sábado, 30 de dezembro de 2017

os 3 reis magos em Natal: incenso, OURO e mirra...



A que ponto Natal (RN) chegou: um governo caótico, que sequer cumpre com a folha de pagamento dos servidores públicos, de um modo geral, incluindo os aposentados, que não são poucos, mesmo no final de ano, dando nem que fosse um alento após meses de descaso; greve da Polícia Militar já tem duas semanas, deixando a cidade ao léu, ao amargo sabor dos arrastões em estabelecimentos comerciais, roubos, homicídios etc; policiais civis e militares, além de bombeiros, delegados e escrivães de Polícia Civil reduzindo os serviços a 20% do efetivo e, nesta sexta, 30, como se não fosse nada demais, o delegado-geral da Polícia Civil pediu exoneração sob a alegação de que atingiu o tempo de contribuição previdenciária e que a sua atividade é de risco. Outro desgoverno, o federal, enviou recentemente uma tropa da Força Nacional para reforçar a segurança pública – a ironia é que dois agentes da referida força foram atacados por três assaltantes num dos bairros locais mal chegaram à cidade, com quem trocaram tiros, sendo uma policial atingida de raspão na cabeça; um dos criminosos também foi atingido igualmente de raspão num dos braços e os outros dois fugiram. Então, a camiseta nada mais é que uma crítica ao descalabro em que se encontra a Cidade do Sol e do calor. E salve-se quem puder!


Nathalie Bernardo da Câmara

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

ERA UMA VEZ UMA MACUMBA...

Tornou-se famosa entre os historiadores uma resposta dada pelo barão de Cotegipe (1815 - 1889) à princesa Isabel (1846 - 1921), logo após a “suposta” abolição da escravatura no Brasil, ou seja, a Lei Áurea – a monarca teria lhe perguntado: “Então, ganhei ou não ganhei a partida?”, ao que o barão retrucou: “Ganhou, mas perdeu a coroa”.


Uma lembrança da minha infância, que, nem sei o motivo, me veio à mente há pouco: a primeira vez em que vi uma macumba, na companhia de Pierre, meu querido irmão francês. Éramos crianças e a mãe de Pierre e Claire foi para a França, deixando com os meus pais, “para tomar de conta”, como se diz no Nordeste, não somente a casa que ela tinha à beira-mar, na praia de Ponta Negra, em Natal, mas também os seus filhos.

Na casa tinha um pé de jambo maravilhoso, onde eu vivia pulando de galho em galho, igual macaco – vez por outra, Maria, que nos criou e “ficava de olho” em todos nós, dizia: — Cadê, Nathalie?

Eu sempre fui a queridinha dela...


Ora Maria pensava que eu estava no mar, que podia ter me afogado, desesperando-se, embora eu soubesse nadar; ora que eu tinha subido o Morro do Careca e evaporado, feito areia, diluindo junto com a erosão...  Que nada! Eu não saia de casa, só no pé de jambo, sugando um fruto que entontece pelo aroma, o de cor de vinho, quando está maduro, chegando o sumo do fruto a escorrer pelos cantos da boca, apenas contemplando a paisagem através da folhagem da árvore, já que sempre preferi a sombra ao sol.

Certo dia, o meu pai chamou a gente – tudo criança – para catar gravetos e correlatos numa mata (hoje, nem existe mais) que havia antes da Barreira do Inferno. Era época das festividades de São João, acho, já que era para fazer uma fogueira.

O meu pai e a minha irmã Tereza – acho que Claire estava com eles – (o meu irmão Marquinhos ainda era pequenininho e ficava em casa com uma babá), foram para um lado; Pierre e eu fomos para outro... Só que, enquanto Pierre e eu catávamos os nossos gravetos, deparamo-nos, na maior inocência, com uma macumba, debaixo de um cajueiro... Foi muito estranho: aquele pano na areia, com uma tigela de barro, repleta de sabe-se lá o quê...

Recordo-me que tinha uma galinha de penas pretas morta no local; uma garrafa de aguardente; ramos de uma planta qualquer e mais um monte de coisas “esquisitas” ao redor... Jogamos os nossos gravetos de lado e fomos tentar entender o que era “aquilo” – não é à toa que, adultos, Pierre e eu somos pesquisadores.

Então... À época, já pensando em ‘estética’, mesmo inconscientemente, desfizemos aquela “arrumação” e, quando viramos a tigela, encontramos uma nota de 50 cruzeiros – acho que era isso – embaixo da mesma. Só que, como Pierre estava de sunga e eu de short, guardei a nota num dos bolsos.

Tempos depois, quando reencontramos os demais, estávamos sem graveto algum (acho que alegamos a perda dos gravetos no meio do caminho por algum motivo, achando tudo aquilo muito “sublime”) – ninguém entendeu nada, mas, tudo bem.

Só ficamos calados.

Chegando a casa da praia, procuramos Maria e contei sobre o ocorrido. Foi um quiproquó! Ela disse que Pierre e eu não podíamos sequer ter tocado “naquilo”, ou seja, a macumba – a explicação não passou disso e continuamos sem entender nada: a única coisa que sei é que, por um tempo, em Neópolis, onde, à época, os meus pais de fato moravam, abrimos um crédito na padaria e, por muito tempo, com aqueles 50 cruzeiros, nós quatro, Tereza, Claire, Pierre e eu, fizemos a “festa”, além de livrar alguém, se fosse o caso, de alguma maldade de terceiros, já que interferimos e, mesmo sem intenção, quebramos, com a nossa inocência, algo que poderia ser ruim para alguém e que, ao final, virou uma grande diversão para nós!

Coisa boa que é a infância... E saudade do meu amigo.

Nathalie Bernardo da Câmara





terça-feira, 3 de outubro de 2017

BRASILEIRO, O MÁRTIR

Tiradentes esquartejado (1893) – Pedro Américo de Figueiredo e Melo (1843 -1905)
Óleo sobre tela: 270 x 165 cm
Museu Mariano Procópio, Juiz de Fora, Minas Gerais


“Como defender uma civilização que somente o é de nome, já que representa o culto à brutalidade (...) e a violência é o medo dos ideais dos demais?”.

