quarta-feira, 31 de março de 2010

PELO SINAL DA SANTA CRUZ...





”A Bíblia é um livro que glorifica o genocídio...”.

Chomsky, lingüista norte-americano


Distanciada dos noticiários televisivos, entediada com a mesmice de sempre, além de não cultivar o hábito de ler jornais – suja as mãos –, somente na semana passada tomei conhecimento de um fato, ocorrido no início deste mês, que, por sua singularidade, chamou a minha atenção. Ou seja, uma respeitável instituição de ensino laica de Roma, o Liceu Keplero, instalou máquinas para a venda de preservativos a preço de custo nos banheiros reservados aos seus alunos. Espalhando-se feito pavio de pólvora, a notícia chegou ao Vaticano, que, em mais um gesto de sandice, repudiou a iniciativa do estabelecimento de ensino.

Ocorre que, um bem necessário, a medida, profilática, foi tomada em comum acordo entre o conselho de pais e professores da escola, a fim de evitar que os alunos entrem em contato com o vírus HIV e demais doenças sexualmente transmissíveis, bem como evitar a gravidez precoce. Infelizmente, defensor de uma lógica obtusa, o cardeal Agostino Vallini, vigário do papa Bento XVI para a diocese de Roma, censurou a iniciativa do Liceu. Para ele, os educadores desvirtuaram-se da sua verdadeira função – a de rezar na cartilha do Vaticano, por exemplo? –, já que, com essa medida, eles só estão contribuindo com a banalização do sexo. Santa ignorância!

O diretor do Liceu, por sua vez, Antonio Panaccione, declarou à imprensa que a intenção da medida foi a de simplesmente preservar a saúde dos alunos, não a de estimular relações sexuais nem, muito menos, causar polêmicas. O Vaticano, contudo, intransigente que é, nunca aceitando ser voto vencido, prometeu tomar providências, já que, desde 1968, quando Paulo VI publicou a encíclica Humanae Vitae, a Igreja católica condena veementemente todas e quaisquer ações que possam impedir a gravidez. Ora, a questão não é procriar ou não procriar, mas sim evitar a disseminação do vírus HIV e de demais doenças sexualmente transmissíveis.

Polêmicas à parte, o fato é que a iniciativa – louvável – do Liceu Keplero foi bem recebida e apoiada por estudantes de demais escolas de Roma, que saíram pelas ruas da cidade portando cartazes e distribuindo preservativos. O episódio em questão, contudo, não é um caso único, isolado. Alguns países europeus e os Estados Unidos, por exemplo, já adotaram medidas iguais ou semelhantes em diversas das suas escolas, enquanto que, no Brasil, desde 2008, o Ministério da Saúde – referência no mundo na profilaxia da AIDS – determinou que fossem instalados dispensadores de camisinhas em escolas de vários estados do país.

Por isso que, para o diretor do Liceu Keplero, nada justifica a polêmica desencadeada pelo Cardeal, a não ser o fato de o episódio ter ocorrido em Roma, onde – a seu ver – falar de sexo é tabu, já que o Vaticano tenta abafar até mesmo os casos de sacerdotes pedófilos – um empenho desnecessário, visto que a dimensão dos escândalos é aterrorizante. Um dos casos, por exemplo, que anda recebendo tratamento vip da imprensa mundial, chocado a opinião pública e tirado o sono de Bento XVI, diz respeito a um relatório elaborado pela Comissão de Inquérito sobre Abusos de Crianças na Irlanda, presidida pelo juiz Sean Ryan, da Suprema Corte de Justiça irlandesa.

Recebendo o nome de Relatório Ryan, o documento, divulgado em maio de 2009, foi fruto de nove anos de investigações e, segundo comunicado do Movimento Internacional Nós Somos Igreja, “retrata um quadro de violência institucional sistêmica e descreve um conjunto arrepiante de abuso emocional, físico e sexual de crianças internadas em instituições pertencentes a determinadas ordens religiosas durante várias décadas” – ao todo, são dezoito ordens apontadas no relatório, que trouxe a tona um escândalo sem precedentes: menores vítimas de surras, trabalho escravo e violência sexual por sacerdotes da Igreja católica durante todo o séc. XX.



