sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

UMA NOVA BOSSA


"Sou uma intérprete livre pra cantar, tocar e gravar o que escolher e quiser. É uma conquista preciosa...".

Leila Pinheiro
Cantora brasileira



Abrindo os ciclos de grandes espetáculos a preços populares para 2011, o projeto MPB Petrobras, que existe há quatorze anos, trouxe a Natal, na noite desta quinta-feira, 24, uma das mais expressivas intérpretes da música popular brasileira, a paraense Leila Pinheiro, sendo o evento, contudo, aberto pela compositora e cantora norte-rio-grandense Anna Fernandêz, que, inclusive, me surpreendeu, pois, até então, eu não a conhecia, por sua forte e marcante voz. Só que, não demorou muito, Leila Pinheiro adentrou no palco. Curiosamente, por um momento, provavelmente pelo seu novo look e trejeitos, a estrela da noite fez-me lembrar de uma outra grande e inesquecível intérprete brasileira, que foi Elis Regina (1945 - 1982). No show de ontem, portanto, a voz inconfundível de Leila Pinheiro, para quem a bossa nova, da qual sempre foi uma das suas maiores expoentes, “é o samba revisto por João Gilberto, que inventou, no violão, a batida revolucionária da bossa, renovando e atualizando o samba para sempre”, dividiu o palco com o seu piano, que mais pareceu uma caixinha de surpresas, a nos revelar um repertório musical eclético, palatável para todos os gostos, escolhido a dedo, segundo ela, para o encontro. De bem com a vida e com o público, com o qual se sentiu à vontade e, bem-humorada, interagiu por diversos momentos, a cantora elogiou o crescimento de Natal, onde não se apresentava há cinco anos, e o seu novo teatro, pedindo a todos que preservassem essa conquista da cidade. Reverenciando, ainda, os seus cinqüenta anos de idade e trinta de carreira, ambos ocorridos em outubro de 2010, Leila Pinheiro, cativante por excelência, surpreendeu todos com a sua versatilidade, dinamismo e vitalidade, bem como pela modernidade do espetáculo, diferente de todos os anteriores, com o qual, magistralmente, nos brindou.


Nathalie Bernardo da Câmara


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

EROS E PSIQUE*




Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe, o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino –
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.


Fernando Pessoa (1888 - 1935)
Poeta português



* Mantida a grafia original.



domingo, 20 de fevereiro de 2011

HOMBRES ARMADOS


“Não há nada tão terrível como a ignorância ativa...”.

Goethe (1749 - 1832)
Escritor alemão



Outro dia, casualmente, revi o filme Hombres armados, do cineasta norte-americano John Sayles, lançado em 1997, cuja ação desenrola-se em um país imaginário da América do Sul, cenário do drama do protagonista, um médico viúvo, o doutor Fuentes, interpretado pelo ator argentino Federico Luppi, que, de férias, sai em busca de antigos alunos de medicina, tempos antes enviados a vilas rurais no interior do país não especificado, a fim de aplicar os conhecimentos terapêuticos adquiridos para a cura de mazelas de populações mais necessitadas. O fato é que, forte e comovente, o filme denuncia uma realidade que, infelizmente, é lugar-comum em várias regiões da América do Sul, onde tiranos de não importa qual orientação política, vivem em constante estado de guerra, desencadeando conflitos os mais diversos e espalhando terror e morte por toda parte, sem clemência alguma.

Aventurando-se, portanto, em recônditos inóspitos do país imaginário onde vive, cuja realidade, contudo, até então, ignorava, o médico segue os rastros dos seus ex-alunos, mas, a cada vila que visita, ele é informado dos seus respectivos assassinatos, causados por insanos armados, no caso, os guerrilheiros, que vivem a trocar balas com os soldados da milícia nacional, invariavelmente, inclusive, alvejando civis inocentes, vítimas de uma violência brutal. E isso porque, em nome de uma causa que dizem defender, os guerrilheiros, por exemplo, não abrem mão da luta armada, menosprezando a palavra para se chegar a um entendimento pacífico com os seus adversários. O pior de tudo é que esses soldados não poupam sequer as crianças, muitas vezes recrutadas para as suas fileiras, onde elas passam a brincar com armas, que são obrigadas a usar – para matar –, soterrando, de vez, a sua infância.