Mahatma Ghandi (1869 - 1948)
Advogado e pacifista indiano


Confesso que nunca entendi essa história de canonização dos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, no Rio Grande do Norte – hoje, inclusive, é feriado no RN. Mártir por mártir somos todos nós, os brasileiros, à deriva desde que um golpista de quinta tirou uma mulher, eleita pela maioria, do poder que lhe foi conferido. Isso em 2016. Somos todos mártires, por ter de SUPORTAR gente de baixo calão leiloando o Brasil como se fosse o quintal da sua casa: é água, terra, índios... E pensei em Anchieta, um padre jesuíta, feito santo pela Igreja Católica – pelo visto, o Vaticano nunca leu uma carta do jovem para o rei de Portugal da época. Eu li e tenho cópia. Na carta, e pense uma carta!, o jesuíta agradecia pela confiança nele depositada e dizia, entusiasmado, que estava com o ouro e com a sua fácil exploração, que, através de relatos sobre o metal, encaminhados ao rei, convenceria este a enviar uma esquadra unicamente para destruir os perversos que resistem à pregação do evangelho e submetê-los ao jugo da escravidão. Que paradoxo! E é de doer... A verdade é que faltou bom senso aos jesuítas. Ao invés de se irritarem com a nudez e as práticas de canibalismo e poligamia dos índios, eles pecaram por não terem aproveitado a sua permanência nos Trópicos para se despojarem das longas vestes, nada apropriadas ao clima local. Outro que me veio à mente foi Tiradentes... Um dentista, como o nome já o diz. Coitado do jovem: nem sabia o que era “subversão” e foi usado como bode expiatório de uma suposta revolução que aconteceria no Brasil: foi degolado, esquartejado... Nunca que o jovem ressuscitaria, pois até catar todos os pedaços que fizeram do seu corpo, espalhados pela antiga estrada dita real... Resumindo: NÃO SUPORTO FERIADO!, ainda mais injustificável num país, tipo o Brasil, onde o Estado, segundo a sua Constituição, que, aliás, já estupraram, rasgaram, queimaram e devoraram, é laico. Só não respeitam isso...

Nathalie Bernardo da Câmara


domingo, 6 de agosto de 2017

ÍNDIA



Estava caminhando, indo à feira – adoro feira! –, que tem todos os domingos perto de casa, na São José, quando, ainda antes de chegar lá, o som de uma música invadiu a rua – surpreendendo-me, vi uma bicicleta adaptada com uma caixa de autofalantes cruzando a praça, tocando ‘Índia’... E instrumental. Quase não acreditei! Pensei até em aproximar-me e comprar o CD, mas, como a região estava deserta, sem passar nem mesmo carro – e em tempos de violência urbana –, tratei de afastar tal ideia da mente e segui em frente. Felizmente, Natal ainda tem umas coisas assim: todo dia passa na porta o rapaz que vende o famoso Picolé de Caicó; outro vende cavaco-chinês, que mais parece hóstia, só que bem maior e discretamente salgado; um terceiro vende vassoura de piaçava... E por aí vai. Isso faz-me lembrar de que, na minha infância, lá na casa de Nanoca, a minha avó paterna, passava um senhor vendendo porções de cuscuz; tapioca, inclusive a molhada, que adoro; bolo de macaxeira... Se eu não parar de escrever este, vou terminar falando, entre outros, dos roletes de cana espetados num palitinho de coqueiro, vendidos, aliás, nas entradas das antigas salas de exibição de cinema, que nem existem mais! Então... De volta da feira, fui pesquisar no Google quem era o autor da versão instrumental de ‘Índia’. Frustrei-me, pois não encontrei: deveria ter comprado o CD do cara... Só que, enquanto buscava tal autoria, deparei-me com uma postagem do blog ‘Baú da Música Brasileira’, muito interessante (http://baudamusicasertaneja.blogspot.com.br/…/india-1952.ht…), de Julio Costa, de São Paulo, um amante da música brasileira – não o conheço, mas gostaria de conhecer, contando a história da música em questão, dos seus autores: a letra de Manuel Ortiz Guerrero e a música de José Asunción Flores, dois paraguaios (em 1944, a canção original tornou-me, oficialmente, por decreto, música tema do Paraguai), e a versão brasileira, de José Fortuna, interpretada, no Brasil, originalmente, pela dupla sertaneja Cascatinha & Inhana (Francisco dos Santos e Ana Eufrosina da Silva – um casal, que formou uma das principais duplas sertanejas do Brasil). Depois deles vieram outros intérpretes, mas essa versão, a original, é magnífica!


Nathalie Bernardo da Câmara

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

HOMEOPATIA X DENGUE*


“É melhor prevenir do que remediar...”.

Provérbio popular

 
É público e notório que a dengue é um dos principais atuais problemas de saúde pública no mundo, sobretudo nos países tropicais. No Brasil, por exemplo, as condições para a proliferação do aedes aegypti, transmissor da dengue, são mais do que propícias, podendo, inclusive, serem consideradas o habitat ideal para o mosquito. Ou o mais palatável. É igualmente público e notório que a homeopatia reforça as defesas do organismo e que, para não importa qual doença, é a mais indicada das prevenções. Exemplo disso é que, segundo o médico homeopata brasileiro Fábio de Almeida Bolognani, a homeopatia, desde a sua criação pelo médico alemão Christian Friedrich Samuel Hahnemann (1755 - 1843), tem contribuindo enormemente com epidemias infecto-contagiosas no mundo inteiro, citando, no caso, a peste de cólera que, entre 1831 e 1834, assolou a Europa, mas que, através do tratamento homeopático, foi combatida com desvelada eficiência.