Assim, para os crimes de abusos sexuais, as instituições religiosas visadas no relatório terão de indenizar as vítimas, sendo a maior das indenizações a da Congregação Irmãos Cristãos. Porém, um segundo relatório, divulgado em novembro passado, acusa a Igreja católica da Irlanda de ter, durante décadas, acobertado, com a conivência de autoridades do Estado, casos de pedofilia no país. E, se agora, as indenizações são exigidas pela Justiça, até então vigorava a compra do silêncio das vítimas por quantias exorbitantes. Bento XVI, por sua vez, ao tomar conhecimento da gravidade do escândalo, disse se sentir “angustiado e indignado”.

Quiçá, talvez tenha sido esse o motivo que o levou a escrever uma Carta aos católicos da Irlanda, datada do dia 19 de março, na qual ele pede perdão pelos desvios de conduta de sacerdotes pedófilos na Irlanda. Ao redigir o documento, contudo, teria ele, por acaso, pensado que iria minimizar os danos e os prejuízos físicos e morais causados pelos abusos cometidos por seus pares? Afinal, existem coisas na vida para as quais não tem perdão. Assim, interessada em conhecer o teor da tal carta, acessei o site oficial da Santa Sé na internet e a li na íntegra, apesar de em nenhum momento acreditar na suposta sinceridade dos sentimentos do Papa.

Sim, nem mesmo quando ele disse sentir indignação diante dos abusos sexuais cometidos por padres na Irlanda. O fato é que, por conhecer a vida pregressa de Bento XVI, nada me demove das minhas opiniões em relação ao seu cinismo, como bem o disse o escritor português José Saramago, ao seu caráter duvidoso e ao seu alto grau de periculosidade. Afinal, durante quase longos vinte e quatro anos (1981 - 2005), ele foi o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano. Instituída pelo papa Paulo VI (1897-1978), em 1965, e considerada o quarto e atual estágio da Inquisição, a referida Congregação tem um passado sombrio.

À época da sua indicação para o cargo, aliás, por João Paulo II (1920 - 2005), de quem foi mentor intelectual durante o seu pontificado, de 1978 a 2005, Bento XVI era o cardeal Joseph Ratzinger, então arcebispo de Munique, na Alemanha. Assim, não é de se estranhar muitas das suas posições enquanto Papa – o 8° de origem alemã e o 265° da História –, já que, desde o início do seu pontificado, tem dado provas de que continua pensando como um inquisidor. Enfim! No documento destinado aos irlandeses, Bento XVI ainda propôs aos religiosos da Irlanda, independentemente de hierarquia, o retorno ao que ele chamou de “caminho de cura, renovação e reparação”.

E eu questiono: Existe reparação para não importa qual abuso sexual, sobretudo quando a vítima é uma criança indefesa? Existe reparação para os traumas provocados por tamanha violência? Bom! Em outra passagem da carta, o Papa garantiu que, para evitar o que ele considera pecado, mas que na lei dos homens chama-se crime, a Igreja católica passará a ser mais rigorosa quanto à idoneidade dos candidatos à vida religiosa. Perda de tempo! Afinal, uma das soluções para evitar crimes sexuais cometidos por sacerdotes seria a abolição do celibato, algo, inclusive, que, dependendo do ponto de vista, também pode ser considerado um crime.



Nesse caso, um crime contra a natureza humana. Sem falar que o voto de castidade é não somente uma fraude, mas, também, uma hipocrisia, a exemplo dos demais votos, o de pobreza e o de obediência, embora cada um tenha a sua função e importância para a manutenção de um statu quo caduco. Impossível, portanto, não perceber que a motivação da Igreja católica para criar tais votos foi apenas para encobrir interesses escusos. Não, como se alega, para os sacerdotes reproduzirem o modus vivendi de Jesus, que teria sido pobre, obediente a um suposto deus e supostamente casto, apesar da versão de que ele foi amante de Maria Madalena.

