“A paz é uma militância...”.
José Saramago (1910 - 2010), escritor português
Hoje à tarde, fui fazer umas impressões numa copiadora na rua ao lado e, de repente,
vi uma multidão nas calçadas; o trânsito congestionado; policiais de vários matizes
e armas nunca dantes vistas; perícia criminal etc. Encontrei um conhecido ao
lado da padaria do bairro e perguntei o que tinha acontecido e ele apontou para
um corpo caído no chão no outro lado da rua, coberto com um pano, vítima de uma
rajada de balas nada perdidas, mas intencionadas – a minha medula óssea gritou!
Como pode tanta violência? Congelei. E lembrei-me de uma composição do artista multifacetado brasileiro João Bosco, ou seja, De frente pro crime (1975), e de quando viemos morar na
região...
Eu
tinha uns 12, 13 anos de idade (início dos anos 80). Ninguém queria morar por aqui: só
tinha mato; mangueiras; cupins; ruas de barro – quando chovia, então, era
aquela lamaceira! – e quase nenhuma casa. Era uma paz, beirando o bucólico! E,
à época, as contas vinham pelos Correios para o nosso endereço como sendo
bairro Dix-Sept Rosado, separado do bairro Lagoa Nova pela rua Amintas Barros, hoje avenida, onde se deu o crime mencionado acima.
Isso em Natal (RN). Depois que me formei em jornalismo, em 1989, sempre passei
tempos fora e, como gostava de escrever cartas, sabia o CEP decorado.
Numa
das vezes que retornei, percebi nas novas contas que haviam incluído a nossa
rua ao bairro Lagoa Nova, mas o CEP continuou o mesmo, felizmente. O tempo passou... O urbano crescendo... Eu indo e
vindo; a região sendo povoada. Lembro-me até que muitos cariocas mudavam-se
para Natal porque a cidade tinha muita coisa parecida com o Rio de Janeiro, menos a violência.
Com a passagem do mesmo tempo, vieram os paralelepípedos; depois o asfalto... Para completar a
desgraça, a construção da Arena da Dunas, hospedando a Copa de 2014, estragado tudo de uma
vez, supostamente “valorizando” o bairro – bairro esse, aliás, outrora pacífico e ignorado, desprezado, eu
diria, que passou a ter um dos metros quadrados mais caros da cidade. E a paz
acabou, pois começou a violência, acintosa.
À
ocasião do trágico evento de hoje, conversando com uma
senhora que conheço de longa data e vizinha da vítima, ela chegou a mesma
conclusão. Enfim! Não sei ainda a “motivação” do crime, do homicídio – na verdade,
da execução, pois, segundo o burburinho, foram cerca de 10 tiros –,
se é que existe motivo para alguém matar outro alguém, um semelhante seu... Deve
sair no jornal da noite (atualizando: a notícia divulgada pela TV foi superficial). Felizmente, os assassinos pouparam a mulher da vítima
e a sua filha, de cinco anos de idade, mas não as impediram de presenciar o crime. Estou chocada
até agora com o fato!
Depois,
quando a gente diz que se tornou refém do medo, ninguém entende...
NBC
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