“Não vai ter Copa!”, bordão nas manifestações e nos
protestos que, desde junho de 2013, conquistaram as ruas do Brasil, ganhando
espaço e divulgação principalmente nas redes sociais, persistindo até hoje, refletindo,
no caso, um amplo descontentamento popular com a realização da Copa de 2014 no
país.
Em tempo: — A
coisa que mais irá empolgar os jogadores, os jornalistas e os dirigentes de
futebol do mundo (...) será o comportamento extraordinário do povo brasileiro.
O tratamento que esse povo dará, estejam certos que marcará a história das
Copas do Mundo... – trecho do discurso proferido no dia 30 de outubro de 2007,
em Zurique, Suíça, pelo então presidente Lula na cerimônia em que a Federação Internacional
de Futebol Amador (Fifa) oficialmente anunciou o Brasil como sede da Copa do
Mundo de 2014.
Em
seu delírio pretensioso, o megalomaníaco político, tinha, de fato, razão,
embora, à época, ele ignorasse qual o tratamento que, anos depois, seria dispensado
pelo povo brasileiro ao evento no país e como esse tratamento marcaria “a
história das Copas do Mundo”, cuja edição, no caso, a de 2014 deveria ser
chamada de A Copa dos Rombos – redundância
“facilitar” o entendimento para tal cognome, título, inclusive, de uma postagem
homônima, de minha autoria, publicada neste blog no dia 21 de maio de 2011
(link abaixo).
Sim, um espetáculo que só tem merecido desprezo, seja pelos sucessivos
abusos da Fifa desde que pôs os seus insolentes pés em solo tupiniquim,
usurpando, a seu bel prazer, bens de outrem; seja pela corrupção e peculato,
nunca dantes vistos na História deste país, cometidos por políticos, autoridades e empresários,
que, numa sequência de escândalos, sem previsão de um termo, ganham relevos
surreais, enquanto aos seus responsáveis são atribuídos predicados nada
edificantes, vilões que são dessa macabra trama.
Desse
modo, antagonistas, privilegiam um supérfluo dispendioso em detrimento da
qualidade de vida da população (educação, saúde, moradia, segurança, transporte
e tantos outros direitos relegados à míngua, menosprezados. E irresponsavelmente,
sem escrúpulos). Daí a visível insatisfação popular com a Copa – megaevento, aliás,
rejeitado em todos os seus aspectos até dizer basta não somente por boa parte
dos brasileiros, mas, também, por todos os cidadãos de bom senso, independentemente
da sua nacionalidade.
Resumindo:
com a graça de todos os patuás, a Copa de 2014 já se mostrou que não sairá como
o esperado por aqueles que agiram e continuam agindo de má fé contra o povo
brasileiro e contra o Brasil, ou seja, não será aplaudida em uníssono – vaias são
bem-vindas, já que, afinal, não somos bananas nem, muito menos, marionetes, sem
a menor intenção de sermos manipulados por incautos populistas: somos cidadãos
que merecem respeito e que consideram o evento nada mais que um gol contra o
Brasil – simples assim.
E
se a presidenta Dilma Rousseff ainda continua achando que o país irá fazer a “Copa
das copas”, conquistando o tão decantado hexa; se ela ainda acredita nisso, espero,
sinceramente, do fundo da minha indignação, que a seleção brasileira não chegue
nem nas quartas de final! Sim, porque, afinal, não é somente o descaso dos
vilões do evento com as prioridades sociais do Brasil que possui um padrão Fifa
não, mas, também, o nosso desgosto com todo o esquema montado para
promover esse “circo” e o que ele simboliza...
Miséria em grafite
“Temos de mostrar ao mundo e a nós mesmos que, de fato, a
situação não é boa...”.
Paulo Ito, artista brasileiro, criador da primeira imagem
viral da Copa de 2014 no Brasil.
No dia 10 de
maio do corrente, tendo como suporte o portão de uma escola, no bairro da
Pompéia, em São Paulo, o grafiteiro Paulo Ito pintou um mural, no qual um
menino, sentado à mesa, chora de fome diante de um prato, que, ao invés de
comida, tem uma bola de futebol. Segundo o pintor de rua, em entrevista ao Brasil Post, publicada no dia 21 de
maio, a sua intenção foi a de expor a desigualdade social no país. Explícita,
“a crítica faz coro às manifestações” que pululam por toda parte às vésperas do
evento. “E não demorou muito para que se espalhasse pelas redes sociais
instantaneamente, repercutindo internacionalmente. Depois de compartilhada pelo
ator e diretor italiano Giovanni Vernia OOH, a imagem foi curtida mais de 25
mil vezes e compartilhada por mais de 25 mil pessoas”, logo virando manchete
das principais publicações jornalísticas do mundo. Para o artista: — Acho isso
muito positivo. Fico imaginando que, talvez expondo os problemas do país, a
classe política apática possa pensar em criar o mínimo de vergonha na cara.
Porém,
as críticas do muralista paulistano não se limitam aos políticos brasileiros,
mas, sobretudo, ao principal organizador da Copa do Mundo: — Minha vontade
mesmo era chutar a Fifa nas bolas, porque ela manda e desmanda como uma criança
mimada nesse evento que, claro, é dela, uma empresa privada, mas as autoridades
se dobram demais à ela. Acho que é importante o brasileiro entender que não se
trata da Copa do Mundo de futebol, mas, sim, da Copa da Fifa.