Ou seja, fazendo o voto de pobreza, por exemplo, um sacerdote se despoja dos seus bens – não são poucas as vezes em que ele os transfere para a Igreja –, tornando-se em seguida não obediente, mas submisso a dogmas que, tudo indica – qualquer um percebe –, são frutos de uma mente esquizofrênica. Passando, então, a se comportar como se tivesse sido exposto a uma lobotomia, o sacerdote sequer questiona o voto de castidade e, tacitamente, sem reflexão, o aceita. É como se esquecesse de que o sexo é uma necessidade fisiológica do ser humano, assim como dormir, comer, beber, urinar e defecar, independentemente da sua profissão.

Ocorre que a imposição do voto de castidade não tem nada a ver com a ficcional castidade de Jesus nem é sinônimo de dedicação exclusiva a deus. Nunca o foi. Ao contrário! Sempre foi apenas um pretexto para que se, porventura, o sacerdote casasse no civil, a sua esposa não tivesse direitos aos seus bens. Isto é, caso ele tivesse algum. Procriando, então, o sacerdote teria herdeiros, que, por sua vez, teriam ainda mais direitos ao patrimônio do pai do que a mãe. Assim, sem a criação do voto de castidade, o patrimônio da Igreja católica não seria o que é hoje. Estaria lapidado. Ou seja, tudo foi muito bem planejado – obviamente que por uma mente ambiciosa.

O fato é que, por ser o celibato uma novidade, o sacerdote até pode permanecer casto no início da vida religiosa, mas, não demora muito, a necessidade de sexo se manifesta. O sacerdote, por sua vez, resiste. Uma vez, duas, três... Certo dia, contudo, não mais resistindo ao desejo sexual, que termina por falar mais alto, ele finda, como se diz, por cair em tentação. Só que, por mais incrível que pareça, é que tal realidade é uma regra, não uma exceção. Daí a implosão de escândalos envolvendo sacerdotes pedófilos, embora, por ser uma patologia, a pedofilia não se restringe apenas aos adros da Igreja católica. Está por toda parte.

No entanto, quando um sacerdote é acusado de pedofilia, o escândalo ganha uma dimensão maior não somente por se constituir um crime, mas, também, por envolver uma autoridade religiosa, que, a priori, deveria orientar espiritualmente os fiéis, não desvirtuá-los. Além disso, revela, igualmente, a hipocrisia do sacerdote, já que ele se diz instrumento da palavra de deus, bem como a hipocrisia da Igreja católica – uma Igreja, aliás, que nem vergonha tem do seu passado maculado de sangue, que a condena: as Cruzadas, as Inquisições, que levaram à fogueira milhares de inocentes, e quantas mais aberrações cometidas em nome de uma abstração: Deus.


Assim, com um histórico desse, capaz de embrulhar o mais saudável dos estômagos, é até compreensível a Igreja acobertar – e não é de hoje – os crimes de pedofilia cometidos por seus sacerdotes. Porém, uma notícia boa: de uns tempos para cá, graças as denúncias das vítimas, à imprensa e as autoridades civis competentes, providências têm sido tomadas no sentido de coibir a prática da pedofilia na Igreja. Uma prática, aliás, impregnada não mais apenas nas batinas dos sacerdotes, mas no seio de toda a Igreja. Isso porque é humanamente impossível cumprir com o voto de castidade. Daí a hipocrisia de todos os que fazem a Igreja católica.





Sim, porque todo ser humano – faz parte da sua condição – tem necessidades sexuais, que são fisiológicas e, portanto, devem ser satisfeitas. E o padre é um ser humano. Seja ele pedófilo, hetero, homossexual ou qualquer outra coisa que o valha, não cumprindo, como eu já disse, com o voto de castidade que fez. No caso dos pedófilos, parece até que eles levam ao pé da letra uma das máximas de Jesus: “Deixai vir a mim as criancinhas...” (Lucas 18,15 – 17). Pois é! Como disse o sábio filósofo italiano Giordano Bruno (1548 - 1600), queimado vivo na fogueira da Inquisição: “A Igreja mente, é corrupta, cruel e sem piedade”. Não poderia ser diferente.

Afinal, desde os seus primórdios, a sua base de sustentação nunca foram os dogmas que os católicos apregoam com tanto fervor, mas que não passam de puro marketing, ou melhor, de propagandas enganosas. A bem da verdade, a base de sustentação da Igreja católica sempre foi, inquestionavelmente, a tríade dinheiro, poder e sexo. Por isso a criação dos votos de pobreza, obediência e castidade – condição sine qua non para a garantia de um dado statu quo. Enfim! Em uma das passagens da Carta aos católicos da Irlanda, Bento XVI diz sentir vergonha e remorso pelo constrangimento passado pelas vítimas, decorrente dos abusos sofridos.

