sexta-feira, 9 de julho de 2010

AINDA É CEDO

A Marize Castro, poetisa norte-rio-grandense.


“O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever...”.

José Saramago (1922 - 2010), escritor português, referindo-se ao avô, analfabeto, ao receber o  Nobel de Literatura de 1998.


ainda é cedo. muito cedo. a noite acabou de chegar. no ar, um convite velado à liberdade.
sem destino, repudiamos belas mentiras. desafiamos verdades. violamos segredos.
ainda é cedo. muito cedo para chorar. tarde demais para se arrepender. o tempo certo para partir da severa tarefa de esperar. quem vem lá?
ainda é cedo. muito cedo para esquecer. não entendes a confidência das meninas. choras. sangro por todos os poros. testemunho o súbito e solitário pranto que te revela a síntese imaculada do amor.
ainda é cedo. muito cedo para comprar ou roubar estrelas. estamos feridas demais. é necessário voltar à infância. a pureza reside na ânima virgem das crianças.
é a vida. tudo passa. até a estrela que contemplamos da casa ainda sem teto. lá, o céu nos lega conflitos. aflitas, refugiamos no mar os nossos bons corações – quando o Outono expurga todos os pecados que cometemos em nome do amor.
ainda é cedo. muito cedo para amar. a manhã acabou de chegar. estamos mais fortes e mais delicadas. nos protegemos: cúmplices de nós mesmas...

Nathalie
1992

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