Estarrecedor o drama, nada imaginário, que o diretor John Sayles retrata no filme Hombres armados, mais parecendo um documentário do que uma ficção. Afinal, a esquizofrenia dos instintos violentos anda por toda parte, sempre tão atual e deplorável, a mover um sem fim de pessoas – e isso em qualquer parte do mundo –, que não abrem mão da violência como a única forma de, arrogantemente, conseguir o que se quer, alimentando guerras e tiranias motivadas sejam por interesses econômicos, religiosos ou afins. Não importa! No fundo, quase todos buscam o controle por um poder idiota, que, aliás, produz tentáculos que matam mais do que doenças tropicais, do que a miséria e a desnutrição – e ai de quem se opor a esse surto coletivo! Sem falar que gente assim despreza e debocha de quem repudia a violência, mas apenas porque preza pelo diálogo e pelo entendimento pacífico para alcançar os seus objetivos. Gente assim desconhece, ainda, a força da delicadeza...


Nathalie Bernardo da Câmara


O DIREITO DE DIZER NÃO!


“É para lamentar...”.

Dom Manuel Edmilson da Cruz
Bispo de Limoeiro do Norte, no Ceará, indignado com o reajuste salarial de 61,8% dos parlamentares brasileiros em dezembro de 2010.



Desde que, em protesto ao aumento exorbitante dos salários dos senadores, deputados federais e congêneres, o religioso em questão se recusou terminantemente a receber a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara concedida pelo Senado Federal no dia 21 de dezembro do ano passado, já perdi as contas de quantos e-mails foram enviados para a minha caixa postal elogiando a postura do ousado cearense, indicado para a homenagem por sua defesa dos oprimidos. Para dom Manuel, a comenda, no contexto atual, não somente não representa a pessoa que foi o humanista brasileiro dom Hélder Câmara (1909 - 1999) como também a desfigura, acrescentando que, se aceitasse a homenagem, estaria indo contra os próprios direitos humanos, cometendo, ele também, um atentado contra o povo, cujos salários crescem “em ritmo de lesma”, disse. Em tempos para lá de remotos, o filósofo grego Aristóteles (384 - 322 a.C.) chegou a dizer que “o nosso caráter é o resultado da nossa conduta”. Eu contestaria, afirmando que é o nosso caráter que norteia a nossa conduta.





Falando em direitos humanos...


“Em tempos de mentiras universais,
dizer a verdade é um ato revolucionário...”.

George Orwell (1903 - 1950)
Escritor inglês



Quem quiser que acredite que o governo de la presidenta Dilma Rousseff irá abrir os arquivos secretos da ditadura militar (1964 - 1985) no Brasil. Eu, particularmente, sou completamente cética em relação a isso. Nem mesmo diante da sentença, considerada histórica, da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), da Organização dos Estados Americanos - OEA, que, em dezembro de 2010, determinou, por exemplo, a responsabilidade internacional do Brasil pelo desaparecimento de militantes e camponeses que participaram da Guerrilha do Araguaia de 1972 a 1974, decidindo, ainda, que o governo brasileiro teria o prazo de um ano – agora, meses – para investigar toda a documentação referente a esse período histórico. E os tais arquivos não serão abertos não é por nada não. Eles não serão abertos apenas porque não há nem nunca houve interesse algum nesse sentido.

Afinal, se houvesse interesse, os arquivos já teriam sido abertos. E por uma iniciativa do ex-presidente Lula, que, ainda em campanha para o seu primeiro mandato, elegeu como prioridade, caso assumisse, trazer à tona as atrocidades cometidas durante o regime militar. Só que o infeliz passou oito anos presidindo o país e ignorou a promessa que ele e o PT fizeram. Não creio que, agora, será diferente, sobretudo porque la presidenta manteve no Ministério da Defesa um político como Nelson Jobim, independentemente do deputado federal José Genoíno (PT-SP), sobrevivente, inclusive, da Guerrilha do Araguaia, ser o assessor especial do ministro para tratar desse assunto. É como disse a jornalista brasileira Niara de Oliveira: “O fio de esperança que tinha sobre a abertura dos arquivos durante esse governo arrebentou quando a presidenta manteve Nelson Jobim como ministro da Defesa”.

