Arte:
Renato Aroeira
“Saúde
é a ausência do medo”
–
Sérgio Arouca (20/08/1941 - 02/08/2003),
médico
sanitarista e político brasileiro.
JUNHO. Em reposta responsável
à celerada decisão do presidente Jair Bolsonaro de sonegar informações à
população brasileira sobre tudo o que diz respeito à pandemia do novo
coronavírus – uma questão de saúde pública –, veículos da imprensa nacional
criaram um consórcio com o objetivo de, conjuntamente, coletar e divulgar dados
sobre a doença de nome Covid-19, que desencadeia infecções respiratórias,
podendo levar à morte. Sim, uma parceria para colher informações junto às
secretarias de saúde dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal, a fim de
que os brasileiros acompanhem a dinâmica dos contágios e o total de óbitos
provocados pela doença, além dos números de casos testados e com resultado
positivo para o novo coronavírus. Tanto que, no dia 31 de agosto, o Brasil
registrou 619 novas mortes em apenas 24 horas, contabilizando 121.515 óbitos...
No dia 1˚ de agosto, entretanto,
contrariando a quarentena, orientada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 11 de março – mês em
que foi registrada a primeira morte pela Covid-19 no Brasil, embora o primeiro
caso positivo no país, apesar de assintomático, datar de 26 de fevereiro –, governantes
e prefeitos, mesmo em plena pandemia, decidiram pela liberação de espaços
públicos em praticamente todo o território brasileiro. Lamentavelmente, pessoas
que nunca defenderam a quarentena exultaram, apenas reiterando os seus atestados
de insanidade. Porém, é sabido que certas autoridades se submeteram à referida
liberação por sofrerem pressão do setor econômico, que, aliás, nunca disfarçou
o seu desdém pelo isolamento social; outras, no entanto, tomaram essa
decisão por defenderem escusos interesses, além de visarem as campanhas eleitorais
municipais iminentes.
Um paradoxo! Sim, porque, levando em conta a alta de mortes que a liberação de espaços públicos é capaz de provocar, quem sobrará para comparecer às urnas nas próximas eleições municipais, nem que seja para eleger ou reeleger políticos de má fé, bem como gerar lucros para incautos e empedernidos capitalistas? Infelizmente, a liberação de espaços públicos, precipitada e criminosa, continuará, indubitavelmente, ceifando ainda mais a vida de um sem fim de pessoas. Início de agosto, contudo, lendo uma reportagem, aprendi um novo termo relacionado à pandemia, ou seja: ‘distanciamento social’ – até então, os termos “em voga” eram ‘quarentena’, que passei a chamar de ‘retiro domiciliar’ por considerar um termo aparentemente menos opressor em relação ao angustiante fato, embora necessário, de permanecermos durante vários meses em “reclusão” no nem sempre aconchegante, devido as circunstâncias, lar doce lar; ‘confinamento’ e ‘isolamento social’.
O fato é que, apesar
de haver parte da população brasileira que, por sua consciência e sensatez,
sempre foi a favor da quarentena, sem sequer questioná-la, outra parte
dessa mesma população, sem dúvida alguma alienada e inconsequente, sempre
questionou tal necessidade – em si, indiscutível –, “alimentando”, assim,
estéreis polêmicas, além de contribuir com a disseminação do vírus. Só que, se
mesmo quando todos deveriam, conscientemente, permanecer isolados, socialmente falando
– isolamento esse muitas vezes flexível (ainda mais agora) –, não foram poucos
os que ignoraram a quarentena desde o seu início, ainda agindo com descaso em relação às demais medidas sanitárias adotadas a fim de evitarem a proliferação do vírus,
menosprezando o uso de máscaras e, o que é mais grave, promovendo
aglomerações – aglomerações essas que, com a liberação de espaços públicos,
apenas aumentaram e continuam aumentando a propagação do vírus e, portanto, os
casos de óbitos.
Daí uma curiosidade...
Segundo o jornal Tribuna do Norte (03/08/2020), o Rio Grande do Norte
“começou o mês de agosto com o menor índice de quarentena do Brasil”, o
que é gravíssimo: apesar da liberação de bares, restaurantes, academias e
shoppings centers com, detalhe, ar-condicionado, entre outros espaços públicos,
apenas 37,64% da população potiguar continuou a respeitar a quarentena,
passando a vigorar o incongruente ‘distanciamento social’ – inclusos aí os
“cuidados” com a ‘exposição individual’... É, contradições maiores não podiam,
pois as recentes decisões das “autoridades” políticas do país só contrariam os
alertas de especialistas médicos do mundo inteiro, que insistem na continuidade
da quarentena, posto que a pandemia continua a pleno vapor, livre, leve
e solta. Isto é, um fato.