Afinal, ao fortalecer o sistema imunológico, a homeopatia torna-o mais resistente a todo e qualquer tipo de contágio. Em relação à dengue, que afeta exatamente esse mesmo sistema imunológico, o organismo, sem defesas, quando contaminado pelo mosquito, está mais vulnerável para desenvolver outras doenças. Daí a necessidade de prevenção com remédios homeopáticos, já que se, mesmo assim, um dado organismo for contaminado, o tratamento da doença com homeopatia minimiza sofrimentos na fase de recuperação, que, aliás, é de curta duração, garantindo, ainda, maiores possibilidades de cura do paciente. E, o que é melhor, sem seqüelas, além de, conseqüentemente, reduzir a incidência de óbitos. Para a jornalista brasileira Maria Cândido Sampaio, se a população se previne com homeopatia, que lhe confere imunidade, ou se já está contaminada e se trata com medicamentos homeopáticos, os resultados são mais eficazes na cura do doente.

Isso sem falar na redução de custos para os governos, que, mesmo assim, devem continuar adotando as medidas sanitárias convencionais, além de encontrar outras alternativas visando a erradicação do vetor transmissor. Enquanto isso não acontece, vários municípios do país – e não é de hoje – recorrem à homeopatia como profilaxia no combate ao mosquito da dengue. O curioso é que muitos dos municípios que já se engajaram nessa política de prevenção prescrevem a sua própria receita, contendo tal ou qual fórmula homeopática, e que, apesar da redução dos casos de contágio nos tais municípios, o problema persiste. Porém, uma experiência que se mostrou positiva foi a realizada em meados deste ano no município de Iporá, no Oeste de Goiás, que revelou ser a realidade da dengue no Brasil, devido os resultados positivos dessa experiência, que têm atraido a atenção de autoridades que atuam no setor da saúde pública do país, passível de mudança.

Tal experiência, contudo, foi importada de São Paulo. Ou seja, durante a epidemia de dengue de 2007, um estudo prospectivo, visando a profilaxia dessa moléstia com o uso de uma terapêutica homeopática, foi realizado na cidade paulista de Penápolis. Supervisionada pelo médico homeopata Wagner Barnabé, do Grupo de Estudos Homeopáticos de São Paulo Benoit Mure, responsável, juntamente com a Faculdade de Medicina de Botucatu, da Universidade de São Paulo - Unesp, em parceria com médicos homeopatas do Sistema Único de Saúde - SUS de São Paulo, a iniciativa demonstrou efetividade na prevenção da doença em 72% das 12.182 pessoas que, espontaneamente, receberam a dose, comprovando a eficácia do método utilizado: a administração, em larga escala, de uma dose única, na forma líquida, de duas gotas, por via oral, do medicamento homeopático china officinalis CH30. E o melhor: uma dose do medicamento custa, apenas, R$ 0,10.

Entusiasta dos resultados significativos do estudo realizado em Penápolis, a médica homeopata iporaense Luciana Menezes sugeriu à secretaria de Saúde de Iporá, com a qual colabora no combate à dengue, juntamente com demais profissionais de saúde, que o homeopata Wagner Barnabé coordenasse uma experiência similar no município, cujos índices de casos de dengue sempre são altos, já a partir do final do primeiro semestre deste ano. Tendo, portanto, na batalha contra o aedes aegypti, o vegetal china officinalis como princípio ativo da profilaxia homeopática, capaz de obter bons índices de prevenção e de cura, a experiência em Iporá, embora ocorrida no período de estiagem, de maio a agosto, quando o mosquito enfrenta dificuldades para procriar, apenas comprovou o esperado, que foi a redução paulatina das estatísticas de contágio da população local. E graças a duas gotinhas, que fizeram a diferença.

Afinal, nos quatro primeiros meses deste ano, a dengue assustou a população de Iporá, contaminando-a, indiscriminadamente, lotando o hospital do município e todos os hospitais privados locais. Em janeiro, por exemplo, foram notificados 156 casos; em fevereiro 511 novos surgiram. No mês de março, as notificações reduziram-se a 150 casos, mas, em abril, aumentaram para 229. Com a aquisição do medicamento, 19.371 pessoas foram imunizadas no dia 1º de maio. Nos dias que se seguiram, o medicamento foi administrado em mais 3.034 pessoas, computando, ao todo, 22.405 doses aplicadas no mês de maio, que, inclusive, viu o número de casos reduzido para 42 em trinta dias. Depois disso, o medicamento continuou, para quem quisesse, disponível nas Unidades de Saúde da Família - USFs do município de Iporá. Mas, ainda em relação as estatísticas... Em junho, apenas 4 casos foram registrados e, no mês julho, nenhuma notificação.

Informações ainda se tem de que, até o sétimo dia de agosto, nada de novos casos, embora, nos últimos dois meses, se tomou conhecimento de somente 1. E é esse, portanto, o exemplo de Iporá, cujos resultados com a terapêutica homeopática apenas confirma a eficácia do medicamento china officinalis CH30. No entanto, ações de prevenção outras têm sido tomadas pela administração do município, que, antes mesmo do atual período de chuvas, intensificou o trabalho dos agentes de saúde em busca de focos possivelmente espalhados. A homeopatia ajuda? Faz a sua parte, ou melhor, a diferença? Sim, mas os métodos de prevenção convencionais não devem, por isso, serem menosprezados nem interrompidos. Que a experiência de Iporá com a homeopatia seja, portanto, assimilada e exportada para todo o Brasil. Afinal, recentemente, o Ministério da Saúde confirmou 3 casos de dengue tipo 4 em Boa Vista, capital de Roraima. Grave...

E a situação é pior sobretudo para quem já contraiu a dengue do tipo 1, 2 ou 3, visto que se essas pessoas forem infectadas pelo tipo 4 elas têm maiores chances de desenvolver as variantes mais graves da doença, incluindo hemorragia, capaz de levar à morte. Enfim! Este 27 de novembro foi eleito por Iporá como o dia de mais uma campanha, a de disponibilizar em massa as gotinhas que fazem a diferença. Foram, portanto, quatro os endereços para que o pessoal treinado em maio pelo médico Wagner Barnabé administrasse a segunda dose do medicamento homeopata na população local. E, no caso de quem não tomou as duas gotinhas em maio, esta foi outra oportunidade para que a primeira dose seja tomada, prevenindo contra a dengue, já que, apesar de a homeopatia ter como princípio tratar do dito doente, nada a impede, de, em determinados casos, fazer de alvo a doença, desencadeada, inclusive, por um inseto para lá de arrogante.