Enfim! O debate a respeito dessa questão polêmica vai continuar sabe-se lá até quando, podendo – não duvido – continuar suspensa durante os próximos quatro anos. O curioso, contudo, é que ao invés de criticar a omissão do ex-presidente Lula, que prometeu fazê-lo, teve tempo e meios suficientes para isso, mas não o fez, a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, se limita a acusar o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o acusando de conivência com os militares, apenas porque ele declarou que, apesar de sempre ter sido a favor da abertura dos tais arquivos, os mesmos não mais existem. E, segundo FHC, sem querer defendê-lo, não seria de hoje que os misteriosos arquivos continuam aparentemente desaparecidos. Bom! Como diria o jornalista e deputado federal Emiliano José (PT-BA): “Uma nação não se constrói ignorando as suas tragédias”...


Nathalie Bernardo da Câmara


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

TIRIRICA:
DE BEM COM O POVO...


“Os olhos são o espelho da alma...”.

Leonardo da Vinci (1452 - 1519)
Um italiano, considerado o maior dos gênios da humanidade.



Eu dava tudo para saber se a máxima é válida para quem nem nos olhos de outrem olha —  estudei filosofia... Bom! Dizem que desde quarta-feira, 16, não falam outra coisa em Brasília, ou seja, o fato de Tiririca (PR-SP), eleito, democraticamente, pelo povo e, vale salientar, o deputado federal mais votado na História do Brasil, embora fazendo parte de uma coligação que incluía o PT, ter sido contrário à orientação do seu partido, bem como aos que dão sustentação ao governo de la presidenta Dilma Rousseff, porque defendeu a emenda da oposição, rejeitada em plenário, votando a favor de um salário mínimo de R$ 600, ao contrário do que foi aprovado, no valor de R$ 545 – que vergonha! Afinal, o que são R$ 5 reais a mais no bolso do povo brasileiro?

Logo depois da votação, contudo, deputados da base aliada do Executivo, inclusive os do próprio partido de Tiririca, por pouco não o conduziram à guilhotina, acusando o novato de ter votado errado apenas porque ele não votou a favor da proposta majoritária. Ora, Tiririca, que, quando quer, de palhaço não tem nada, apenas fez o que a sua consciência mandou, ou seja, votou contra algo que considerou injusto. E haja injustiça em um salário mínimo de R$ 545! O fato é que os tais parlamentares da base aliada de um tudo fizeram para evitar que o deputado federal mais votado do país desse acesso à imprensa. Só que, como é do seu feitio, Tiririca declarou: — Cá, para nós, eu votei com o povo. Eu vim de onde? Quem me colocou aqui?

Curiosamente, além de Tiririca, que foi eleito por São Paulo, mais dois deputados do PR votaram contra a orientação do partido que eles representam – ambos do Rio de Janeiro. Afora eles, muitos outros e dos mais diversos partidos também se posicionaram contrários aos desmandos e mesquinharias do governo federal. O pior é que andam a dizer que o Executivo e muitos parlamentares já estão ventilando a possibilidade de punirem os deputados federais que votaram contra a proposta governista. Opa! Isso é ditadura... Então, é ridícula a propaganda enganosa de que o Brasil vive em um regime democrático de direito. Afinal, se os deputados são representantes do povo, o que os impede de votarem no que bem entenderem?

Ou melhor, o que os impede de votarem em propostas que dizem respeito aos compromissos que assumiram com esse mesmo povo que os elegeram? Sei não, mas, depois, ainda dizem que sou de direita. De direita está sendo la presidenta Dilma Rousseff e todos os seus aliados, que só lembram do povo brasileiro em períodos de eleição – não importa qual seja ela. Tanto que, depois que uma dada eleição passa e eles são eleitos por esse mesmo povo manipulado, esquecem que representam esse mesmo povo. Isso, segundo reza o primeiro artigo da Constituição Brasileira, que diz: “Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido”. Com esses governantes que aí estão? Duvido. E cito uma entrevista que, hoje, li com o meu ex-camarada Roberto Freire.


Freire, deputado federal (PPS-SP), em declaração à imprensa, se referindo ao governo de la presidenta: — A gente se depara até com situações surrealistas, como o ministro Guido Mantega [Fazenda], criticando a gestão da economia no governo passado, que foi feita por ele mesmo.


