Afresco do pintor e escultor italiano Cesare Maccari (1840 - 1919), que retrata Cícero (106 - 43 a. C.), político e orador romano, denunciando, no Senado, a prima Catilinaria – a obra chama-se Cicerone denuncia Catilina (1880) e se encontra em Roma, na Itália, no Palazzo Madama, sala Maccari.
As Esquisitices de Odarpola
Por Evaldo Alves de Oliveira
Médico Pediatra e Homeopata, além de Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
Crônica publicada no blog www.evaldoab.wordpress.com no dia 18 de janeiro de 2013.
Desde pequeno Odarpola mostrava sinais de excentricidade, ora utilizando um palavreado esmerado e confuso, outras vezes utilizando vestimenta que fugia à regra da meninada. Chamava as professoras de mestras e as orientadoras de gerentes educacionais. Quando se referia a gargarejos, dizia serem uma toalete orofaringotraqueobrônquica. Sua formatura no ensino médio aproximava-se, e ele não entendia a ausência de um juramento formal, pois os há para as profissões liberais.
Odarpola fora escolhido orador da turma, e se preparava para sua estreia no complicado mundo da oratória. Preocupado, insistiu em suas pesquisas nos livros de sua estante, mas não se sentiu atendido. Buscava frases ou expressões compatíveis com a grandiosidade que aquele evento singular requeria.
Mergulhou fundo nos livros da biblioteca da escola. Rabiscava aqui, marcava ali, copiava expressões dos grandes mestres da oratória, e foi montando o seu grandioso discurso. Chegou a ler textos de Cícero, o grande orador romano.
Finalmente, chegara o grande dia. O jovem mancebo vestia camisa social de seda branca, tendo a calça mantida à altura por belos suspensórios. Tinha o cabelo encharcado de gel e, no pescoço, uma gravata borboleta. No fino braço, portava um relógio tipo oceanográfico, capaz de suportar até quatro mil metros de pressão sub-aquática, embora não soubesse nadar.
Convocado ao microfone, Odarpola caminhou solene e garbosamente, fazendo aceno de cabeça quando passava diante dos professores, e assim iniciou:
— Senhoras Mestras, senhores gestores educacionais, senhores genitores – refiro-me, aqui, àqueles que resolveram assumir o primeiro degrau de uma linha ascendente de parentesco, ou seja, os pais. Compareço a este púlpito fustigado por intensos atropelos borborigmáticos detonados por uma inclemente e destemperada fisiose que me corrói as entranhas. Porém nada disso me tira o ânimo e a disposição para a luta. Neste momento solene, proponho aos senhores uma análise dos diversos resultados que, com certeza, sugerirão uma oportunidade de verificação dos índices pretendidos, que vão incentivar o avanço tecnológico, com a expansão das atividades de nossas instituições, ao tempo em que assumimos importantes posições na definição das condições apropriadas para o sucesso de nossos negócios. Do mesmo modo, não podemos esquecer que o novo modelo estrutural preconizado facilita a definição das opções básicas para o sucesso do que ora propomos. Por outro lado, a complexidade dos estudos efetuados auxilia a preparação e estruturação de um caminho para chegarmos aos índices pretendidos. A prática tem mostrado que o desenvolvimento de formas distintas de atuação contribui para a correta determinação dos conceitos de participação geral. Isto posto, nunca será demais repetir que a constante divulgação das informações facilitará em muito a definição de nossas proposições, na luta por um futuro melhor para todos. Tenho dito!
Ao final, foi ovacionado de pé.
Hoje, Odarpola ocupa o cargo de Diretor Geral do Departamento das Consequências Medievais, das Efervescências Abserviácias e das Condolências Mediastinais, onde é considerado um gênio.
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