Arte: Duke
“A vacinação
é uma forma segura de eficaz de prevenir doenças e salvar vidas” – Tatiana
Guimarães de Noronha, médica brasileira com especialização em infectologia
pediátrica, mestre em saúde pública e doutora em epidemiologia.
Por
Nathalie Bernardo da Câmara
Baía
Formosa (RN), 14/01/2022
Num tempo onde uma pandemia, a do novo
coronavírus, está sendo por muitos pontuada em duas, a dos vacinados e a dos
não vacinados, gerando conflitos entre os seus respectivos defensores em
diversos países, é de tirar o chapéu, no quesito vacina, para o município de Baía Formosa, no litoral sul do Rio
Grande do Norte, que, mediante estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) de 2020, tem cerca de 9,3 mil habitantes e onde
testemunhei uma louvável iniciativa por parte das autoridades locais: apesar de
existirem dois pontos fixos de vacinação contra a covid-19 no centro urbano de
Baía Formosa, os dos distritos de Sagi e de Pituba, além do da destilaria de
cana-de-açúcar, unidades móveis de vacinação circulam certos dias pelas ruas da
cidade indo ao encontro da população, aqui e acolá parando para que as pessoas
que queiram possam vacinar-se.
Porém, se, por algum motivo, você não pode
deslocar-se até um dos pontos fixos de vacinação ou, então, ir ao encontro de
uma dessas unidades móveis – isso nos dias em que elas circulam –, basta ligar
para os responsáveis que uma delas vai até a sua casa. Como no dia 11/01,
segundo a minha carteira de vacinação, quando eu deveria receber a minha dose de
reforço – as duas primeiras (Oxford) tomei em drive-thrus de Natal (RN). Daí, procurei informar-me onde, em Baía
Formosa, poderia vacinar-me. De posse da informação, fui até uma unidade móvel,
que estava perto, chamando-me ainda mais a atenção a solidariedade dos
transeuntes, ajudando-nos a localizar a unidade que procurávamos.
Localizando-a, vacinei-me (Pfizer) no meio da rua...
Foto: Tereza
Cristina Bernardo da Câmara
Pouco depois, em casa, chegou uma unidade
solicitada por uma amiga para me vacinar, mas, como eu já me vacinara, agradeci
pela atenção. O fato é que, como a procura pela vacinação arrefeceu durante a
segunda dose, a iniciativa da secretaria Municipal de Saúde de Baía Formosa em
levar a vacina à população, inclusive durante eventos após o início da
vacinação na região, por mais questionáveis e/ou desnecessários que eles sejam,
diversas vezes tal iniciativa tem garantido que o município fique no topo dos
que mais vacinam no RN, com as unidades móveis sendo responsáveis por 60% do
avanço do índice de vacinação local, ou seja, uma iniciativa pertinente. Tanto
que, segundo documentos oficiais sobre a situação vacinal em Baía Formosa, já
foram administradas 15.016 doses de vacina no município até 11/01/2022 (dados
não atualizados).
Desse total, 7.031 correspondem à primeira
dose; 6.287 à segunda; 1.500 foram doses de reforço e 198 referem-se
à dosagem única. Agora, no que tange ao contingente populacional do município,
7.229 pessoas (77,54%) já receberam pelo menos uma dose da vacina, 6.485
completaram o ciclo vacinal (69,56%) e 1.500 pessoas tomaram a dose de reforço
(16,09). De acordo com o site da
prefeitura de Baía Formosa, foram registrados 446 casos de infecção pela
covid-19 e 13 óbitos desde o início da pandemia, em março de 2020 – dados, não
atualizados, colhidos em 08/01/2022.
