A PRINCESA ASTECA
“Quisera que a minha obra contribuísse
para a luta do povo pela paz e pela liberdade...”.
Caso a mentira que ela mesma contava tivesse colado, hoje estaria sendo comemorado o centenário do nascimento, em Cayoacán, da pintora mexicana Frida Kahlo. Comunista, ela costumava dizer que tinha nascido em 1910, ano em que eclodiu a Revolução Mexicana, a primeira das grandes revoluções do séc. XX, que se opunha à ditadura do general mexicano Porfírio Díaz (1830 - 1915). Nascida Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón, Frida, ou Friducha, apelido que apreciava, era filha do casal Wilhelm Kahlo (1876 - 1932), fotógrafo e pintor judeu alemão de origem húngara, e Matilde Calderón y González (1872 - 1941), mexicana de origens espanhola e indígena.
Uma vida atormentada, a de Frida, recheada de tragédias desde a infância, quando, aos seis anos de idade, contrai poliomielite, herdando, como seqüela, uma atrofia na perna direita, deformações e limitações de movimentos, passando a mancar. Aos dezoito, ela sofre um acidente de trânsito, ficando gravemente ferida. Além de lesões na coluna vertebral, na clavícula, em algumas costelas e na pélvis, teve fraturas na perna direita, o pé direito esmagado, o ombro esquerdo deslocado e uma perfuração no abdômen, devido uma barra de ferro, que atravessou o seu útero e saiu pela vagina. Os longos meses de cama, contudo, iriam, definitivamente, mudar o curso da sua vida.
Convalescente, Frida desiste da medicina e descobre a pintura, transpondo para as telas o seu sofrimento. As cores, por sua vez, aos poucos vão suplantando as dores, reaproximando a artista da vida. Tempos depois, já casada com o pintor mexicano Diego Rivera (1886 - 1957), novos tormentos, que foram os sucessivos abortos que teve, sem falar das cirurgias as quais tinha de se submeter, ainda em decorrência do acidente, do colete, das amputações... Nesse ínterim, a pintura, antes um lenitivo, torna-se um ofício, com as suas telas a retratar a sua angústia, refletindo o tempo que passava sobre uma cama, tendo como companhia pincéis, tintas, cavaletes, sendo ela própria a sua inspiração e modelo.
Tendo pintando mais de setenta auto-retratos, perdendo apenas pelo pintor neo-holandês Rembrandt (1606 - 1669), Frida expressou em suas telas a dor de toda uma vida, a sua desintegração, como ela costumava dizer, amortecida, contudo, pela morfina, da qual tornou-se dependente, e pelos vários amores que teve, embora o maior de todos tenha sido, de fato, Diego, por quem ela sempre nutriu uma enorme paixão. Não pretendo, contudo, prolongar-me a falar sobre Frida porque, no dia 4 de julho do ano passado, escrevi um longo texto sobre ela, intitulado ¡Pasion por la vida!, postado neste blog (ver aquivo), sendo o link para o mesmo...
A novidade é que foi recém-lançado um livro sobre a artista: Frida Kahlo – Suas fotos, organizado pelo fotógrafo mexicano Pablo Ortiz Monastério e publicado, no Brasil, com tiragem única, pela Cosac Naify. As mais de quatrocentas fotografias contidas no livro fazem parte do acervo pessoal de Frida, que, após a sua morte, o seu companheiro Diego Rivera doou ao Banco do México. Outra publicação, relançada recentemente, foi Diego e Frida, do escritor francês Le Clézio, Prêmio Nobel de Literatura de 2008, publicado pela Editora Record, que descreve o polêmico relacionamento de Frida com Diego, que, junto com a pintura e o comunismo, se traduziu na razão de viver da artista.
Nathalie Bernardo da Câmara
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