Propaganda enganosa
No seu discurso de posse
(1° de janeiro de 2011), num acesso, digamos, de delírio, a presidente Dilma
Rousseff alardeou que não iria descansar enquanto houvesse “brasileiros sem
alimentos na mesa”, enquanto houvesse “famílias no desalento das ruas”,
enquanto houvesse “crianças pobres abandonadas à própria sorte”, ou seja,
enquanto não erradicasse a pobreza extrema no Brasil – um jargão dos
economistas para miséria –, em seus quatro anos de mandato.
Esta
seria, no caso, a luta mais obstinada da presidente então recém-empossada,
inclusive com a criação de oportunidades para todos – fala, aliás, por demais
comovente e poética. Ocorre que, oito anos antes, o ex-presidente Lula já havia
dito praticamente a mesma coisa, aparentemente, contudo, apostando as suas
fichas na chamada inclusão social, inicialmente
através do programa Fome Zero, mas que, ao final do seu segundo mandato, resumiu-se
ao assistencialista Bolsa Família, não cumprindo, portanto, com a sua promessa.
Curiosamente, ao longo do seu mandato e com este expirando-se, Dilma Rousseff igualmente
não erradicou a miséria no Brasil – para ela, “a forma mais trágica de atraso”
–, limitando-se a dar continuidade ao assistencialismo do seu antecessor, ou
seja, a ficção repete-se – o detalhe é que, historicamente, o Partido dos
Trabalhadores (PT) sempre criticou negativamente esse tipo de prática.
O fato é que, apesar de estudos
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) ter confirmado, antes mesmo
da posse de Dilma Rousseff, que a previsão mais aproximada para a eliminação da
miséria seja o ano de 2016, não menos, os quase doze anos de mandato do PT à
frente do Executivo, independentemente dos seus aliados, circunstanciais ou
não, somados a todos os recursos mal aplicados por seus respectivos governos ou
canalizados em prol de interesses escusos numa sangria que permanece desatando durante
todo esse período, daria, sim, caso realmente houvesse interesse, para já se
ter erradicado essa chaga social do Brasil. Infelizmente, embora essa realidade
seja deplorável, indigna e desumana – daí, indigesta –, a sua erradicação foi
relegada a um plano qualquer, ou seja, posta em escanteio, caída no
esquecimento, visto que, afinal, como bem o disse o jornalista
brasileiro Arnaldo Jabor: — A miséria não acaba porque dá lucro...
SALVE A
SELEÇÃO?
O Brasil faz a Copa!
E, no país do futuro,
explode coração.
A gente está com fome:
uns, com fome de comida;
outros, com fome de amor,
já que nem todo prazer é vida,
pode ser SIDA.
Mas, o Brasil faz a Copa!
E, no país do futuro,
a comida apodrece, estocada.
Estocado o afeto.
Mas, aí, pagam com cartão de crédito,
genocídio, chacina, extermínio:
índios, negros e brancos.
Quantas crianças...
Mas, o Brasil faz a Copa!
E, no país do futuro,
a impunidade não é mais segredo.
O político deposto, altivo e liberto;
o indigente, no olho da rua.
Sem teto, sem terra, sem nada.
E nada é real!
Onde está o dinheiro?
Mas, o Brasil faz a Copa!
E, no país do futuro,
explode coração, de dor.
E doa em quem doer.
Doa quem quer.
E seja lá o que for,
o que deus quiser,
já que – dizem – ele é brasileiro.
E, no país do futuro,
explode coração.
A gente está com fome:
uns, com fome de comida;
outros, com fome de amor,
já que nem todo prazer é vida,
pode ser SIDA.
Mas, o Brasil faz a Copa!
E, no país do futuro,
a comida apodrece, estocada.
Estocado o afeto.
Mas, aí, pagam com cartão de crédito,
genocídio, chacina, extermínio:
índios, negros e brancos.
Quantas crianças...
Mas, o Brasil faz a Copa!
E, no país do futuro,
a impunidade não é mais segredo.
O político deposto, altivo e liberto;
o indigente, no olho da rua.
Sem teto, sem terra, sem nada.
E nada é real!
Onde está o dinheiro?
Mas, o Brasil faz a Copa!
E, no país do futuro,
explode coração, de dor.
E doa em quem doer.
Doa quem quer.
E seja lá o que for,
o que deus quiser,
já que – dizem – ele é brasileiro.
Do baú... De minha autoria, o poema acima foi criado em
Paris, 25 de setembro de 1993.
SIDA: Sigla não americanizada da AIDS,
ou seja, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
Revisado, corrigido e atualizado:
Brasília-DF, 13 de março de 2008.
Depois do dia 30 de outubro de 2007,
quando o Brasil foi eleito para sediar a Copa de 2014, o verso “O Brasil vai à
Copa!” foi substituído por: “O Brasil faz a Copa!”, ganhando ainda mais
sentido.
Em 2014, mais recentemente, devido a minha indignação cada vez maior com
todo o esquema montado para a promoção do evento no país, substituí a
exclamação do título por uma interrogação.
A
COPA DOS ROMBOS (21 de maio de 2011) – http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/2011/05/copa-dos-rombos-um-coracao-sensivel.html
COPA
DE 2014: UM GOL CONTRA O BRASIL (10 de maio de 2012) – http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/2012/05/copa-de-2014-um-gol-contra-o-brasil.html
UM
FANTASMA RONDA OS TRÓPICOS (24 de maio de 2014) – http://abagagemdonavegante.blogspot.com.br/2014/05/um-fantasma-ronda-os-tropicos.html
Nathalie
Bernardo da Câmara
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