Foto: Nathalie
Bernardo da Câmara
A incógnita, entretanto, é, de certa forma,
compreensível, uma vez que, como em demais locais do país e do mundo, sabemos
que, apesar dos casos notificados, muitos ficam de fora dos registros, já que
nem todos, por algum motivo, mesmo diante da sintomatologia da doença, não
fazem o teste que detecta a presença do vírus no organismo e, portanto, os
números, na realidade, são maiores do que os registrados, sobretudo depois que
vários estados brasileiros estão vivendo um duplo drama: de um lado, a pandemia
do novo coronavírus, do outro epidemias de influenza H3N2, o vírus de uma
gripe, que, sem melindre algum, tem sido implacável, com o agravante de que os
sintomas de ambas as doenças invariavelmente são confundidos pelas pessoas, com
muitas delas pensando que estão com gripe, quando, na verdade, estão com a
covid-19.
Uma situação que, aliás, se agravou ainda mais após a identificação, em novembro de 2021, da nova variante, a ômicron, cuja rapidez de transmissão tem consideravelmente aumentado os casos de infecção no planeta, além do fato de que, no Brasil, o site oficial do ministério da Saúde (MS) sofreu um suposto ataque hacker no dia 10/12, o que comprometeu o monitoramento da pandemia do novo coronavírus e o avanço dos casos de influenza nos estados brasileiros...
Arte: Jean
Galvão
E, assim, perdurando até hoje, o apagão dos
dados provocou inúmeros prejuízos no que concerne à saúde pública, deixando
os especialistas às cegas para, por exemplo, estimar a dinâmica de transmissão
da ômicron, cujos primeiros casos no país aconteceram em São Paulo no dia 30/11/2021.
No RN, as duas primeiras amostras positivas da nova variante foram confirmadas pela
secretaria de Estado de Saúde (Sesap), em 03/01/2022 – as amostras foram coletas
em dezembro passado e o seu sequenciamento genômico feito pela Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz), embora ainda não se saiba se Baía Formosa já tenha algum caso
confirmado da ômicron, apesar de, em agosto de 2021, um episódio curioso tenha
envolvido o município, o segundo do RN a aplicar a primeira dose em todos os
adultos acima de 18 anos, concluindo a etapa em 03/08/2021.
Ocorre que, após iniciar a imunização de
adolescentes com comorbidades e dos estagiários em áreas como saúde, educação,
assistência social e indústria, em 18/08/2021, o município anunciou a ampliação
da vacina para os adolescentes entre 12 a 17 anos de idade já a partir do dia
seguinte, tornando-se a primeira cidade do RN a contemplar o público dessa
faixa etária. Só que, aí, a Sesap reagiu, notificando a prefeitura de Baía
Formosa por antecipação ao cronograma, visto que, ainda em 18/08, a Comissão de
intergestores Bipartite, que conta com representantes dos municípios do estado,
acordou que a vacinação de adolescentes só começaria depois que todos os
municípios concluíssem a aplicação da primeira dose no público adulto, posto
que a intenção do governo do RN era a de “iniciar a vacinação de adolescentes
de 12 a 17 anos no início de setembro” (g1
RN, 19/08/2021).
À época, ainda segundo a reportagem, “pelo
menos 45 municípios no estado” já vacinavam “o público de 18 anos, concluindo o
ciclo [vacinal] na população adulta”. Porém, superado o “escândalo”, Baía Formosa
seguiu de vento em popa administrando vacinas na população, com as suas
unidades móveis de saúde e a de outros municípios brasileiros que também
tiveram a mesma iniciativa servindo de exemplo, principalmente diante da estupidez
que é a ‘pandemia dos não vacinados’...
Arte: Adão
Sem falar que o gesto é uma lição de cidadania
para os que se valem de argumentos esdrúxulos a fim de não tomarem a vacina, inclusive
negando a sua capacidade de imunização, sendo exatamente os sem noção o público que tem ocupado e
lotado os leitos dos hospitais do Brasil e os de demais países, sobrecarregando
os sistemas de saúde do mundo – isso quando eles não perdem a própria vida em
decorrência da sua alienação... Enfim, para a secretária de Saúde de Baía
Formosa, Poliana Patrícia Pereira de Araújo, “a principal preocupação da atual
gestão durante a pandemia tem sido sempre a prevenção”, algo que, aliás, convenhamos,
não rima com aglomeração. Isso porque, apesar do empenho do município,
turístico por excelência, em administrar o maior número de vacinas possível, além
de promover campanhas de conscientização sobre a importância da vacinação, os
comportamentos da população e o dos turistas estão aquém das expectativas.