Enfim! O resultado da campanha realizada hoje, em Iporá, no interior de Goiás, com os números dos que foram beneficiados com as duas gotinhas do medicamento china officinalis CH30, só deverá ser divulgado nos próximos dias. Enquanto isso, é como diria Hahnemann: “A única e elevada missão do médico é a de restabelecer a saúde do enfermo, que é o que se chama curar”. Eu, particularmente, na condição de adepta incondicional desse sistema terapêutico totalmente perfeito, que é a homeopatia, sobretudo após mais de trinta e poucos anos de convívio com essa ciência médica, capaz não somente de prevenir, evitando que os seus usuários fragilizem a sua capacidade imunológica, somatizando tristezas do passado e, por um azar qualquer, desencadear, quando menos se espera, algum tipo de doença, defendo que, nos casos emergenciais, o médico homeopata não deve ignorar as doenças já estabelecidas.

Afinal, em sua perfeição, focando as causas que motivaram um problema e não o problema em si – uma mera conseqüência, diga-se de passagem –, considerando que tudo é uma questão de somatização, a homeopatia deve, sim, tratar a doença, quando ela, não importa qual, se torna uma ameaça de vida ao doente, independentemente do que a provocou, a exemplo do que fazem os alopatas – tenho aversão à alopatia –, mas que eles apenas o fazem por uma questão de equívocos. Bom! Que essa segunda ousada tentativa das autoridades municipais de Iporá em recorrer à homeopatia para preservar a saúde da população da região de uma epidemia – coisa de terceiro mundo –, bem como a própria disponibilidade dessa mesma população em aceitar as gotinhas de Hahnemann para salvá-la, surta um efeito espetacular, superior ao alcançado fins do primeiro semestre deste ano e início do segundo. Só que, obviamente, conduzindo à cura...


Nathalie Bernardo da Câmara

*Publicado, originalmente, no dia 27 de novembro de 2010. Republiquei este texto porque, afinal, por causa da dengue, em Natal, Rio Grande do Norte, está morrendo mais gente, por metro quadrado e proporcionalmente, do que no Japão... E é, de fato, uma situação de calamidade pública.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Tiraram-me do sério...

Não sou tão obsoleta assim (pior é o ‘Código Penal’ brasileiro [1940], mesmo depois da recente reforma), por mais que, em meus 49, em pleno séc. XXI, eu prefira a tecnologia analógica à digital – sou do tempo de orelhão de ficha, telegrama, carta e tipografia! Literalmente. Tanto que o meu primeiro livro de poemas foi impresso numa quando eu tinha apenas 15 anos de idade – a tipografia ficava defronte à parada metropolitana, de ônibus, atrás da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no centro da cidade de Natal, e na diagonal com a Gráfica Nordeste, hoje, só um prédio em ruínas, mas que pertencia a um querido amigo, já falecido, amigo da minha mãe e meu, além de pai de Gustavo Mariano, que fez o curso de jornalismo comigo – a tipografia também não mais existe. Recordo-me que, dando orgulho ao tipógrafo, cheguei até a compor alguns poemas do meu livro com aquelas pecinhas maravilhosas.
Isso para dizer que, quando solicitamos amizade nesta rede social – também pode ser noutra – é porque pelo menos algo em comum tem-se com quem queremos adicionar. Solicita-se amizade, a amizade é aceita, mas a pessoa que aceitou a sua solicitação nunca curte nada seu. Porém – onde reside o problema -, meses depois, a pessoa resolve aparecer e envia para o seu correio trechos da Bíblia, mesmo sabendo que você já nasceu ateia e nem o fato de ter sido neta de duas católicas fervorosas e estudado num colégio religioso converteu-lhe... Convenhamos que o troço torna-se esquisito. Primeiro um trecho, depois outro e mais um terceiro – daqui a pouco envia um link para eu ter acesso irrestrito à Bíblia...
Ora, se eu quisesse ler tal livro, já tinha lido ainda na infância e na pré-adolescência, quando li de tudo – com tempo de sobra para todo tipo de experiência literária, mesmo correndo o risco da frustração. E decorado cada passagem. Só que nunca foi o caso, pois sempre fui seletiva com as minhas leituras.
O ‘Antigo Testamento’, por exemplo, é um acinte! Um desrespeito ao bom senso. Isso sem falar que, em seu universo ficcional, certos episódios são puro surrealismo, que não aprecio. Tipo os filmes do cineasta italiano Fellini (1920 - 1993), permeados de delírios. Desse modo, os textos bíblicos como um todo não são uma das minhas preferências literárias. Tanto que, particularmente, eu nunca faria da Bíblia, considerada sagrada para muitos, o meu livro de cabeceira, sendo vários os motivos que me levam a pensar assim. Entre eles, a quantidade de crimes, as mortandades, as carnificinas, os extermínios, as guerras insanas, os assassinatos em família, as escravidões, as torturas, os martírios, os incestos, os sacrifícios inúteis, os preconceitos, as discriminações, as violações aos direitos humanos, os atentados cometidos por personagens divinamente bíblicas – só gente do bem! – e todo um requinte de crueldades minuciosamente descritas em suas páginas. Assim, diante de cenário tão desolador, as minhas noites seriam de pesadelos...” – copiei essa passagem de um texto do meu blog: ‘QUE SEJA FEITA A VONTADE DE DEUS? – PARTE III – ADÃO, EVA E A SERPENTE (http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/…/que-seja-feita…).
Enfim! Como dizia Saramago (1922 - 2010), escritor português: “A Bíblia é uma enxurrada de absurdos...”.
Chomsky, linguista norte-americano – felizmente, ainda vivo: “A Bíblia é um livro que glorifica o genocídio...”.
Desse modo, já prevendo o que encontraria naquelas páginas, evitei-as, intuitivamente, pois, além de não querer perder o meu tempo, preferia outras, as que privilegiavam a vida e a criatividade.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

O PAU VERMELHO

“Nessa costa, não vimos coisa de proveito, exceto uma infinidade de árvores de verzino...”, registrou o navegador italiano Américo Vespúcio (1454 - 1512), referindo-se ao pau-brasil, na Lettera a Soderini (4/9/1504), dedicada ao político italiano (1452 -1522) após viagem realizada ao Brasil, entre maio de 1501 e julho de 1502.