No entanto, o que mais me chocou foi ele absurdamente comparar as chagas dessas mesmas vítimas com as de Jesus. Pior! Depois desse delírio, sugeriu que as vítimas se reconciliem com a Igreja – imagino que perdoando os seus algozes – e tentem encontrar a paz interior. Ninguém merece! Por isso que, das duas, uma... Ou Bento XVI está esclerosado ou, então, ele é mesmo muito cara de pau – abusando da nossa boa fé – ao sugerir tal reconciliação. Já na passagem dedicada aos sacerdotes pedófilos, quando diz que a fragilidade da condição humana nunca foi tão claramente revelada, ele praticamente inocentou os autores dos abusos sexuais.

Não satisfeito, garantiu-lhes que, se houver um arrependimento honesto da sua parte, deus lhes concederia o perdão... Não acreditei! Foi como se eu estivesse em um filme do italiano Fellini (1920 - 1993), surreal por excelência, sobretudo porque, na semana passada, o New York Times divulgou que, nos últimos dez anos, três mil denúncias de abusos sexuais cometidos por sacerdotes contra menores foram encaminhadas ao Vaticano. Entre eles, o norte-americano Lawrence Murphy, morto em 1998, que, ao longo de vinte e quatro anos, molestou cerca de duzentas crianças de uma escola para surdos no Estado americano de Wisconsin.

Já na cidade italiana de Verona, dezenas de alunos do Instituto Antonio Provolo para a Educação dos Surdos-Mudos vieram a público denunciar abusos sexuais praticados por dezenas de sacerdotes ao longo de mais de trinta anos. Um dos nomes citados, por exemplo, é o de um bispo que, já falecido, se encontra, atualmente, em processo de beatificação... Sei não, mas, diante de acontecimentos tão emocionantes, a Igreja católica está mais para Casa Pia do que para Casa do Senhor. Só que Casa Pia à italiana, embora não negue as semelhanças com a Casa Pia de Lisboa, envolvida em uma rede de pedofilia que, em 2002, foi denunciada em Portugal.

Quanta pouca vergonha a da Igreja católica apostólica romana! Depois o Papa, os seus colaboradores e fiéis ainda se sentem no direito de criticar Saramago quando ele diz que “a Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana”. Estaria, por acaso, o nobre Nobel dizendo alguma mentira? Em entrevista concedida à BBC Brasil, o teólogo italiano Marco Politi, um dos maiores conhecedores da política interna da Igreja Católica, questionou: “O que aconteceu com estas denúncias? Quantas foram julgadas? Quantos religiosos foram considerados culpados e quantos foram punidos?”.

Para ele, “o Papa está numa encruzilhada e terá que abrir os arquivos secretos da Congregação para a Doutrina da Fé se quiser ser coerente com a transparência que defende”. Prosseguindo, o teólogo disse: “É preciso dar explicações e não admitir mais que os casos sejam ocultados”. L'Osservatore Romano, por sua vez, jornal oficial da Santa Sé, acusa o New York Times de ter publicado uma reportagem apenas com o “ignóbil objetivo de atingir o Papa e seus colaboradores”. O fato é que o furacão da pedofilia chegou ao Vaticano. E chegou para ficar até que Bento XVI tenha a decência de abrir os tais arquivos, dando uma resposta ao mundo.

O que não se concebe mais é a Igreja católica fazer de conta que nada viu, nada ouviu e nada sabe dos abusos sexuais praticados por seus sacerdotes, querendo, ainda, que o mundo faça o mesmo. Ai, ai, ai... Uma Igreja de faz de conta. Sim, é isso que a Igreja católica é. Afinal, todo o seu histórico tem sido pautado pela hipocrisia. Estranhamente, sabe-se lá por quais motivos, Bento XVI elegeu 2010 como o Ano do Padre. Qual deles? O padre pedófilo ou o não pedófilo? Falando nisso, sempre tive uma curiosidade, a de saber se quando os abusos sexuais dos sacerdotes pedófilos envolvem penetração eles usam ou não camisinha.

