quarta-feira, 21 de novembro de 2012

SIMILIA SIMILIBUS CURENTUR*

“É a eleição do medicamento e a maneira de usá-lo que caracteriza o verdadeiro médico, o que não está ligado a nenhum sistema...”.

Christian Friedrich Samuel Hahnemann (1755 - 1843)
Médico alemão, fundador da homeopatia

 
Os semelhantes curam-se pelos semelhantes, a principal tese de Hahnemann em sua principal obra, Organon da medicina racional, publicada há pouco mais de duzentos anos, em 1810, que traduz a proposta da homeopatia, sistema da medicina que, no Brasil, é comemorada nacionalmente no dia 21 de novembro. Hahnemann, por sua vez, que nasce em um dia 10 de abril, em Meissen, na Saxônia, Alemanha, se forma em Leipzig e se aperfeiçoa em Viena. As suas pesquisas, levadas à prática, e os seus resultados, divulgados, inclusive, em livros, provocam hostilidades na classe médica e farmacêutica alemã e, em 1821, ele praticamente vê-se obrigado a deixar Leipzig, se estabelecendo em Köthen, onde permanece durante quinze anos. Em 1835, no auge dos ataques à homeopatia, Hahnemann, sem opção, se transfere para Paris – doce refúgio –, onde fixa residência e permanece até a sua morte.

Curiosamente, duzentos anos após a publicação do Organon..., o Brasil é, hoje, uma referência mundial em homeopatia, comemorada nacionalmente no dia 21 de novembro, já que, nesse mesmo dia, no ano de 1840, chega na Barra do Sahy, na divisa dos estados do Paraná e de Santa Catarina, o médico homeopata francês Benoît Mure (1809 - 1858), a fim de criar uma comunidade industrial de máquinas a vapor, embora aproveitando o ensejo para implantar o primeiro instituto de formação em homeopatia que se tem registro no país. Cerca de trinta anos antes, contudo, em 1810, o político e naturalista José Bonifácio de Andrada e Silva (1763 - 1838), o Patriarca da Independência, toma conhecimento da teoria homeopática através de cartas trocadas com Hahnemann. Porém, antes mesmo da chegada de Benoît Mure, o país já tinha um médico homeopata, o brasileiro Duque-Estrada.

Quanto a Benoît Mure, que fica conhecido como Bento Mure... Ele permanece por um curto período no Rio de Janeiro, onde clinica e difunde a homeopatia, antes de se instalar na Barra do Sahy. A proposta, entretanto, de implantação de uma colônia industrial na Barra do Sahy, não alcança os resultados esperados e ele retorna ao Rio de Janeiro, onde conhece o médico brasileiro João Vicente Martins (1808 - 1854), que se tornaria o maior propagandista da homeopatia no Brasil. Em 1844, os dois abrem o Instituto Homeopático do Brasil, além de criarem mais de vinte ambulatórios onde os pacientes são tratados com medicamentos homeopáticos. Polêmicas à parte, o Governo Imperial autoriza o funcionamento da Escola Homeopática do Brasil, a primeira do gênero, que é inaugurada em 1845. Três anos depois, Benoît Mure despede-se do Brasil, retornando a França.

Enfim! Aos poucos, a homeopatia vai conquistando espaço e atraindo novos adeptos dessa medicina, inclusive em vários outros estados brasileiros. O Instituto Homeopático do Brasil, por sua vez, auxilia, no início da década de cinqüenta, quando uma epidemia de febre amarela assola o Rio de Janeiro, a enfermaria de São Vicente de Paulo, fundada e mantida pela Sociedade Portuguesa de Beneficência, onde os doentes são tratados com homeopatia. E gratuitamente. Em 1854, o ensino da homeopatia é declarado livre. Pouco mais de duas décadas depois, em 1878, o Instituto Homeopático do Brasil passa a se chamar Instituto Hahnemanniano Fluminense, embora, em 1880, por decreto do Governo Imperial, é denominada Instituto Hahnemanniano do Brasil – IHB. No séc. XX, em 1912, o IHB cria a Faculdade Hahnemanniana com ensino integral de medicina.

Seis anos depois, o instituto é autorizado a diplomar médicos e farmacêuticos homeopatas. Em 1921, a faculdade se equipara com as oficiais da República, se transformando, em 1924, na Escola de Medicina e Cirurgia do Instituto Hahnemanniano. Em 1932, o então Conselho Nacional de Educação determina facultativo o ensino da homeopatia. Hoje, a Escola de Medicina e Cirurgia pertence à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO. Em 1952, o ensino de Noções de Farmacotécnica Homeopática torna-se obrigatório nos cursos superiores de farmácia do Brasil, sendo, em 1965, regulamentada a manipulação, o receituário e a venda de produtos utilizados na homeopatia, que, aliás, em 1975, é excluída como disciplina optativa do currículo da graduação de medicina e incluída na pós-graduação da Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro.

No final da década de setenta, a consciência holística expande-se e, em 1979, nasce a Associação Médica Homeopática Brasileira - AMHB, que, atualmente, representa todos os médicos homeopatas do país. No ano seguinte, a homeopatia é admitida pelo Conselho Federal de Medicina - CFM como especialidade médica e, dez anos depois, a AMHB é reconhecida pela Associação Médica Brasileira - AMB, igualmente fazendo parte do seu Conselho de Especialidades Médicas. Desde então, um convênio com a AMB e o CFM, permite a AMHB realizar, anualmente, as provas para o Título de Especialista em Homeopatia, além de promover, em parceria com o Ministério da Saúde, a campanha Homeopatia para todos, democratizando o acesso à homeopatia. O Rio de Janeiro, por sua vez, foi o estado onde se realizou o primeiro concurso púbico para médicos homeopatas na década de oitenta.

