - 1997)
Educador brasileiro


E voilà! Infelizmente, esse é o Brasil no qual (sobre) vivemos... Mas, se você, assim como eu, “treme de indignação perante uma injustiça no mundo – como disse Che Guevara (1928 - 1967), médico e revolucionário nascido na Argentina, mas naturalizado cubano –, então somos companheiros...”.

 
Nathalie Bernardo da Câmara