Com a chegada dos portugueses no Brasil, em 1500, um “achado” valioso, o do pau-brasil, que, majestoso, reinando em meio à diversidade da Mata Atlântica, predominantemente entre o Rio Grande do Norte e o Rio de Janeiro, pagou um preço alto demais por sua exuberância: a sua devastação e a do seu habitat, com a “benção”, diga-se de passagem, da Igreja católica, já que, a pedido dos recém-chegados e em troca de espelhos, vidrilhos, contas, pentes e pedaços de pano, entre outras quinquilharias, nativos logo derrubaram um exemplar da árvore, no qual foi toscamente esculpida uma cruz, portando as armas e as divisas de Portugal, para a realização da primeira missa no Brasil, em 26 de abril. Em pouco tempo, a fartura de pau-brasil despertou a cobiça não somente dos lusos, mas, também, de corsários franceses (estes já eram habitués da costa brasileira desde o séc. XV, mantendo amistosas relações com alguns grupos indígenas, entre eles, os potiguara), holandeses e ingleses – excluídos do Tratado de Tordesilhas, assinado por Portugal e Espanha em 1494 –, que, só no séc. XVI, segundo o jornalista brasileiro Eduardo Bueno, “levaram, em média, oito mil toneladas da madeira por ano para a Europa” – cada embarcação continha cerca de cinco mil toras de pau-brasil por viagem. Ocorre que, desde o séc. XI, a Europa já estava familiarizada com o pó de uma madeira de cor rubra, originária da Sumatra, utilizada para tingir sedas e linhos, revolucionando a moda no continente, aos poucos deixando para trás os trajes sombrios da Idade Média. Exportado da Sumatra para Índia desde tempos remotos, o pó de sapanga (do sânscrito patanga, ou vermelho), ditava o tom dos “nobres do Oriente”. Pelo mar vermelho, os mercadores árabes levavam-no da Índia ao Egito, com uma kerka de bersil (carga de bersil) desembarcando em Saint-Omer, na França, em 1085 – na sequência, em francês, brezil, por ser da cor de uma brasa, e, posteriormente, bois rouge (madeira vermelha); em italiano, bracire, ou brazili, seguido de verzino –, enquanto em Portugal e na Espanha, já com o nome de brasil, a árvore aportou em 1220. 
 



No séc. XVI, em decorrência do bloqueio das rotas comerciais imposto pelos turcos em Constantinopla desde 1453 e apesar de ser menos eficiente do seu similar oriental (Caesalpinia sappan Linn), que, aliás, havia tornado-se um produto muito mais oneroso, o pau-brasil (Caesalpinia echinata), empregado, ainda, na fabricação de embarcações, móveis e congêneres, tornou-se presa da exploração mercenária na recém-achada Terra dos Papagaios, alcançando proporções inimagináveis, a ponto de, já em 1558, as melhores árvores só pudessem ser encontradas a mais de 20 km da costa – daí que, no início do séc. XVII, a fim de evitar o corte indiscriminado do pau-brasil, mas não por consciência ambiental, a Coroa portuguesa tentou controlar a sua exploração, pondo “guardas-florestais nas zonas onde a extração era mais comum”, garantindo, obviamente, o monopólio sobre a árvore, que, na língua celta, é chamada de bress, origem do inglês to bless, ou seja, abençoar. Enfim! O fato é que, “atualmente, a árvore cujo nome foi usado para batizar o Brasil sobrevive praticamente apenas em reservas florestais e jardins botânicos e só lentamente começa a ser reintroduzida em seu ambiente natural” – batismo esse, aliás, de sangue. Dos nativos. E vermelho igual à tinta dos troncos de pau-brasil que eles derrubavam, descascavam, atoravam e transportavam até as embarcações, recebendo, por sua força braçal e ingenuidade, tesouras, anzóis, facas e machados – modus operandi que, ainda segundo Bueno, levou as tribos tupis do litoral brasileiro a saírem “da Idade da Pedra para ingressar na Idade do Ferro. Uma revolução instantânea”. E uma curiosidade: “Os homens engajados no tráfico de pau-brasil eram chamados de brasileiros”, termo que terminou se estendendo aos nascidos no futuro país, apesar de o historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen (1816 - 1878) esclarecer que “se as regras gramaticais tivessem sido corretamente aplicadas, os nativos do Brasil deveriam se chamar brasilienses” – tarde demais para corrigir um lapso, muito menos, reparar um erro de mais de quinhentos anos, ou seja, o assolamento do pau-brasil, que virou um dos símbolos do país e “ganhou” um dia nacional, o 03/05 (Lei nº 6.607, de 07/12/1978), bem como o genocídio indígena – o que dirá da dilapidação da Mata Atlântica, bioma que, hoje, se resume a 7% do que já foi um dia! Não, nem sob os acordes dos arcos dos violinos que, a partir do séc. XVIII, passaram a ser confeccionados com o pau vermelho dos índios...


Fonte: Bueno, Eduardo. Náufragos, traficantes e degredados: as primeiras expedições ao Brasil, 1500-1531 – Rio de Janeiro: Objetiva, 1998 (coleção Terra Brasilis; vol. 2).

O nome Caesalpinia echinata foi dado pelo botânico francês Jean Baptiste Lamarck (1744 - 1829), que classificou o pau-brasil do Brasil em 1789, em homenagem a outro botânico, o italiano Andrea Cesalpino (1519 - 1603). Já a denominação echinata provém do étimo grego ouriço e se refere aos espinhos abundantes da árvore, igualmente conhecida como pau-de-tinta, ou ibirapitanga.