Só que, aparentemente, para aliviar o meu ego ou as minhas humildes pretensões para o povo brasileiro poder levar uma vida minimamente digna – coisa, eu soube, não dependerá de la presidenta –, o que faremos? Enfim! Tiririca, por sua vez, me parece uma pessoa sensata. E coerente. Como poucas que já passaram pelo Congresso Nacional. Afinal, sabedoria e bom senso não podem ser avaliados por diplomas acadêmicos, mas por experiência de vida e caráter. Marina Silva, por exemplo - votei nela (não nego) -, seria a minha presidenta. Sempre será. Chega! Caso contrário, eu irei rasgar um véu daqueles... Falando nisso, por onde ela anda? Preparando a sua campanha para 2014, que, aliás, para tirar o PT do poder, terá todo o meu apoio, inclusive o irrestrito – qual, mesmo? Banir Lula.



Nathalie Bernardo da Câmara


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O APAGÃO DA ÉTICA...


“Para boa parte dos brasileiros, a ética e a honestidade tornaram-se qualidades subjetivas...”.

Cora Rónai
Jornalista brasileira



Um dos convidados da 11° edição do Fórum Social Mundial, realizada em Dakar, no Senegal, de 6 a 11 de fevereiro, foi o ex-presidente Lula, que, mal chegou ao evento, já foi tratando de atrair os holofotes para si ao criticar a cobrança de centrais sindicais do Brasil por um aumento real do salário mínimo, maior do que o proposto pelo governo federal... Quem diria! É muita mudança para um homem que, inclusive, sempre andou lado a lado com o sindicalismo brasileiro. Diga-se de passagem, o principal cabo eleitoral do jovem em toda a sua carreira política, mas que, hoje, é chamado de oportunista por aquele que nunca deixou de apoiar. Não me admira...

O debate acerca da criação do Instituto Lula e a do seu memorial, então! Ora, o que foi que o ex-presidente fez de relevante para o Brasil e para o seu povo que justifique tais fundações? Que eu saiba, nada. Afinal, a maior característica do seu governo foram as ações assistencialistas e populistas por ele implementadas. E, que eu saiba, isso não lhe dá o direito a ter um instituto nem, muito menos, a um memorial, alimentando, assim, apenas uma megalomania e um culto à personalidade totalmente fora de propósito. Sem falar nas palestras que ele pretende fazer, recebendo por cada algo em torno de R$ 200 mil. Nesse ínterim, ele volta a se dedicar ao Instituto Cidadania, do PT.

Além disso, Lula reassumirá, embora sem remuneração, a presidência de honra do seu partido. Outro empreendimento, digamos, no qual ele pretende investir é a chamada tournée latino-americana de promoção da marca lulista, difundindo programas sociais do governo brasileiro, inicialmente aos países: Venezuela, Cuba, Nicarágua e El Salvador – tudo indica, à custa do Itamaraty, já que, na condição de ex-presidente, ele tem direito a regalias. Na Venezuela, aliás, Lula encontrará Hugo Chávez antes mesmo da primeira reunião bilateral prevista entre o presidente desse país com la presidenta Dilma Rousseff – é se achar demais, desconhecendo o trágico fim do lendário Narciso...


Nathalie Bernardo da Câmara

domingo, 13 de fevereiro de 2011

BARBARIDADE, TCHÊ!


“Se o Brasil fosse um país sério,
Sarney não estaria no Senado...”.

Marco Antônio Villa
Historiador brasileiro, analisando o significado da reeleição do senador José Sarney (PMDB-AP) para a presidência do Senado.



Se o Brasil fosse um país sério, Sarney não teria direito nem a direitos políticos. Infelizmente, o eleitor de Sarney é desinformado, manipulado e espoliado pelo coronel do Maranhão e o povo brasileiro é masoquista por nada fazer para cobrar do governo federal medidas contra a presença desse homem no Congresso Nacional. Insistir na pensão vitalícia para a família de Tiradentes (1746 - 1792), considerado um dos mártires da Independência do Brasil? Parece piada. Não que os descendentes do mineiro esquartejado não tenham esse direito – nem sei se o tem –, mas é demagogia demais (e hipocrisia!) Sarney querer se mostrar preocupado com os erros do passado cometidos por autoridades brasileiras quando, a bem da verdade, o defensor da Bolsa Tiradentes ganha, mensalmente, mais de R$ 24 mil de pensão vitalícia, benefício, inclusive, questionado pela Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, que já levou o caso ao Supremo Tribunal Federal - STF.

