domingo, 2 de outubro de 2016

ERA UMA VEZ UM VOTO...

por Paulo Stocker e Ademir Paixão


Corte e costura só nas revisões dos meus textos, mas, mesmo assim, comprei uma fita, não amarela, mas preta, cortando-a, aqui e acolá, ajustando-a, e, munida de agulha e linha, costurei-a na manga esquerda de uma surrada camiseta branca que eu nem sabia mais que existia, dando-me conta, já no primeiro dos “ais”, da imperativa necessidade e magnitude de um dado invento, ou seja, o dedal. Em seguida, não satisfeita apenas com a tarja preta, em sinal de luto pela democracia e pela Constituição brasileiras, imprimi as artes que ilustram esta postagem e, cuidadosamente, as colei na camiseta, mais parecendo que tinham sido desenhadas no próprio tecido – aí, sim, dei por concluído o dever de casa.
Hoje cedo, nem mal o dia havia raiado, mal via a hora de vestir o meu protesto individual e sair na rua, caminhando até a minha zona, distante apenas cinco quarteirões, onde, igual as demais, dá de tudo... Esperei, contudo, passar das oito para poder sair de casa, já que, primeira e única lição: a pessoa nunca deve chegar à zona cedo demais, porque vai que um mesário não compareça e, aí, num azar nunca dantes visto, ela pode ser sorteada para substituí-lo – ora, se já é uma antipatia a obrigatoriedade do comparecimento as urnas, o que dirá passar, igualmente obrigada, horas e mais horas como mesária numa eleição! É preferível ser presa por recusa.
Então... Chegando à zona, ouvi uma eleitora reclamar que havia passado 40 minutos esperando para fazer sabe-se lá o quê na urna. “Ah, não!” – pensei. – “Esqueci as minhas palavras cruzadas...”, mas logo me lembrei de que havia levado caneta e papel. Daí que, se fosse o caso de enfrentar uma fila, eu teria como me distrair, passar o tempo: poderia escrever uma ideia para algum artigo ou, quiçá, tecer um poema! Porém, para a minha agradabilíssima satisfação, mal entrei na minha seção e, minutos depois, já havia saído, pois, além de mim, no momento em que cheguei à sala indicada, só os mesários – redundante dizer que, na urna, apliquei o método dos zeros.
Sim, e a consciência vai muito bem, obrigada, tranquilíssima! Sem correr o risco de votar e eleger golpistas ou futuros golpistas, igual sucedeu-se com certo senador do Distrito Federal, o cidadão CB, que, sem prurido algum, traiu os seus eleitores, inclusive eu, e por duas vezes – sinto-me, até hoje, de certa forma conivente com a bandidagem alheia. Desse modo, não quis arriscar e, portanto, zerei a urna, passando longe nem que fosse a possibilidade de um voto de confiança, mesmo porque já a perdi. Preocupei-me apenas em ser digna e respeitosa comigo mesma. Simples assim. É, posso até continuar sendo obrigada a comparecer as urnas, mas, quanto a votar...
De volta para casa, talvez por associação, já que a minha zona é numa escola, pensei na sandice que é a aberração do programa “escola sem partido” – tudo em minúsculo, igual os dois neurônios divididos em nem sei quantas partes entre os ditos parlamentares que defendem a insana proposta. Então, se é para radicalizar, que as escolas deixem de abrigar zonas eleitorais, que estas passem a funcionar noutra freguesia (numa delegacia?).

PELA NÃO OBRIGATORIEDADE 
DO COMPARECIMENTO AS URNAS NO BRASIL 


Nathalie Bernardo da Câmara


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