Texto revisado e revisto em 3/5/2015, embora originalmente publicado neste blog em 1º/8/2009.

Nathalie Bernardo da Câmara


PLANTEMOS PAU-BRASIL!




quinta-feira, 27 de abril de 2017

PRÉ-CONCEITO VERSUS PRECONCEITO

“Aves de rapina escolhem sempre o melhor...”.
Provérbio português


Certa vez, caminhando numa calçada de uma rua de um dado lugar – nem me peçam que eu diga qual –, esbarrei num cidadão que eu conhecia desde a nossa tenra idade. De repente, quando do “encontrão” entre nós, papeamos um instante e, depois, continuei a caminhar... Não deu dois minutos, uma pessoa, que, diga-se de passagem, eu nem conhecia, abordou-me e perguntou-me: — Você conhece o novo juiz da comarca?

Respondi que não.

E a pessoa prosseguiu: — Conhece, sim, pois acabou de falar com ele.

Olhei para trás e vi o homem com quem eu acabara de papear, igualmente seguindo o seu caminho: — Quer dizer, então – falei –, que eu estava conversando com o novo juiz da comarca?

E, aí, para o meu espanto e assombração, veio-me a infeliz confirmação.

Ora, eu tinha brincado com o dito cujo quando éramos, ainda, apenas duas crianças, exercendo a prática lúdica da infância. Como o tal homem, então, digamos que ainda imberbe – percebi esse detalhe, ou seja, sem pelos e mal saído das fraldas –, poderia, com apenas vinte e poucos anos, já ser um juiz? Sim, porque a função em si demanda experiência de vida, de vida vivida, não apenas porque carrega um diploma de advogado, mas porque é sábio, porque aprendeu com a experiência, com a vida, não por ser um suposto “iluminado”, coisa que, definitivamente, não existe – não digo que a função seja, literalmente, para final de carreira, mas...

Então... Não, não me considero uma pessoa com preconceitos, mas com pré-conceitos, como um dia – há quase três décadas –, lá em Brasília, explicou-me a diferença, muito sabiamente, um amigo da família, médico-pediatra homeopata, de nome Evaldo de Oliveira, que saiu dos rincões de Macau, no Rio Grande do Norte, para ganhar o mundo com o seu conceito holístico de viver. Só bastaram alguns minutos para Evaldo explicar-me a diferença – até quem tem dois neurônios entenderia –, lembrando que nem Aurélio explica isso.

Então... O preconceito está vergonhosa e deploravelmente associado à discriminação – todas! –, enquanto o pré-conceito é um direito que todos têm assegurado até que se entenda o real conceito de algo – o resto dá história do papo com o meu querido Evaldo, para quem nos conhece, é possível presumir, sem preconceitos, tal qual a origem latina do vocábulo.

Pois. Todo esse prelúdio apenas para dizer que o cargo, ou função, de juiz, que, segundo Aurélio, é aquele “que julga segundo a sua consciência, sem fundamentar a sua decisão”, só deveria ser concedido a alguém que tivesse certa maturidade: tipo a criatura que já viu de tudo e que, por isso, por tão abismada que ficou ao testemunhar a degeneração da raça dita humana, resolveu meter o bedelho, sendo, portanto, de acordo com as leis, supostamente capaz de emitir opiniões sobre não importa qual tema.

O problema é que se, normalmente, já se dá muitas asas a um juiz, que, num dado imaginário, é representado pela imagem de um senhorzinho beirando os 80 anos de idade, que, por lei, nem precisa “fundamentar a sua decisão”, batendo quando bem quer o danado de um martelo, imagina, então, um jovem, de 20 e poucos anos alçado à condição de juiz, sem a dita experiência que se faz necessária, fazendo o mesmo! E piora quando o cara tem uma origem burguesa, com tudo transformando-se num pandemônio...

É por isso que – reservo-me ao direito, amparada por lei, de não entrar em maiores detalhes – não confio num tal juiz que, nascido em 1972, tem, hoje, meros 45 anos de idade, ou seja, um infante juvenil imberbe, igual o juiz da tal comarca que encontrei tempos atrás, que, de uns tempos para cá, se acha o máximo! Quanta arrogância e irresponsabilidade!

Sim, estou falando de Sérgio Moro, que, com apenas 24 anos de idade, se tornou juiz federal... Gente, isso é muito grave! Nunca que esse inexperiente rapaz poderia ter sido eleito juiz, mesmo sendo através de um concurso público – nesse caso, os concursos públicos deveriam ser revistos, sobretudo os seus critérios e não importa a área de conhecimento, para que alguém, não importa quem, se submeta aos mesmos.

É nisso o que eu pensava ao sentar para escrever essas poucas palavras, já que, em hipótese alguma, não me sinto confortável ao observar um psicopata pavoneado – haja redundância! – arvorando-se querer passar-se por um dito justiceiro da lei, uma espécie mal elaborada de Zorro, personagem de histórias em quadrinhos que li em minha doce e maravilhosa infância, quando ele mesmo é quem deveria ser o investigado. E por suas sandices.

Resumindo: não se pode conceder a autoridade de um juiz a um Zé Ninguém, que, por motivos óbvios, é o próprio fora-da-lei... O mais grave, ainda, é que tipos como esse estão rondando-nos a 3x4, igual praga de pardal.

Estou só constatando fatos, que é a minha função como jornalista.

Nathalie Bernardo da Câmara


quinta-feira, 20 de abril de 2017

ERA UMA VEZ NOSSA SENHORA...