O problema é que o STF não é confiável, pois é cupincha de Sarney, sempre fazendo, religiosamente, o que o político bem quer. Quem não sabe disso? Ou a gente não pode dizer o que sabe e o que pensa a respeito do que sabe? A gente não pode, por exemplo, dizer BASTA aos desmandos desse homem? Eu, particularmente, não o suporto. E é temerária a sua reeleição para a presidência do Senado – duvido que se a senadora Marina Silva (PV-AC) tivesse sido eleita presidenta do Brasil Sarney tinha sido reeleito para o cargo. Mas, como a eleita foi Dilma Rousseff, que dará continuidade as idéias megalomaníacas e surreais do ex-presidente Lula... Não é à toa que dizem, pejorativamente, que o Brasil é o país do carnaval, embora a alusão seja uma afronta a uma das suas festas mais populares. Não que eu seja chegada à folia – pelo contrário! –, mas, por uma questão de respeito, que se faça a identidade nacional. Isso é cultura. Infelizmente, por certas culturas, temos um Sarney da vida.

Um Sarney que desde o dia 31 de julho de 2009, por exemplo, mantém sob censura um dos mais importantes jornais do Brasil, que é O Estado de São Paulo, apenas porque o periódico denunciou falcatruas do filho do senador. E isso com a conivência de Lula. Agora, com a de la presidenta Dilma Rousseff, que, aliás, diz que defende a liberdade de expressão e de opinião. Sei não, mas é demais para os meus dois neurônios, ainda mais quando leio que Sarney se posicionou contra interesses corporativos durante o processo da reforma política no país. Ora, o que muita gente sabe é que tudo desse homem é corporativo. A sua filha, inclusive, também recebe uma pensão vitalícia do governo... E ainda questionam um salário mínimo de, no mínimo, R$ 600! De fato, como disse Lula, “Sarney não pode ser julgado como um homem comum”. Como, então? Eu não entendo de leis, pois fiz jornalismo e estudei cinema, mas entendo de justiça. Por mim, ele seria julgado como bandido...


Nathalie Bernardo da Câmara


sábado, 12 de fevereiro de 2011

DE TROVA EM TROVA...


“Não me sinto apegada à carreira musical...”.

Adriana Calcanhotto,
compositora e cantora brasileira,
em declaração à imprensa.



Um privilégio o de assistir a um show da talentosa Adriana Calcanhotto – coisa rara. No caso, nesta sexta-feira, 11, em Natal, primeira cidade do Nordeste que ela elegeu para se deliciar com Trobar nova, tema de uma tournée, homenageando cancioneiros medievais, que, inclusive, a Europa já conheceu antes mesmo de nós. Enfim! Sempre impecável, apesar de uma lesão na mão, que a impediu de tocar o seu habitual violão, sendo, portanto, por essa temporária limitação, acompanhada pelo violinista brasileiro Davi Moraes, Calcanhotto soltou, apenas, a voz. E que voz! Sem falar do envolvimento da platéia, que, por sua vez, emocionada, também cantou, interagindo com a artista, em sintonia. De fato, um espetáculo! Dos melhores.

O curioso – não pude deixar de remarcar – foi o figurino escolhido pela jovem para o show: uma espécie de manta verde sobre um vestido belíssimo! Só que, ao tirar a manta, o reverso, digamos, era amarelo. Para o meu gosto, nacionalismo demais – uma bandeira do Brasil estilizada, embora eu não saiba em quem, desta vez, ela votou. Afinal, quando a conheci, em 1993, ela fazia campanha para Roberto Freire, candidato pelo Partido Comunista Brasileiro - PCB para presidente do Brasil. À época, eu era do PCB - deixa para lá... Bom! A intelectualidade da artista, se metamorfoseando entre o público adulto e infantil, é notória e genial. Sem falar que, mesmo sem querer, ela passa o recado. Agradeço pela luz que recebi, com brilho, em um camarote qualquer...


Nathalie Bernardo da Câmara

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O RENDEZ-VOUS DE LAS PRESIDENTAS



Dilma Rousseff e Cristina Kirchner “são mulheres revolucionárias...”.

Hebe de Bonafini, ativista argentina pelos direitos humanos, líder das Mães da Praça de Maio, que, desde 1977, protestam contra o desaparecimento dos seus filhos durante a ditadura militar (1976 - 1983) do seu país, após a reunião, que ela classificou de “bela”, ocorrida no dia 31 de janeiro, com la presidenta brasileira.