Afinal, é pública e notória a posição contrária do Vaticano em relação ao uso do preservativo e a sua profilaxia. Ou seja, uma posição extremamente criminosa. Ninguém esquece, por exemplo, as declarações estapafúrdias do ardiloso Bento XVI sobre a distribuição e o uso do preservativo durante a viagem apostólica, que, em março de 2009, ele realizou a Camarões e a Angola. Alegando que o uso da camisinha não resolve o problema da AIDS na África – conseqüentemente, no mundo –, só o agrava, o Papa desencadeou polêmicas de repercussão internacional, apenas revelando a sua alienação em relação à saúde pública.



E isso porque, “em toda a História, segundo Saramago, a Igreja vem se metendo onde não é chamada e opinando sobre coisas que não tem capacidade de compreender”. Afinal, atentando contra a saúde pública, apesar de ser considerado o maior teólogo católico vivo, intelectual, erudito, poliglota e sete doutorados honoris causa, Bento XVI assinou um atestado de ignorância. Pior do que muito analfabeto, que, hoje em dia, já sabe que o preservativo é o método mais eficaz para combater a disseminação do vírus HIV. Infelizmente, o Papa só enxerga o seu dogmatismo, sem a menor consideração pela vida humana, que, aliás, ele banaliza sempre que pode.

Assim, não é de se estranhar a repulsa de muita gente ao Papa. Em carta aberta a Bento XVI, publicada no jornal francês Le Monde, no dia 25 de março de 2009, cientistas franceses da área da saúde afirmaram que “ainda é tempo” de o Papa rever as suas declarações contra o uso dos preservativos. Entre os cientistas que assinaram a carta estava Françoise Barré-Sinoussi, Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2008, exatamente pela descoberta do vírus da imunodeficiência humana - HIV, em 1983, considerada pelo Conselho do Nobel como “essencial para a compreensão atual da biologia da doença e para seu tratamento”.

Segundo a carta, os cientistas franceses afirmaram que “o uso regular do preservativo permite reduzir em pelo menos 90% o risco de transmissão do HIV, assim como o de outras doenças sexualmente transmissíveis”. Essas pesquisam mostram, também, que o uso do preservativo e as campanhas de prevenção sexual foram e continuam sendo o principal freio à difusão da epidemia em todo o mundo. A carta diz, ainda, que a declaração de Bento XVI revela um cinismo irresponsável e que “as suas opiniões deveriam ter evitado esse posicionamento de conseqüências dramáticas que, seguramente, marcará o seu pontificado”.

Sem sombras de dúvidas! Tanto que, à época, o New York Times, em um dos seus editoriais, foi enfático, dizendo que “o Papa não merece crédito quando distorce pesquisas científicas sobre a importância do preservativo em diminuir a disseminação do vírus”. Já em Haia, o ministro do Desenvolvimento da Holanda, Bert Koenders, confessou a sua perplexidade diante das declarações de Bento XVI, que, inclusive, ele acusa de ter “perdido o sentido das realidades”, enquanto o ex-primeiro-ministro francês, Alain Juppé, disse que “o Papa começa a ser um verdadeiro problema, dado que ele vive em uma situação de total autismo”.

Em editorial intitulado Redenção para o Papa?, a britânica Lancet, uma das mais conceituadas revistas médicas do mundo, acusou Bento XVI de distorcer evidências científicas, a fim de promover a doutrina católica, e que as suas declarações foram irrealistas, não-científicas e perigosas, acrescentando que não ficou claro se o seu erro “deveu-se à ignorância ou a uma tentativa deliberada de manipular a ciência”. Por fim, a Lancet exigiu que o Papa se retratasse – coisa que, até hoje, ele não fez. O teólogo alemão Hans Küng, por sua vez, sentenciou: “Bento XVI será julgado pela História como responsável pela maior propagação do vírus da AIDS”...


Nathalie Bernardo da Câmara



Um comentário:

  1. “Santa" igreja católica, quanta hipocrisia!!!!! Vale lembrar que “quem bate esquece quem apanha, mas quem apanha quer se vingar....” PAREDÓN para os pedófilos.
    Tereza

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