sábado, 25 de fevereiro de 2012

AOS BOIS, OS DONOS...

Foto: Nathalie Bernardo da Câmara.

“Eu mesmo nunca vi um pau-brasil nem sei para que ele serve...”.

Um aluno qualquer de uma escola qualquer de um país qualquer


Para tentar rimar – se é que depois de tantas palavras ainda é possível alguma rima – com o título deste post, a árvore chamada de pau-brasil (Caesalpinia echinata) é o que já foi chamada pelos normandos de le bois rouge, ou seja, madeira vermelha... O motivo do nome científico complexo – não é de se estranhar –, já que tudo que vem do meio acadêmico é complexo, muitas vezes, inclusive, sem nexo? Uma homenagem do naturalista francês Lamarck (1744 - 1829), que, quando classificou a árvore, homenageou o botânico italiano Andrea Cesalpino (1519 - 1603). Já a denominação echinata, segundo especialistas, provém do étimo grego ouriço – uma referência aos espinhos abundantes do pau-brasil. E, muitos perguntariam: — Qual a serventia de toda essa introdução, já que um aluno qualquer de uma escola qualquer de um país qualquer nunca viu – se viu, não identificou – um raro exemplar de pau-brasil nem, muito menos, se o mesmo tem serventia e, sobretudo, desconhece a sua importância histórica? Não importa! O fato é que, esta semana, foi divulgado que o pau-brasil, ameaçado, inclusive, de extinção, pode ser um grande aliado no tratamento contra o câncer, residindo, no miolo da árvore, a sua maior riqueza. Um miolo que – diga-se de passagem –, por ser um poderoso corante, cobiçou colonizadores de todas as estirpes ao longo dos séculos, fazendo da Terra dos Papagaios um celeiro de pau-brasil, que extraiam das nossas terras sem dó nem piedade. Quanto ao corante... Basta colocar pequenas lascas da madeira na panela com água fervendo. Mas, segundo a jornalista brasileira Beatriz Castro, “onde reis e nobres só viam tinta vermelha, o olhar curioso do povo descobriu remédios”. Considerado adstringente, antiinflamatório e cicatrizante, muitos fazem uso “da entrecasca para curar asma”, diz Ana Cristina Roldão, presidente da Fundação Nacional do Pau Brasil. De acordo, ainda, com a jornalista, “da Mata Atlântica para o laboratório de antibióticos da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE (...) cada pedacinho da árvore foi analisado”: flor, folha, caule, cerne, semente e raiz – “última etapa da pesquisa do pau-brasil", detalha a pesquisadora Ivone Souza, da UFPE. Apresentando, portanto, propriedades farmacológicas muito interessantes, o pau-brasil “merece toda a atenção e todo o estudo”, disse Ana Cristina Roldão. Quem sabe, agora, acrescenta a jornalista, que, não podemos esquecer, fez a reportagem para o Globo Repórter, programa da Rede Globo, divulgada na última sexta-feira, 24, “biólogos e farmacêuticos possam dar uma mãozinha aos ambientalistas”, já que, “portador de substâncias poderosas contra o câncer, o pau-brasil ganha importância e uma chance de escapar da extinção”. E que, com a esperança de uma cura, espera Ana Cristina Roldão, talvez “as pessoas comecem realmente a plantar o pau-brasil”, dando o devido merecimento que, até agora, muitos brasileiros não deram. Eu, particularmente, diferentemente de um aluno qualquer de uma escola qualquer de um país qualquer, conheço a árvore, a sua folha, fruto – não o miolo – e, há pouco mais de vinte anos, plantei uma muda nada qualquer e a batizei com um nome originalíssimo (ilustração acima – data não lembrada). Hoje, o meu pau-brasil, que não é um qualquer, embeleza, com a sua belíssima copa, às vezes florida, às vezes não, depende da estação, um lugar nada qualquer.

Nathalie Bernardo da Câmara

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