Sem querer entrar no mérito da referida declaração, sobretudo em respeito a sua autora e porque cada um tem o direito de ter o seu entendimento do que pode vir a ser revolução, no caso, do que seja um agente revolucionário, o encontro relâmpago, embora reservado, de las presidentas Dilma Rousseff e Cristina Kirchner foi recheado de simbolismos. Segundo Rousseff, a escolha pela Argentina como o primeiro destino a ser visitado por ela na condição de presidenta deu-se em função de ambos os países serem cruciais para fazer do séc. XXI o século da América Latina. Para ela: “Somos países com grande potencial agrícola, grande potencial energético, estruturas industriais, e, ao mesmo tempo, países também com uma capacidade grande de gerar tecnologia, ciência e, portanto, inovação”.

Na reunião de Rousseff com as resistentes da Praça de Maio, por sua vez, seguida do encontro privado com Kirchner, um apelo das argentinas, ou seja, que o Brasil abra os arquivos da ditadura militar no Brasil (1964 - 1985). Para uma das líderes do movimento porteño, Estela Barnes de Carlotto, se faz necessário um levantamento do número de desaparecidos políticos nas décadas que compreendem o regime dos militares brasileiros. Por fim, democratizando a troca de figurinhas, las presidentas reuniram-se com ministros argentinos e os da comitiva brasileira, no total de oito. Quais foram? Mero detalhe... Enfim! Um balanço inicial da visita oficial de Rousseff à Kirchner é o de que declarações e acordos foram assinados, contemplando direitos humanos, ciência e tecnologia, comércio, habitação e construção civil.

Tendo em vista, ainda, avanços na relação bilateral entre os dois países, os beneficiando e fortalecendo uma aliança, um dos quatorze acordos assinados objetivou a construção de dois reatores nucleares para fins pacíficos. Para Rousseff, “o governo brasileiro assume, uma vez mais, o compromisso com o governo argentino de uma política conjunta na estratégia de desenvolvimento da região”, afirmando, ainda, após ressaltar que ela e Kirchner haviam sido eleitas pelo voto direto, que uma sociedade só pode ser medida pelo seu avanço e modernidade desde que, sem discriminação, também assegure a participação das mulheres nesse mesmo avanço e modernidade – parece até que la nostra presidenta andou lendo a educadora, escritora e feminista brasileira Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 - 1885)...

Afinal, em 1853, a minha biografada, Nísia Floresta, disse: “Sabemos que muitos anos, séculos talvez, serão precisos para desarraigar herdados preconceitos a fim de que uma tal metamorfose se opere. Esperamos somente que os zelosos operários do grande edifício da civilização em nossa terra atentem para os exemplos que a História apresenta do quanto é essencial aos povos, para firmarem a sua verdadeira felicidade, o associarem a mulher esse importante trabalho.”



(Passagem extraída do texto Nísia Floresta: lendas & mitos, de minha autoria, publicado neste blog no dia 12 de outubro de 2009, ao mesmo tempo transcrito do jornal O Galo. Ano XIV, n° 7, Fundação José Augusto, Departamento Estadual de Imprensa do Rio Grande do Norte, Natal-RN, julho 2002).





Por fim! Um dia antes da viagem a Argentina, em declarações a jornais porteños, Rousseff admitiu divergências entre ela e o Itamaraty, decorrentes das declarações que fez a favor da libertação da iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à pena de morte pelo governo do Irã, garantindo que não fará concessões aos direitos humanos. Isso porque, dias antes, a deputada Zohreh Elahian, presidenta do Comitê de Direitos Humanos da Assembléia Consultiva do Irã, enviou para ela uma carta, na qual tentou explicar a situação de Sakineh, embora não confirmada pelas demais autoridades do seu país. À ocasião das declarações, Rousseff também afirmou que a tragédia que abateu o Rio de Janeiro teria sido o momento mais difícil do início do seu governo – até então, obviamente, nenhum apagão de energia elétrica...

De qualquer modo, se o séc. XXI será ou não o da América Latina, como ela pretende, justificando a sua escolha pela Argentina como o seu primeiro tour internacional, sobretudo por este país ser o principal parceiro comercial do Brasil no Mercosul e um dos maiores do mundo, atrás somente da China e dos Estados Unidos, é sentar e esperar. Vendo para crer, como diz o mais cético dos mortais. Sem falar que a opção de Rousseff é capaz de minimizar o amargor de certos políticos argentinos por seu país não ter sido incluído no roteiro da viagem que, em março, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fará a América do Sul, quando visitará o Brasil, o Chile e El Salvador. Ora! Que a Argentina sentisse era alívio por não ter o desprazer de receber o atual representante de um governo amante da guerra.

