quarta-feira, 9 de novembro de 2011

NÃO, NÃO É BRINCADEIRA!


“Defendo prisão perpétua para os pedófilos, pois eles são irrecuperáveis e compulsivos...”.

Senador Magno Malta (PR-ES)
Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito da CPI da Pedofilia


Quando tudo teve início é uma incógnita. O fato é que, em 2010, ex-coroinhas relataram que foram abusados sexualmente pelo padre brasileiro José Afonso Dé, então com 74 anos de idade, da Paróquia São Vicente de Paulo, na periferia de Franca, em São Paulo. Segundo as denúncias, as vítimas passaram a ser aliciadas pelo religioso desde 2001. Curiosamente, os encontros ocorriam na sede da paróquia e na residência do padre, onde os então coroinhas liam a Bíblia, tomavam chá e comiam pipoca... O advogado do sacerdote, por sua vez, Eduardo Maestrelo Caleiro Palma, negou as acusações, alegando que elas não passavam de uma “fábula infantil”. Porém, à época, diante da gravidade das denúncias, Dé foi indiciado pela Polícia Civil, acusado de estupro e ato libidinoso. Interrogado durante horas, o acusado alegou inocência, sendo, contudo, afastado das suas funções. Segundo a delegada Graciela de Lourdes David Ambrosio, da Delegacia de Defesa da Mulher - DDM, as vítimas seriam crianças e adolescentes entre 12 e 16 anos de idade que frequentavam a paróquia, uma das mais tradicionais da cidade, sendo o padre, aliás, uma das figuras mais populares da Igreja católica na região.

Enfim! O inquérito para apurar o suposto envolvimento do religioso com pedofilia foi aberto no dia 24 de março, logo após uma denúncia anônima levada ao Conselho Tutelar e repassada à DDM. Segundo, ainda, a delegada, denúncias outras também foram feitas por adultos, que confessaram terem sido molestados pelo padre Dé desde 1995, quando eram adolescentes, e que teriam sido convidados por ele para que morassem juntos em um seminário que o religioso pretendia fundar na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Iturama, Minas Gerais. Procurados pelo G1, funcionários da igreja mineira negaram as acusações de abusos sexuais na paróquia, embora as vítimas de outrora em momento algum hesitaram em prestar depoimentos a respeito, embora com a condição de preservarem as suas identidades no anonimato. O fato é que os abusos eram tão corriqueiros que muitos seminaristas desistiram de seguir a carreira religiosa. No caso de Franca, com vergonha de contarem aos seus pais os assédios que sofriam por parte do padre Dé, os ex-coroinhas o denunciaram a outros religiosos, que relataram o caso à polícia, prometendo tomarem providências. Não o fizeram...

Segundo ainda o G1, a delegada Graciela de Lourdes David Ambrosio afirmou ter ouvido os adolescentes na presença dos seus familiares. “Não tenho dúvida de que os meninos foram abusados.” Para ela, o número de vítimas deve ser ainda bem maior. À oportunidade, quando do afastamento das funções religiosas do padre Dé, o bispo dom Pedro Luis Stringhini alegou que tal decisão perduraria até que as investigações da polícia fossem concluídas e o padre inocentado. Protegendo o sacerdote, o advogado de defesa insistiu em dizer que os seus afagos refletiam apenas o seu carinho fraterno por todos, indiscriminadamente, e que sempre estiveram desprovidos de conotação sexual. Nesta quinta-feira, 8, contudo, foi divulgada a sentença do padre Dé, que foi condenado pela 2ª Vara Criminal de Franca a 60 anos e oito meses de prisão por estupro e atentado violento ao pudor, embora o religioso tenha o direito de aguardar a decisão de recurso em liberdade. Segundo o advogado de defesa do Padre Dé, que entrou com um pedido de habeas corpus, a decisão pela condenação do religioso havia sido proferida em meados deste ano, mas como o caso corria em segredo de Justiça, só agora foi divulgada.

Nesse ínterim, a Nunciatura Apostólica – a embaixada do Vaticano no Brasil – em nenhum momento se declarou publicamente sobre o escândalo, o que, aliás, não é nenhuma novidade, sobretudo se levarmos em consideração as posições do próprio papa Bento XVI, que insiste em se eximir de toda e qualquer responsabilidade sobre os casos de pedofilia envolvendo religiosos católicos em todo o mundo, embora se limitando a pedir perdão pelos abusos cometidos por seus pares de batina – quanta insanidade ou hipocrisia! Daí que não é à toa a evasão de fiéis da Igreja, cada vez mais esvaziada por causa dos crimes de natureza sexual praticados a 3x4 por sacerdotes católicos – aqueles que, em uma das mãos, portam a Bíblia, enquanto na outra sacolejam doces e travessuras... O fato é que durante a apuração dos fatos, 31 pessoas foram ouvidas, entre o acusado, as vítimas, as suas mães e as testemunhas. Enfim! Além dos seis garotos molestados entre 2009 e 2010, a polícia identificou outras quatro vítimas, em um total de dez. No entanto, como os abusos teriam ocorridos entre os anos de 1990 e início de 2000, os crimes prescreveram... Chegou a hora de certas leis serem revistas.


Nathalie Bernardo da Câmara



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aceita-se comentários...