Passando há pouco numa sala de casa, onde era exibido um telejornal (19/4), quase não me aguentei de regozijo ao ver uma reportagem onde o prefeito de São Paulo, João Dória (PSDB), praticamente humilhou-se diante do papa Francisco, “exigindo” que ele comparecesse as comemorações dos 300 anos da suposta aparição de Nossa Senhora nas águas do Rio Paraíba do Sul, no interior paulista. Não, não defendo a Igreja católica – longe de mim essa heresia! Só divertindo-me, vendo João Dória e Temer em pânico – este último, ao roubar o poder, em 2016, recebeu as bênçãos de um mafioso em pessoa, que é o dito evangélico e miserável Silas Malafaia, o malfadado e embusteiro "pastor da moral", para, celeradamente, desgovernar e leiloar o Brasil, juntamente com uma horda de larápios, mas que, agora, desesperado, implora ao religioso católico argentino. Só que, não querendo acreditar que o papa Francisco recusou-se, por escrito, vir ao Brasil numa data considerada tão importante para a Igreja católica, ainda mais sendo o Brasil o maior país católico do mundo, João Dória e Temer andam enlouquecidos. Sim, porque Francisco não virá, em sinal de protesto, pois não quer colocar os seus pés no Brasil, país que, atualmente, se encontra sob os malefícios de um golpe de Estado – o nome já o diz – que cometeu injustiças não apenas contra Dilma Rousseff, presidenta eleita democraticamente pelo voto popular, mas, sobretudo, contra o povo brasileiro. Isso é fato. Tanto que, pela cara de Francisco na televisão, fazendo ouvidos de mercador, e pelo que disse, parece que ele não vem, mesmo! É como diz um velho e gasto ditado, embora sempre atual: “Aqui se faz, aqui se paga”. Acho é pouco, querendo a detenção desse pessoal golpista!

Nathalie Bernardo da Câmara

quinta-feira, 9 de março de 2017

O 8 DE MARÇO E O BLOCO DOS CELERADOS (atualizado nas charges)

 “O golpe tem gênero e a história não o absolverá.”
Vitor Teixeira
Cartunista brasileiro

Celerado. [Do lat. Sceleratu.] Adj. E s. m. 1. Criminoso. 2. Perverso, mau.
Fonte: Dicionário Aurélio


Ufa! O Carnaval passou... Nada contra a maior festa popular do Brasil, mas é que eu não estava mais aguentando a empolgação e os aplausos da esquerda brasileira, sobretudo nas redes sociais, a cada vez que o bordão “Fora, Temer” era entoado pelos brincantes e em todos os ritmos – do frevo ao samba, seguindo um trio elétrico ou, ainda, tornando-se tema de marchinhas país afora –, exaltando o protesto que, pela cadência dos leilões, só cai no vazio, sobretudo porque, agora, é tarde, Inês é morta! Sem falar que, no Carnaval, irreverente por natureza, tudo se resume a fantasias. Dito isso, nem adianta chorar o leite derramado, pois a previsão é a de um derrame ainda maior: ignorando o povo brasileiro e os seus reclames, o desgoverno golpista, usurpador e ilegítimo anda a vender – o que ainda não vendeu será vendido – tudo o que representa cifrões, do sal à terra, passando pela água e por nossas lágrimas, só não colocando igualmente à venda os próprios filhos, porque, afinal, filhos também são famiglia.

E fico a pensar... Se as mesmas multidões que, nada temerosas, deram o tom do Carnaval que passou tivessem ido as ruas bradar “Dilma fica” e “Temer não entra” ainda durante a farsa que foi o afastamento da presidenta democraticamente eleita Dilma Rousseff e, posteriormente, o absurdo surrealista do seu impeachment por um bando de celerados, em 2016, e, caso os brados não surtissem efeito, fosse, à época, deflagrada uma greve geral, nacional e irrestrita dos trabalhadores, envolvendo todos os setores da sociedade, o Brasil não teria sido cruelmente golpeado, agora sendo destroçado, as suas riquezas naturais saqueadas em proveito dos golpistas e/ou em benefício de terceiros, inclusive estrangeiros, e o povo brasileiro, duramente coiceado, com os seus direitos, principalmente os trabalhistas, na sarjeta, entre um confete e uma serpentina, sem purpurina – depois ainda há quem reclame quando alguma má língua diz que “o Brasil não é um país sério”!

É por isso que, diante da horda de celerados que ora gora e mal agoura os nossos sonhos e esperanças, o meu ritmo, de todos os musicais, tem sido o chorinho...


II (De cinzas)

Cinza. Não apenas a cor que dá nome ao pó resultante da queima de alguns ramos em ritual de uma dada tradição católica, mas também a cor do hoje e do amanhã do povo brasileiro, a cor do nosso porvir. Qual seria, então, a cor do nosso pó, considerando que já fomos condenados à fogueira das trevas que se abateram sobre nós? Rubra, talvez, posto ser a cor do sangue que ora transborda por todos os poros do solo do Brasil, batizando a pós-democracia de celerados em horda vil?


III (Vlad III e a bela adormecida)


Depois do Bela, recatada e “do lar”, título de uma matéria da revista Veja, publicada em 18/4/2016, na qual o deplorável semanário traça um perfil da então “quase primeira-dama” do Brasil, ou seja, Marcela Temer, 32 – título esse que, aliás, à ocasião, desencadeou inúmeras críticas de usuários das redes sociais aos adjetivos atribuídos à hoje primeira-dama –, eis que, no 8 de março, enquanto o planeta Terra entoava o bordão “Mulheres de todo o mundo, uni-vos!”, o golpista-mor, usurpador, ilegítimo e machista vira motivo de chacota nas redes sociais e de críticas na imprensa internacional ao discursar num evento supostamente em homenagem ao Dia Internacional da Mulher – até dói só a possibilidade de transcrever o conteúdo da fala infeliz de mister Vlad III, aquele, dos empalos, vampiro sanguessuga, cujo DNA – velei-me todo e qualquer amuleto – é capaz de atemorizar até o mais empedernidos dos mortais. Sem problemas, pois o cartunista Renato Aroeira registrou...




Não deixando passar o comentário feito no Twitter pela jornalista e quadrinista Alexandra Moraes, no qual citou Marechal Deodoro (1827 - 1892), primeiro presidente da República (1889 - 1891),  em referência ao discurso do bastardo, no #8M 2017 – os 97 caracteres da internauta resumem tudo...





