sexta-feira, 6 de março de 2009

RELIGIÃO E PODER


“O mito do paraíso perdido é o da infância –
não há outro...”.
José Saramago
A Bagagem do viajante


Dizem que eu implico com a Igreja Católica, mas, também, pudera! Outro dia, em Pernambuco, uma criança, de apenas nove anos de idade, fez um aborto. Violentada, sexualmente, sabe-se lá há quanto tempo, por um padrasto de vinte e poucos anos, ela engravidou de gêmeos. Detalhe: o infeliz costumava, também, violentar uma outra enteada, de quatorze anos, que, aliás, é doente mental.


Agora, o agressor está preso – pelo menos, isso. O curioso é que, historicamente, seja na literatura ou na vida dita real, nas histórias contadas ou nas fábulas, sempre nos falaram mal das madrastas como megeras e opressoras, mas, sinceramente, eu nunca soube de alguma que tenha violentado enteado ou enteada nem engravidado algum – nem a madrasta de Cinderela, que era tirana!


Afora isso, eu sou a favor do aborto, incondicionalmente, mas, infelizmente, no Brasil, o aborto é considerado crime, embora, em casos como esse, seja, constitucionalmente, legal. Mesmo assim, em um gesto para lá de absurdo, dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Recife e Olinda, achando-se amparado pelo mandamento católico Não matarás, excomungou todos os envolvidos no aborto.


Se for assim, boa parte do mundo deve ser excomungada, já que vive em guerra, matando a esmo. Ou o mandamento – que está com o prazo de validade vencido – só vale para casos de aborto, para os padres justificarem que não vivem apenas no ócio improdutivo, como glutões, e que estão fazendo alguma coisa? Ou, ainda, para esse caso, especificamente, que saiu na mídia e ganhou visibilidade?


O curioso é que o agressor não foi excomungado, porque – parece – estuprar e tirar a inocência de uma criança, para a Igreja Católica, pode! Sinceramente... Quanta falta de bom senso. Que o arcebispo, então, excomungue médico, pai, mãe, cachorro, papagaio, vizinho, juiz! E continue recebendo o apoio do Vaticano. Só sei que o gesto foi tão absurdo que até o presidente Lula, que se diz cristão e católico praticante, criticou.


Afinal, quem agüenta tanta violência e intolerância, sobretudo com base em dogmas sem fundamentos históricos? Pior! Criados a base da força física, de chantagens e mentiras, como já comprovou o historiador e genealogista escocês Laurence Gardner, autor de A Linhagem do Santo Graal – A Verdadeira história do casamento de Maria Madalena e Jesus Cristo, publicado pela Madras Editora, em 2004.


E a agressão que o padrasto cometeu, violando uma infância, agora, perdida, marcada pela maldade? Isso o arcebispo não viu? Não! Foi, simplesmente, conivente com um crime, inclusive, reconhecido pela Justiça. Pior! Resultou em um inquérito policial, que deu em prisão, a do agressor. E, no caso, o aborto salvou a vida de uma criança, ameaçada de perder a vida.


Caso contrário, ou seja, se desse prosseguimento à gestação, pois seus ovários e útero não tinham estrutura nem para um feto, quantos mais para dois, teria morrido. Afora, óbvio, o trauma emocional. Ou vão dizer que ela, aos nove anos de idade, seduziu o padrasto? Era só o que faltava! Apesar da patente de arcebispo, o religioso foi omisso diante de uma violência comprovada.


Felizmente, de certa forma, extirpada. Mas, a Igreja Católica não está nem aí para isso – nunca esteve! Por sua prática, a Igreja Católica sempre favoreceu os abusos cometidos pelos homens, em detrimento das mulheres e da sua integridade moral e física, em todos os períodos históricos. Esses padres não têm mais o quê fazer? Falando nisso, qual o pior?


Uma mentalidade ultrapassada, como a dos padres católicos, ou a da cultura indiana conservadora, que faz da mulher um bibelô? A novelista Glória Perez, por exemplo, não tinha um tema mais interessante para abordar, com um Brasil tão diversificado em culturas? A novela Caminho das Índias, da Rede Globo, não é nem um registro histórico!


É uma apologia ridícula de uma cultura extremamente controversa, mapeada de contrastes, que detém a bomba atômica e uma religiosidade deprimente. Além disso, uma realidade totalmente fora da nossa realidade ocidental. Uma segregação social. Pior! As mulheres de determinadas castas, as ditas superiores, estão sempre, sob um calor infernal, enroladas em panos e pinturas.


Além de serem vendidas pelos pais a maridos ricos por um alto preço. Eu não vejo isso com bons olhos nem me acrescenta nada. Só indiferença, para não dizer desprezo. Não gosto da cultura indiana, como não gosto, também, da cultura chinesa. Sou extremamente ocidental, seja na comida, nos temperos ou na cultura, embora com algumas restrições, é claro.


Sim, gosto do Brasil, da França – adoro! –, de Portugal, da Espanha, da Itália e da Grécia... Para piorar ainda mais, a pobreza da programação da televisão brasileira está um Ó, como diria a minha irmã! Esse tal de Big Brother, por exemplo, é medíocre demais! O jornalista Pedro Bial, aliás, apresentador do programa, é mais ridículo que o próprio programa em si e os seus participantes.


Ele dá uma dimensão que não existe a coisas tão banais! Quando não grita, é autoritário e desrespeitoso, querendo aparecer mais que os participantes – todos desesperados por um milhão, que, com certeza, alguém irá adquirir, mas, mediante humilhações. Tudo parece tão nublado, além desse tempo quente e seco de Brasília. Vai ver, além de não concordar com certas coisas, que tiram o meu sono, estou em meu inferno astral.


Mas, espero, vai passar. E sairei mais forte...



Nathalie Bernardo da Câmara
nathaliebernardo@hotmail.com
Brasília (DF) - Brasil, 6 de março de 2009.

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