Sem falar daqueles
que são assintomáticos, ou seja, são expostos ao corona, contraindo-o, mas não
desenvolvem a doença, embora sejam potencialmente transmissores do vírus. De
fato, muitos estão sendo negligentes em relação à gravidade do problema ora enfrentado, ignorando,
no caso, o exemplo da Gripe Espanhola (1918 - 1920), a maior pandemia do Século XX, que, segundo a OMS, matou cerca de 50 milhões de pessoas no mundo inteiro. Não à toa, lembrei-me do respeitado camarada Sérgio Arouca, que
citei na epígrafe desta postagem... O que diria e faria, então, eu perguntaria,
numa situação periclitante como essa, que é a pandemia do coronavírus, o
renomado sanitarista brasileiro, já falecido, que, inclusive, de 1985 a 1988, ocupou
a presidência da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz) e foi um dos responsáveis pela construção do Sistema
Único de Saúde (SUS)? Falando nisso, e a vacina contra a Covid-19?
Segundo a Fiocruz, a estimativa é a de que as primeiras
doses do insumo cheguem à população no início de 2021 e sejam distribuídas por
meio do Programa Nacional de Imunização (PNI),
que atende ao SUS. De acordo, ainda, com a Fiocruz, a previsão é a
de que, inicialmente, sejam produzidos 100 milhões de doses a partir de insumos
importados, mas a sua produção integral só deverá começar a partir de abril do
próximo ano. Isso mediante acordo entre a Fiocruz
e a AstraZeneca, um conglomerado farmacêutico anglo-sueco, que resultou de
tratativas entre o governo brasileiro e o governo britânico, anunciado em 27 de
junho pelo Ministério da Saúde (MS), com a parceria prevendo a assinatura de um
acordo de encomenda tecnológica na primeira semana do corrente e o
desenvolvimento de uma plataforma para outras vacinas, como, por exemplo, a da
malária, ressaltando que, para produção e aquisição da vacina contra a Covid-19
produzida pelo laboratório AstraZeneca e a Universidade de Oxford, o governo
brasileiro liberou um crédito extraordinário de R$ 1,9 bilhão.
Enfim! Enquanto a
vacina não vem, é como disse uma querida e estimada amiga, jornalista, advogada
e bailarina brasileira: — O mar está revolto e precisamos aprender a navegar e
nadar.
Nathalie
Bernardo da Câmara
P.S.: Concluindo esta postagem, atualizei-me
da quantidade de óbitos pela Covid-19. Se ontem, dia 31 de agosto, foram
registrados 121.515, hoje, 1˚ de setembro, já são 122.596... Sim, uma realidade
que requer a retomada de medidas austeras por parte das autoridades e dos
próprios cidadãos, sem flexibilidades, já que, afinal, a situação do Brasil só
não é mais grave porque o país, de dimensões continentais, está localizado nos
Trópicos e, como é sabido, o coronavírus prefere o frio ao calor, o que,
entretanto, não impede que ele cause estragos por onde quer que passe. Não à toa, #FiqueEmCasa
Links
consultados:
Covid-19: Brasil tem 1.215 mortes nas últimas 24h; total ultrapassa 122
mil: https://olhardigital.com.br/coronavirus/noticia/covid-19-brasil-tem-1-215-mortes-nas-ultimas-24h-total-ultrapassa-122-mil/98089
Covid: Brasil registra 619 novas mortes em 24 h e chega a 121.515 óbitos: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/08/31/covid-19-mortes-casos-31-agosto.htm
Ministro Pazuello visita Fiocruz para acompanhar
cronograma de entrega da vacina contra a Covid-19: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/47422-ministro-pazuello-visita-fiocruz-para-acompanhar-cronograma-de-entrega-da-vacina-contra-a-covid-19
Pandemia de
coronavírus no Brasil continua “muito preocupante”, alerta OMS: https://www.msn.com/pt-br/saude/coronavirus/pandemia-no-brasil-continua-a-ser-muito-preocupante-declara-oms/ar-BB17vLRH?li=AAggXC1&ocid=mailsignout
RN tem o
menor índice de isolamento social no Brasil: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/rn-tem-menor-a-ndice-de-isolamento-social-do-brasil/486343
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