Outra grande conquista da homeopatia é que, desde 2006, ela vem sendo utilizada pelo Sistema Único de Saúde - SUS, além de ser recomendada pela Organização Mundial de Saúde - OMS. A novidade é que, extra-oficialmente, a homeopatia já vem sendo utilizada na odontologia, sobretudo no tratamento das doenças bucais. Enfim! O fato é que o Brasil possui o maior número de médicos homeopatas do mundo, bem como os melhores, resultado da excelente qualidade dos cursos de formação do país e da boa atuação da AMHB e de suas federadas, que mantêm um bom relacionamento com os farmacêuticos homeopatas, que dispõem de medicamentos com alto padrão de qualidade, que, aliás, basicamente são oriundos de substâncias pertencentes aos três reinos da natureza, ou seja, o mineral, o vegetal e o animal. E, indiscutivelmente, a serviço da cura de todos nós...







Nísia Floresta e a homeopatia



“A homeopatia é o mais simples, o mais doce e o mais humanitário dos sistemas que a medicina encontrou para cuidar dos nossos males...”.

Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 - 1885)
Educadora, escritora e feminista Brasileira



Entre as personalidades brasileiras que contribuiram para a divulgação e a aceitação da homeopatia no Brasil estão o escritor Monteiro Lobato (1882 - 1948), o escritor e estadista Rui Barbosa (1849 - 1923) e, antes mesmo deles, a educadora Nísia Floresta, cujo bicentenário de nascimento ocorreu recentemente, no dia 12 de outubro [2010]. Quando, portanto, o médico homeopata francês Benôit Mure desembarca na Baía da Guanabara, em 1840, Nísia já estava, desde fins de 1837, morando no Rio de Janeiro, onde dirigia um bem conceituado estabelecimento de ensino para meninas, aberto em 1838. Para minha surpresa, além de ser considerada a pioneira do feminismo no Brasil, Nísia, de quem sou biógrafa, pesquisando-a há anos, é igualmente pioneira no uso da homeopatia no país.

No ano de 1849, por exemplo, o irmão de Nísia Floresta, o também educador, advogado, filósofo e filólogo Joaquim Pinto Brazil (1819 - 1875), contrai uma febre perniciosa e fica entre a vida e a morte, sendo desenganado por seis dos mais renomados médicos alopatas do Rio de Janeiro. Adepta da homeopatia, Nísia opta por recorrer a essa medicina para salvar o irmão. E obtém sucesso. A cura de Pinto Brazil é, portanto, o motivo determinante da conversão à homeopatia do médico alopata brasileiro José Henrique de Medeiros, que logo se casaria com uma irmã de Nísia. Além disso, em 1855, quando uma epidemia de cólera devasta o Rio de Janeiro, fazendo mais de seis mil vítimas – uma tragédia –, Nísia se apresenta como voluntária na enfermaria do Hospital Nossa Senhora da Conceição.

Junto com ela, se apresentam, também, como voluntários, por um período de seis meses, o doutor Henrique de Medeiros e a médica francesa naturalizada brasileira Marie Josephine Mathilde Durocher (1808 - 1893), a mais célebre parteira do Rio de Janeiro no séc. XIX, que se dedicam com afinco aos doentes, tratados, unicamente, com medicamentos homeopáticos. Por seu gesto de solidariedade, Nísia Floresta recebe um agradecimento público, publicado em novembro do mesmo ano no Jornal do Comércio. Anos depois, em 1859, retornando da França para Florença, onde ela estava morando com a filha Lívia, o trem no qual viaja sofre um grave acidente, a dois mil quilômetros de Turim. A sua saúde fica seriamente abalada e Nísia decide consultar um médico homeopata.

Porém, o único em Florença, que possuía certo renome, não se encontra na cidade. Sem alternativa, contrariando a sua preferência pela homeopatia, Nísia Floresta se vê obrigada a consultar um médico alopata, que, após quatro meses de tratamento, em nada resolve o seu problema, o que faz com que ela se refugie no campo, a fim de se restabelecer física e moralmente. Enfim! Há alguns anos, em uma visita que fiz ao Instituto Hahnemanniano do Brasil, encontrei, nos arquivos da instituição, a ficha médica de Nísia, verificando que, no Rio de Janeiro, ela era paciente do doutor João Vicente Martins. Enfim! A afinidade de Nísia com a homeopatia despertou-me curiosidades... Afinal, desde criança, eu sou homeopatizada e, diferentemente da alopatia, a homeopatia garante equilíbrio interior e expansão da consciência.


Nathalie Bernardo da Câmara

* Publicado originalmente no dia 27 de novembro de 2010 e republicado no dia 21 de novembro de 2011, em homenagem ao Dia Nacional da Homeopatia.

2 comentários:

  1. Querida Nathalie, parabéns pelo Blog. Hipócrates (século IV a.C.), ao estudar o conteúdo das tábuas votivas depositadas pelos pacientes, após a cura de seus males, firmou as duas expressões máximas da prática médica: SIMILIA SIMILIBUS CURENTUR (e não CURANTUR) para os pacientes tratados com substâncias que, usados em pessoas sadias, produziam os mesmos sintomas a serem curados nas pessoas doentes. Para os que usavam substâncias com efeito contrário, ele firmou a expressão CONTRARIA CONTRARIUS CURENTUR, hoje a base da alopatia. Um abraço. EVALDO.

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