quarta-feira, 19 de maio de 2010

COM OU SEM TREMA?



“Nada fortalece tanta autoridade quanto o silêncio...”.

Leonardo da Vinci (1452 - 1519)
Um ariano do bem



Um habitué do meu blog pede-me que eu fale da reforma ortográfica da língua portuguesa. Já falei. E falei, inclusive, no primeiro post de A Bagagem do navegante, intitulado Navegar é preciso!, quando o inaugurei, no dia 6 de janeiro de 2009, deixando exatamente clara a minha opinião a respeito. À época, disse:

“É importante ressaltar que, por ser declaradamente contra a reforma ortográfica da língua portuguesa, que passou a vigorar no dia 1º de janeiro de 2009, além de uma total indisposição e indisponibilidade intelectual em adotar as novas normas, ‘atualizando-me’, os meus textos ainda andam as voltas com a nossa recém-considerada caduca ortografia.

Afinal, é ridícula essa tentativa de unificar o modo de escrever da língua portuguesa, idioma dito o oficial de Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, que, aliás, é falada, ainda, na antiga Índia Portuguesa (Goa, Damão, Diu e Dadrá e Nagar-Aveli), Macau e Guiné Equatorial. O curioso é que – estranho isso –, se queriam mudanças, por que não optaram, então, por mudar a realidade caótica da educação do povo de todos esses países, sobretudo a das crianças, que têm uma base educacional capenga?

Não seria melhor, por exemplo, primeiro alfabetizar que tornar ainda mais complexa a língua portuguesa, que permeia o cotidiano de mais de 200 milhões de nativos, sendo, ainda, a quinta língua mais falada do mundo? Isso sem falar no nacionalismo exacerbado que a referida reforma ortográfica deixa transparecer. Já não basta um equivocado Fernando Pessoa (1888 - 1935) dizer que “a minha língua é a minha pátria”? Que me perdoem os patriotas de plantão, mas acho que, apesar da sua genialidade, o escritor português exagerou!

E eu perguntaria: Essa absurda e desnecessária reforma ortográfica atenderia aos interesses de quem? Pelo visto – parece –, apenas aos interesses dos presidentes das repúblicas dos tais países que falam a língua portuguesa. Quando nem deveria! Sim, porque a única coisa que eles costumam escrever é o próprio nome, quando assinam decretos, medidas provisórias e um sem fim de outras leis. Por que, então, não promoveram um amplo e democrático debate para tratar da questão e toda a sociedade participar de uma decisão tão séria como essa?

Sim, um debate com associações de classes, como, por exemplo, as dos educadores, jornalistas, escritores, antropólogos, sociólogos, historiadores e, por aí, vai... Mesmo porque, quem forma a opinião pública somos nós, não quem cria as leis. Por isso que, em sinal de protesto, já que ninguém me consultou a respeito, me recuso a escrever como reza a cartilha da reforma ortográfica. E já que “todo o poder emana do povo”, segundo pelo menos a Constituição Brasileira, em seu primeiro artigo, por que não consultaram o povo, realizando um plebiscito?

Afinal, é o povo quem fala, é o povo quem escreve, é o povo quem elege. Eu, particularmente? Profundamente desgostosa, porque, por exemplo, aboliram o tão charmoso trema – só entende isso quem escreve. E não admito ter de me privar do seu uso, apesar do seu já reconhecido desuso. Assim, na seqüência, só adotarei as novas normas da ortografia da língua portuguesa por mera consequência, já que a minha rebeldia e a de muita gente só será tolerada até 2013, quando as mudanças das novas regras da língua portuguesa serão obrigatórias.

Ou seja, o prazo para que voltemos a aprender a escrever corretamente. Isso, óbvio, para quem já escreve...”.





Nathalie Bernardo da Câmara

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