domingo, 28 de março de 2010

NÃO SOMOS
BUCHA DE CANHÃO!


“Cidadania é a condição da democracia...”.

Herbet de Souza, o Betinho (1935 - 1997), sociólogo brasileiro



Realizando uma pesquisa na internet, deparei-me, meramente por acaso, com o artigo Voto obrigatório x Consciência Política, de autoria de Giovana Barbosa, formada em Ciências Contábeis, pós-graduada em Direito Eleitoral e Direito Processual Eleitoral, além de repórter de Política. Postado no dia 26 de março de 2008 no blog Jornal Comunicação – laboratório do curso de jornalismo da Universidade Federal do Paraná –, o artigo continua bastante atual. Decidi, então, pela lucidez política da autora e pela pertinência da abordagem dada ao tema, sobretudo quando este ano de 2010 haverá eleição no Brasil, transcrever o referido artigo em meu blog, contribuindo, a meu ver, com a sua tão necessária divulgação.

Nathalie Bernardo da Câmara







VOTO OBRIGATÓRIO
X
CONSCIÊNCIA POLÍTICA



por Giovana Barbosa


Estamos em ano eleitoral. No próximo mês de outubro estaremos novamente frente à urna eletrônica, com ou sem candidatos pré-definidos.

Diante do descaso político, das constantes denúncias e, principalmente, da impunidade que nos agride diariamente, é possível observar um processo de cada vez menos interesse da população por seus eleitos. É mais fácil sabermos quem são os candidatos à presidência americana do que quem são os paranaenses que deverão disputar uma vaga na assembléia a partir de 2009.

Nossa carta Magna nos impõe, entre outras responsabilidades, a obrigatoriedade do voto. É simples. É concreto. Não vote, não compareça, não justifique sua ausência e você terá uma série de complicações perante a justiça, entre elas, por exemplo, problemas com passaporte, CPF, concursos públicos. Em contrapartida, usufruir do direito de votar nos garante o quê, diante de tanto descrédito político?

Várias pessoas são escutadas à beira da eleição e colocam sua indignação e sua posição contrária a essa obrigatoriedade. O dia de eleição nada mais é que um dia em que se encontram os amigos na porta das escolas, das igrejas, dos locais de votação. A importância política é a mesma que se dá a um acidente de trânsito que não comprometeu nenhum de nossos amigos ou parentes.

Vivemos um processo democrático. Precisamos de representação política diante de vários assuntos que afetam o bem estar comum e a sociedade em que estamos contextualizados. Mas existe uma carência, um vácuo nos princípios básicos constitucionais: se lida com miséria, fome, sede, ignorância escolar. Obrigações e deveres do Estado são trocados por outras responsabilidades que não deixam alternativas para quem quer exercer o bem pela pátria.

A consciência do voto, seja ele branco, nulo ou direcionado, tem um preço. Tem um valor, seja para quem dá, seja para quem recebe. Quem anula o voto, diminui as chances de ter uma representação. Quem o deixa em branco, permite que sua voz também seja um eco no espaço. Quem se ausenta, é como se não se importasse com quem habita as cadeiras legislativas de sua cidade, estado e nação. Mas quem responde ao chamado da justiça eleitoral consciente de sua obrigação, e a encara como uma responsabilidade, e não como um fardo, tem a chance de permanecer vivo nesse mundo brasileiro que parece tão inalcançável.

Ter o voto obrigatório pode parecer injusto numa democracia. Talvez, fosse ele facultativo estaríamos nós, brasileiros, numa situação mais cômoda e inerte (do tipo 'tô nem aí') e ainda os eleitos teriam que brigar de uma forma mais convincente pelos possíveis eleitores. Temos sim alguns disparates na Constituição que permite aos analfabetos o voto facultativo. A sua grande incoerência é não permitir que sejam eleitos. É como ter uma voz surda. Defeitos de um país que quer abraçar todas as formas possíveis de paternalismo. Um dia vão se dar conta deste antagonismo. Enquanto isso não acontece, nos cabe refletir sobre as conseqüências da ausência de um esclarecimento dos deveres e dos direitos políticos. Da importância da brasilidade, da força da discussão em grupo, da união de pensamentos.

Enquanto não acontece o milagre da educação, enquanto não formos uma nação forte em letras e números, em sentenças e valores, teremos que ser tudo ao mesmo tempo: educadores, salvadores, gerenciadores de opiniões e não simplesmente opressores e críticos.
Enquanto não temos o milagre do voto facultativo, obrigamo-nos a comparecer às urnas e brigar por um número que não é único, mas que é sólido, forte e consciente.
Consciência política começa em casa, começa no berço. Consciência política é saber defender o que é seu e diferenciar o que é do vizinho, desde a bola, a grama, a vaga de garagem. Pense nisso, discuta isso. Fortaleça as opiniões e elas terão capacidade de mostrar que votos só são votos quando são unidos, conscientes e preparados para direitos e deveres do cidadão brasileiro.





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