segunda-feira, 8 de março de 2010

GOIÂNIA É POESIA...


“Goiás é mulher; Goiânia é menina...”.

Borgha, poeta brasileiro
Doce poesia


Goiânia, em Goiás, no Brasil, é tão impressionante que, recentemente, para descansar, estive lá, de passagem, e achei que estava vendo o mar. Sim, porque só deve ser isso que falta para a cidade se tornar ainda mais especial. E, para minha surpresa, voltei a confirmar a tão decantada hospitalidade de um povo excepcional e generoso, apesar de um desgosto emocional que senti tão logo eu cheguei e do grande susto que passei por quase ter sido atropelada. E duas vezes, no mesmo dia, de noite, quando tive de atravessar a Avenida Anhanguera, que, fiquei sabendo depois, é a mais “importante” e, como não poderia deixar de ser, a mais perigosa e a mais desordenada, devido muitos motoristas de carros de passeio e de ônibus incorporarem, ao volante, verdadeiros kamikazes.

E tudo isso apenas porque, segundo um médico que consultei em Brasília, quando, uma semana antes, tive um pico de pressão arterial, eu teria, um dia sim e um dia não, durante quinze dias, de verificar a minha pressão, para poder acompanhá-la e saber se eu estava ou não desenvolvendo hipertensão. Assim, como no dia em que cheguei a Goiânia era dia da tal verificação, informei-me onde ficava a farmácia autorizada mais próxima de onde estava hospedada para tal procedimento. Infelizmente, a dita cuja estava localizada exatamente nas proximidades da tal avenida. Resumindo: nas duas vezes, achei que não ia escapar e, por não querer sentir a dor de um iminente impacto, de repente fatal, fechei os olhos e me abstrai, esperando sabe-se lá o quê.

Afinal, no Brasil, só em Brasília os carros param antes da faixa, dando preferência aos pedestres. E eu estou acostumada a isso, coisa que, em Goiânia, não existe. E nem adianta pedir ao motorista para parar. Ele não para. Aí, salve-se quem puder! Afora isso, Goiânia é do bem. Mas, afinal, como nasceu Goiânia? Quem teve a inusitada idéia de construir essa cidade no meio do nada, em solo inóspito, pleno Cerrado? Segundo dados históricos, a Pedra Fundamental de Goiânia foi lançada no dia 24 de outubro de 1933, data em que se comemora o aniversário da cidade, fundada pelo médico e jornalista goiano Pedro Ludovico Teixeira (1891 - 1979), à época, governador de Goiás. No entanto, Goiânia só é oficialmente inaugurada no dia 5 de julho de 1942.

Porém, o grande mentor intelectual da criação e divulgação da nova cidade que emergia foi o engenheiro agrônomo e jornalista norte-rio-grandense Joaquim Câmara Filho (1899 - 1955), braço direito do próprio Pedro Ludovico, que o considerava “a alma da propaganda de Goiás”. Por sua atuação a frente do Departamento de Propaganda e Expansão Econômica de Goiás – DPEE, que assumiu em 1933, Câmara Filho revolucionou o marketing, a propaganda e a comunicação no Estado, sendo responsável, ainda, por inúmeros feitos e empreendimentos nas mais diversas áreas. Em seu livro Câmara Filho: o revoltoso que promoveu Goiás, publicado pela Organização Jaime Câmara, em 1989, o jornalista e historiador goiano José Asmar (1924 - 2006), reconheceu...

O seu biografado sempre foi “o maior comunicador do Brasil Central”, sobretudo porque, em 1938, juntamente com os irmãos Jaime (1909 - 1989) e Rebouças (1898 - 1973), ele fundou o jornal O Popular, embrião da Organização Jaime Câmara, maior complexo de comunicação do Centro-Oeste. Pois é! C’est l’Histoire... O fato é que, apesar dos poucos dias que passei em Goiânia, acatei a recomendação de uma amiga jornalista, que, certa tarde, através de um e-mail, me sugeriu comer costelinhas fritas de caranha, um tipo de peixe de água doce, que, até então, eu nunca tinha ouvido falar, preparadas por um senhor jornalista, amigo seu, dono de um estabelecimento que leva o seu nome: Bar do Elpídio, que fica no Mercado Popular da Rua 74, no centro de Goiânia.

Ocorre que, justo naquele dia – pasmem! –, fazia 40 graus. Assim, chegando no tal bar, as famosas costelinhas de caranha – especialidade da casa – foram-me fartamente servidas, acompanhadas de uma cerveja gelada, e devidamente degustadas por mim. Imperdível! Do mesmo modo que recomendo, também no centro, na Rua 4, n° 134, loja 11/12, a Natural Alimentos, que oferece aos seus clientes, habitués ou não, os mais diversos tipos de produtos naturais – não preciso dizer que fiz amizade com o casal dono da loja, que, inclusive, me indicou uma massoterapeuta, com quem fiz uma sessão de shiatsu, acupuntura e reike para enfrentar as adversidades emocionais e jurídicas que me esperavam em Brasília, que, aliás, quando retornei, estava com uma temperatura climática extremamente baixa.

Sim, por mais incrível que possa parecer, dormi, em Brasília, com cobertor, diferentemente da sua vizinha Goiânia, onde eu dormia pelada... Mas, bom! Conhecida, igualmente, por suas esculturas a céu aberto, monumentos e prédios de estilo arts déco, Goiânia teve vinte e duas das suas edificações tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN em 2003, com destaque para o monumento As Três raças, criado em 1968 pela escultora goiana Neusa Moraes. Com sete metros de altura e pesando trezentos quilos, a escultura se encontra na Praça Cívica, no centro da cidade, e representa o negro, o branco e o índio, raças que fundaram o povo goiano – acolhedor por excelência. Um detalhe, inclusive, da referida escultura, pode ser observado ilustrando a abertura do presente post.

Enfim! Aproveitando o Dia Internacional da Mulher, comemorado 8 de março, gostaria de lembrar quatro mulheres em especial, ressaltando que todas as demais, no mundo inteiro, sintam-se, igualmente, homenageadas. A primeira das mulheres, portanto, para quem desejo manifestar a minha lembrança é a minha mãe, Salete Bernardo, que, no próximo dia 23 de abril, completa setenta anos de idade; a segunda, por sua vez, é Simone Gorria, uma amiga francesa que, no dia 5 de maio, completa oitenta anos de idade. Já a terceira mulher é a minha avó materna, dona Conceição, que, no dia 1° de abril completa noventa anos de idade, enquanto a quarta mulher é a poetisa e doceira brasileira Cora Coralina, que, se viva, completaria, em 2010, cento e vinte e um anos de idade.

A minha homenagem à Cora Coralina, nascida na Cidade de Goiás, no dia 20 de agosto de 1889, deve-se, portanto, a beleza da sua poesia e a musicalidade dos seus versos, a sua trajetória de vida e a sua origem goiana, além do meu apreço pelos seus versos desde criança, diante da sua força e ousadia em publicar o seu primeiro livro de poemas – Poemas dos becos de Goiás e estórias mais – aos setenta e cinco anos de idade, em 1965. O desfecho ideal, eu diria, para este post, que nada mais é que uma reverência a Goiânia, onde, aliás, a poetisa veio a falecer no dia 10 de abril de 1985. Daí fazer minhas as palavras do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade (1918 - 1930), um mineiro de nascimento, gestos e atitudes: “Não morre quem passou cantando pela vida a música de seus versos”...

Nathalie Bernardo da Câmara

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