Infeliz, eu diria, é o povo brasileiro, que terá de engolir os seus governantes paparicando um presidente norte-americano. Hélas! Mas, como parece não importar quem lava a mão de quem... O fato é que o Clarín lembrou: Kirchner não compareceu à posse da brasileira no dia 1° de janeiro. Generosa, ai, ai, ai, Rousseff! Então? Las respectivas presidentas, apesar das diferenças, já podem ser consideradas compañeras y amigas? Cada um que tire as suas próprias conclusões. E, como já o disse o referido jornal argentino, destacando que, apesar das tensões, o encontro do dia 31 de janeiro serviu e servirá para mostrar “que tipo de química existe” entre as duas. Sei não, mas, enquanto Rousseff diz defender a liberdade de expressão e de opinião, Kirchner sequer dirige-se à imprensa, a ponto, como mostra a charge, de ignorá-la...


Nathalie Bernardo da Câmara


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

LOBO MAU À SOLTA...


“Luz, quero luz...”.

Chico Buarque
Compositor e cantor brasileiro



“Não houve apagão. Houve interrupção provisória de energia elétrica”, declarou, nesta segunda-feira, 7, o ministro de Minas Energia, Edison Lobão, se referindo ao blecaute de energia elétrica que, na noite da quinta-feira, 3, se prolongando até a madrugada do dia seguinte, afetou oito (Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia) dos nove Estados da região Nordeste – em alguns comprometendo o abastecimento de água –, com exceção do Maranhão, que é ligado ao sistema de eletricidade da região Norte. Na tarde desta terça-feira, 8, contudo, demonstrando insatisfação com as declarações do ministro, la presidenta Dilma Rousseff convocou-o para que melhor esclarecesse os motivos que desencadearam o apagão – supostamente, uma falha no circuito eletrônico da subestação Luiz Gonzaga, no município de Jatobá, em Pernambuco, que teria comprometido o sistema de geração de energia das usinas de Paulo Afonso, na divisa da Bahia com a Alagoas, e de Xingó, entre Alagoas e Sergipe.

O fato é que, independentemente das tentativas do ministro Edison Lobão de minimizar a gravidade do problema com retóricas típicas de um colega de partido e conterrâneo seu, o senador José Sarney (PMDB-AP), e dos puxões de orelha de la presidenta, cobrando explicações para o ocorrido no Nordeste e pedindo soluções para os problemas energéticos do Brasil, já tendo, inclusive, para isso, acelerado nomeações para cargos estratégicos do setor elétrico nacional, sem falar nos inúmeros comentários xenófobos contra nordestinos nas redes sociais, agravadas com o blecaute, não demorou muito – ironia do destino? –, um novo apagão, na tarde de hoje, quiçá outra interrupção provisória de energia elétrica, terminou por ofuscar as bases do Planalto das desilusões. Só que, desta vez, a pane elétrica, digamos, se deu na cidade de São Paulo, Sudeste do país... E o mais grave é que já andam a dizer que o apagão do Nordeste – o maior de toda a História da região, deixando mais de 47 milhões de pessoas às escuras – foi provocado deliberadamente.

Sim, a fim de evitar um de maiores proporções, que, segundo dizem os iluminados de plantão, seria a nível nacional, podendo, aliás, provocar catástrofes e danos irreversíveis. Onde seria, então, o próximo apagão? Ou os próximos? De qualquer forma, em um país como o Brasil, onde a ética, sobretudo na política, vive constantemente nas trevas – tipo a Idade Média –, que diferença faria um apagão a mais, um apagão a menos... Eu mesma, por exemplo, passei os últimos quinze dias tendo de conviver com certo apagão, que foi o do meu aparato tecnológico – ora o do meu computador, ora o da minha internet –, apenas atrasando a postagens de textos em meu blog. Tanto que uns perderam o sentido, pois eram homenagens a datas comemorativas, tais como o Dia do Carteiro, 24 de janeiro; o Dia dos Aposentados, 25, e o Dia da Saudade, 30. Porém, tão logo surja um gancho, como se diz no jornalismo, que justifique as suas respectivas postagens, irei aproveitá-los de alguma forma. Outros textos, igualmente, mas de teor político e outros, virão na seqüência...



Nathalie Bernardo da Câmara