sábado, 10 de agosto de 2013

PROTESTAR E REIVINDICAR, SIM. DESRESPEITO À HISTÓRIA, NÃO.


Por Albimar Furtado
Jornalista brasileiro
Artigo excelente publicado sexta-feira, 09 de agosto de 2013, no Novo Jornal.


É preciso evitar que o que foi feito, com uma adesão tão intensa e de forma tão espontânea, corra o risco da banalização. Em determinado dia jovens iniciaram uma movimentação pela rede social e o trabalho cresceu de forma tão avassaladora que tomou conta de Natal e do Brasil. Milhares nas ruas de nossa cidade. Milhões em avenidas país afora e outros tantos ou muito mais em casa acompanhando, com interesse e em apoio, através da mesma rede social, o que acontecia naquele belo dia da manifestação pedindo um serviço de transporte coletivo melhor e mais barato. Se apoio tão intenso teve é porque o movimento era e é justo, consequente, correto.

Como em toda atividade, também estas manifestações precisam de avaliação por parte de suas lideranças para a correção de rumos, quando necessárias. Estou escrevendo estas coisas porque ouvi no cruzamento de ruas em que o sinal estava fechado, um rapaz e uma moça, em carros diferentes, falando alto, quase aos gritos: “Qual é a manifestação do dia?” A pergunta foi seguida uma boa risada. Não se pode dar chances à banalização, principalmente quando um movimento dessa natureza se faz ouvir, respeitado e apoiado, como foi e está sendo, com respostas, mesmo que ainda tímidas, anunciada pelos poderes. É de se valorizar o movimento, prosseguir o trabalho com atos consequentes que acordem as autoridades e provoquem respostas positivas à sociedade, como aconteceu naqueles primeiros dias.

Três dias após aquele diálogo no sinal fechado vi e li o noticiário sobre uma nova manifestação em frente à Câmara Municipal. As partes montaram suas estratégias, tudo dentro do razoável. Em mim espantou o desrespeito à memória de Djalma Maranhão, pelo que fizeram no busto que homenageia o ex-prefeito, querido pela cidade que administrou e amou e com a qual tinha perfeita identidade, sempre lembrado pelo que realizou pela cultura, pela educação pelas artes, pelo tratamento que deu às ruas com pavimentação e iluminação. Pintar o rosto e colocar máscara no busto de Djalma Maranhão certamente foi ato de quem desconhece a história de Natal e seus personagens.

Gente protestando e reivindicando nas ruas é importante, necessário, alimenta a democracia. Sempre. Mil vezes o processo que vivemos hoje que a indiferença que se abateu por algum tempo. Mas é preciso evitar comportamentos que diminuam a importância desse movimento justo e necessário.



E eu assinando embaixo do artigo do jornalista e meu antigo professor! Felizmente, não testemunhei a triste cena, ou seja: o busto de Djalma Maranhão (1915 - 1971) pintado e mascarado... Quem cometeu tal gesto, com certeza não tem o menor conhecimento de História – sim, porque, uma mão provocou a transgressão. Só que, para quem não sabe, Djalma é considerado o maior prefeito que Natal (RN) já teve! Na sua segunda gestão (1960 - 1964), por exemplo, “o então secretário de Educação Moacyr de Góes, inspirado em métodos de ensino do também educador e filósofo marxista brasileiro Paulo Freire (1921 - 1997), considerado o patrono da educação brasileira (Lei nº 12.612, de 13 de abril de 2012), idealizou a campanha de alfabetização popular De pé no chão também se aprende a ler, implantando-a no município no dia 23 de fevereiro de 1961. A escola-piloto da experiência ecológica, um barracão, era de chão batido, não possuía paredes e o teto era de palha de coqueiro. Os alunos, por sua vez, não dispunham nem de uniforme nem de sapato. Com o objetivo de erradicar o analfabetismo em Natal, os acampamentos escolares, as “palhoças”, logo se proliferam pela cidade. Porém, tão logo eclode o golpe militar de 1964, o movimento revolucionário de educação popular, a exemplo de demais aspirações democráticas do povo brasileiro, é banido do cenário nacional pelo novo regime, embora não a sua semente. Afinal, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) já reconheceu De pé no chão também se aprende a ler como uma campanha de alfabetização válida para as regiões subdesenvolvidas do mundo”.

Num longo ensaio que ando a desenvolver sobre o irmão mais novo de Djalma, ou seja, Luiz Maranhão (1921 - 1974), outro iluminado – o texto entre aspas acima é do ensaio –, digo que, quando Natal teve a rara experiência de um governo popular, que foi a Intentona de 35, dona Salomé – a mãe dos meninos –, uma parteira que sabia até francês – não existia, ainda, uma maternidade na cidade –, “consegue comprar um exemplar da primeira e única edição do jornal A Liberdade, órgão oficial de divulgação da insurreição, e fica sabendo que Natal está sendo comandada por um Governo Popular Revolucionário e que um dos seus filhos, Djalma Maranhão (1915 - 1971), que viria a ser desportista, jornalista, educador, político e empresário, havia feito um discurso em cima de um banco de praça apoiando o movimento. Ciente, portanto, dos fatos, ainda em pleno levante, ela proíbe, terminantemente, que Luiz Maranhão, festeiro por excelência já desde cabrito, como se dizia à época, participe de uma das maiores festas populares até então já vistas em Natal. Entre outras palavras, teria dito: — Você não me bota o pé na rua!”. Luiz botou. É aí – melhor, antes mesmo disso – que entra a história que tenciono contar...

Nathalie Bernardo da Câmara

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