quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O ENJÔO, DE NOVO...


“A ilusão é uma fé desmedida...”.


Honoré de Balzac (1799 - 1850)
Escritor francês


Outro dia, em uma fila de supermercado, vi uma mulher comprando uma árvore de Natal. Perguntei-me: — Já? Estamos, ainda, no início de novembro. No entanto, como vivemos em uma suposta democracia e eu respeito os direitos de outrem, não fiz nenhum comentário a respeito, embora vontade não faltasse... Assim, quando ela passou a tal árvore pelo caixa, quase revirei o estômago ao assistir à cena. Um dos símbolos do Natal,  a árvore, nos Trópicos, o suposto pinheiro só poderia ser de plástico... Não, não é de hoje que, quando se aproxima o final do ano, já começo a me incomodar, presenciando todo tipo de consumismo desenfreado – haja redundância! – que repudio. Isso sem falar que, nesse período do ano, o humor das pessoas muda da água para o vinho, literalmente, já que elas passam o ano inteiro sem nem desejar um “bom dia” e, de repente, se tornam dóceis e afáveis, desejando boas novas a outrem como se fosse a coisa mais natural do mundo e elas costumassem fazer isso o ano inteiro.

Ora! Durante o ano inteiro, as pessoas mal olham umas para outras. Desejar bom dia? Nem pensar! Um cruza pelo outro como se estivesse passando por um poste, algo imaterial, sem vida – a não ser, é claro, quando, à noite, uma lâmpada, no alto, acende e ilumina a passagem de um transeunte qualquer. Quando há certa intimidade, então! Passam o ano todo remarcando apenas os nossos pequenos deslizes, algum erro cometido, alguma falta... Nunca um elogio pelos acertos, por nossas bondades! Porém, com a chegada desse período do ano, a maioria vira cordata, como se, de janeiro a novembro, podemos ser indiferentes ao outro, mas que, em dezembro, mês do Natal, temos de estender a mão... Ou seja, é uma verdadeira hipocrisia, já que a natureza humana não muda, embora mudem os meses, as estações. O ano muda, eu também o sei, mas, caráter, é algo impossível de ser alterado, incapaz de mudar, já que não se metamorfoseia. Enfim! Podem mudar os modos de uma dada pessoa, mas nunca as suas intenções.

Por isso que, desde criança, achei o Natal uma festa de faz-de-conta. É tudo tão falso! Surreal – eu diria –, lembrando o cineasta italiano Fellini (1920 - 1993), que, em seus filmes, costumava ultrapassar os limites da realidade, adentrando em um imaginário adverso. Não sou afeita a isso. Nunca fui, embora seja criativa até demais, concordando com o cineasta no quesito da decadência da sociedade. Atualmente, não importa se ocidental ou oriental. Todas estão ruindo. E não foi por falta de aviso, sobretudo os avisos dos ambientalistas, sempre atentos e preocupados com a saúde da Terra e, sobretudo, com a sobrevivência da espécie humana – que raça desgraçada. Enfim! De certa forma, o Natal lembra o Carnaval, já que, em ambas as festividades, a maioria porta máscaras. Afinal, nesse período do ano – no caso, o do Natal – as pessoas fingem. Sinceramente, não acredito nessa coisa de confraternização. Se eu sou descrente? Não, sou realista. E que deixemos as máscaras para quem atua no teatro. Isso é bom senso.

Infelizmente, chegou o período do ano onde a insensatez impera e o consumismo, em dose dupla, consome todas as entranhas da maioria das pessoas. Eu, particularmente – já que faz parte do ritual, digamos assim, e para não ser rotulada como eremita –, só gostaria de fazer um pedido a Papai Noel, se ele existir – coisa que não acredito – e for capaz, haja a quantidade, hoje via net, dos presentes que a meninada gostaria de ganhar. No meu caso, a publicação de um livro, de minha autoria, pela Editora da Universidade de Brasília – atualmente sendo avaliado – e uma passagem aérea para o Distrito Federal, onde, apesar dos pesares, foi o único lugar onde senti o gosto da felicidade. Enfim! Se eu não conseguir isso, ou seja, os meus presentes, vou continuar achando que Papai Noel não existe. É a mais pura das imaginações. E burra! Afinal, não tem chaminé em casa da senhora minha mãe, como diriam os portugueses, mas tenho uma conta bancária. Será que Papai Noel não sabe disso? Acho que ele deveria trocar as renas por um concorde...


Nathalie Bernardo da Câmara




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