Inesperadamente, já no dia seguinte, mister Vlad III valeu-se dos artifícios das redes sociais para tentar emendar o soneto. Não, não e não! Pura perda de tempo, pois não engana nem recém-nascidos. Pois, não vem que não tem.


IV (Era uma vez ilusão...)

Desde a consumação do golpe de 2016 no Brasil, incluindo a devastação da Síria, que anda a passos largos rumo a sua exclusão do próximo mapa-múndi, entre outros estragos e desgraças que, orquestradas por psicopatas de plantão, abatem o planeta, vez por outra eu penso que uma das melhores coisas que não fiz na vida foi parir um ser vivo, mesmo alimentando, já a partir da adolescência, o desejo de ter uma filha – escolhi até um nome para ela – quando tivesse com mais de 30 anos de idade. Porém, nesse aspecto, a natureza foi ingrata comigo. Sim, porque, com apenas 35 anos, entrei, como se diz, na menopausa precoce. Daí que, por isso, entre outros, foi-me negado esse sonho que não pude materializar – nem mesmo compensado por alguns talentos com os quais já nasci. Por outro lado, o que minimiza a minha tristeza de não ter posto uma filha no mundo, é que, hoje, sendo, provavelmente, uma adolescente com menos de 18 e, diferentemente de mim, nascida no Brasil, ela estaria fadada ao infortúnio, à infelicidade de, antes mesmo da maioridade, deparar-se com a face mais cruel da maldade de certos seres ditos humanos. E fico a lembrar-me de um filme, visto quando eu ainda adolescia, que muito me impressionou, ou seja, Adeus às ilusões (The Sandpiper), 1965, com roteiro de Dalton Trumbo (1905 - 1956), Michael Wilson (1914 - 1978) e Martin Ransohoff; direção de Vicente Minnelli (1903 - 1986) e  protagonizado pela atriz Elizabeth Taylor (1932 - 2011) e pelo ator Richard Burton (1925 - 1984), cujos temas abordados, entre outros, é a educação. Desse modo, diante dos rumos incertos das escolas brasileiras, considerando que a mentalidade do desgoverno golpista, usurpador, ilegítimo e machista é bem aquém da média, beirando o inóspito, o currículo do ensino médio, no caso, terminará virando caso de polícia. E, aí, com todo esse caos reinante, no atual contexto e na incógnita dos vindouros – mais escatológico não podia –, vem-me à mente o brasileiríssimo Vinícius de Moraes, o poeta enjoadinho:

“(...) Filhos? Melhor não tê-los!” (...)


Pelo menos, por enquanto. E, enquanto isso, demais temerosas previsões no traço do cartunista Jarbas Domingo, do Diário de Pernambuco...




Nathalie Bernardo da Câmara


Em tempo: No dia 1º/3/2017, o jornalista brasileiro Leonardo Sakamoto publicou a seguinte postagem no seu blog:

Blocos gritam “Fora, Temer!”: O que acontece no Carnaval fica no Carnaval?

Acompanhei um rosário de blocos de Carnaval no Rio e em São Paulo. E, em todos, absolutamente todos, em algum momento, ocorreu um coro de ''Fora, Temer!'' por parte dos foliões. Podia faltar samba, purpurina, confete, serpentina, Pierrô, Colombina, Catuaba Selvagem, vaselina, mas tinha sempre um ''Fora, Temer!'' que se espalhava feito gripe.

Blocos com veganos, comunistas, bombadinhos, alternativos, hipsters, coxinhas, petralhas, feministas, da turma do centro ou das comunidades, tinha sempre um ''Fora, Temer!''. A diferença era o ritmo. Segundo colegas jornalistas em Recife, por exemplo, por lá o ''Fora Temer'', em ritmo de frevo, é mais alucinado do que o ''Fora, Temer!'' em ritmo de alguns chorinhos paulistanos.

Claro que é mais fácil entender o que leva alguém a gritar ''Fora, Temer!'' em um bloco do que compreender o que leva um homem hétero malhado a untar seu peito com alguma coisa brilhante e ficar parado, no meio da multidão, olhando para ver se alguém o admira. É da natureza do Carnaval a piada, o escárnio e a ironia – e, a cada ano, há os eleitos para serem execrados. Da mesma forma, é da natureza do comportamento de massa repetirmos algo que o grupo grita para nos sentirmos pertencente a ele e ao momento.

Por fim, é da natureza da democracia que grandes reformas, como a da Previdência, sejam apresentadas à sociedade como propostas de governo de candidatos, no período das eleições presidenciais, para que possam ser escolhidas ou rejeitadas por meio do voto. A possibilidade concreta da perda de direitos em decorrência da negação desse instrumento da democracia deixa muita gente irritada.

Há quem equipare a pessoa que grita ''Fora, Temer!'' apenas num bloco de Carnaval a uma ativista de sofá. Mas o problema não é protestar num sofá ou em um bloco. Ambas ações podem causar impactos. O problema é a falta de formação política – que é a diferença entre fazer algo consciente ou se deixar levar por líderes, falsos líderes, mídia, igreja, enfim. Essa formação se adquire pela convivência com a diferença, coisa que os algoritmos das redes dificultam. Blocos de Carnaval, por outro lado, democratizam o espaço público e chamam as pessoas de volta às ruas, local original de formação da empatia e da política.

O ''Fora, Temer!'' dos blocos acabou se espalhando por vários cantos do país, sendo captado pelas câmeras de TV, ouvido por jornalistas e outros formadores de opinião. Se entrou por um ouvido e saiu pelo outro, não há como saber. Isso não derruba presidente, mas ajuda a mostrar que a desaprovação do homem, por mais que esteja sendo intercalada entre uma marchinha e um samba enredo, está presente e se fazendo ouvir.

Faria ele, por bem, não achar que o que acontece no Carnaval fica no Carnaval.


Leonardo Sakamoto
É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e o desrespeito aos direitos humanos no Brasil. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil e conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão.