“A globalização é um totalitarismo. Totalitarismo que não precisa nem de camisas verdes, nem castanhas, nem suásticas. São os ricos que governam e os pobres vivem como podem...”.
José Saramago (1922 - 2010)
Escritor português
Já dizia o sociólogo brasileiro Herbert de Souza (1935 - 1995), o Betinho, sábio e humanista exemplar, que o maior crime moral que uma sociedade pode cometer é fomentar a pobreza e a miséria, ambas, para ele, imorais. Afinal, como também bem o disse o advogado e pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869 - 1948), se a própria natureza produz alimentos o suficiente para a nossa sobrevivência diária, o ideal seria se cada um tomasse para si apenas o extremamente necessário para se manter vivo a cada dia, evitando, assim, a pobreza no mundo e a morte em conseqüência da fome – questões tão básicas –, decorrentes das desigualdades sócio-econômicas que estão por toda parte.
ENQUANTO ISSO,
NA ÁFRICA DO SUL...
“A chuva que irriga os centros de poder imperialista afoga os vastos subúrbios do sistema. Do mesmo modo, e simetricamente, o bem-estar de nossas classes dominantes – dominantes para dentro, dominadas para fora – é a maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga...”.
Eduardo Galeano
Jornalista e escritor uruguaio
Segundo um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE, publicado fins de Janeiro de 2009, “o fosso entre ricos e pobres na África do Sul aumentou no período entre 1993 e 2008”. Tal situação, inclusive, “coloca a África do Sul no grupo dos países com os maiores índices de desigualdade do mundo”. Uma organização internacional que ajuda os governos a resolver os desafios econômicos, sociais e de governabilidade postos por uma economia globalizada, a OCDE conclui, ainda, que, “para qualquer parâmetro da pobreza, os africanos são mais pobres que os mistos, que, por seu turno, são mais pobres que os indianos e estes mais pobres que os brancos”.
Mas, como dizem que a pobreza é um negócio extremamente lucrativo, ou seja, gera satisfatórios dividendos para quem a explora... Não duvidava disso o jornalista, escritor e dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues (1912 - 1980), que, com a sua mordacidade habitual, chegou a dizer: “Uns morrem de fome, outros vivem dela com generosa abundância”. Outros, por sua vez, terminam por engendrar polêmicas por declarações que dão a respeito da fome. Dá até para criar uma historinha quando, por exemplo, é questionada a capacidade de discernir de uma pessoa com fome:
Jean de La Fontaine (1621 - 1695), poeta francês, diria: — Barriga vazia não tem ouvidos.
Virgínia Woolf (1882 - 1941), escritora britânica, justificaria: — Não se pode pensar bem, amar bem, dormir bem, quando não se jantou bem.
Benjamin Franklin (1706 - 1790), jornalista norte-americano, entre outras muitas coisas, que, por sua vez, retrucaria: — É melhor ir deitar-se sem jantar que se levantar com dívidas.
E então?
Enfim!
LES BLANCS ET LES NOIRS
“O preconceito da raça é injusto e causa grande sofrimento as pessoas...”.
Voltaire (1694 - 1778)
Escritor francês
Quisera que essa mensagem bonita alcançasse algo bonito, uma mente aberta, eu diria, mas, acho que esse entendimento só será possível, por exemplo, no dia em que – no mínimo – tomarmos conhecimento, por meio de registros iconográficos, que, ao longo da História da humanidade, a exemplo das inúmeras amas-de-leite negras, alimentando crianças brancas, quantas mulheres brancas já tiveram em seus braços um recém-nascido negro? Faço essa pergunta porque, em meus mais de vinte anos de jornalismo e pouco mais de quarenta e dois de vida, nunca vi um caso. Nem uma diminuta imagem que o fosse, no caso, atualmente, na era da net, disponibilizada no Google... Nem em algum livro disponível de História da arte, muito menos em todas as pesquisas que já fiz. Tanto que, ao pesquisar, a mais marcante que eu encontrei foi a que se segue abaixo...
Até quando será assim?
E o pior é que, em relação à pobreza, à miséria e ao racismo, a criança é sempre a maior das vítimas...
Nathalie Bernardo da Câmara
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aceita-se comentários...