27 DE ABRIL:
DIA DA EMPREGADA DOMÉSTICA
“A poetisa é a mulher-a-dias*/arruma o poema/
como arruma a casa/que o terremoto ameaça...”.
Adília Lopes, poetisa portuguesa
como arruma a casa/que o terremoto ameaça...”.
Adília Lopes, poetisa portuguesa
A lei de n° 5.859/72, alterada pela lei de n° 10.208/01 e, depois, pela lei de n° 11.324/06, dispõe sobre a profissão do empregado doméstico, que é considerado aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família no âmbito residencial destas. Já segundo o Ministério do Trabalho, empregados domésticos são considerados todos aqueles que prestam serviços que auxiliam nas tarefas do lar. Alguns exemplos são as governantas, faxineiras, motoristas particulares, jardineiros e babás, havendo, hoje, no Brasil, por exemplo, mais de cinco milhões de domésticos, sendo mulheres a grande maioria deste total.
Curiosamente, refletindo uma mania da Igreja católica, incansável em dar um sentido a todos os seus santos, Pio XVII (1876 - 1958), papa de 1939 a 1958, elegeu, ainda na década de cinqüenta, santa Zita (1218 - 1278) como a padroeira das empregadas domésticas. Canonizada em 1696, Zita nasceu em Monsagrati, na Itália, e, a partir dos doze anos de idade, começou a trabalhar como doméstica em casa de uma família italiana, função que exerceu por décadas. Em seu dia, portanto, prestamos uma homenagem as empregadas domésticas e afins, digamos assim, com o belíssimo poema Desculpa-me a ternura, da poetisa portuguesa Ana Luísa Amaral.
* Empregada doméstica.
Nathalie Bernardo da Câmara
Desculpa-me a ternura
Enternece-me pensar que estás aí,
não força de trabalho desigual
nem vida à pressa,
mas minha amiga.
Talvez as palavras que te digo
me transpareçam classe,
talvez nem te devesse dizer nada.
Porque és a mão que ampara o meu silêncio,
a minha filha, o meu cansaço
— à custa do teu cansaço, da tua filha,
do teu silêncio.
Não há homens-a-dias neste mundo,
mas tantas como tu,
a segurar nas mãos e no sorriso
algumas como eu.
Entraste há pouco a perguntar
se eu tinha febre
— a louça por lavar nas tuas mãos,
aspirando o cansaço dos meus ombros,
nos teus ombros o cansaço de mim
e o cansaço de ti.
Desculpa os meus silêncios,
o falar-me contigo como com mais ninguém,
desculpa o tom sem pressa
— e o meu dinheiro que não chega a nada,
comprando o teu trabalho
(o teu sorriso).
Ana Luísa Amaral, As Vezes o Paraíso
(2ª edição), Quetzal Editores, Lisboa, 1998: 72, 73.
Enternece-me pensar que estás aí,
não força de trabalho desigual
nem vida à pressa,
mas minha amiga.
Talvez as palavras que te digo
me transpareçam classe,
talvez nem te devesse dizer nada.
Porque és a mão que ampara o meu silêncio,
a minha filha, o meu cansaço
— à custa do teu cansaço, da tua filha,
do teu silêncio.
Não há homens-a-dias neste mundo,
mas tantas como tu,
a segurar nas mãos e no sorriso
algumas como eu.
Entraste há pouco a perguntar
se eu tinha febre
— a louça por lavar nas tuas mãos,
aspirando o cansaço dos meus ombros,
nos teus ombros o cansaço de mim
e o cansaço de ti.
Desculpa os meus silêncios,
o falar-me contigo como com mais ninguém,
desculpa o tom sem pressa
— e o meu dinheiro que não chega a nada,
comprando o teu trabalho
(o teu sorriso).
Ana Luísa Amaral, As Vezes o Paraíso
(2ª edição), Quetzal Editores, Lisboa, 1998: 72, 73.
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