Tornou-se famosa entre os historiadores uma resposta
dada pelo barão de Cotegipe (1815 - 1889) à princesa Isabel (1846 - 1921), logo
após a “suposta” abolição da escravatura no Brasil, ou seja, a Lei Áurea – a monarca teria lhe
perguntado: “Então, ganhei ou não ganhei a partida?”, ao que o barão retrucou:
“Ganhou, mas perdeu a coroa”.
Uma lembrança da
minha infância, que, nem sei o motivo, me veio à mente há pouco: a primeira vez
em que vi uma macumba, na companhia de Pierre, meu querido irmão francês. Éramos
crianças e a mãe de Pierre e Claire foi para a França, deixando com os meus
pais, “para tomar de conta”, como se diz no Nordeste, não somente a casa que
ela tinha à beira-mar, na praia de Ponta Negra, em Natal, mas também os seus
filhos.
Na
casa tinha um pé de jambo maravilhoso, onde eu vivia pulando de galho em galho, igual macaco –
vez por outra, Maria, que nos criou e “ficava de olho” em todos nós, dizia: —
Cadê, Nathalie?
Eu sempre fui a queridinha dela...
Ora
Maria pensava que eu estava no mar, que podia ter me afogado, desesperando-se, embora eu soubesse nadar;
ora que eu tinha subido o Morro do Careca e evaporado, feito areia, diluindo junto com a erosão... Que nada! Eu não saia de casa, só no pé de
jambo, sugando um fruto que entontece pelo aroma, o de cor de vinho, quando
está maduro, chegando o sumo do fruto a escorrer pelos cantos da boca, apenas contemplando a paisagem através da folhagem da árvore, já que sempre preferi a sombra ao sol.
Certo
dia, o meu pai chamou a gente – tudo criança – para catar gravetos e correlatos
numa mata (hoje, nem existe mais) que havia antes da Barreira do Inferno. Era
época das festividades de São João, acho, já que era para fazer uma fogueira.
O
meu pai e a minha irmã Tereza – acho que Claire estava com eles – (o meu irmão Marquinhos ainda era pequenininho e ficava em casa com uma babá), foram para um lado;
Pierre e eu fomos para outro... Só que, enquanto Pierre e eu catávamos os
nossos gravetos, deparamo-nos, na maior inocência, com uma macumba, debaixo de
um cajueiro... Foi muito estranho: aquele pano na areia, com uma tigela de
barro, repleta de sabe-se lá o quê...
Recordo-me
que tinha uma galinha de penas pretas morta no local; uma garrafa de
aguardente; ramos de uma planta qualquer e mais um monte de coisas “esquisitas”
ao redor... Jogamos os nossos gravetos de lado e fomos tentar entender o que
era “aquilo” – não é à toa que, adultos, Pierre e eu somos pesquisadores.
Então...
À época, já pensando em ‘estética’, mesmo inconscientemente, desfizemos aquela “arrumação”
e, quando viramos a tigela, encontramos uma nota de 50 cruzeiros – acho que era
isso – embaixo da mesma. Só que, como Pierre estava de sunga e eu de short, guardei a nota num dos bolsos.
Tempos
depois, quando reencontramos os demais, estávamos sem graveto algum (acho que
alegamos a perda dos gravetos no meio do caminho por algum motivo, achando tudo
aquilo muito “sublime”) – ninguém entendeu nada, mas, tudo bem.
Só
ficamos calados.
Chegando
a casa da praia, procuramos Maria e contei sobre o ocorrido. Foi um quiproquó! Ela
disse que Pierre e eu não podíamos sequer ter tocado “naquilo”, ou seja, a macumba
– a explicação não passou disso e continuamos sem entender nada: a única coisa
que sei é que, por um tempo, em Neópolis, onde, à época, os meus pais de fato
moravam, abrimos um crédito na padaria e, por muito tempo, com aqueles 50
cruzeiros, nós quatro, Tereza, Claire, Pierre e eu, fizemos a “festa”, além de
livrar alguém, se fosse o caso, de alguma maldade de terceiros, já que
interferimos e, mesmo sem intenção, quebramos, com a nossa inocência, algo que
poderia ser ruim para alguém e que, ao final, virou uma grande diversão para
nós!
Coisa
boa que é a infância... E saudade do meu amigo.
Nathalie Bernardo
da Câmara
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