Infelizmente, o que se tem visto é uma quantidade considerável de pessoas sem nenhum cuidado com prevenção, circulando na cidade sem álcool em gel 70% ou álcool líquido 70%, sem máscaras, sem respeitar o distanciamento social e aglomerando-se, sejam nas ruas, praças, mirantes, praias, mercados, padarias, bares, restaurantes, pousadas, espaços religiosos, lojas comerciais, isto é, estabelecimentos públicos e/ou privados que, em sua maioria, não possuem ventilação natural nem sistemas de circulação de ar, com portas fechadas, sem janelas e, o que é pior, uma alta rotatividade de clientes, dando a impressão de que se está noutro planeta, sem pandemia nem surto de síndrome gripal – comportamento esse, embora em menor grau, mas não menos temerário, pois se vivia a primeira onda da pandemia e muita coisa ainda era incerta, que também testemunhei à época da quarentena, em 2020... Realmente, um disparate, quando, convenhamos, o ideal seria a prevenção, incluindo a vacina, óbvio, que aumenta as defesas do organismo humano.
P.S. Depois de todo um discurso em defesa da vacinação e de medidas sanitárias de prevenção contra o novo coronavírus (covid-19) e a influenza H3N2 (gripe), além de terminantemente contrária a todo e qual tipo de aglomeração, não importa a sua natureza, durante a pandemia, que, aliás, não tem hora marcada para terminar, não poderia deixar de citar os aglomerados que já começaram a pulular na cidade com o lançamento da primeira edição do BF Music Long Festival 2022, evento que teve início nesta sexta-feira, 14, em Baía Formosa. Começando às 17h com a inauguração da escultura feita pelo artista plástico potiguar Guaraci Gabriel em homenagem ao primeiro campeão olímpico de surfe, o brasileiro Ítalo Ferreira, e contando com a presença da governadora do RN, Fátima Bezerra, o evento em si vai até domingo, 16/01 – no dia seguinte, feriado, comemora-se o 63° aniversário do município, cuja emancipação política remonta a 17 de janeiro de 1959.
Então, natural de Baía Formosa, Ítalo Ferreira foi
não somente o primeiro surfista do mundo a conquistar a medalha de ouro na
primeira disputa histórica da modalidades esportiva que estreou na edição das
Olimpíadas de Tóquio 2020, mas, nem por isso, justifica a inauguração com
público de uma escultura em sua homenagem e festivais de surfe e de música em
plena pandemia do novo coronavírus, sobretudo com o avanço desenfreado de casos
de infecção pela ômicron, variante com alto grau de contágio, além do surto de síndrome
gripal, causado pela influenza H3N2. Por fim, as aglomerações dos próximos três
dias em Baía Formosa destoam cabalmente das medidas de biossegurança para a
prevenção e controle da covid-19 que deveriam vigorar no município, permanecendo
envoltas em turvas ondas de porquês...
Links
consultados:
Prefeitura Municipal de Baía Formosa
https://baiaformosa.rn.gov.br/#
STF vai julgar apagão de dados do ministério
da Saúde – Migalhas (13/01/2022):
https://www.migalhas.com.br/quentes/357966/stf-vai-julgar-apagao-de-dados-do-ministerio-da-saude
Fiocruz confirma primeiro caso da variante
ômicron no Rio de Janeiro, por Agência O
Globo – Exame (20/12/2021):
https://exame.com/brasil/fiocruz-confirma-primeiro-caso-da-variante-omicron-no-rio-de-janeiro/
Baía Formosa é a 1ª cidade do RN a vacinar
adolescentes a partir de 12 anos; Sesap notifica município por antecipação – g1 RN (19/08/2021):
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